quarta-feira, 28 de maio de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

“A CPMI será o instrumento para que possamos assistir a transparência, quem sabe, voltar a ter espaço na vida pública brasileira.”

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB, sobre a instalação da CPMI , Brasília, 27 de maio de 2014.

Greves tomam as ruas do país

• Diversas categorias aproveitam ano eleitoral e realização da Copa do Mundo no Brasil para reivindicar reajuste e melhorias nas condições de trabalho. Centrais sindicais dizem que momento é oportuno para pressionar governantes

Patrycia Monteiro Rizzotto – Brasil Econômico

As greves de várias categorias profissionais, em diferentes estados, aumentaram nos últimos dias, com manifestações de rua, aproveitando, na maioria dos casos, a proximidade da Copa do Mundo. Ontem, professores da rede municipal de ensino de São Paulo realizaram protesto no centro da capital para reivindicar reajuste salarial e melhores condições de trabalho. A categoria já está há um mês em greve. Também estão suspensas as atividades dos servidores públicos da Prefeitura de São Paulo e dos professores e funcionários da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que reagem contra o anúncio de congelamento de salários.

No Rio de Janeiro, rodoviários dissidentes do Sindicato dos Trabalhadores de Transporte Urbano decidiram entrar em greve por 24 horas a partir da zero hora de hoje. Por determinação da Justiça, os rodoviários deverão manter 30% da frota de ônibus trafegando nas ruas da capital fluminense. Uma nova assembleia acontecerá na sexta-feira. Ontem ainda, policiais civis do Rio fizeram passeata no Centro da cidade para exigir a incorporação de uma gratificação ao salário-base de ativos, aposentados e pensionistas. Professores da rede pública estadual, em greve desde o dia 12, tiveram a paralisação considerada ilegal pela Justiça, que determinou a volta imediata ao trabalho, sob o risco de o governo cortar o ponto e descontar o salário dos grevistas e de os sindicatos serem obrigados a desembolsar R$ 300 mil em multas. Hoje haverá assembleia para decidir se a paralisação será mantida.

Até o fechamento desta edição, era a grande a expectativa em torno do resultado da assembleia dos metroviários de São Paulo, na noite de ontem. A categoria está em estado de greve e a paralisação de suas atividades promete causar grande transtorno à população paulistana, prejudicando não apenas os 3,8 milhões de usuários do Metrô, mas também o transporte coletivo, causando impacto negativo no já caótico trânsito de São Paulo. De acordo com Onofre Gonçalves, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) de São Paulo, as negociações salariais e as greves fazem parte do calendário do mês de maio no país.

Contudo, este é um ano atípico, de realização da Copa do Mundo no Brasil e eleições, o que dá mais poder de pressão aos trabalhadores. "Não estamos contra a Copa, nem insatisfeitos com o governo federal, mas queremos aproveitar a oportunidade para reivindicar mais direitos aos trabalhadores, pegando carona na visibilidade da Copa e no momento de transição política", afirma. Para Rogério Giannini, secretário de Relações do Trabalho da CUT de São Paulo, não há razões exógenas por trás das greves realizadas atualmente no Brasil, mas em ano eleitoral é natural que os trabalhadores, sobretudo os do serviço público, questionem seus patrões que são os gestores públicos que pleiteiam renovação de mandatos. "Ano eleitoral é uma boa oportunidade para reivindicar direitos e pleitear melhorias nas condições de trabalho porque quer queira, quer não, quem está no poder sofre desgaste político com a realização das greves", diz.

BC e rodoviários em Salvador e Maranhão param
Técnicos do Banco Central (BC) pretendem iniciar hoje paralisação de 24 horas para reivindicar a exigência de nível superior nos concursos do BC para esses cargos. Atualmente, só é exigido nível superior para analistas. Segundo o presidente do Sindicato dos Técnicos do Banco Central em Brasília, José Willekens Brasil, há hoje desvios de função, com analistas exercendo as mesmas funções dos técnicos, mas com salário maior.

Willekens disse que o BC tem cerca de 560 técnicos e que a paralisação poderá afetar, por exemplo, a distribuição de dinheiro nas capitais e a segurança nos prédios da autarquia. Em Salvador (BA) e São Luís do Maranhão (MA), os usuários de ônibus enfrentaram uma manhã caótica ontem.

Em busca de aumentos salariais e de melhores condições de trabalho, rodoviários das duas capitais nordestinas cruzaram os braços e se somaram às paralisações parciais que já vinham ocorrendo nos últimos dias. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários do Estado da Bahia, a adesão é de quase 100%. Também em São Luís, o Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Rodoviário do Estado do Maranhão informou que quase a totalidade dos rodoviários aderiu à paralisação.

Acadêmicos pedem fim de protestos 'abusivos'

• Grupo lança petição por direito de ir e vir

Diego Zerbato – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Um grupo de acadêmicos lançou nesta semana uma petição pública na internet pela garantia do direito de ir e vir durante os protestos.

No texto, os professores defendem "um basta" a protestos que prejudicam a circulação e pedem que as autoridades garantam os direitos dos demais cidadãos.

Uma das signatárias, a pesquisadora Elizabeth Balbachevsky, do Núcleo de Pesquisas sobre Políticas Públicas da USP, diz que as manifestações devem acontecer, mas dentro dos limites da lei.

"Não podemos decretar uma ditadura de uma minoria. Essa concepção é danosa e abre uma perspectiva para o radicalismo e a ruptura da normalidade democrática."

Alba Zaluar, professora de antropologia social da Uerj, diz ter assinado a petição por considerar abusivos protestos violentos e as greves de ônibus. "Eles não podem prejudicar a todos."

Mais de 200 pessoas já assinaram o documento. Esther Solano, professora da Unifesp que estuda a tática "black bloc", discorda e diz que os protestos são reflexo da crise de representatividade no Brasil.

Em dia de protestos em capitais, novas greves são marcadas

Rodrigo Pedroso e André Borges – Valor Econômico

SÃO PAULO e BRASÍLIA - Depois de protestos e greves em quatro capitais do país ontem, novas paralisações estão marcadas para esta quarta-feira. No Rio de Janeiro, rodoviários estão em greve por 24 horas desde a zero hora de hoje. Em São Paulo, servidores municipais de outras áreas aderiram à paralisação dos professores.

Ontem, manifestantes contra a Copa entraram em confronto com a polícia e travaram o centro de Brasília. Já em Salvador e São Luís, funcionários das empresas de ônibus cruzaram os braços mesmo após acordo entre sindicatos patronais e de trabalhadores.

No Rio de Janeiro, a prefeitura informou que a Polícia Militar deve garantir a segurança na saída das garagens de ônibus, nas estações do BRT Transoeste e nos terminais para aqueles que optarem por não aderir à paralisação. Os rodoviários são contra o acordo fechado em abril pelo sindicato dos motoristas e cobradores com as empresas de ônibus, que garantia reposição salarial de 10%, e argumentam que o sindicato fechou acordo sem ouvir o conjunto da categoria, que reivindica aumento salarial de 40%.

Em São Paulo, cerca de 2,3 mil professores municipais decidiram manter a greve após assembleia realizada ontem. Além dos professores, servidores das demais áreas da administração municipal e que também participavam do ato anunciaram greve. Os metroviários, por sua vez, prometeram greve a partir do dia 5 de junho depois de rejeitarem nova proposta de reajuste salarial.

Segundo Vlamir Lima, dirigente do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep), a prefeitura quer negociar por categoria, enquanto os servidores pedem um acordo conjunto.

O sindicato representa todos os servidores, com exceção dos professores. A única categoria que decidiu não aderir a paralisação são os guardas civis metropolitanos.

Ainda ontem, em Brasília, um grupo de aproximadamente mil manifestantes paralisou completamente o trânsito ontem no Plano Piloto, região central da capital federal. O chamado "eixo monumental", que funciona como uma das principais rotas de saída da cidade, ficou por pelo menos uma hora absolutamente travado, causando um caos no trânsito. A polícia usou bombas de efeito moral. Houve correria entre os manifestantes. Um grupo de pessoas tentou atingir a cavalaria, que reagiu com mais bombas. O ato, também marcado para hoje, aconteceu nos arredores do estádio Mané Garrincha. A taça da Copa do Mundo está exposta na arena.

Outro protesto, de cerca de 300 índios, segundo a polícia, ocupou a marquise do Congresso Nacional. O grupo cantou e dançou num protesto pacífico em defesa dos direitos dos povos indígenas. Antes, tentaram subir a rampa do Palácio do Planalto e fizeram uma pajelança na Praça dos Três Poderes, em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), pela demarcação de suas terras. Os índios pretendem ficar acampados até quinta-feira.

Em Salvador, 1,5 milhão de pessoas ficaram sem ônibus de acordo com estimativa da prefeitura. Houve paralisação total da frota após motoristas e cobradores não acatarem o acordo feito pela direção do sindicato. Foram registrados protestos e piquetes na porta das garagens das empresas.

O TRT (Tribunal Regional do Trabalho) havia determinado que uma frota mínima com 50% dos ônibus circulasse na capital baiana, chegando a 70% nos horários de pico. O não cumprimento da ordem vai gerar multa de R$ 100 mil por dia ao sindicato. Sem ônibus, muitas lojas, clínicas, bares e restaurantes não abriram as portas.

O prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), disse enfrentar dificuldade para dialogar com motoristas e cobradores de ônibus. "É inegável que é difícil ter uma interlocução quando não há uma liderança no movimento", afirmou.

No sexto dia de greve, motoristas e cobradores pararam 100% dos ônibus em São Luís. Segundo o sindicato dos trabalhadores, a estratégia foi adotada porque, desde o início da paralisação, não houve avanço nas negociações. Até anteontem, 70% da frota circulava. A greve prejudicou cerca de 750 mil passageiros. Os rodoviários reivindicam reajuste de 16% e melhorias nas condições de trabalho. (Com agências noticiosas)

TSE muda número de deputados, e Rio perde um parlamentar

• Decisão final será do Supremo Tribunal Federal, onde já tramitam ações contra a resolução

Luiza Damé – O Globo

BRASÍLIA - O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou nesta terça-feira a mudança no número de deputados federais por estado nas eleições deste ano. A decisão altera a composição das bancadas de 13 estados: ganham os estados do Pará, do Ceará, de Minas Gerais, do Amazonas e de Santa Catarina. Perdem parlamentares os estados do Rio, da Paraíba, do Piauí, de Pernambuco, do Paraná, do Espírito Santo, de Alagoas e do Rio Grande do Sul. A decisão final será do Supremo Tribunal Federal (STF), onde já tramitam ações contra a resolução do TSE.

A decisão é mais uma etapa na queda de braço entre o TSE e o Congresso. Em abril do ano passado, o Tribunal, acatou pedido da Assembleia Legislativa do Amazonas para redefinir o número de deputados federais por estados. A mudança mexe também na composição das Assembleias Legislativas e da Câmara Legislativa do Distrito Federal. Em dezembro, o presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL), promulgou o decreto legislativo mantendo a composição atual.

Desta vez, os ministros do TSE consideraram que, para ter validade nas eleições deste ano, o decreto legislativo do Congresso teria de ser aprovado até outubro de 2013 - um ano antes do pleito. Além disso, os ministros entendem que, como a resolução do TSE regulamenta uma lei complementar, somente outra lei complementar poderia mudar a decisão. A resolução do TSE não altera o úmero total de deputados - 513.

O número de deputados é definido de acordo com a população de cada unidade da federação. O TSE se baseou nos dados do Censo de 2010 divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Já a distribuição atual das vagas na Câmara considera a população dos estados em 1998.
Com a decisão do TSE, o Pará ganhará quatro cadeiras, passando de 17 para 21 deputados; Minas Gerais e Ceará, duas vagas; Amazonas e Santa Catarina, um parlamentar.

Paraíba e Piauí terão a maior redução de bancada: perdem dois deputados federais cada um. Já Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Alagoas e Rio Grande do Sul perdem uma vaga na Câmara na próxima Legislatura (2015 a 2018).

Indicações para CPI mista da Petrobrás deixam governo sob ameaça de rebeldes

• Oposição e partidos que não se alinham ao Palácio do Planalto obtêm 14 das 32 cadeiras da comissão

Débora Álvares, Ricardo Della Coletta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A CPI mista da Petrobrás, cuja primeira reunião deve ser realizada hoje no Congresso, tem potencial para se transformar num problema para o governo e para o projeto reeleitoral da presidente Dilma Rousseff. Dos 32 integrantes da comissão que reunirá deputados e senadores, 13 são da oposição ou integram a ala de aliados rebeldes, que não se alinham automaticamente ao Planalto.

A CPI mista é vista pelos opositores como única forma de investigar as suspeitas que pesam sobre os negócios da estatal sem a tutela governista. Já há uma CPI da Petrobrás em andamento, integrada apenas por senadores. Ela é totalmente controlada pela base e vem sendo boicotada pelos opositores.

Entre os rebelados que vão integrar a CPI mista estão deputados que ainda negociam palanques em seus Estados - ou seja, têm interesse em pressionar o governo. Também há deputados que já embarcaram em alianças locais com siglas de oposição e vão dar palanque e apoio ao pré-candidato do PSDB à Presidência, senador Aécio Neves.

É o caso do líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do correligionário Lúcio Vieira Lima (BA), bem como dos deputados Bernardo Santana (PR-MG), Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP) e Enio Bacci (PDT-RS).

A soma desses parlamentares com os oito integrantes da oposição deixa o governo em situação de risco e coloca em xeque o controle da CPI mista pelo governo, que conta com 19 integrantes fiéis. Apesar de os opositores e os rebelados não serem maioria, qualquer cochilo da tropa de choque do Planalto poderá se transformar num transtorno para Dilma. Convocações e quebras de sigilos indesejadas poderão ser aprovadas na comissão.

Esse é um dos principais motivos pelo qual ontem o ministro Ricardo Berzoini (Relações Institucionais) se reuniu com deputados no Planalto para pedir que a CPI mista dos metrôs, articulada pelo governo para atacar a oposição e servir de contrapeso aos eventuais ataques sofridos na seara da Petrobrás, seja instalada o mais rápido possível.

A previsão é de que todos os nomes estejam já indicados na semana que vem.

O líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), admite o temor de que instabilidades regionais influenciem aliados a virarem as costas aos interesses do governo. "É óbvio que estamos preocupados com isso também. Pode haver algum tipo de repercussão", disse o petista, segundo quem as estratégias para driblar as alterações de ânimo ainda estão sendo estudadas.

O pedetista Enio Bacci, cujo partido vai lançar Vieira da Cunha ao governo do Rio Grande do Sul contra o petista Tarso Genro, diz ter certeza da influência dos palanques regionais na CPI. "Tanto o parlamentar que tem interesses nos Estados pode tentar pressionar o governo quanto o próprio governo pode condicionar apoio no Estado a uma postura mais pacífica. Quem conhece política sabe que é uma prática não aceitável, mas comum."

Ceará. A avaliação é seguida pelo líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE). "Tudo na vida influencia. Se nem a situação de quem escolhe está definida, imagina de quem é indicado", afirmou o senador. Eunício é pré-candidato ao governo do Ceará. Ele recebeu sinalização do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o apoio do PT, mas precisa lidar com a resistência dos irmãos Cid e Ciro Gomes (PROS) em embarcar na sua chapa - em gratidão ao desembarque da dupla do PSB do presidenciável Eduardo Campos, Dilma insiste em manter o acordo firmado com os Gomes e apoiar o candidato deles.

Nos bastidores, aliados do governo citam como o mais claro exemplo de preocupação as recentes movimentações de Lula, que esteve com Eunício recentemente a afim de acalmá-lo.

A primeira reunião hoje deve confirmar o senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), que já comanda a esvaziada CPI do Senado, na presidência da CPI mista. O deputado petista Marco Maia (RS) deve ser o relator da nova comissão de inquérito.

Aécio: “A CPMI será o instrumento da transparência”

BRASÍLIA (DF) – Em entrevista, o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves, reiterou nesta terça-feira (27) a defesa pela instauração da CPI Mista da Petrobras. “A CPMI será o instrumento para que possamos assistir a transparência, quem sabe, voltar a ter espaço na vida pública brasileira”, afirmou ele.

A CPI Mista da Petrobras
A instalação da CPI Mista é uma demanda da sociedade brasileira, que está indignada com tantas e tão sucessivas denúncias de irregularidades, de desvios e de incapacidade do governo em responder tudo isso. A CPMI será o instrumento para que possamos assistir a transparência, quem sabe, voltar a ter espaço na vida pública brasileira.

A CPMI será um bom momento para que os governistas possam lá se defender, ou aquelas pessoas que tiveram eventualmente algum vínculo com essas acusações possam se defender, e possamos, ao final, julgar. Ela não prende ninguém. A CPMI, a princípio, não condena ninguém. Ela apenas permite que os esclarecimentos sejam dados. E quem quer os esclarecimentos não é o PSDB, é a sociedade brasileira. Estou otimista.

Ameaça de boicote por parte da base governista
Se fizer o boicote vai ter que responder por ele. Esse assunto não será jogado para debaixo do tapete, porque, se eles não permitirem que os esclarecimentos possam ser dados, vamos cobrar durante a campanha eleitoral que eles sejam dados.

PT pressiona Planalto por fim da Anistia

• Partido quer revogação da lei, apesar de Dilma já ter sugerido ser contra; Aécio e Campos dizem que não pretendem mexer no assunto

Ricardo Della Coletta, Débora Álvares - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O PT pretende pressionar a presidente Dilma Rousseff a rever, em um eventual segundo mandato, a Lei da Anistia, além de tentar fazer com que o tema seja debatido durante a campanha eleitoral como forma de marcar posição e se diferenciar de seus principais adversários, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB).

A defesa da revisão da lei foi incluída no documento que apresentou as diretrizes do programa de governo da sigla aprovado anteontem pela Executiva nacional. A alegação foi a de que a punição dos crimes praticados por agentes do Estado durante a ditadura militar "ajudam a impedir a continuidade destas práticas nas forças armadas e de segurança, na justiça e no sistema prisional, na criminalização dos movimentos sociais e na discriminação contra camadas populares".

