Folha de S. Paulo
Até agora o ex-presidente teve o tempo a seu
favor, mas a ampulheta acaba de virar
Ao mesmo tempo em que tolera o pacote
anti-STF —movimento liderado por bolsonaristas para promover, ao arrepio da
Constituição, a desarmonia entre os Poderes—, Arthur Lira tem dito a aliados
que vai descascar ainda neste ano o pepino em forma de projeto de lei que
concede perdão aos condenados pelos atos golpistas do 8 de Janeiro.
Lira terá de fazer mágica para não atrapalhar a eleição de seu candidato, Hugo Motta, à presidência da Câmara. Como favorecer o PL, que quer a aprovação do texto da anistia, e não enfurecer o governo? À exceção de quem está preso ou foragido, o mais interessado no tema é Bolsonaro. Justamente para evitar a cadeia ou a fuga do país.
O meteoro Marçal bateu forte. O pleito
municipal acirrou a disputa pela liderança no campo da direita, com desgaste
para o ex-presidente, que se desentendeu com Ratinho Jr. no Paraná, com Ronaldo
Caiado em Goiás e com Tarcísio de Freitas em São Paulo. Valdemar Costa Neto
chegou a escalar Tarcísio como primeiro da fila para a corrida presidencial.
Nada mais natural, pois Bolsonaro está inelegível, embora se comporte como
candidato vítima de perseguição.
Uma pesquisa feita em 2023 revelou que 94%
dos brasileiros condenavam a insurreição fascista de 8/1. Uma sondagem hoje
provavelmente mostraria um número menor. A narrativa das condenações injustas a
"jovens mães", "idosos" e "chefes de família" não
se sustenta para a maioria da população, mas o tempo adormeceu a impressão
inicial.
A partir de novembro, quando a PF concluir o
inquérito sobre a tentativa de golpe de Estado, o tempo será medido com outra
perspectiva. Se a investigação provar de modo consistente que a invasão dos
Poderes era uma etapa da engrenagem golpista —isca para instalar uma GLO—, terá
chegado a hora de Bolsonaro.
A ampulheta estará nas mãos de Paulo Gonet, o
procurador-geral da República, que decidirá se faz ou não a denúncia no STF
contra o ex-presidente, envolvendo a famosa minuta, a falsificação de cartões
de vacina para entrar nos EUA e a venda de joias para levantar recursos e viver
no exterior à espera da concretização do golpe.
Um comentário:
Bolsonaro, teu lugar é na cadeia! O julgamento de tantos crimes está muito demorado.
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