O Globo
Entidades fazem terrorismo econômico para
barrar debate sobre escala 6x1
A Confederação Nacional do Comércio adverte:
reduzir a jornada de trabalho pode provocar uma “onda de demissões” no país.
Desde a semana passada, entidades patronais
fazem alertas, ameaças e previsões catastróficas. O objetivo é interditar o
debate sobre o fim da escala 6x1, em que o trabalhador tem apenas um dia de
descanso por semana.
O presidente da Associação Brasileira de
Bares e Restaurantes, Paulo Solmucci, classificou a proposta como uma “ideia
estapafúrdia”. “Já estamos com dificuldades enormes com trabalhadores”,
esbravejou.
O presidente da Federação do Comércio de Minas Gerais, Nadim Donato, projetou uma quebradeira de pequenas e médias empresas em todo o país. “Essa mudança terá consequências graves, fazendo com que elas fechem as portas”, garantiu.
O presidente do conselho de relações do
trabalho da Confederação Nacional da Indústria, Alexandre Furlan, definiu a
redução da jornada como uma “conta que não fecha”. O vice-presidente da
Federação das Indústrias do Rio, Antonio Carlos Vilela, falou em “risco ao
crescimento do nosso país”.
Além de ameaçar com demissões em massa, a
Confederação Nacional do Comércio sustentou que o fim da escala 6x1
prejudicaria “justamente aqueles que a medida propõe beneficiar”. A preocupação
com os trabalhadores é comovente, mas faltou explicar se eles foram consultados
sobre tudo isso.
A defesa da redução da jornada é tão antiga
quanto a luta de classes. Já aparecia nas faixas da greve geral de 1917, quando
operários se revoltaram contra a obrigação de passar no mínimo 12 horas por dia
nas linhas de montagem.
Sua versão mais recente foi lançada por Rick
Azevedo, um tocantinense que ralou como faxineiro, garçom, frentista e
balconista de farmácia. Sem o megafone das entidades empresariais, ele apostou
no TikTok para reclamar da rotina massacrante e mobilizar outros trabalhadores
exaustos e mal remunerados. O desabafo o elegeu vereador no Rio e inspirou uma
Proposta de Emenda à Constituição, assinada pela deputada Erika Hilton.
O texto prevê a adoção da semana com quatro
dias de trabalho e três de descanso, o que parece impossível de ser aprovado
neste momento. Mas o objetivo da artilharia em curso é bloquear qualquer debate
que vá na contramão das últimas alterações nas leis trabalhistas. Apresentadas
como reformas modernizadoras, elas só enfraqueceram os sindicatos e retiraram
direitos dos assalariados.
Em 1871, associações de fazendeiros
martelavam que a Lei do Ventre Livre esvaziaria as lavouras e destruiria a
economia do Império. Queriam disseminar o medo para sufocar a pressão por
mudanças e manter a ordem escravista.
Além de apelar ao terrorismo econômico, os
contentes com a escala 6x1 apostam no lobby em Brasília. O presidente da
associação de bares e restaurantes disse ter apoio de uma frente parlamentar
“muito forte”, que impediria qualquer redução da jornada de trabalho. “Tenho
certeza que essa frente de quase 300 parlamentares não vai deixar prosperar”,
decretou.
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