Comissão. Os petistas começaram a defender o tema com mais veemência depois da instalação da Comissão Nacional da Verdade, que desde 2011 investiga casos de violação de direitos humanos entre 1946 e 1988, compreendendo, portanto, os 21 anos do regime militar.

"As coisas ficam mais evidentes com o processo da Comissão da Verdade, que mostra a necessidade de rever a lei", afirma o secretário-geral do PT, deputado Geraldo Magela (DF). "O Brasil precisa se reencontrar com a verdade histórica."

A orientação do texto avalizado pela executiva nacional do PT, no entanto, vai contra declarações da própria presidente Dilma, que em evento realizado no início do ano sinalizou não ser a favor da revisão. Na ocasião, ela afirmou que "reconhece" e "valoriza os pactos políticos que nos levaram à redemocratização".

A Lei da Anistia foi promulgada em 1979 e perdoou crimes políticos cometidos tanto pelos militares quanto por civis. Em 2010, o Supremo Tribunal Federal analisou a questão e optou por manter a lei original.

Pré-candidatos. Procurados pelo Estado, tanto Aécio Neves quanto Eduardo Campos se disseram contrários à revisão da lei. "Sem prejuízo da Comissão da Verdade e esclarecimentos que possam ser dados, mas a Lei da Anistia foi um pacto feito em determinado momento e não vejo razão para que seja alterada neste instante", afirmou o pré-candidato do PSDB.

Essa posição também foi defendida por Campos. "A Anistia naquele momento foi uma anistia ampla, geral e irrestrita para todos. Essa foi a regra que nós aceitamos para fazer a transição democrática", afirmou.
Campos se disse "à vontade" para falar sobre o tema porque o seu avô Miguel Arraes foi preso - e posteriormente exilado - por se recursar a deixar o comando do governo de Pernambuco após o golpe de 1964.

O pré-candidato do PSB, no entanto, sugeriu que a Lei da Anistia não se aplica a todos os crimes praticados por agentes da ditadura ao elogiar a decisão da Justiça Federal do Rio de aceitar denúncias contra cinco militares reformados acusados pela tortura e morte do ex-deputado federal Rubens Paiva, desaparecido em janeiro de 1971.

"A Justiça brasileira, ao procurar investigar exatamente o que aconteceu com Rubens Paiva, que teve o seu cadáver ocultado de forma bárbara, está cumprindo o seu dever", afirmou.

Segundo Campos, a morte de Rubens Paiva teve características de crime comum, e não apenas político, e por isso poderia "ser apurada nas normas da legislação brasileira". 

Eduardo Campos afirma ser contra revisão da Lei da Anistia

• ‘Importante não é ter uma visão de revanche’, diz pré-candidato à Presidência

Sérgio Roxo – O Globo

O presidente nacional do PSB e pré-candidato à Presidência da República, Eduardo Campos, conversou com empresários da Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa. Michel Filho / Agência O Globo
SÃO PAULO - O pré-candidato do PSB à Presidência República, Eduardo Campos, afirmou nesta terça-feira ser contra uma revisão da Lei da Anistia para punir os responsáveis por crimes praticados durante a ditadura militar.

- Acho que a Lei da Anistia foi para todos os lados. O importante agora não é ter uma visão de revanche. Falo isso muito à vontade porque a minha família foi vítima do arbítrio - disse o presidenciável.

O avô de Campos, Miguel Arraes foi preso em 1964, quando era governador de Pernambuco, após o golpe e depois teve que se exilar na Argélia. O pré-candidato do PSB acredita que a lei foi importante para permitir a volta da democracia.

- A anistia naquele momento foi ampla, geral e irrestrita. Essa foi a regra que nós aceitamos para fazermos a transição democrática do jeito que fizemos - falou.

Campos se solidarizou com a família do ex-deputado federal Rubens Paiva em razão da decisão da Justiça de aceitar abrir ação penal contra os responsáveis por sua morte, mas evitou entrar em detalhes sobre o caso.

O presidenciável comentou ainda a decisão da Executiva do PT de incluir, nas diretrizes do programa de governo da candidatura à reeleição da presidente Dilma Rousseff, a previsão de regulação dos meios de comunicação para “proteger e promover os direitos humanos e combater os monopólios”.

- Quem regula a imprensa é o eleitor. Se eu não gosto de determinado veículo eu passo para outro - declarou.

Tema não é prioridade
De acordo com Campos, a sua campanha não abordará o tema:

- Não está no nosso programa de governo nem é um prioridade do nosso programa de governo tratar dessa matéria.

Antes, em palestra para representantes do indústria farmacêutica, Campos foi questionado sobre a regulação dos preços de medicamentos pelo Estado e disse ser contra a interferência excessiva. - Em regra, quanto menos o estado intervir definindo preços essa é a regra do sistema capitalista - disse.

Unica recebe Campos e critica 'falta de ação' do governo

Ana Fernandes e Isadora Peron - Agência Estado

A presidente da União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, disse nesta terça-feira, 27, que o problema do setor com o governo da presidente Dilma Rousseff não é a falta de diálogo mas sim a falta de ações concretas. "Tenho reunião com o governo toda semana, em todos os ministérios que você pode imaginar. O que falta não é nem diálogo, é ação", afirmou. A executiva participou no início da tarde, ao lado de empresários do setor sucroalcooleiro, de reunião com o pré-candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos. Ela evitou dizer se houve uma empatia com o pré-candidato, mas disse considerar positiva a atitude de Campos: "A pessoa que quer ouvir, quer se colocar, tem a oportunidade e aproveita esse momento. Eu acho que já é positivo."

Segundo Elizabeth Farina, a Unica tem aberto o diálogo com os três principais candidatos na corrida ao Palácio do Planalto, incluindo a presidente e o senador tucano Aécio Neves. Ela informou que a associação enviou no final da manhã um documento para os três com os dados atualizados do setor e pauta de reivindicações. Esse documento deve ser divulgado pela Unica no fim da tarde de hoje.

A presidente da Unica disse que o documento, assim como a reunião com os pré-candidatos, está centrado nas estratégias para matriz energética e o papel do etanol. "O setor do etanol tem sentido impactos muito negativos da política macroeconômica em geral e também dentro da questão da matriz de energia elétrica. Hoje, só 40% das usinas exportam energia para o sistema; essa fatia poderia ser bem maior", disse Elizabeth. Sobre uma possível resistência do setor em relação à vice na futura chapa de Campos, Marina Silva, conhecida por defender causas ambientalistas, Elizabeth disse que não há "preocupação com a figura de ninguém". "A candidatura do Eduardo Campos é fortemente baseada na questão ambiental, mas acho que, se tem uma indústria que é ambientalmente colaborativa, é a indústria da cana-de-açúcar", reforçou a executiva.

Ao sair do encontro, Campos avaliou a conversa com os empresários como bastante positiva e repetiu que, em um possível futuro governo, terá uma estratégia para "resgatar o setor da situação que ele vive", lembrando que recentemente 40 usinas de cana-de-açúcar fecharam e várias pediram recuperação judicial, em consequência da política do governo federal de manter os preços da gasolina controlados. "Vimos o setor ser extremamente estimulado e hoje ele está esquecido. Nós viemos dizer que entendemos que eles têm uma importância estratégica para que o Brasil possa ter uma matriz energética mais e mais renovável", disse o pré-candidato.

Dilma afaga o aliado PMDB em jantar na casa do vice-presidente

• Apoio do partido à candidatura à reeleição foi assegurado por Michel Temer; no discurso, presidente tece críticas indiretas aos prováveis adversários de campanha Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB)

Tânia Monteiro - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em jantar com a cúpula do PMDB, incluindo governadores candidatos à reeleição e parlamentares, no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente Michel Temer, a presidente Dilma Rousseff defendeu a aliança com o partido e disse que "uma das chapas que está aí" , sem nominar que candidato seria, representa "retrocesso, recessão e desemprego".

Em sua fala, Dilma lembrou a importância de continuar ao lado do PMDB e que esta "é uma aliança para a governabilidade" e para "garantir os ganhos da população". Dilma foi aplaudida pelos presentes e ouviu elogios dos correligionários.

Michel Temer, por sua vez, assegurou à presidente Dilma que, no dia 10 de junho, data da convenção do partido, o PMDB vai "reeditar a aliança" com o PT.

O líder do PMDB, deputado Eduardo Cunha, que tem travado muitos embates com a presidente e chegou a ser considerado "persona non grata" no Planalto, disse que "ninguém que está aqui vai se insurgir contra a decisão da convenção".

Adversários. Um dos presentes entendeu que a crítica da presidente Dilma, ao dizer que este nome representava "retrocesso, recessão e desemprego" tinha endereço certo: o candidato tucano Aécio Neves.

Em outro trecho do discurso, a presidente Dilma, criticou Eduardo Campos, pré-candidato do PSB, também sem citá-lo. "Tem candidato que uma hora diz que é contra o agronegócio porque polui e é a favor do meio ambiente e outra hora diz que vai colocar meta de inflação de 3%, o que representa desemprego e recessão".

Aliados. Em sua fala, Dilma fez questão de elogiar cada um dos presentes e citar de onde vinha a relação com eles, contando os episódios políticos que os ligavam.

