sexta-feira, 11 de julho de 2025

Bolsonaristas vibram com ataque ao Brasil – Vera Magalhães

O Globo

No momento em que anuncia o tarifaço ao Brasil, usando como justificativa uma inventada “caça às bruxas” a Jair Bolsonaro, Donald Trump está enredado, para variar, numa teia de enroscos domésticos e internacionais, que vão da complicação da guerra da Rússia contra a Ucrânia às decisões da Justiça cassando outras de suas decisões arbitrárias, passando pela tragédia das mortes no acampamento de férias no Texas.

Usa o Brasil, com outras bazófias, como uma de suas habituais cortinas de fumaça para tentar obscurecer assuntos que lhe são desconfortáveis. Não está nem aí para o Brasil, nem mesmo para Bolsonaro. Mas o ex-presidente, seus apoiadores e a parcela mais fanatizada do eleitorado que ainda lhe é fiel reverberam uma comemoração estúpida, por não levar em conta que todos no país serão afetados negativamente por essa chantagem absurda, que desconsidera a soberania brasileira.

Mais uma vez, Trump prova ser feito do mesmo material que o próprio aliado de conveniência, seu genérico brasileiro: age sempre pelos impulsos mais comezinhos, que atendem única e exclusivamente à sua lógica pessoal torpe de dilapidação das instituições, dos consensos políticos e da previsibilidade na gestão pública. No caso da decretação de uma tarifa de importação absolutamente arbitrária para produtos brasileiros, também manda às favas o Direito internacional, as práticas comerciais mais elementares e a diplomacia, numa agressão que nenhum político brasileiro, seja do campo político que for, deveria admitir, sob pena de ser rechaçado de pronto por seus próprios eleitores.

Mas trumpismo e bolsonarismo operam no caos, crescem na desinformação e tentam, sempre, substituir a racionalidade na avaliação das decisões — políticas, judiciais, comerciais, de toda natureza — por um misto de empulhação ideológica com messianismo, que lamentavelmente ainda consegue arrastar desavisados.

Não se justifica que governadores, prefeitos e parlamentares, eleitos para representar os interesses da sociedade brasileira, se ajoelhem no altar da sabujice política para aplaudir bovinamente a agressão gratuita e injustificável ao governo, ao Judiciário e também ao Congresso brasileiro. Todos sabem que não há nada de ilegal nos processos contra Bolsonaro e seus ex-auxiliares. Durante anos eles agiram deliberadamente para tentar minar o processo eleitoral, perseguir o Judiciário, manietar o Ministério Público e espionar adversários, tudo com o objetivo final de impedir, a qualquer custo, a alternância de poder caso ele perdesse a eleição, como de fato perdeu.

Trump também não acalenta a ilusão de que há a tal perseguição. Na verdade, mal conhece Bolsonaro e não está nem aí para seu destino. Ao se arrogar o papel de seu defensor tanta, antes, pressionar a Justiça brasileira por ter feito o que a americana não fez: levar a cabo, sem ceder a pressões, o julgamento daqueles — políticos e também seus seguidores fanatizados nas ruas — que tentaram fazer sucumbir a democracia. Num de seus muitos surtos autoritários e megalômanos, parece acalentar a ilusão de que com sua chantagem fará o Supremo Tribunal Federal recuar e provará que tudo bem tentar dar um golpe, em Brasília ou em Washington.

Por óbvio, isso não acontecerá, mas os prejuízos econômicos e diplomáticos podem ser violentos, em muitas esferas, para o Brasil, mas também para o país que o próprio bravateiro comanda. Bolsonaristas que deram vivas a esse desatino devem pagar nas urnas o preço por levar em conta antes o interesse de seu guru que do país a que têm a missão, conferida pela Constituição e pelo restante do ordenamento jurídico, de servir. Só um lembrete: este país é o atacado, não o que ataca.

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