domingo, 19 de maio de 2024

Hélio Schwartsman - A gangue de três

Folha de S. Paulo

Livro descreve as ideias de Sócrates, Platão e Aristóteles e as põe no contexto histórico e biográfico

Neel Burton (Oxford) escreve copiosamente sobre psiquiatria, filosofia e vinhos. "The Gang of Three: Socrates, Plato, Aristotle" é o primeiro de seus livros que leio. Gostei. Não é que Burton ofereça uma nova interpretação revolucionária sobre o pensamento desses filósofos. Pelo contrário, ele vai numa linha bem clássica, que descreve o surgimento da filosofia como uma passagem do "mýthos", isto é, do discurso poético ou religioso, para o "lógos", a razão.

O que me chamou a atenção positivamente em "The Gang..." é a contextualização histórica. Na graduação, li histórias da filosofia escritas por autores franceses que, talvez por acreditarem na prevalência das ideias, eram econômicos, para não dizer pães-duros, nos elementos biográficos. Não é o caso de Burton. Ele fala dos irmãos de Aristóteles, Arimneste e Arimnesto, e vai aos detalhes das várias tentativas de Platão de implantar no mundo real, mais especificamente na corte do tirano Dionísio de Siracusa, as ideias que defendeu em "A República". Desnecessário dizer que todas elas fracassaram estrondosamente. Numa, a segunda, Platão chegou a ser posto sob "guarda de honra", que é um eufemismo para preso. Mas foi por pouco tempo.

Também achei interessante a arquitetura que Burton escolheu para sua obra. No caso de alguns dos diálogos mais importantes de Platão, como "A República" e"Teeteto", além da "Ética a Nicômaco", de Aristóteles, ele oferece valiosos resumos livro a livro, que nos permitem captar não apenas as teses defendidas como também a estrutura geral da argumentação. É só depois dessa exposição mais descritiva que Burton introduz seus comentários.

Numa observação menos positiva, devo dizer que fiquei chocado com a quase inexistência de notas. Até entendo que é uma obra dirigida ao público geral, não a especialistas, mas, mesmo assim, seria importante mostrar de onde vêm os ótimos achados descritos no livro.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

A filosofia espiritualista me interessa,a outra não.