No jantar, que durou pouco mais de duas horas, estavam presentes os governadores peemedebistas como Luiz Fernando Pezão e o ex-governador Sergio Cabral. Jader Barbalho, do Pará, estava acompanhado do filho, Helder, que é candidato ao governo.

Os presidentes da Câmara, Henrique Alves, e do Senado, Renan Calheiros, também compareceram ao jantar, onde estavam cerca de 40 peemedebistas. O senador Jose Sarney estava presente, mas sua filha Roseana, governadora do Maranhão, não.

Campos e Alckmin retomam conversas sobre aliança em SP

• Pré-candidato do PSB ao Planalto voltou a cogitar o apoio à reeleição de governador do PSDB

• Negociações haviam esfriado devido à resistência de Marina Silva, vice de Campos, em apoiar o tucano

Marina Dias – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Ainda sem uma opção concreta de candidato próprio ao governo de São Paulo, o PSB retomou nos últimos dias as negociações sobre eventual apoio à reeleição do governador Geraldo Alckmin (PSDB).

Segundo a Folha apurou, interlocutores de Alckmin têm conversado frequentemente com aliados do pré-candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, e oferecido espaço na chapa do tucano em São Paulo para o presidente estadual do PSB, deputado Márcio França.

Além das conversas conduzidas por seus principais intermediários, Alckmin e Campos se reuniram pessoalmente neste fim de semana, na capital paulista, segundo um interlocutor do ex-governador de Pernambuco e um aliado do governador tucano.

O presidenciável, porém, negou publicamente nesta segunda-feira (26), durante entrevista ao programa "Roda Viva", na TV Cultura, que tenha se encontrado com Alckmin nos últimos dias.

As negociações entre o governador tucano e o PSB haviam esfriado nos últimos meses porque a ala do partido ligada à ex-senadora Marina Silva, vice na chapa socialista, é refratária à ideia e defende uma candidatura própria do partido ao governo de São Paulo.

O grupo da ex-senadora aprovou em convenção os nomes de João Paulo Capobianco e Célio Turino como alternativas para a candidatura própria no Estado. Mas os marineiros" aguardam avaliação do comando do PSB sobre o assunto.

O PSB tem interesse na aliança com o tucano porque ela garantiria tempo de televisão no horário eleitoral gratuito para tentar alavancar a candidatura de Campos no maior colégio eleitoral do país, onde ele apresenta dificuldades para crescer.

Apesar dos esforços do diretório estadual do PSB e da vontade do governador em atrair mais uma sigla para seu arco de alianças, Campos não está convencido de que fechar com o PSDB é a melhor solução para ele em São Paulo.

O pernambucano teme que uma possível aliança com os tucanos, há quase vinte anos no poder no Estado, seja contraditória com o discurso de renovação da política que ele e Marina adotaram.
Com as conversas retomadas, a cúpula da campanha do PSB começa a esboçar uma justificativa que soe plausível e justifique eleitoralmente a aproximação.

Kassab e o PSD
Alckmin tem negociado também o apoio do PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, que pleiteia a vaga de vice do atual governador. Ambos trocaram elogios e declarações públicas na semana passada sobre a viabilidade do acordo.

O tucano procura então um jeito de acomodar tanto PSD como PSB em sua chapa majoritária. Uma das possibilidades seria Kassab ficar com a vice, como deseja, enquanto Márcio França teria a vaga ao Senado.

Na conversa entre Campos e Alckmin, o tucano teria dito que a aproximação com o PSD só aconteceu por que o PSB se afastou das negociações.
(Colaborou Daniela Lima)

Apoio em partes do PP

Paulo de Tarso Lyra e Étore Medeiros – Correio Braziliense

A direção nacional do PP preparará um documento oficial autorizando os dissidentes da legenda a utilizarem a imagem do pré-candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves (MG) , nas propagandas televisivas dos candidatos estaduais do partido. Ontem, durante almoço com a presidente Dilma Rousseff, o presidente nacional da legenda, senador Ciro Nogueira (PI), prometeu uma coligação formal com o PT nas eleições presidenciais deste ano, o que incrementa o tempo de tevê de Dilma. Mas ressaltou que nos estados não há imposição de apoio.

A portaria interna foi idealizada e está sendo redigida pelo senador Francisco Dornelles (RJ), primo de Aécio e entusiasta da candidatura tucana. Em 2010, por muito pouco, o PP não aderiu à campanha do PSDB. Dornelles chegou a ser cotado como vice de Aécio, mas o candidato tucano escolhido à época foi José Serra. A estratégia beneficia sobretudo a senadora Ana Amélia, candidata do partido ao governo gaúcho. Além do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, o PP estará com Aécio em Minas Gerais, já que a legenda tem o governador Alberto Pinto Coelho, que assumiu após a renúncia de Antonio Anastasia.

Durante almoço com a cúpula do PP, a presidente Dilma elogiou a lealdade do partido, especialmente em programas como o Minha Casa, Minha Vida. Também comentou, em conversas reservadas, o êxito do Programa Mais Médicos, reforçando a percepção de que este assunto será abordado à exaustão na campanha.

Pouca força
O senador Aécio Neves minimizou o apoio oferecido ontem pelo PP à reeleição de Dilma. Para o senador, a parceria nacional da sigla não significa nada para o PT além de tempo de propaganda eleitoral na televisão. "Nos estados, a insatisfação com a gestão da petista está refletida na composição de alianças abertamente contrárias à continuidade de Dilma no Palácio do Planalto." Neves comemora ainda que setores do PP — que é da base do governo — tenham debandado e estejam hoje alinhados com os tucanos.

"O governo possibilita que ela atraia, com os espaços do governo, com a distribuição de cargos, vários partidos políticos. A presidente vai ter um tempo de televisão maior do que todos nós, mas não terá apoio regional em muitos lugares", analisa.

Eduardo sem visão de revanche
PSB e PT divergiram ontem sobre a revisão da Lei da Anistia, debate que foi reforçado após os avanços nas investigações do assassinato do ex-deputado Rubens Paiva. Durante reunião da Executiva Nacional, os petistas defenderam que a Lei da Anistia fosse revista, abrindo espaço para a punição dos crimes praticados na ditadura. Para o presidenciável do PSB, não há espaço para essa discussão hoje. "A Lei da Anistia foi para todos os lados. O importante não é ter uma visão de revanche. Essa foi a regra que nós aceitamos para fazermos a transição democrática."

Dilma diz ao PT que fará regulação da mídia

Valdo Cruz e Andréia Sadi – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A presidente Dilma Rousseff continua contra a adoção de algum tipo de controle de conteúdo da imprensa, como defendem lideranças do PT, mas já cedeu em parte a seu partido e vai encampar, num eventual segundo mandato, a proposta de regulação econômica da mídia.

Em seu mandato, Dilma engavetou a proposta de regulação elaborada durante o governo Lula, de autoria do ex-ministro Franklin Martins (Comunicação Social), que tratava de normatizar o setor de radiodifusão. Na época, Martins defendeu também a criação de um Conselho de Comunicação para regular o conteúdo de rádios e TV.

A ideia tinha apoio de entidades que defendiam o "controle social da mídia", mas foi amplamente criticada por representantes do setor. Para eles, a agência abriria brechas para cercear o jornalismo e a dramaturgia.

Segundo assessores, Dilma vai apoiar um projeto que regulamente e trate dos artigos 220 e 221 da Constituição.

Eles determinam que os meios de comunicação não podem ser objeto de monopólio ou oligopólio e que a produção e a programação de rádios e TVs devem atender os princípios de produção regional e independente. Trata ainda da definição de como deve ser a publicidade.

Em recente reunião no Palácio da Alvorada, Dilma deixou claro a petistas não ter a intenção de regular conteúdo, mas sinalizou que topava tratar da parte econômica: "Não há quem me faça aceitar discutir controle de conteúdo. Já a regulação econômica não só é possível discutir como desejável", disse.

Na segunda (26), a Executiva do PT decidiu incluir a regulação dos meios de comunicação no programa do partido para a campanha presidencial. "A democratização da sociedade brasileira exige que todas e todos possam exercer plenamente a mais ampla e irrestrita liberdade de expressão, o que passa pela regulação dos meios de comunicação –impedindo práticas monopolistas– sem que isso implique qualquer forma de censura, limitação ou controle de conteúdos", afirma.

A inclusão do tema no programa petista foi acertada com Dilma, desde que ficasse bem claro que não haveria nenhuma proposta de controle de conteúdo. Historicamente, o PT e setores da esquerda miram o domínio da Rede Globo. Líder de audiência, a emissora abocanha a maior fatia do mercado publicitário do setor.

A forma de tratar o assunto foi definida durante reunião da cúpula de campanha com a presidente há cerca de um mês, no Alvorada.

No encontro, líderes petistas comemoraram a fala do ex-presidente Lula no encontro nacional do partido, quando ele defendeu a regulação da mídia num tom interpretado como senha para debater também um controle de conteúdo da imprensa.

Segundo a Folha apurou, defensores do projeto de regulação da imprensa disseram na reunião: "Que bom que o Lula falou explicitamente que tem de regular a mídia".

Dilma, sem criticar o ex-presidente, fez questão de definir até onde aceitava ir na discussão. Ela afirmou que muita gente "confunde regulação com controle de conteúdo, isso não posso aceitar", acrescentando que "temos de qualificar esse discurso" e que o "presidente Lula está discutindo regulação".

