terça-feira, 19 de agosto de 2025

Felca revela, bolsonaristas escondem, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Influenciador sacudiu a opinião pública, mas bolsonaristas querem travar projeto contra violência sexual infantil

Afeito a obstruções e viagens de turismo 0800, o Congresso Nacional está devagar —e às vezes é forçado a parar. O ano de 2025, se acabasse hoje, estaria perdido para aqueles que têm a obrigação de criar, alterar e revogar leis. A maioria está mais interessada em viver com a cara enfiada no celular, faturar com emendas secretas e promover a própria blindagem. Além de relativizar os ataques de Trump ao Brasil.

A PEC da Segurança, por exemplo. Já aprovada na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, aguarda a votação em plenário, mas não há sinal disso.

Os criminosos, ao contrário dos parlamentares, não param de trabalhar e se organizar. Existem mais de 60 facções espalhadas pelas 27 unidades da federação. As duas maiores, PCC e CV, têm usado bancos digitais para lavar dinheiro. Segundo investigações das polícias Federal e Civil do Rio e de São Paulo, cerca de R$ 28 bilhões foram movimentados nos últimos seis anos por meio de fintechs, que forjam operações e compram criptomoedas, dificultando o rastreamento e bloqueio de recursos dos titulares da conta.

O descaso atinge a violência sexual infantil, problema antigo que ganhou repercussão nacional após o efeito Felca. Com seu vídeo (que tem mais de 44 milhões de visualizações), o influenciador conseguiu sacudir a opinião pública —proeza que nenhum deputado é capaz de realizar.

O presidente da Câmara, Hugo Motta, quer votar nesta semana o projeto que combate a chamada adultização de crianças e adolescentes. Enfrenta a resistência dos bolsonaristas, que prometem mais uma vez paralisar os trabalhos. Note-se que não há disposição para o debate, a ordem é obstruir.

Em linhas gerais, a relatoria de Jadyel Alencar (Republicanos-PI) estabelece regras para proteção de crianças e adolescentes no meio digital, responsabiliza plataformas e obriga a retirada de conteúdos criminosos sem decisão judicial. O líder do PL, Sóstenes Cavalcante, consegue ver censura no projeto. "A questão continua muito nebulosa", diz. Nebulosa é a declaração dele.

 

 

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