Folha de S. Paulo
Tarifaço ao Brasil não ajuda nem Bolsonaro
nem a busca por superávits perseguida pelos EUA
Não é de assessoria política, econômica e nem
mesmo da ajuda de um profissional de saúde mental que Donald Trump precisa
agora. O que ele deveria fazer é convocar com urgência um professor de lógica
para auxiliá-lo na Casa Branca, pois suas ações estão mais erráticas do que o
habitual.
Se o objetivo do presidente americano é ajudar Jair Bolsonaro, então a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros é uma péssima escolha. É zero a chance de a ameaça tributária aliviar a situação jurídica do capitão reformado no STF.
No plano político, o tarifaço, caso se
concretize, mais prejudicará do que ajudará o candidato da direita no pleito de
2026. E ele bateria forte no coração do bolsonarismo. As barreiras extras
seriam ruins para a economia brasileira como um todo, mas péssimas para setores
específicos como o agronegócio, onde se concentram apoiadores do golpista
impenitente.
Nada disso deveria ser surpresa para Trump,
que, desde que assumiu, perdeu mais eleições no exterior do que venceu. Ele foi
decisivo para a virada dos trabalhistas no Canadá e na Austrália e foi um
cofator para o triunfo de centristas na Groenlândia e na Romênia. Só na Polônia
o candidato por ele apoiado se deu bem.
Se a meta real de Trump não é Bolsonaro, mas
a agenda econômica da Casa Branca, a sobretarifa também é um tiro no pé. O
Brasil é um dos poucos países com os quais os EUA têm superávit comercial.
Diminuir o volume de trocas não faz sentido.
Vamos ver como Lula reagirá.
O brasileiro foi imprudente quando declarou apoio a Kamala Harris,
mas vinha atuando com sabedoria ao manter um low profile desde a posse do
americano. Estava dando certo, até agora.
Lula terá de optar entre falar grosso e
colher os aplausos da torcida ou entregar as negociações a profissionais do
Itamaraty, a fim de tentar reduzir os danos econômicos, obviamente sem ceder na
política.
Trump, como se sabe, só é consistente em sua
inconsistência. Não tem nenhum problema em se contradizer e voltar atrás em
ações e ameaças.
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