Na reunião, estava presente o comando da campanha pela reeleição –além de Dilma, o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil), o presidente do PT, Rui Falcão, e o ex-ministro Franklin Martins.

Merval Pereira: Presidencialismo de cooptação

- O Globo

Um movimento exemplar de como as coligações proporcionais, no sistema eleitoral que temos hoje, são fundamentais para os acordos partidários está em curso no Rio de Janeiro.

Sem ter por enquanto candidato próprio a governador, mas apoiado por uma ampla coligação de dissidentes de diversos partidos da base governista, capitaneada pelo PMDB, o candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, monta um chapão que reúne todos os partidos que apoiarão a candidatura de Pezão a governador.

A chapa, apelidada de Aezão (Aécio + Pezão), terá um palanque virtual, nos santinhos e cartazes dos candidatos, maior talvez do que o da presidente Dilma, a candidata oficial do PMDB.

O DEM reluta em aderir, pensando forçar uma candidatura própria do PSDB, mas se defronta com a possibilidade de não ter força suficiente para eleger seus deputados.

O ex-prefeito Cesar Maia, lançado pelo DEM do Rio candidato a governador, é o trunfo do partido nas negociações, seja com o PMDB seja com o PSDB.

No chapão que está sendo formado, o lugar do Senado estaria reservado para Ronaldo Cezar Coelho, do PSD, mas, com a desistência de Sérgio Cabral de concorrer ao Senado, o atual senador Francisco Dornelles já se colocou novamente como candidato natural a um novo mandato, o que dificultará um acordo nas bases em que estava sendo negociado.

Faltaria lugar para o PSD e também para o DEM, e todos querem garantias de acordos que favoreçam a eleição de seus candidatos, e quase sempre a soma não fecha.

Em todo o país, os partidos fazem contas de chegar para montar seus palanques com uma única visão: primeiro, cada candidato cuida da sua eleição, depois os partidos cuidam das bancadas no Congresso, que dão poder de indicar ministros e burocratas, e também negociar votações.

O tamanho da bancada eleita também dá direito a negociar minutos de televisão na próxima campanha eleitoral. O cientista político Sérgio Abranches, que cunhou o termo “presidencialismo de coalizão”, está revisitando o tema diante dos acontecimentos dos últimos tempos na política nacional.

Segundo ele, há consenso entre os estudiosos de que a fragmentação tem forte impacto negativo na governança e na qualidade da democracia. Outro cientista político, Jairo Nicolau, diz que nossa fragmentação partidária é a maior do mundo hoje.

Carlos Pereira, professor de Políticas Públicas na Fundação Getulio Vargas do Rio, escreveu com Marcus André Melo, professor de Ciência Política na Universidade Federal de Pernambuco, um livro em que entendem a fragmentação partidária como um instrumento de inclusão democrática e fórmula de se contrapor a um Executivo poderoso.

Eles publicaram sua tese pela Palgrave/Macmillan no livro, por enquanto só em inglês, “Making Brazil work — Checking the president in a multiparty system”, sobre o qual já escrevi aqui na coluna. Mais recentemente, Pereira fez um levantamento que mostra que quanto maior e mais heterogênea a coalizão, maiores os custos de sua gestão — verbas, cargos, gasto — e menor sua eficácia — apoio efetivo, boa legislação.

Pelos cálculos de Sérgio Abranches, essa legislatura que coincide com o mandato da presidente Dilma tem o maior número de partidos efetivos — 10 — desde que começou a calcular essa medida, número que deve chegar a 12 se considerarmos os novos partidos criados recentemente no país, como o PSD, que está no centro das disputas partidárias nesta eleição, e o PROS, que também terá papel importante no Ceará e no Rio.

Sérgio Abranches diz que essa é uma situação “obviamente imanejável, além de ser um sintoma de crise mais aguda do sistema partidário e de ausência de lideranças políticas capazes de aglutinar e mobilizar as forças políticas em torno de um mesmo projeto partidário consistente”.

O tema é tão relevante que pretendo voltar a ele no fim de semana, aprofundando alguns pontos. Se não for mudada a regra eleitoral, continuaremos vendo candidatos sem programas apoiados por partidos não programáticos. E a divisão de cargos continuará sendo a base de nosso presidencialismo de cooptação.

Dora Kramer: Origem da espécie

• Campos evita críticas a Lula para não errar o passo junto ao eleitor do Nordeste

- O Estado de S. Paulo

Não adianta perguntar, provocar nem instigar: Eduardo Campos simplesmente muda o rumo da conversa quando o assunto ameaça resvalar para qualquer crítica ao ex-presidente Luiz Inácio da Silva.

O alvo do candidato do PSB é a presidente Dilma Rousseff e é natural que assim seja, pois é ela a oponente. Natural até certo ponto, uma vez que o ex-governador de Pernambuco aponta vários problemas do governo Dilma que são decorrentes de ações de Lula.

A começar pelo fato de ter sido ele o fiador daquela que, na frase de maior efeito dita pelo pernambucano no programa Roda Viva desta segunda-feira, "de mãe do PAC virou madrinha da inflação".

Ora, quem inventou a expressão "Mãe do PAC" e com ela vendeu a ideia de uma eficaz, austera e esplêndida governante, hoje apontada por Campos como a culpada por todos os males do Brasil? Lula. Quem deu carta branca a Dilma para fazer e acontecer no setor elétrico, agora alvo de pesadas e justificadas críticas do candidato do PSB? Lula. Na gestão de quem tiveram origem todos os problemas cujas consequências hoje a Petrobrás enfrenta? Não sejamos repetitivos.

Os candidatos são donos das próprias estratégias. Mas Eduardo Campos não faz uma homenagem à coerência quando simplesmente ignora a origem das coisas e pinta um quadro irreal, de um presidente que foi sensacional, cuja herança bendita teria sido dizimada em três anos e meio por má obra exclusiva da sucessora.

O fisiologismo, por exemplo. Muito bem abordado por Campos no programa. Disse que se eleito acabaria com metade dos ministérios, extinguiria boa parte dos milhares de cargos em comissão, isolaria as raposas da "velha política" e buscaria transformar a indignação que gera apatia na sociedade em motor da renovação.

Fácil de falar, difícil de fazer, mas não impossível. Ele mesmo citou momentos em que já foi feito no País. Não se pode desistir nem cair na descrença paralisante. Quanto a isso tem razão, mas não é do mesmo modo convincente quando tenta reescrever a história.

Segundo o ex-governador, a presidente Dilma perdeu a oportunidade de mudar a "feira livre" (expressão dele) da política. Sem querer isentá-la, pois aceitou a situação, os ministros que protagonizaram os escândalos do primeiro ano de governo foram todos impostos por Lula.

E se o caso é de oportunidade, quem mais teve a chance de iniciar mudanças no padrão além de Lula?

Não tinha maioria no Congresso, mas contava com apoio da sociedade. Estava com tudo e mais um pouco. O que fez? Não apenas aderiu às práticas viciadas como regrediu em avanços anteriores (aparelhamento das agências reguladoras, por exemplo) e aprofundou as relações com o atraso.

Nada disso é novidade para Eduardo Campos. Não está de forma alguma obrigado a admiti-lo em público se na avaliação dele atritos com o ex-presidente forem prejudiciais aos seus planos de tirar no Norte e no Nordeste a diferença de eventuais desvantagens em relação ao tucano Aécio Neves no Sul e no Sudeste.

É livre a escolha do adversário. Desde que a briga não seja com os fatos passados que distorcem o presente e não ajudam a construção de um bom futuro.

Em compensação. À primeira vista pareceu estranha, porém auspiciosa, a notícia de que o PT decidira pedir ao Tribunal Superior Eleitoral a cassação do mandato de André Vargas por infidelidade partidária.

Mas pode haver uma segunda intenção. Se perder o mandato por discordância partidária e não por quebra de decoro em decorrência do processo que corre na Câmara, o deputado Vargas poderia escapar da inelegibilidade.

Não para concorrer neste ano, porque saiu do PT (em ação combinada?) e está sem partido, mas em 2016 em tese estaria livre para disputar a eleição municipal.

Rosângela Bittar: Fora do acostamento

• No bom sentido, Dilma está de novo refém dos militares

- Valor Econômico

Na II Bienal Brasil do Livro e da Leitura, realizada em abril, em Brasília, surgiu de onde menos se esperava um comentário que remeteu o atento e lotado auditório ao que poderia ser a abertura de uma porta larga a um novo debate sobre velho tema da política brasileira: o papel das Forças Armadas.

Conferencista principal do seminário "O golpe, a ditadura e o Brasil: 50 anos", com a credencial de ter participado da luta armada contra a ditadura militar e das ações mais espetaculares que entraram para a história brasileira, como o sequestro do embaixador americano no Brasil, Charles Burke Elbrick, o jornalista Franklin Martins, ex-ministro da Comunicação do governo Lula, hoje integrante da cúpula do comitê de reeleição da presidente Dilma, fez uma proposta.

