Folha de S. Paulo
Reação do governo Lula, em preparação pela
área técnica, precisa ser cirúrgica e na medida certa
O voto do
ministro Luiz Fux pedindo
a anulação do julgamento da
trama golpista e absolvendo Jair
Bolsonaro de liderar uma organização criminosa eleva o risco de
ampliação das sanções do governo Donald Trump.
A posição do ministro não muda os rumos do julgamento, mas dá força para os bolsonaristas articularem nos Estados Unidos uma dosagem mais forte da Lei Magnitsky e outras sanções contra empresas, produtos brasileiros e o governo Lula.
O mais provável é que o governo americano
entenda que quem votou com o relator Alexandre Moraes seja usurpador de
direitos após Fux abraçar a tese bolsonarista de que houve obstáculos
processuais para a defesa do ex-presidente, como o acúmulo de cerca de 70
terabytes em documentos e provas.
Outros efeitos são esperados. Do ponto de
vista interno, o posicionamento de Fux irá recrudescer a busca pela aprovação
do projeto de anistia no Congresso.
Boa parte dos parlamentares está olhando para
Bolsonaro não como líder futuro, mas como um mal necessário para conseguirem
a PEC da
Blindagem. A proposta legislativa dificulta investigações criminais
contra parlamentares sem aval do Congresso e praticamente proíbe operações
contra senadores e deputados.
Em tempos de investigações de corrupção com
uso de emendas parlamentares, bets ilegais e uma série de operações contra a
infiltração do crime organizado em setores da economia,
como o financeiro, o temor de prisões ronda os gabinetes da Câmara e do Senado.
A ameaça da Casa Branca de usar o poder
econômico e militar contra o Brasil aumenta a tensão de que novas sanções
alcancem bancos, especialmente o estatal Banco do Brasil, outros membros
do STF,
ministros do governo e até mesmo o presidente Lula.
Como Trump é imprevisível, mais do que nunca a reação do governo Lula com
a adoção de
medidas de reciprocidade contra os Estados Unidos, em
preparação pela área técnica, precisa ser cirúrgica e na medida certa.
Será uma ação de difícil equação para o
governo, mas necessária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário