segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

A cada dia, reforça-se a impressão que tenho de que o Brasil está querendo conhecer o que Eduardo Campos pensava, e isso terá muita influência na eleição.

Nesse momento, Marina parte para um patamar bastante elevado de votos; ela tende a crescer. Temos chances reais de vitória.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS. Em entrevista, no funeral de Eduardo Campos, 17 de agosto de 2014.

Com 21% no 1º turno, Marina empataria com Dilma no 2º

• Ex-ministra disputa a segunda posição com Aécio Neves (20%), diz Datafolha

• Taxa de eleitores sem candidato cai com a entrada de Marina no lugar de Campos, morto na semana passada

Ricardo Mendonça - Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Marina Silva (PSB) entra na disputa pela Presidência com 21% das intenções de voto. Segundo o Datafolha, ela larga em segundo lugar na corrida presidencial, um ponto à frente de Aécio Neves (PSDB) --o que os coloca em situação de empate técnico-- e 15 pontos atrás de Dilma Rousseff, candidata à reeleição pelo PT.

Inicialmente inscrita como vice na chapa de Eduardo Campos, o presidenciável do PSB morto no último dia 13, a ex-ministra tem um desempenho que afasta a chance de a eleição ser resolvida no primeiro turno.

Já na simulação de segundo turno, Marina, que deve ser oficializada candidata na quarta-feira (20), fica numericamente à frente de Dilma, com 47% das intenções de voto contra 43% da presidente.

É uma situação de empate técnico nos limites máximos da margem de erro, que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.

Contra Aécio, Dilma venceria o segundo turno por 47% a 39%. Nesse caso, os oito pontos de diferença representam uma ampliação da vantagem da petista. Em meados de julho, o cenário era de 44% a 40% (empate técnico).

A hipótese de conclusão da eleição no primeiro turno é afastada porque Marina surgiu com quase o triplo das intenções de voto em Campos (8%), porém sem provocar alteração nas taxas dos rivais mais competitivos.

Com Campos no páreo, Dilma também tinha 36%. Aécio alcançava os mesmos 20%.
Na comparação direta entre o cenário atual, com Marina, e o cenário anterior, com Campos, caíram de forma notável os percentuais de eleitores sem candidato.

Intenções de voto nulo ou em branco eram 13%. Com Marina candidata, essa taxa recuou para 8%. Indecisos eram 14% e agora são 9%.

Vários analistas apresentaram Marina como possível herdeira de um grupo crescente de eleitores descontentes com o sistema político. Nos protestos de junho de 2013, um sentimento de rejeição aos partidos ficou explícito.

Os dados da atual pesquisa combinam com esse tipo de interpretação. Muitos que pensavam em fazer um voto de protesto (anular), ou estavam com dificuldade para escolher, vão de Marina se essa opção estiver ao alcance.

Outra informação que reforça essa tese aparece na simulação de primeiro turno da atual pesquisa sem o nome de Marina no cartão de resposta --situação que seria possível caso o PSB deixasse de lançar a ex-ministra de Lula e abrisse mão da candidatura própria.

Nesse cenário, Dilma venceria a eleição já no primeiro turno com 41% (oito pontos a mais que a soma de seus rivais). Mas o percentual de eleitores sem candidato continuaria alto: 13% de brancos e nulos, 12% de indecisos.

Um conjunto de dados da atual rodada do Datafolha sugere que a entrada de Marina na disputa ocorre num momento de recuperação de Dilma. Além da ampliação de sua vantagem sobre Aécio no teste de segundo turno, a avaliação do governo melhorou (confira na pág. A6), sua taxa de rejeição oscilou para baixo (35% para 34%), e as intenções de voto espontâneas com seu nome oscilaram para cima (22% para 24%).

O Datafolha ouviu 2.843 eleitores em 176 municípios nos dias 14 e 15 de agosto.

PSB quer que Marina atue em todos os estados

• Pressão será feita pelo partido; ex-senadora resistia à chapa com o PSDB em São Paulo

Júnia Gama*, Sérgio Roxo e Mariana Sanches – O Globo

RECIFE - Recebida com gritos de "presidente" durante o velório de Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva, tida como a sucessora natural do ex-governador de Pernambuco, deverá sofrer pressões por parte do PSB para que amplie sua presença em estados onde o partido fez aliança com as quais ela não concordava e, por isso, resistia em fazer parte das campanhas.

