Folha de S. Paulo
Medida volta a ter utilidade porque consumo e
produção de energia mudaram
O país vai ter de recorrer ao horário de
verão a fim de aumentar a segurança do abastecimento de
eletricidade em certos horários ou também reduzir custos de energia. Se não
neste 2024, em 2025, a fim de não depender dos deuses da chuva. Faz uns dois
meses, a proposta
está na mesa do governo.
Mas limitar o debate ao horário de verão é
desconversar sobre um monte de problemas e providências atrasadas. A seca no país,
de resto, não reduziu o nível dos reservatórios das hidrelétricas ao de anos
críticos. No início de setembro, a quantidade de água para se produzir energia
nas hidrelétricas do Sudeste/Centro-Oeste era a maior desde 2011, com exceção
de 2023, o melhor deste século. O problema é outro.
Para começar, é preciso distinguir entre
capacidade total de gerar energia e energia disponível em certo momento do dia,
no pico de consumo, por exemplo. Faz anos, o pico nos meses quentes migrou do
começo da noite para o meio da tarde (mais eletricidade para ar condicionado).
Foi um motivo para se desconsiderar a economia com o horário de verão. Mas há
problema novo na noite.
Nesta quinta-feira (12), o consumo era de 94,8 mil MW às 15h15. Deste total, 44,7 mil MW vinham de hidrelétricas, 19,3 mil MW de energia solar, 15,2 mil MW de eólicas etc.
Às 18h, o consumo era de 91,9 mil MW. A
geração das hidrelétricas passara a 54,3 mil MW. A das eólicas, para 19,2 mil
MW. A solar caíra para quase nada, é óbvio (anoiteceu).
A oferta de energia eólica era quase nada em
2010; a solar, nada em 2016. Tornaram-se
muito relevantes, como se pode ver pelos números desta quinta. Mas
ventos podem ser inconstantes. O sol "desliga" em certo horário. É
preciso contar com hidrelétricas, com mais térmicas,
mais caras e poluentes, e outras soluções.
É preciso ainda ter uma folga na geração de
energia (para não haver apagão em
caso de acidente localizado, por exemplo). Essa "folga" está
diminuindo, dado o crescimento do consumo.
É risco para o começo da noite —durante o
dia, a solar vai dando conta da demanda extra. Precisamos de mais energia para
quando o sol se puser.
Como atenuar o problema agora? Colocar mais
termelétricas no pacote. Usar mais energia de Itaipu. Importar eletricidade
de Argentina, Uruguai.
Fazer com que grandes consumidores usem menos energia em certos horários.
Outro solução é diminuir as restrições
de uso das
hidrelétricas (e, pois, da sua água), tanto de modo emergencial
(por dias, semanas) ou planejado —um programa geral e eficiente,
"ótimo", dos usos diversos das águas e da energia hidrelétrica. A
água das usinas também serve para beber, irrigar; para manter o nível de lagos
ou rios para turismo, negócios, navegação, proteção ambiental. Há restrições
físicas, regulatórias e até políticas ao uso dessa água.
É preciso fazer leilões para
a compra de energia nova, o que não ocorre desde 2022. É
preciso já pensar em colocar baterias nesses leilões. Isso: baterias para
armazenar energia nas horas de "folga" do dia e usá-las em momento de
escassez relativa.
É fácil perceber, pois, que resumir o assunto
a horário de verão é camuflar um problema maior, no curto prazo e daqui a um
par de anos. Ainda assim, o horário de verão seria uma solução praticamente
grátis (fora transtornos individuais) para atenuar riscos, por ora, e poupar
bilhões de reais.
2 comentários:
Pessima ideia
Horário de verão,há os que gostam e os que desgostam.
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