O Estado de S. Paulo
Trump deu a Lula uma chance de ouro de
recuperar apoios políticos e popularidade
Com sua megalomania, impulsividade e imprevisibilidade, Donald Trump deu a Lula tudo o que ele precisava para recuperar apoio político e popularidade: um inimigo externo e um discurso. Um discurso catalisador, resumido no slogan que o Planalto produziu, mas terceirizou para seus militantes e aliados massificarem nas redes sociais: “Lula quer taxar os superricos, Bolsonaro taxa o Brasil”. É assim, unindo o “pobres contra ricos” com a “defesa da soberania”, que Lula tem sua grande chance de sair das cordas.
Se Lula recorre à “soberania”, o bolsonarismo
tenta usar a “democracia”. Porém, a agressão do império à economia, às
instituições e à democracia – e, portanto, à soberania nacional – é real, mas a
alegação de Trump de que há censura, ameaça à livre expressão e “caça às
bruxas” no Brasil é tão mentirosa quanto a própria “carta” de Trump para
anunciar tarifas de 50% a todos os produtos brasileiros.
No texto, ele cita “déficits comerciais
insustentáveis” que o Brasil causaria aos EUA, mas é o oposto! O Brasil teve um
déficit de US$ 400 bilhões com os EUA em 15 anos, e oito dos dez produtos
americanos exportados para o Brasil chegam aqui com... tarifa zero. Além de
mentirosa, a carta é malcriada, grosseira e foi divulgada antes de chegar ao
destinatário – o presidente do Brasil. O Itamaraty devolveu.
É isso que Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro
e a imensa militância do grupo defendem e pregam no governo e no Congresso dos
EUA? Taxação no comércio, sanções a ministros do Supremo, avacalhação da imagem
do Brasil no exterior? E “o Brasil acima de tudo” que embalava multidões no
pico de popularidade de Bolsonaro?
O ataque de Trump não muda o julgamento de
Jair Bolsonaro no Supremo por tentativa de golpe, mas pode piorar um bocado a
investigação do filho Eduardo por coação e obstrução do processo contra o pai.
E o pior para o bolsonarismo é que divide, confunde e amedronta aliados. O
grande teste será a pesquisa que a Quaest começou ontem, dia seguinte ao míssil
de Trump, quando só se fala nisso. Foram 240 milhões de menções na internet em
menos de 24 horas.
Trump mirou o governo Lula, o STF e o Brics,
mas errou o alvo e acertou Bolsonaro e pode se transformar no marco da
reviravolta de Lula rumo a 2026. Mas, assim como reuniu os Poderes e a
Federação na defesa da democracia após o 8/1, Lula precisa, como analisa o
professor Roberto Menezes, da UnB, unir Congresso, setores privados, entidades
e os brasileiros em torno do interesse nacional. Só Trump poderia dar essa
chance a Lula. E deu.
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