Além de uma carta de compromisso com o projeto político do PSB, que será submetida à aprovação de Marina para assegurar a continuidade das propostas discutidas, o partido quer que a ex-senadora retire o veto ao uso de sua imagem em palanques estaduais como o de São Paulo, maior colégio eleitoral do Brasil. Mesmo que não concorde em subir em palanques ao lado do tucano Geraldo Alckmin, que tem como vice o deputado Márcio França (PSB), os socialistas querem poder capitalizar os votos de Marina no material de campanha.

O partido planeja uma reunião ainda hoje em Brasília para acertar questões operacionais com Marina. O PSB quer tudo pontuado antes da oficialização da candidatura da ex-senadora, na próxima quarta-feira. Socialistas com bom trânsito junto a Marina dizem que ela terá "bom senso" para perceber que sua atuação como candidata a presidente terá de ser mais ampla do que como vice.

- Temos que combinar como vai ser a campanha daqui para frente. Na campanha com Eduardo, a Marina não ia em São Paulo, e tudo bem. Como vai ficar lá agora? No Rio de Janeiro, como vai ser? - diz um deles.

Antes da morte de Campos, o uso de fotos de Marina havia sido restrito às candidaturas estaduais majoritárias apoiadas formalmente pela Rede Sustentabilidade. Em nota, o grupo chegou a dizer que qualquer utilização da figura de Marina fora desse contexto constituiria "uso indevido da imagem". Interlocutores dizem que ela ainda não deliberou sobre essa questão e que está à espera de uma manifestação do PSB sobre a sucessão para, somente então, dar início a esse tipo de conversa.

"É triste, mas é bonito"

Segundo pessoas próximas a Marina, ela tem demonstrado "disposição em dialogar". Na manhã de ontem, durante o velório de Eduardo Campos, no Palácio das Princesas, Marina Silva entrou em uma sala reservada onde os bispos estavam se preparando para a missa. Ficou conversando alguns minutos e recebeu mensagens de força dos prelados. O gesto de Marina foi interpretado por alguns como uma primeira sinalização de abertura a setores com os quais não costumava ter. A ex-senadora é evangélica.

- Tá vendo? Depois dizem que ela é fundamentalista - comentou um aliado de Marina.

Sempre acompanhada de um cortejo em moldes presidenciais, Marina vestia ontem, durante a cerimônia de enterro de Eduardo Campos, uma blusa azul e tinha o semblante muito menos carregado do que nos dias anteriores.

- É triste, mas é bonito. É bonito, mas é triste - assim Marina descreveu toda a cerimônia de velório e enterro ao chegar de volta ao hotel onde está em Recife; a cena foi testemunhada pelo GLOBO. ( *Enviada especial )

Migração de votos enquanto durar comoção

• Para políticos, eleitores que pretendiam anular votação ou não tinham candidato devem passar a votar em Marina

Júnia Gama*, Ana Paula Ribeiro e Cleide Carvalho – O Globo

RECIFE e SÃO PAULO - No Palácio das Princesas, em Recife, onde foi velado o corpo de Eduardo Campos ontem, políticos de diversos matizes tinham avaliação semelhante sobre os efeitos da morte dele no cenário eleitoral. Sob a expectativa da primeira pesquisa oficial após a tragédia, o comentário geral era sobre a imprevisibilidade com a chegada de Marina Silva na disputa nacional e também nos estados.

A perspectiva é que Marina seja receptora, no primeiro momento, de boa parte dos votos dos eleitores que pretendiam anular ou ainda não tinham candidato, mas que isso poderá mudar à medida que vá se dissolvendo a comoção sobre a tragédia.

A principal prejudicada neste início, apontam alguns petistas e integrantes da base governista, deve ser a presidente Dilma Rousseff. Sondagens informais de políticos do PT mostram que, em alguns estados, Marina já teria herdado votos em branco e nulos e começado a pegar alguns pontos de Dilma. Mas o impacto de Marina na campanha pode acabar também tirando Aécio Neves do segundo turno.

Desconhecimento superado com a tragédia
As pessoas que circulavam pelo palácio na manhã de ontem durante o velório comentavam que, paradoxalmente, o principal obstáculo de Campos - seu desconhecimento - havia sido superado com a tragédia. Ele se tornou conhecido com a comoção, e há possibilidade de esse fator ser traduzido em votos para sua sucessora.

