Valor Econômico
Salvo pequenos incidentes, a economia no pós-Segunda Guerra deslizou nos trilhos do crédito dirigido, dos controles de capitais entre os países, do gasto público amparado em sistemas fiscais progressivos
Em recente edição, o Valor informou:
“MP cobra medidas para identificar eventual desvio de finalidade do Copom”. O
Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (MPTCU) ofereceu uma
representação ao tribunal para “adoção das medidas necessárias a identificar
eventuais desvios de finalidade pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do
Banco Central na definição da taxa Selic”.
O subprocurador-geral do MPTCU, Lucas
Furtado, assina o documento. Na peça, o subprocurador menciona que as projeções
do relatório Focus “exercem grande influência” na decisão do Copom e que as
instituições financeiras que respondem à pesquisa “podem ter interesse na
manipulação do índice para ganhos próprios e privados indevidos e em prejuízo
aos interesses públicos e ao erário”.
Vamos recordar.
Em dezembro de 1970, a Câmara de Deputados
ofereceu à sociedade americana uma relatório conduzido por Lester Thurow e Alan
Blinder, “A Staff Report Prepared For The Committee On Banking And Currency
House Of Representatives”.
O trabalho foi elaborado em 1970, às vésperas
do primeiro choque do petróleo e da desorganização do sistema
monetário-financeiro internacional que culminou com a demolição das regras (que
nasceram debilitadas pelo poder americano) de Bretton Woods.
Os incômodos da estagflação culminaram no
choque de juros de 1979 deferido para recuperar o poder do dólar com prejuízos
para as economias europeias e desgraças para as economias - hoje ditas
emergentes - encalacradas na crise da dívida externa.
O chairman Wright Patman apresentou o
relatório afirmando que, em sua opinião “é um dos estudos mais importantes já
realizados pela Comissão de Bancos e Moeda da Câmara. Durante muitos anos,
houve uma grande confusão e uma infinidade de equívocos sobre o funcionamento
dos vários bancos centrais ao redor do mundo. Este estudo, pela primeira vez,
detalha os meios pelos quais os bancos centrais são integrados aos governos
nacionais e como eles são utilizados para atingir objetivos sociais e
econômicos básicos”.
O relatório acentua as diferenças entre o
desempenho do Federal Reserve e a atuação dos demais bancos centrais no período
do imediato pós-guerra.
De um modo geral, os bancos centrais
interpretaram a sua tarefa de promover o crescimento econômico de modo a ir
muito além das políticas monetárias gerais da economia. Em alguns países, isso
significa canalizar fundos privados para setores de desenvolvimento, em outros
isso significa investimentos diretos do banco central em empresas privadas ou
ainda um papel ativo na formulação e implementação de planos econômicos
nacionais.
Os controles diretos do crédito são
utilizados para canalizar fundos para gastos de capital industrial na França. O
Banco d'Italia usa efetivamente a persuasão moral para dar preferências àqueles
com “programas de desenvolvimento sólidos, que significam programas com grande
impacto no crescimento econômico. Também tem e usa seu poder para aprovar ou
reprovar empréstimos individuais. O Sveriges Riksbank, na Suécia, regula os
bancos privados para canalizar fundos para indústrias vitais.
Os BCs interpretaram a tarefa de promover o
crescimento econômico de modo a ir muito além das políticas monetárias
No livro “Controlling Credit”, o economista
do Banque de France, Eric Monnet, percorre os caminhos da formação e operação
do sistema de crédito público-privado na Europa do imediato pós-guerra.
“O Estado, concebido como o marco para
coordenar diferentes interesses econômicos e setores, foi responsável pelo
controle do crédito. Na França, como em muitos outros países (os Estados Unidos
e o Reino Unido são parcialmente uma exceção), o coração do sistema de controle
do crédito e investimento era o banco central. Embora não tenha ignorado a
existência dos mercados privados nem se limitado a políticas direcionadas, o
Estado interveio em todas as frentes, em diferentes níveis, apagando assim a
fronteira entre o crédito público e privado”.
Preservando a estrutura econômica
capitalista, as políticas monetárias, industriais e financeiras do pós-guerra
repousaram em uma base institucional que era conhecida, na época, como “a
nacionalização do crédito”.
Na caminhada das políticas monetárias, a
história não rima, contrariando a parêmia de Mark Twain. O termo política de
crédito é entendido hoje no sentido relativamente limitado de medidas dos
bancos centrais para combater a inflação. No entanto, o conceito de “política
de crédito” teve um significado muito mais extenso, denotando toda a gama de
intervenções apoiadas ou elaboradas por um banco central para incentivar o
desenvolvimento do crédito e influenciar sua alocação, substituindo assim
mecanismos de livre mercado considerados insuficientes, injustos ou
defeituosos.
O conceito de controle de crédito, seja no
singular ou no plural, também foi utilizado como sinônimo de política de
crédito, tanto nas etapas contracionistas quanto nas expansionistas.
Na posteridade da Segunda Guerra, os sistemas
financeiros foram severamente disciplinados. Salvo pequenos incidentes, a
economia deslizou nos trilhos do crédito dirigido, dos controles de capitais
entre os países, do gasto público amparado em sistemas fiscais progressivos.
No livro “Capitalisme Le Temps de Ruputure”,
Michel Aglietta argumenta que após a Segunda Guerra Mundial o capitalismo
ocidental experimentou um regime de crescimento que pode ser chamado de
capitalismo contratual, também conhecido como Fordismo.
“O capitalismo contratual superou o
persistente subemprego involuntário através de instituições de mediação
relacionadas aos salários, negociações coletivas e modelos de proteção social,
também através de uma regulação rigorosa das finanças e de um sistema monetário
internacional, o sistema Bretton Woods, que permitiu ampla autonomia das
políticas monetárias nacionais na estabilidade cambial. Diferentes tipos de
modelos sociais construíram diferentes variedades de capitalismo contratual. No
entanto, na Europa continental, pelo menos, eles se colocaram sob a égide de um
princípio comum de progresso social”.
3 comentários:
Além do Daniel, quem mais?
Petralha! Defendeu Dilmá no Painel do W.W. com unhas e dentes...
MAM
Não foi um artigo inspirado. O histórico foi razoável e interessante, mas faltou uma discussão e/ou conclusão de encerramento.
Lendo e tentando aprender.
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