O Estado de S. Paulo
O atual governo, de repente, torna-se um baluarte do antiocidentalismo, sob a máscara esquerdista da luta contra o ‘imperialismo norte-americano’
Em períodos normais, as relações externas do País têm pouco impacto sobre a política interna. Presidentes e diplomatas estão centrados na defesa dos interesses estratégicos do Brasil, de seus interesses comerciais e em sua inserção num mundo cada vez mais globalizado. Isso se traduz pelo fato de que questões diplomáticas se tornam assuntos restritos de especialistas e do Itamaraty. Saliente-se a neutralidade e a imparcialidade, enquanto princípios norteadores, do trabalho de nossa diplomacia. Todavia, a diplomacia presidencial está tendo como efeito a perda de popularidade do presidente.
A causa se deve a que o presidente Lula e o
PT geraram uma inflexão desta política diplomática, praticamente operando uma
ruptura, embora não cansem de dizer que estão apenas fazendo uma correção de
rota. Se há correção de rota, caberia determinar se há rota alguma no que estão
apresentando, salvo se a virmos sob o prisma do apoio a presidentes
autocráticos, avessos à democracia, e da crítica feroz aos valores ocidentais,
aqueles mesmos que introduziram no mundo os princípios da liberdade e da
igualdade. Chega a ser lamentável a fraternidade introduzida com os terroristas
do Hamas, com o ditador Nicolás Maduro, com Vladimir Putin e Cuba.
De repente, o atual governo torna-se um
baluarte do antiocidentalismo. Tudo isso sob a máscara esquerdista da luta
contra o “imperialismo norteamericano”, como se nosso futuro estivesse atrelado
ao fundamentalismo islâmico, do Hamas ou do Irã, aos valores da “Grande Nação”
russa, eurasiana e não ocidental, ou ao esquerdismo venezuelano.
Dentre as aberrações diplomáticas, fica
difícil privilegiar uma ou outra. A de Maduro é um caso contumaz de apreço pela
violência, pela ditadura e pela mais cruel repressão, e isso desde o primeiro
governo Lula. Segue coerente! Seria, ao arrepio de toda a lógica, uma
“democracia” por realizar eleições fraudulentas, sem a participação legítima da
oposição e sem imprensa e meios de comunicação livres.
Ademais, a população venezuelana vive sob a
miséria e a violência, como se isso fosse, então, o reino do
socialismo/comunismo. Se esse é o reino da igualdade, melhor os eleitores
brasileiros se organizarem para o próximo pleito eleitoral, pois não é isso que
almejam.
Ainda sob a ótica diplomática, bastou o
Itamaraty fazer uma nota amiga, tímida, solidária com Maduro e sua trupe, quase
se desculpando por exprimir uma pequena discordância, para que o ditador e seu
ministro de Relações Exteriores dessem um tapa na cara do Brasil. E o que fez o
presidente brasileiro? Calou-se!
O caso da Rússia é um caso à parte, pois a
ditadura de Putin é considerada como se fosse de esquerda, quando defende
abertamente valores de extrema direita, ancorados na Igreja Ortodoxa, na
repressão indiscriminada a quaisquer opositores, em valores antiocidentais,
propugnando pela ideia de uma civilização russa que se projetaria para o
exterior, sendo a invasão da Ucrânia o seu primeiro passo e tendo em Alexander
Dugin o seu mais proeminente pensador. Lula e o PT são uma amostra de
daltonismo político, nem mais sabendo distinguir esquerda de direita.
Cuba é outro exemplo de um amor incontido. A
ditadura castrista e seus herdeiros não cessam de submeter a sua população à
miséria, à repressão policial, à ausência de liberdade, com uso intensivo de
prisões e tortura, se for o caso. Essa ilha é tão feliz sob o domínio comunista
que os seus servos (não se pode considerá-los cidadãos) têm um único objetivo:
fugir do paraíso. Recentemente, uma dirigente petista chegou a dizer que a
situação cubana se deve ao “bloqueio” americano. Não há nenhum bloqueio, mas embargo!
A ilha não está cercada militarmente, pode comercializar com quem quiser, salvo
com os Estados Unidos e com empresas americanas no mundo. Por que não se torna
próspera negociando com a Rússia, a China e o Irã?
A visita do presidente Emmanuel Macron ao
Brasil, por sua vez, foi constrangedora. Os dois presidentes não negociaram o
que é mais importante para o Brasil: o acordo Mercosul-União Europeia. O
presidente francês deu-se, inclusive, ao luxo de dizer que a proposta atual,
fruto de 20 anos de laboriosas negociações, era “péssima”. Tudo deveria
recomeçar, provavelmente para atender aos interesses dos agricultores
franceses, que nem querem ouvir falar de restrições ambientais, pelos próximos
20 anos. Lula e Macron ficaram saltitando de mãos dadas como namorados e
fazendo fotos com indígenas na Amazônia. Os franceses adoraram as fotos!
Paradoxalmente, Lula colocou-se na posição do colonizado e Macron, do
colonizador.
Lula, até agora, não se desculpou por sua
infame comparação entre o Holocausto judeu sob o nazismo e a autodefesa de
Israel, operando uma guerra urbana, em meio a túneis e com o Hamas utilizando a
sua população como escudo humano. Hospitais tornam-se centros do terror, em
flagrante crime de guerra. Entretanto, numa completa inversão, Israel é que
seria culpado pela “destruição de hospitais”. Vale aqui, também, o
antiocidentalismo, senão o antissemitismo.
*Professor de Filosofia na Ufrgs
Um comentário:
A palavra holocausto foi proibida de ser dita.
Tá.
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