- A comoção gera conhecimento, e esse conhecimento se transforma em referencial. A pessoa que melhor pode representar esse referencial é Marina - afirmou a interlocutores o senador Walter Pinheiro (PT-BA), no Palácio das Princesas.

A disputa em alguns estados também pode ser afetada. O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, na missa em homenagem a Campos, lembrou que Marina teve votação expressiva no estado em 2010 e que pode, de imediato, recuperar esse recall. Mas Pezão crê que ela não deverá entrar de cabeça em nenhuma candidatura no Rio, já que o ex-presidente Lula dificilmente permitirá que Marina participe da campanha de Lindbergh Farias, que se aliou ao PSB em acordo costurado por Campos.

Pezão destaca que a participação de Marina no estado não dependeu, em 2010, de estrutura partidária. Ela pode, no entanto, ter alguma atuação ao lado de Romário, candidato ao Senado pelo PSB.

Há avaliações de que a entrada de Marina na disputa presidencial rompe a lógica de polarização entre PT e PSDB. Com o recall dos 19,6 milhões de votos que obteve na eleição presidencial de 2010, quando disputou pelo PV e ficou com quase 20% dos votos válidos, Marina coloca o PSB no páreo por um lugar no 2º turno.

Nem PT, nem PSDB, porém, pretendem transformá-la em alvo de ataques no 1º turno, não só na tentativa de manter bom relacionamento para o 2º turno, mas também para aguardar que diminua a comoção pela tragédia e possam mensurar seu efeito na atração de votos para Marina.

Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB, diz que a presença de Marina terá impacto maior na campanha do PT do que na do tucano Aécio Neves:

- Campos não era parte da disputa real. Ele não tinha mais como subir. Ela (Marina) tem um recall imenso da última eleição e representa bem mais do que o Eduardo o desânimo com a política.

Na avaliação de Goldman, Marina vai quebrar a linha de raciocínio das últimas campanhas petistas que buscava transformar o embate numa disputa de pobres contra ricos e contra uma suposta elite que representa retrocesso. Goldman afirmou que o PSDB não deve mudar sua campanha e continuará se colocando como oposição ao PT:

- Nossos inimigos são Dilma, Lula e PT. Nossa campanha é contra o PT, oferecendo uma alternativa. Irá para o 2º turno quem oferecer a melhor alternativa. Só existe um candidato de situação.

Para Goldman, enquanto o PSDB continuará a centrar fogo contra o inimigo de sempre, o PT terá de enfrentar uma candidata que já esteve na legenda e saiu por discordar dela.

O secretário de Comunicação do PT, José Américo, porém, afirmou que o principal adversário continua a ser Aécio e que, no caso da nova candidata do PSB, será adotado tom de respeito, até pela proximidade com alguns petistas:

- É com o Aécio que vamos polarizar. Ela será tratada com respeito. Mas eleição é eleição. Se ela for para o 2º turno, vamos destacar as nossas diferenças, mas não será uma polarização.

"Tendência é perder palanques de campos"
O PT vai continuar a insistir que o tucano é quem que representa o atraso e o conservadorismo. Porém, segundo Américo, ainda é cedo para qualquer avaliação sobre o efeito de Marina na campanha, o que só será possível entre dez e 15 dias, com a divulgação das primeiras pesquisas após alguns dias de campanha na TV.

Florisvaldo Costa, secretário de Organização do PT, encarregado de fazer o mapa das alianças nos estados, não crê que Marina Silva seja tão impulsionada pela comoção causada pela tragédia:

- Marina continua sem palanque nos estados, e a tendência é perder palanques que eram de Campos. Mas quem vai ter o primeiro problema é Aécio. Ele terá de olhar para frente e para o retrovisor. Nós faremos a defesa do nosso projeto de governo.

Em SP, o PT deverá priorizar sua campanha na Região Metropolitana da capital, onde a presença do partido é forte, e em municípios onde Dilma aparecerá ao lado do ex-presidente Lula, como São José do Rio Preto, Campinas, São José dos Campos e Presidente Prudente. (* Enviada especial )

Campos é enterrado em clima eleitoral

• Marina Silva fica o tempo todo ao lado da família, ouve gritos de apoio e pedidos para que Renata seja sua vice

Isadora Peron, João Domingos, Ricardo Brandt - O Estado de S. Paulo

Cerca de 100 mil pessoas, segundo cálculos do governo de Pernambuco, acompanharam ontem, no Recife, a cerimônia de despedida de Eduardo Campos, candidato do PSB à Presidência da República morto na quarta-feira passada após um acidente aéreo no litoral paulista. O velório, aberto ao público, foi tomado por manifestações eleitorais.

