Folha de S. Paulo
Esquerda e direita rendem homenagem ao
ridículo ao afetar engajamento político em torno de sandálias
Há nos três Poderes causas relevantes a serem
objetos de defesa e ataque aos interessados num debate consistente
Criticada por organizar reação a mensagens
supostamente subliminares em propaganda de sandálias, a direita não
foi a única a embarcar na briga dos chinelos. A esquerda também rendeu
homenagens ao ridículo para afetar
engajamento na internet.
Ficamos, assim, diante de mais um episódio da chamada polarização de sofá. Um ótimo apelido para gente que não sabe de nada, acredita saber de tudo, não tem ideia de como as coisas funcionam, pega tudo pela superfície e acredita que desse modo participa do debate político.
Lastimável a leitura dos comentários acerca
da propaganda das Havaianas. Prova cabal da falta de educação política num
ambiente alegadamente politizado. Fazemos, na verdade, contato com a ignorância
travestida de militância cívica.
Não só. Algumas pessoas com credenciais de
especialistas que se acreditam gabaritadas ao exercício da análise pretenderam
explicar a gênese, as motivações e o alcance do sururu —uso de propósito termo
anterior à era digital— que se formou em torno da peça estrelada por Fernanda
Torres.
Nos três Poderes há assuntos concretos,
importantes e urgentes a serem abordados se o caso é disputar defesa e ataque
de causas essenciais cuja urgência independe do lado onde estão os combatentes.
No Executivo, há temas variados: o uso
abusivo da máquina
governamental na campanha à reeleição, a situação periclitante das
estatais, o descaso com as fraudes no
INSS, a negligência na segurança pública e a criatividade no manejo
de dados sobre as contas públicas.
No Legislativo, cumpre estabelecer vigilância
ao uso e abuso das emendas
parlamentares, além do controle sobre propostas de leis em causa
própria.
No Judiciário, as condutas supremas estão
na berlinda a exigir da sociedade urgente e permanente cobrança por rigorosa
transparência.
Todas essas cobranças justas; vão além de
sandálias que não soltam cheiro e tampouco acrescentam um grão de consistência
ao debate político nacional.

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