O Globo
A disputa se dará entre os espectros de
centro partidário, à esquerda e à direita, mas tanto o presidente quanto
Bolsonaro têm de se preocupar com esses eleitores desde já
O ex-presidente Bolsonaro parece ter
escolhido caminho distinto daquele que Lula tomou na eleição presidencial de
2018, quando deixou para o último instante a aceitação de que não poderia se
candidatar por, tendo sido condenado em órgão colegiado, ser considerado
ficha-suja. Foi só em 1º de setembro, quando o Tribunal Superior Eleitoral
(TSE) recusou um último recurso, que oficialmente o nome de Fernando Haddad foi
incluído na urna eletrônica. A campanha oficial petista teve cerca de 40 dias.
Bolsonaro já deu ontem o primeiro sinal de
admitir que não poderá se candidatar em 2026. Num comício público, ao lado dos
governadores de Goiás, Ronaldo Caiado, e de São Paulo, Tarcísio de Freitas, o
ex-presidente tratou de acalmar seus seguidores:
— Se eu não voltar um dia, fiquem tranquilos,
plantamos sementes ao longo desses quatro anos.
Estava no Agrishow, evento dominado por seus
apoiadores do agronegócio.
É verdade que a fala de Bolsonaro segue uma orientação de seus conselheiros políticos, antes revelada pela imprensa. Ele foi aconselhado a dar apoio a vários potenciais candidatos, até mesmo à sua mulher, Michelle, para esvaziar a força do governador paulista, tido como melhor candidato para substituí-lo pelas pesquisas de opinião.
Isso porque Tarcísio anda fazendo movimentos
de aproximação com integrantes do STF, especialmente o ministro Alexandre de
Moraes, que desagradariam a Bolsonaro. Como todo caudilho, Bolsonaro não gosta
que disputem seu espaço, mas, contrariamente a Lula, à sua sombra cresceram
alguns líderes da direita que podem fazer até melhor papel que ele próprio na
liderança do governo, com experiências administrativas e boas gestões públicas
para mostrar.
Lula, que resiste a ter substitutos, não deu
tempo para Haddad ser devidamente preparado a disputar a eleição de 2018. A
então ministra Dilma Rousseff, lançada como sucessora em 2010, teve êxito
graças à popularidade de Lula, que imaginava poder voltar a disputar a eleição
em 2014. Mas Dilma gostou do poder e não abriu mão de se candidatar à
reeleição. O resto é a história de um fracasso, que levou Bolsonaro à
Presidência.
A situação da esquerda atualmente é mais
complicada que a da direita, pois apenas Lula é um líder popular incontestável.
Nada indica que consiga transferir votos como já fez em tempos idos. Enquanto
Bolsonaro mobiliza uma massa de seguidores com opções dentro do espectro da
direita e, apesar de todos os percalços que enfrenta na Justiça, consegue
manter controle político desse grupo.
Assim como Dilma não era popular, também os
governadores que se colocam na disputa presidencial são populares apenas em
seus estados, mas não nacionalmente. Têm ponto de partida melhor que a
ex-presidente, no entanto. Bolsonaro terá a capacidade de transferir votos a
seu candidato em 2026 a ponto de levá-lo a derrotar Lula?
Ele terá de fazer um trabalho de antecipação
de candidatura se quiser ter alguma chance. Estar no governo é uma vantagem de
Lula, mesmo que sua popularidade não esteja no auge. A disputa se dará entre os
espectros de centro partidário, à esquerda e à direita, mas tanto o presidente
quanto Bolsonaro têm de se preocupar com esses eleitores desde já.
Lula tem mais bala na agulha, por estar no
governo, enquanto Bolsonaro precisará se decidir por um candidato e conseguir
que outros não se dispersem em candidaturas independentes que terão poder de
tirar votos, impedindo que a direita vença. Lula terá de voltar a atrair os
eleitores de centro que votaram nele para se livrar de Bolsonaro. As pesquisas
de opinião mostram, no momento, que a maioria do eleitorado é de
centro-direita. Mas, para isso, Lula terá de ir mais para a centro-direita,
lugar em que o ex-ministro José Dirceu e muitos do PT criticamente já o veem.
Um comentário:
Pois é.
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