Disse, aos que lhe perguntaram, que não haveria cenário para um novo golpe, no Brasil de hoje, e defendeu que as Forças Armadas assumissem uma nova história. "As Forças Armadas estão dentro do ambiente democrático mas deveriam ter um papel maior ainda que isso", disse. O jornalista citou necessidades da defesa do Estado que poderiam ser atendidas atribuindo-se novas funções à corporação militar, como um papel mais central na defesa dos interesses do país em questões internacionais: "Quem tem jazidas da magnitude do pré-sal, acaba sendo vitima de ações de fora", exemplificou.

Para isso, teriam que acordar. "As Forças Armadas precisam sair do acostamento, onde estão desde 1985. Elas saíram do poder e foram para o acostamento. Não voltaram a ser o que deviam ser", afirmou. Franklin completou, sob aplausos: "Nossos heróis militares não podem continuar a ser Castelo Branco, Costa e Silva, Garrastazu Médici, João Figueiredo, nossos heróis têm que ser como o Marechal Rondon, como o Marechal Lott, como o general Machado Lopes, que entenderam o seu papel e honraram a Constituição, o país e a democracia".

O jornalista passou a citar exemplos de como, nesse raciocínio, os militares poderiam voltar à estrada principal, inclusive começando por fazer um pedido formal de desculpas ao país. Desdobramentos da tese, porém, que não vêm agora ao caso, ficam à agenda de debate no foro adequado do governo.
A evocação do que ocorreu há apenas um mês emerge, agora, no momento em que se constata que a preocupação com o papel das Forças Armadas está tomando lugar na atenção do governo, seus órgãos de assessoria jurídica e alguns tribunais mais altos do Poder Judiciário.

Discussões que têm como eixo o fato, real, de que a presidente Dilma está dependente das Forças Armadas, cujo novo papel, especialmente na defesa do Estado, deveria ser mais bem definido para aproveitar a ocasião. E qual ocasião seria esta? A atuação das polícias.

Meio a um mês de tensão, com realização da Copa do Mundo, presença de pelo menos 20 chefes de Estado e de governo, manifestações mais e menos agressivas espalhadas pelo Brasil, as polícias se permitem fazer greve. Greves que, na discussão dos órgãos jurídicos do governo, são consideradas meros instrumentos de política corporativa. Houve greve da polícia na Bahia e em Pernambuco, a Polícia Federal ameaça parar, e promovem-se operações-padrão que o governo considera greves.

"Com essa instabilidade na ação da polícia, o governo passa a depender mais das Forças Armadas, que já teriam que ter um novo papel muito bem concebido", avalia um interlocutor da presidente.

Os militares não estão 100% satisfeitos com o governo. Há reações, especialmente a algumas decisões da Comissão da Verdade e ao debate sobre revisão da Lei de Anistia. Este último, por sinal, formalizado pelo PT no programa de governo sugerido à presidente Dilma para o segundo mandato, do qual a presidente guarda distanciamento, ainda, e que pode por em risco a nova inserção das forças armadas que se pretende promover.

E há registro de tensões com o fato de que promotores estariam usando depoimentos de militares à Comissão da Verdade para entrar com novas ações pedindo a responsabilização pelos crimes de lesa-humanidade, como ocorreu agora no caso Rubens Paiva.

Nem por isso, porém, estão paralisando suas atividades ou ameaçando a tudo e a todos, embora não se possa deixar de perceber que há preocupação com a nova análise que, por recurso da OAB, o STF terá que fazer sobre a Lei da Anistia.

Exatamente por causa do comportamento das corporações policiais, reconhece o governo que o momento é de dependência das Forças Armadas.

A presidente Dilma, dizem seus interlocutores, tem profundo respeito por elas, especialmente por uma de suas características, o profissionalismo, a disciplina. Exatamente o que não encontra nas polícias. Ao governo causa perplexidade o grau de "politização corporativa" nas polícias militar, civil ou federal, na definição de uma autoridade da área jurídica.

Já foram anotadas num caderninho de impropriedades algumas declarações de líderes grevistas, do tipo "as operações da Polícia Federal são respostas da corporação à falta de atendimento a pleitos". Para o governo, isso equivale a dar uma conotação estritamente política às operações, como se elas não fossem ocorrer com equilíbrio, independentemente da resposta às reivindicações do movimento. "A aproximação com os militares pode ser uma reação a esse tipo de politização na questão da greve", afirma um especialista envolvido nas discussões.

Decisões do Judiciário, ao declarar sigilosas determinadas iniciativas da Polícia Federal, tentaram conter também o espetáculo que, segundo avaliam essas fontes, serviam para instrumentalizar politicamente os grevistas.

"A corporação da polícia se sente credora do Estado, e vê o Estado seu devedor". Para o governo, as Forças Armadas têm postura absolutamente diversa. "A presidente Dilma avalia que as Forças Armadas têm mais disciplina, mais profissionalismo, daí ter desenvolvido um respeito muito grande à instituição", resume a autoridade.

Essas reflexões, surgidas no debate ainda interno, poderão ou não se transformar, se Dilma for reeleita, em definições políticas e medidas concretas, para dar maior nitidez à nova inserção das Forças Armadas. No momento, registra-se que a presidente está apenas refém delas, no bom sentido.

Fernando Rodrigues: O Itamaraty e o Legacy

- Folha de S. Paulo

O Ministério Público Federal pediu ao Superior Tribunal de Justiça que decrete a prisão preventiva dos dois pilotos norte-americanos do jato Legacy que se chocou em pleno ar com um Boeing da Gol em 29 setembro de 2006.

A tragédia provocou a morte de 154 pessoas. Os pilotos do Legacy se salvaram. Voltaram aos EUA. No ano passado, o Superior Tribunal de Justiça condenou Joseph Lepore e Jan Paul Paladino a uma pena de 2 anos e 4 meses, em regime aberto.

Os norte-americanos teriam de se apresentar regularmente a uma autoridade durante esse período. Ignoraram tal exigência. Por essa razão, a subprocuradora-geral da República Lindôra Maria Araújo considera-os foragidos: "Os condenados vêm se recusando, desde 2006, a sujeitar-se à jurisdição do Brasil, e demonstram profundo desdém pelas formalidades das ações penais".

Depois do acidente, os pilotos dos EUA ficaram proibidos de sair do Brasil. Aí ocorreu algo inusitado. O Ministério das Relações Exteriores brasileiro ajudou-os a ir embora. Há registro dessa ação em telegramas da embaixada norte-americana em Brasília (http://bit.ly/Legacy-livres).

Os diplomatas dos EUA relataram a Washington que o Itamaraty fez pressão sobre o juiz do caso. Tudo "oralmente" para não "produzir efeito contrário aos pilotos".

O então embaixador dos EUA, Clifford Sobel, escreveu: "É só uma questão de quando, e não de se, para que os pilotos do Legacy (...) sejam autorizados a deixar o Brasil". Quatro dias depois, foram liberados.

A atitude pusilânime do Itamaraty nunca foi explicada. Enquanto isso, as famílias das 154 vítimas esperam até hoje pela Justiça.

O governo costuma reclamar de um suposto complexo de vira-latas dos brasileiros. Poderia então pensar em punir no Itamaraty os responsáveis pela atitude de extrema sabujice que ajudou aos pilotos do Legacy a deixar o país de forma impune.

“Violência bate recorde com PT”

- Análise ITV

Surpresa, infelizmente, não chega a ser. Mas entristece constatar o que O Globo divulga hoje em primeira mão: a taxa de homicídios no país bateu recorde histórico no governo Dilma Rousseff. É a omissão do governo federal cobrando seu preço, sob a forma de níveis insuportáveis de violência Brasil afora.

Dados preliminares do Mapa da Violência relativos a 2012 indicam que 56.337 pessoas foram assassinadas naquele ano em todo o país. É mais que em qualquer guerra ao redor do mundo, com alta de 7,9% sobre 2011. O brasileiro enfrenta uma batalha diária que parece se desenrolar sob o olhar desinteressado do governo federal.

A taxa de homicídios atingiu 29 mortes para cada 100 mil habitantes, com aumento de 7% sobre 2011. É o maior índice da série estatística, iniciada em 1980. Ou seja, a violência brasileira está hoje no nível mais alto em mais de 30 anos.

“Nossas taxas são 50 a 100 vezes maiores que a de países como o Japão. Isso marca o quanto ainda temos que percorrer para chegar a uma taxa minimamente civilizada”, sintetiza o sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, responsável pelo estudo.

Não é preciso ser expert ou debruçar-se sobre números para constatar. Basta experimentar a sensação de insegurança que vivem os brasileiros, tanto das grandes como das menores cidades, no seu dia a dia. Além de aumentar, o crime está se alastrando, comprovam os pesquisadores.

Entre 2003 e 2012, as taxas de homicídios caíram 21% nas capitais e nos grandes municípios, enquanto nas cidades menores subiram 23,6% no mesmo período. Além disso, o crime, antes mais intenso nos estados do Sudeste, migrou com força para a região Nordeste, que hoje concentra as cidades com maiores índices de violência do país.

Tráfico e consumo de drogas estão na raiz da explosão de insegurança: o consumo de cocaína mais que dobrou no Brasil desde 2005 e o de crack está entre os maiores do mundo, segundo estudo da Unifesp. Os jovens surgem como as principais vítimas da criminalidade.

