O Estado de S. Paulo
Esta conferência climática, a COP-29, em
realização em Baku, capital do Azerbaijão, tem muito de mistura de pessimismo
com falta de vontade política para concluir acordos práticos.
Seu avanço se limita a acordo prévio para
regulamentar o mercado global de carbono, que ainda precisa mostrar como vai
funcionar, entre tantas disposições anteriores também acordadas que passam por
recuos.
Em vez de conter as emissões de gases do efeito estufa (GEE), tal como decidido no Acordo de Paris, de 2015, o mundo todo – alguns países mais e outros menos – vem contribuindo para aumentá-las. No ano passado, cresceram 1,3%. O grande objetivo é restringir a temperatura média da Terra a 1,5 grau centígrado acima dos níveis pré-industriais.
Os avisos de calamidades iminentes estão
todos os dias no noticiário. As ondas de calor tanto no Hemisfério Norte como
no Hemisfério Sul vêm batendo recordes. Apenas neste primeiro semestre de 2024,
os prejuízos em decorrência de eventos climáticos extremos (furacões,
tempestades, deslizamentos, inundações, queimadas) somam US$ 120 bilhões,
conforme dados da seguradora Munich Re.
Por toda parte, as catástrofes ameaçam
transbordar para a área política, como mostram os protestos recentes em
Valência, na Espanha, e a recusa de tantos países em aceitar as restrições.
As iniciativas para enfrentamento do problema
continuam emperradas. As delegações da França e da Argentina retiraram-se das
negociações. Mais emperradas tendem a ficar a partir de agora ao longo do
governo Trump. Ele já saiu do Acordo de Paris em seu primeiro mandato e, ao
longo da última campanha eleitoral, avisou que não vai perder tempo com
contra-ataques ao efeito estufa. E se o país mais poderoso passa o recado de
que não tem interesse em avanços na pauta climática, que estímulos terão os
demais 195 países participantes desta Conferência de assumir compromissos de
alto custo para virar esse jogo?
O principal assunto em pauta em Baku é a
necessidade de financiar iniciativas de reversão climática por parte dos países
ricos, os maiores poluidores do planeta. Pode ser até que algum entendimento
seja costurado agora, mas pouca coisa garantiria seu cumprimento.
O compromisso anterior de transferir US$ 100
bilhões por ano para os países emergentes foi apenas parcialmente observado até
agora. As novas cifras apontam para US$ 1 trilhão por ano até 2030. Mas como
esperar avanços, se os países ricos demonstram falta de interesse por aceitar
arranjos nesse sentido?
O risco de mais um emperramento parece
apontar para duas conclusões. A primeira é a de que os problemas causados pelas
mudanças climáticas precisam piorar muito antes que os maiorais do mundo se
mexam e destampem seus cofres para mudar a sina. E a segunda é a de que a falta
de novos avanços no Azerbaijão deixará mais encrencas em busca de
encaminhamento para a próxima conferência prevista para o ano que vem, a ser
realizada em Belém do Pará.
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