Marina Silva, candidata a vice que assumirá o posto de nome do PSB ao Planalto, ficou o tempo inteiro ao lado da família. Levantou para o alto, em certo momento, a foto de Campos que estava sobre o caixão.

Os filhos do ex-governador de Pernambuco vestiam camisetas com uma das últimas frases ditas publicamente por Campos antes de morrer – “não vamos desistir do Brasil”. Frase que também estava estampada no caminhão de bombeiros que realizou o cortejo na madrugada, da base aérea para o Palácio do Campo das Princesas, sede do governo onde foi realizado o velório e uma missa campal celebrada por d. Fernando Saburido, arcebispo do Recife e de Olinda.
João Campos, de 20 anos, apontado como herdeiro político do pai, cerrou punhos e puxou o coro “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro”. O mesmo coro foi repetido várias vezes durante o velório, o cortejo até o cemitério de Santo Amaro e o enterro dos restos mortais do ex-governador de Pernambuco.

Renata, viúva de Campos, teve o nome várias vezes entoado pelos presentes, que pediam que ela se lançasse candidata a vice na chapa de Marina.

Do lado oposto à área reservada a autoridades e à família, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, e o candidato do PSDB ao Planalto, Aécio Neves, estiveram juntos durante a missa. A petista estava acompanhada do antecessor e padrinho político, Luiz Inácio Lula da Silva. Ela chegou a ser hostilizada por algumas pessoas que estavam próximas da área de autoridades. O tucano foi ao velório com o candidato a vice, Aloysio Nunes Ferreira.

Em família.A presença de Marina junto à família de Campos repetiu-se durante o cortejo final que levou o corpo do ex-governador ao Cemitério de Santo Amaro. Ela ficou em cima do carro de bombeiros que levou o caixão ao cemitério sentada ao lado de Renata e dos filhos da viúva. Marina não quis dar declarações à imprensa ontem.

No sábado, ao chegar ao Recife, ela deu uma breve entrevista ao Estado na qual afirmou sentir “o senso de compromisso” que a morte do aliado lhe impôs. Também afirmou que o fato de não ter embarcado no jatinho que caiu em Santos na quarta-feira foi uma “providência divina”.

Renata e Antonio Campos, o único irmão do ex-governador, foram os primeiros a defender que Marina ocupasse a cabeça de chapa do PSB na disputa presidencial. A gratidão da ex-ministra ao gesto foi visível.

Durante o enterro dos restos mortais de Campos, ocorreram novas manifestações favoráveis a Marina. “Fora Dilma, agora é Marina” e “Marina e Renata” eram gritos ouvidos dentro de cemitério. Também foram espalhadas faixas por toda a cidade do Recife, confeccionadas pelo PSB, dizendo: “Seus ideais permanecem vivos em cada um de nós”. Faixas e camisetas também tinha a foto do ex-governador, com data de nascimento e morte.

Avô. Os familiares também usaram chapéus de palha, em homenagem a Miguel Arraes, avô de Campos que também foi governador de Pernambuco. “Chapéu de Palha” é um programa social criado por Arraes em 1988.

Um chapéu chegou a ser colocado sobre o caixão na hora do enterro. Diante da família, entre as quais a mãe de Campos, Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União, João, o herdeiro político, voltou a puxar o coro “Eduardo, guerreiro do povo brasileiro”. “Viva Eduardo! Viva Arraes! Viva o Brasil!”, gritou o jovem, que queria ser candidato a deputado neste ano, mas foi convencido pelo pai a se dedicar aos estudos. Além de João, Campos deixou outros quatro filhos com Renata: Maria Eduarda, Pedro, José e Miguel.