As raízes da violência reforçam a responsabilidade do governo federal no combate ao crime. Segurança pública é, predominantemente, atribuição dos estados. Mas a vigilância das fronteiras, por onde entram drogas, armas e contrabandos que alimentam o crime organizado, é responsabilidade da União.

Entretanto, o zelo do governo petista para com a segurança pública é quase nulo. Os recursos federais que deveriam ajudar as polícias estaduais a se equiparem para enfrentar o problema não são liberados. Fundos como o Funpen e o de Segurança Pública, para reforço da estrutura penitenciária, são contingenciados: menos de um terço foi liberado na atual gestão.

A Polícia Federal encontra-se num processo de sucateamento. O orçamento destinado a investimentos foi reduzido à metade pela gestão Dilma e é o menor desde 2008. Neste ano, apenas 0,1% do orçamento de investimento da Polícia Federal – o equivalente a R$ 103 mil – foi pago até agora.

A população brasileira não se cansa de gritar que já não suporta mais viver sob o signo da violência. Todas as pesquisas de opinião colocam a insegurança como um dos dois principais problemas do país hoje, juntamente com o sofrível atendimento público em saúde.

É hora de mudar isso. O governo federal deve assumir a responsabilidade de capitanear todas as forças no combate intransigente à violência. A coordenação de uma ação maciça contra o crime deve partir de Brasília, que hoje assiste a tudo de braços cruzados. A legislação deve ser atualizada buscando um sistema mais rápido e mais moderno de execuções penais. Vamos dar um basta a esta guerra!

Carta de Conjuntura do Partido Popular Socialista

• Principais destaques da semana na área econômica

20-24 de Maio de 2014

1 Diretores do Banco Central Americano sinalizam início do ciclo de elevação da taxa de juros nos Estados Unidos. 

 O Presidente do Federal Reserva de Nova Iorque, Willian Dudley, e o Presidente do Federal Reserve da Filadélfia, Charles Plosser, deram indicações de que pode estar próximo o ciclo de elevação da taxa de juros básica nos Estados Unidos, atualmente em 0.25% a.a. Dudley afirmou que a alta dos juros deve acontecer algum tempo depois do fim do programa de compra de títulos. Plosser, por sua vez, afirmou que caso a inflação caminhe para 2% a.a e o mercado de trabalho melhore nos Estados Unidos, “nós devemos nos preparar para ajustar a política monetária de maneira apropriada”. “Isso pode exigir que elevemos as taxas de juros mais cedo”.

Análise: A expectativa de início, mais cedo do que o pensado anteriormente, do ajuste da política monetária americana poderá ter repercussões fortes nos países emergentes, como o Brasil. De fato, a simples expectativa de elevação dos juros básicos pelo Federal Reserve irá se refletir num aumento da taxa de juros dos títulos de longo-prazo do governo americano, tornando assim menos atrativas as aplicações em renda-fixa no Brasil por parte de investidores estrangeiros. O resultado será uma pressão para a desvalorização do Real frente ao Dólar, o que contribuiria para aumentar as pressões inflacionárias existentes na economia brasileira, num momento em que a inflação já se encontra em patamares bastante desconfortáveis do ponto de vista de reeleição da Presidente Dilma Rouseff.

2 – Serviços voltados para empresas apresentam redução da receita real em março de 2014

Segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS) divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) a receita nominal do setor de serviços subiu 6,8% em março, ritmo bem inferior ao de janeiro (9,8%) e de fevereiro (10,1%), sempre na comparação dos o mesmo período do ano passado. Assim, nos dois primeiros meses do ano, a receita ainda ganhava da inflação do setor medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que em março chegou a 9,09% no acumulado em 12 meses.

Análise: A desaceleração do crescimento da receita do setor de serviços, a qual teve crescimento negativo em março de 2014 em termos reais, mostra de forma inequívoca que a economia brasileira vem perdendo fôlego. Após o mau resultado da produção industrial e das vendas do varejo, chegou a vez do setor de serviços mostrar também um desempenho ruim. Dado o peso do setor de serviços na economia brasileira (aproximadamente 66% do PIB), um desempenho ruim do setor de serviços tende a resultar num desempenho ruim da economia como um todo. Dessa forma, fica cada vez mais provável o cenário no qual a economia brasileira vai crescer menos do que 2% no ano de 2014.

PIB em marcha lenta

• Incertezas eleitorais, risco de racionamento e travas na indústria devem frear expansão do PIB

• Expectativa para o 1º trimestre do ano deverá ficar entre queda de 0,1% a alta de 0,3% na comparação com o trimestre anterior

Henrique Gomes Batista, Nice de Paula e Clarice Spitz – O Globo

RIO - A economia brasileira começou 2014 pisando no freio. Analistas esperam que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) no primeiro trimestre do ano deverá ficar entre queda de 0,1% a alta de 0,3% na comparação com o trimestre anterior, menor que o 0,7% registrado nos três últimos meses de 2013. Incertezas eleitorais, risco de racionamento, problemas na indústria com falta de produtividade e excesso de endividamento das famílias são apontados como os principais vilões do crescimento econômico.

O resultado que será divulgado pelo IBGE — que está em greve — na sexta-feira terá outro componente de incerteza sobre o número: este PIB vai incorporar os dados da Pesquisa Industrial Mensal que, em março, mudou sua metodologia, ampliando a cobertura de setores e unidades pesquisadas. Isso ampliou a insegurança nas previsões — até mesmo o resultado de 2013 será revisto. De qualquer maneira, se espera uma desaceleração.

Como muitos economistas não acreditam em uma forte recuperação durante o ano — esperam um segundo semestre novamente fraco, sob os efeitos das greves e dos feriados da Copa — 2014 deverá fechar entre 1,3% e 1,9%, com a maior parte dos analistas estimando 1,5%.

— Os dados todos que temos até agora estão muito ruins, tanto para o primeiro como para o segundo trimestre, o que deverá causar mais um ano de fraco desempenho. Se o país realmente crescer 1,5%, será o segundo pior resultado do governo Dilma — afirmou Alexandre Schwartsman, ex-diretor do Banco Central (BC).

Ele estima que, pela metodologia antiga, o PIB do primeiro trimestre apresentaria alta de 0,2% a 0,3%, mas, com os novos dados da indústria, o resultado poderá vir diferente e até levemente negativo. Na opinião dele, a causa do fraco crescimento é o erro de estratégia do governo, que tenta acelerar a atividade incentivando a demanda quando o problema está no lado da oferta, com a baixa produtividade brasileira, reflexo dos gargalos da economia brasileira.

Fábio Kanzuc, professor da USP, espera alta de 0,3% no trimestre na comparação com os últimos quatro meses de 2013 e 1,5% para o PIB de 2014. Ele acredita que resultado de sexta-feira será marcado pela forte desaceleração dos investimentos. Kanzuc diz que o risco de racionamento de energia e a proximidade de “eleições sem rumo" adiam potenciais investimentos.

— O que me surpreende é que esta atividade mais fraca não está se refletindo na inflação, que continua alta. Em geral, quando a economia esfria, os preços cedem. Sempre há um intervalo neste fenômeno, mas desta vez está demorando mais que eu esperava — disse.

No ano passado, o PIB brasileiro teve alta de 2,3%. Com a introdução da nova pesquisa da indústria, analistas esperam revisão para cima, para cerca de 2,5%. Para as projeções de 2014, o viés é de baixa.

— A gente já tinha um número muito ruim, mas depois do resultado da produção industrial, baixamos mais ainda e o número ficou negativo. Para o resultado do ano, mantivemos 1,9%, mas vou esperar sair o PIB para revisar. O viés é de baixa — diz Alessandra Ribeiro, analista da Tendências Consultoria, que projeta queda de 0,1% no primeiro trimestre em relação ao anterior e alta de 1,3% em 2014.

Para Jankiel Santos, do Banco do Espírito Santo (BES), pesa sobre a indústria um forte componente da baixa confiança dos empresários, que decidiram segurar investimentos. Embora ainda não tenha feito revisões, ele reconhece que o crescimento neste ano está “mais para 1% e 1,5%“ do que os 2% projetados.

— Hoje existe uma falta de confiança com esse mix de política econômica. Os empresários pensam

“vou esperar o que vai ajustar em 2015 para me mexer”. A economia vem perdendo fôlego, vai ser difícil o governo cumprir a promessa do ministro Mantega de dar um crescimento igual ao de 2013 — disse Santos.

O economista-chefe do Banco Safra e ex-secretário do Tesouro, Carlos Kawall estima que os setores de serviços e de agropecuária deverão ser os motores do crescimento no ano, com avanço de 1,7% cada um, enquanto a indústria deverá subir 0,7%. Apesar da desaceleração do crescimento da massa salarial, da inflação mais alta e de um crédito mais apertado, o consumo deverá ficar em 2,1% e os investimentos, em 0%.

