terça-feira, 15 de outubro de 2024

Maria Cristina Fernandes - Apagão acirra o clima

Valor Econômico

O primeiro turno da eleição paulistana foi tão sobressaltado que quando o candidato do Psol, logo no início do debate da Band, deixou seu púlpito em direção ao seu adversário, as cenas de pugilato incitadas pelo ex-candidato do PRTB, Pablo Marçal, vieram à lembrança.

Com o apagão que atingiu mais de 2 milhões de casas e estabelecimentos em São Paulo neste fim de semana, havia mais motivos do que nunca para um debate mais agressivo do que qualquer outro desta campanha, mas a ausência de Marçal fez diferença.

Se Boulos foi mais incisivo do que em todo o primeiro turno, o candidato do MDB, Ricardo Nunes, também incorporou ao seu modo o legado do candidato do PRTB com uma atitude que beirou o desdém com seu adversário, citando sua desvantagem nas pesquisas e acusando-o de despreparo. Citou ainda o fato de ter uma empresa “sólida e da qual me orgulho”, nascida na periferia sul de São Paulo para explorar o espírito do ex-adversário empreendedor.

Enquanto o candidato do Psol se aproximava do prefeito para, olhando nos seus olhos, lhe dirigir perguntas, Nunes se dirigia a Boulos voltado para a câmera. O apagão dominou o primeiro terço do debate com Boulos centrado nas falhas da zeladoria, Nunes, na atuação regulatória do governo federal e, ambos, na Enel.

Na defensiva, o prefeito tentou explorar a atuação de Boulos no tema como deputado federal enquanto o candidato do Psol repetia sucessivamente a pergunta sobre a responsabilidade pelo manejo e poda de árvores. O candidato do Psol contrapôs as falas de Nunes sugerindo que a audiência ligasse para os serviços públicos municipais para tentar conseguir o que o prefeito disse estar fazendo, na poda ou na marcação de exames.

Quando, às 23h11, eles deixaram, momentaneamente, o apagão, foi a vez de Boulos lançar os desafios a Nunes, o primeiro o de que sua empresa não havia recebido o cheque que a Polícia Federal disse ter sido depositado em sua conta, o segundo foi o da abertura do sigilo bancário de ambos e o terceiro, se Nunes aconselharia a um paulistano a andar com o celular na mão.

Sem responder, Nunes girou em torno do binômio experiência versus inexperiência enquanto o adversário fincou pé na mudança versus continuidade. No momento mais tenso, quando Boulos chegou bem perto, o prefeito reagiu: “Vim da periferia e você não vai me intimidar”. O candidato do Psol reagiu às provocações sobre seu partido levantando a ficha do partido de Nunes, o MDB, e, para se contrapor ao binômio equilibrado versus extremista, explorou as mudanças de posição do prefeito em relação a Bolsonaro.

Houve um único pedido de direito de resposta, de Nunes, negado. Foi tenso, mas devolveu a quem o assistiu a certeza de que as pegadinhas não evoluiriam para a agressão física.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu gostaria que fosse bem menos tenso.