Marina pode tirar voto de Dilma no Nordeste, avalia PT

• PT acha que, a princípio, comoção com tragédia favorece Marina na região de Campos; dúvida é se quadro se mantém até outubro

Tânia Monteiro, João Domingos - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A entrada da ex-ministra Marina Silva na campanha eleitoral e os votos que ela pode tirar do PT no Nordeste foram os principais assuntos da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro que tiveram ontem, no Recife, logo depois da missa de corpo presente do ex-governador Eduardo Campos.

Após a missa, Dilma e Lula pegaram o mesmo carro. Aproveitaram para conversar sobre a realidade surgida com a morte de Campos e sobre a possibilidade de perda de votos para Marina. Há uma preocupação no governo de que a comoção observada com as circunstâncias trágicas da morte de Campos possa reverter em votos para a ex-ministra no Nordeste, especialmente em Pernambuco. O principal temor se deve ao fato de que se considerava que a petista já estivesse consolidada na região.

Duas etapas. A possibilidade de segundo turno também preocupa. O PT trabalhava com esse quadro, mas torcia para que ele não se concretizasse. Com Marina na disputa e a comoção em torno de Campos, os petistas acreditam que muitos eleitores que estavam indecisos ou desiludidos com a política poderão aderir à ex-ministra do Meio Ambiente.

Muitos acreditam que Marina conseguirá arrebatar os descontentes de junho do ano passado e descrentes da política, que poderão apostar nela, como válvula de escape.
Num segundo turno, os candidatos têm o mesmo tempo de propaganda na TV. No primeiro, Dilma tem ampla vantagem. A petista dispõe de 11 minutos, Aécio, pouco mais de 4 minutos e meio e Marina, cerca de 2.

Preferência. Os petistas preferem enfrentar o tucano Aécio Neves na segunda etapa da disputa. Acreditam que o tradicional discurso polarizado antielite funciona.

Apesar de haver consenso de que o segundo turno se tornou uma realidade, ainda há dúvidas se a comoção se manterá até 5 outubro, dia da eleição. Ou seja, espera-se um crescimento inicial da ex-ministra. Resta saber se ele se manterá até o momento de o eleitor ir à urna.

Entrevista. A presidente deverá nortear sua conduta hoje na entrevista ao Jornal Nacional, da Rede Globo, já com base no fator Marina e nas primeiras projeções de intenção de voto divulgadas após a morte de Campos.

Apesar do quadro que possa ser ainda desenhado, interlocutores de Dilma estão convencidos de que ela chegou ao seu piso de votos e que não cairá abaixo de 36%, mesmo que o fenômeno Marina possa voltar.

A mudança na candidatura do PSB preocupa também o comando de campanha dos tucanos. O grupo de Aécio diz, porém, que o PT perderá mais. O raciocínio é que Campos, como Aécio, apresentava um programa econômico mais liberal. Agora, com a saída dele, é provável que os tucanos fiquem sozinhos nesse campo, pois Marina tende a seguir um perfil com maior presença do Estado na economia.

Como Aécio é o preferido do agronegócio e Marina, considerada hostil pelo setor, os tucanos acreditam que terão apoio no setor rural. Na opinião deles, Dilma também não conseguiu agradar ao agronegócio.

Adeus a Campos redefine eleição

• Em acordo com o PSB, candidata será lançada na quarta-feira. Beto Albuquerque pode ser o vice

Carlos Rollsing – Zero Hora (RS)

RECIFE (PE) - Com divergências praticamente superadas, Marina Silva será anunciada na quarta-feira como candidata do PSB à Presidência. A ambientalista terá de assumir o programa do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo, e abraçar as alianças regionais do partido.

Os socialistas não exigirão que ela permaneça na legenda em caso de vitória, concordando com a criação da Rede Solidariedade – grupo político de Marina que se abrigou no PSB por não ter conseguido registro eleitoral.

No sábado, ao chegar a Recife para acompanhar o enterro do ex-companheiro de chapa, a ex-ministra disse que a perda do aliado impõe a ela uma "responsabilidade" e um "compromisso". Esse posicionamento tranquilizou lideranças do PSB, que temiam uma Marina mais crítica a alianças com o PSDB e setores econômicos ligados ao agronegócio.

Até quarta-feira, a sigla ainda terá de definir quem será o vice. A viúva Renata Campos chegou a ser cogitada. Candidato ao Senado pelo Rio Grande do Sul, Beto Albuquerque é o favorito por ser militante histórico e ligado a Campos. Além disso, é respeitado por Marina e conhecido por sua capacidade de diálogo. Mas Luiza Erundina (PSB-SP) está no páreo e, em Recife, demonstrou interesse em ocupar o posto. Ambos disseram que não irão disputar a indicação no voto, o que impõe a necessidade de um consenso.