— O ano de 2014 depende de confiança e de resultado eleitoral. O ano de 2015 deverá ser um ano bom, de ajuste. Mas isto, a depender da política econômica. Se avançarmos em alguma agenda de reformas, um início de história boa pode ocorrer em 2016. Se houver recuperação de confiança, pode ter sim um horizonte de melhoria para o investimento, enquanto a alta de juros e a alta de preços administrados vão influenciar o consumo. Mas isto vai depender do que o governo vai sinalizar — pondera.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

-Jornal do Commercio (PE)

• Alves não larga o osso da Câmara até dezembro
Candidato ao governo do Rio Grande do Norte, mas decidido a eleger seu sucessor na presidência da Câmara, o deputado Henrique Alves (PMDB-RN) avisou a correligionários que permanecerá no cargo até o fim do mandato, em dezembro, mesmo vencendo a eleição. A intenção dele é impedir que o vice-presidente Arlindo Chinaglia (PT-SP) assuma o cargo e utilize a máquina da Câmara para se eleger em seu lugar.

• Ousadia
Henrique Alves quer eleger em seu lugar o inefável líder do PMDB, Eduardo Cunha (RJ), por quem Dilma sente incontornável repulsa.

• Estratégia
O deputado Arlindo Chinaglia substituiu seu amigo André Vargas (PR), na vice-presidência, já de olho em retornar à presidência da Casa.

• Liderança
Ganha força no Planalto efetivar o petista Henrique Fontana (RS) líder do governo. Outro petista, José Guimarães (PT-CE), também é cotado.

• Musa
Após Xuxa, ontem foi a vez da atriz Camila Pitanga virar o centro das atenções no Congresso, dando força à PEC do Trabalho Escravo.

• Falta pouco para a MP das Seguradoras virar lei
O Senado pode votar nesta quarta-feira a Medida Provisória 633, que aumenta em R$ 80 bilhões o limite de crédito do BNDES, e livra grandes seguradoras de pagar mais de R$ 17 bilhões em indenizações a mutuários do Sistema Financeiro de Habitação (SFH) ordenadas pela Justiça. A MP 633 insere a Caixa nas ações para possibilitar recursos à Justiça Federal que alterem sentenças condenatórias das seguradoras.

• Crueldade
Mutuário do SFH é obrigado a fazer seguro (20% do valor do imóvel), contra defeitos de construção. A MP dificulta o pagamento do sinistro.

• Quase lei
Aprovada sem mudanças na Câmara semana passada, a MP 633 não precisa ser sancionada por Dilma. Sem mudanças no Senado, vira lei.

• Tolerância
Só no Brasil, a pretexto de “respeitar o direito a manifestação”, permite-se o bloqueio de avenidas, suprimindo o direito de ir e vir da maioria.

• ONGs financiadoras
Os índios que saíram às ruas, ontem, começaram a chegar a Brasília domingo, em voos da TAM, e foram instruídos a não revelar quem lhes pagou a viagem. Mas foram ONGs, sobretudo estrangeiras, empenhadas em derrubar a proposta de emenda constitucional 215.

• Questão de poder
As ONGs querem derrubar a PEC 215, que atribui ao Congresso a demarcação de terras indígena e quilombola, porque perdem influência e o poder que hoje desfrutam em órgãos do governo federal.

• Isso pega?
O PT pediu o mandato do deputado André Vargas, após identificar que o escândalo gritava em pesquisa qualitativa. Também pesa na conta a má avaliação da gestão do petista Fernando Haddad, em São Paulo.

• Independência
A oposição vibrou com o nome do ex-presidente Marco Maia (PT-RS) para relator da CPMI da Petrobras. Em sua gestão à frente da Câmara, ele deu trabalho ao Planalto, enfrentando-o inúmeras vezes.

• Desapegar, não dá
Na CPI chapa branca do Senado, Graça Foster admitiu outra vez que não foi “bom negócio” comprar a refinaria de Pasadena. Pena que o prazo de troca do Procon venceu. Nem dá para desapegar na internet.

• Explica aí, ANP
Em Ji-Paraná (RO), a milhares de quilômetros das distribuidoras, o litro de gasolina é vendido a R$ 3,12. Em Brasília, onde o comércio de combustíveis é cartelizado há anos, custa R$ 3,15. Ninguém vai preso.

• Decadência
Os Correios pioram a cada dia. Uma encomenda despachada dia 16 em Londrina (PR) para Itabuna (BA) está há dez dias dormitando, “em trânsito”, em Feira de Santana (BA). Deve ser Sedex viajando no lombo do jegue que Lula sugeriu como meio de transporte, em lugar de metrô.

• Bola no estômago
A Itália trará a própria comida para a Copa, diz a Gazzetta dello Sport, após inspeção sanitária do Rio encontrar alimentos vencidos nos dois hotéis que hospedam o time. Também não oferecia camisinhas.

• Pensando bem…
…pelo ritmo das obras da Copa e das greves nos transportes País afora, vai faltar jegue para o brasileiro ir aos estádios.

Painel - Vera Magalhães

- Folha de S. Paulo

Campanha na estrada
Depois da viagem prevista para esta sexta-feira a Pernambuco, Dilma Rousseff e Lula devem aparecer juntos ainda antes das convenções em Minas, Rio Grande do Sul, São Paulo e Paraná. Não por acaso, as duas primeiras agendas conjuntas serão nas bases políticas dos dois adversários da presidente, Eduardo Campos (PSB) e Aécio Neves (PSDB). Na escala pernambucana, Dilma e o antecessor devem fazer críticas "cirúrgicas" a Campos, segundo estrategistas da campanha à reeleição.

Bolada O Planalto ficou contrariado com três ataques desferidos por Campos em Dilma nos últimos dias: a acusação de "ditadura" do setor elétrico, o apelido de "madrinha da inflação" e a insinuação de que há intervenção no Banco Central.

Com farofa Em meio às tratativas em São Paulo e Minas, um pessebista define a dificuldade de conciliar todos os interesses: "É como um peru em cima de um pires: vai sobrar de fora uma asa, uma coxa, o pescoço...".

Pode vir O grupo político de Campos em Pernambuco diz não ter receio de o PSDB lançar Daniel Coelho ao governo. Acham que ele tira mais votos de Armando Monteiro (PTB) do que do pessebista Paulo Câmara.

Vertical A candidatos do PT a governador, Lula tem defendido que as campanhas estaduais deverão reproduzir a polarização nacional com o PSDB e seus tradicionais aliados. Nessas conversas, o discurso dos "fantasmas do passado" tem feito sucesso.

2 em 1 Nas conversas com aliados de Alckmin, Gilberto Kassab tenta valorizar seu passe: o ex-prefeito tem dito que, se fechar com o PSDB, ainda leva o PV para a chapa.

Lugar ao sol O presidente do PDT, Carlos Lupi, conversou na segunda com Lula sobre apoio da sigla a Alexandre Padilha em São Paulo. Diz que topa compor a chapa desde que indique o vice.

Pianinho Tanto a oposição quanto governistas rebeldes ficaram decepcionados com as ações de Eduardo Cunha (PMDB-RJ) diante da CPI mista da Petrobras. "Ele foi neutralizado pelo Planalto", dizem os deputados, que queriam usar a comissão para atacar o governo.

Largada O PSDB tem prontos mais de 200 requerimentos para apresentar ao grupo, de quebras de sigilo à convocação de políticos como André Vargas (ex-PT).

Na chincha A base aliada ficou irritada com a recusa de José Jorge em atender ao convite para ir à CPI da Petrobras no Senado. Petistas estudam convocar para uma sessão secreta o ministro do TCU, a quem atribuem o vazamento de informações.

Ajustes Aldo Rebelo (Esportes) comanda nesta quarta-feira a última reunião do Gecopa (Grupo Executivo da Copa de 2014), quando serão afinados os detalhes do centro operacional do governo, que será montado no Rio.

Fiscal Rebelo decidiu que vai acompanhar partidas in loco nas 12 cidades-sede. O ministro vai tentar casar sua agenda com a de Joseph Blatter, presidente da Fifa.

Veredicto A comissão formada pela Executiva do PT paulista volta a se reunir nesta quarta para a analisar o caso de Luiz Moura, acusado de ter participado de reunião com suspeitos de integrar o PCC. A bancada petista aguarda o encontro para definir a linha de ação.

Visita à Folha Rubens Menin Teixeira de Souza, presidente da MRV Engenharia, visitou ontem a Folha. Estava com Maria Fernanda Menin Maia, diretora-executiva jurídica, e José Francisco Siqueira Neto, advogado.

Tiroteio
"Os aeroportos e as outras obras da Copa de fato foram feitas no padrão Brasil: estão atrasadas e custaram mais que o previsto."

DO SENADOR ALVARO DIAS (PSDB-PR), sobre fala de Dilma de que os aeroportos devem ter padrão Brasil, e não padrão Fifa como sinônimo de excelência.

Contraponto
Testemunho de fé

Em discurso ontem em sessão solene em homenagem a Irmã Dulce no Senado, o ex-presidente José Sarney (PMDB-AP) disse que tinha sido "testemunha" de um milagre da religiosa quando deixou a Presidência, em 1990.

--Eu ia descer a rampa numa situação difícil. Reuni minha família e pus um lenço no bolso para as lágrimas.

Sarney contou que, quando desceu a rampa do Planalto, diante de uma multidão, "sentiu" alguém ao seu lado.

--Olhei e era a Irmã Dulce. Sacudi o lenço como quem se despedia. A multidão, que vinha para me vaiar, começou a aplaudir. Eu dizia: é um milagre da Irmã Dulce!