A decisão sobre o vice passará por consultas a líderes do PSB, a partidos aliados e, sobretudo, à viúva Renata Campos. Respeitada no PSB, ela terá participação na campanha. Em Recife, Marina foi recebida como se fosse da família. A ex-ministra chorou ao reencontrar Renata pela primeira vez após o acidente e foi consolada por ela.

Foi a relação com a família que ajudou a abrir caminho para a ambientalista substituir Campos. Agora, Marina chega com força para modificar o quadro eleitoral. Aliados de Dilma Rousseff (PT) consideram a ex-ministra uma adversária mais difícil de ser batida do que Aécio Neves (PSDB).

– Marina tem penetração nas camadas médias e populares. Teoricamente, no enfrentamento com Dilma, ela poderá oferecer mais resistência do que Aécio – analisou o presidente do PC do B, Renato Rabelo, já convencido da realização de segundo turno.

José Serra (PSDB) reconheceu que Marina provoca mudanças no cenário, apontando para um segundo turno, mas evitou comentar o enfrentamento entre a ambientalista e Aécio para passar para a segunda fase da eleição.

Lula e Dilma são vaiados e depois aplaudidos durante velório de ex-governador

- Folha de S. Paulo

RECIFE - O temor de petistas acabou se confirmando. Mal tinham se aproximado do caixão de Eduardo Campos, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foram alvos de uma forte, porém curta, vaia vinda de populares.

A reação negativa foi logo abafada por intensos aplausos, iniciados por pessoas que estavam nos espaços destinados a familiares --Marina Silva era a única política ali presente-- e autoridades, e distribuídos pela plateia.

Antes mesmo da chegada da presidente e de Lula ao Palácio Campo das Princesas, local da cerimônia fúnebre, petistas comentavam que o clima era muito hostil.

Lula chorou ao se aproximar do caixão para amparar a viúva e os filhos de Campos. "É um momento triste para o Brasil", disse ele a políticos. "É preciso ter força e ter fé", acrescentou em outro momento. À Folha, Dilma apenas elogiou a força da mulher e dos filhos de Eduardo Campos.

O presidenciável Aécio Neves (PSDB), também presente, evitou comentários sobre a eleição: "Nunca imaginei uma construção de futuro no Brasil em que não estivéssemos juntos", afirmou, acrescentando que "precisamos honrar os ideais de Eduardo".

No início da noite, sem estar mais no Recife, Dilma voltou a ser vaiada no cemitério enquanto a população aguardava o caixão de Eduardo Campos. Houve gritos de "Fora Dilma, agora é Marina".

Reservadamente, um assessor de Dilma comentou que sua equipe já havia identificado, entre populares, a disposição de vaiar a presidente, que criticara o rival Campos dias antes de sua morte.

Um amigo de Lula, em conversa durante a cerimônia, disse que ele estava triste por não ter se reconciliado com seu antigo amigo. Lula e Campos, lembrou ele, eram dois grandes companheiros, mas que estavam passando por momentos de distanciamento diante da decisão do ex-governador de Pernambuco de disputar a Presidência.

Quando as vaias terminaram, um familiar de Campos reprovou o gesto. Disse que Dilma não precisava ter ido ao velório, embora tivesse feito questão, e que bastava uma mensagem à família.

Este mesmo parente reclamou que a presidente comparecera ao enterro com uma equipe de TV a tiracolo, sugerindo que ela fosse usar as imagens na campanha eleitoral. O governo, porém, negou que uma equipe da campanha tenha feito imagens. Quem acompanhou Dilma foi um grupo da NBR, TV que registra eventos em caráter oficial.

Morte de Campos zera o jogo eleitoral, avaliam adversários

• Única certeza, dizem integrantes, é que segundo turno está assegurado

• Marina Silva, que será oficializada candidata na quarta, afirmou que "as ideias não morrem", ao falar de Campos

Natuza Nery e Valdo Cruz – Folha de S. Paulo

RECIFE - Integrantes das três principais campanhas presidenciais fizeram neste domingo (17) avaliação semelhante durante o velório de Eduardo Campos: a candidatura de Marina Silva, em meio a uma comoção nacional, zerou o cronômetro da eleição.

Reservadamente, diversos representantes dos comitês eleitorais afirmam que a única certeza agora é de que haverá segundo turno.

Para muitos, o efeito da morte de Campos sobre a popularidade de sua substituta na cabeça de chapa decantará nas próximas duas semanas. Só então então será possível avaliar, com mais clareza, o cenário da sucessão.

Durante o voo que a levou ao Recife, Marina afirmou que a morte do candidato impõe a ela "responsabilidade" e que pretende manter os compromissos que definiu com o aliado. As afirmações foram feitas aos jornais "O Estado de S. Paulo" e "O Globo".

"Penso que existe uma providência divina em relação a mim, ao Miguel [filho mais novo de Campos], a Renata [viúva do candidato] e ao Molina [sobrinho e assessor]", disse Marina ao "O Globo".

Auxiliares de Dilma Rousseff presentes à cerimônia fúnebre não escondiam preocupação com a reviravolta do quadro eleitoral. Tucanos também exibiam apreensão.

No PT e no PSDB, a expectativa é de um segundo turno entre a presidente da República e o candidato do PSDB, Aécio Neves (MG).

Em comum está a avaliação de que Marina tem um discurso fundamentalista em diversos setores e sua eventual vitória traria riscos ao país. Tudo indica que a ex-senadora sofrerá dos dois grupos adversários a mesma investida negativa feita contra Lula em 2002.

Para o PSB, a morte de Campos aumentará o cacife elitoral de Marina para além do conquistado em 2010, quando ficou em terceiro lugar com 20 milhões de votos.

A mexida radical no quadro da sucessão já provocou ajustes no tom da campanha tucana. Se, antes, o slogan era mudança, agora transmitirá a ideia de "mudança com segurança".

Marina, que será oficializada na quarta-feira (20) candidata pelo PSB, afirmou, ao falar de seu ex-companheiro de chapa, que "as ideias não morrem". A ex-senadora tem evitado fazer qualquer comentário sobre seu futuro papel na sucessão.

Seus aliados no PSB acreditam que o principal desafio nas próximas semanas será consolidar o percentual de intenções de voto que novas pesquisas vão mostrar.

Na quarta, a coligação deve escolher o vice na chapa. O mais cotado é o deputado Beto Albuquerque (RS).

A tristeza cruzou o Capiberibe

• Enterro de Eduardo Campos reúne 160 mil, com presença de adversários de todas as correntes

Sérgio Roxo, Júnia Gama, Eduardo Bresciani, Mariana Sanches e Letícia Lins – O Globo

RECIFE - Os pernambucanos foram às ruas ontem para se despedir de Eduardo Campos. Marcadas por um forte tom político, as cerimônias, que reuniram mais de 160 mil pessoas no Recife, tiveram gritos de hostilidade ao PT e palavras de apoio a Marina Silva, herdeira da candidatura, e a Renata, mulher do ex-governador. Marina ficou o tempo todo ao lado de Renata. A frase "Não vamos desistir do Brasil", dita por Campos na véspera de morrer, em entrevista ao "Jornal Nacional", foi impressa em camisetas e faixas, transformando-se em espécie de novo slogan da campanha, que será retomada esta semana.

No PSB, a retomada oficial da agenda política se dará por meio de um acerto de arestas com Marina. Para lhe garantir a cabeça de chapa, o partido coloca como condição básica o respeito aos acordos políticos feitos para as eleições estaduais. A ex-senadora deve ter maior presença mesmo em estados onde antes se negava a fazer campanha por causa das diferenças locais de seu grupo político com o de Campos. Há quem defenda que seja revista a postura de não deixar sua imagem ser usada pelo PSB nas regiões onde não houve acordo com a Rede.

Viúva dará palavra sobre nome de novo vice
Ontem à tarde, antes mesmo do sepultamento, o PSB divulgou nota dizendo que iniciaria as consultas para definir de forma consensual a nova composição da chapa. Renata, Marina e os partidos serão os primeiros a serem procurados. Dentro da legenda, a palavra da viúva é tida como o início do processo para definir o vice. Caso ela decida não opinar, o líder da legenda na Câmara, Beto Albuquerque (RS), passa ser o favorito para ficar com o posto.

Apesar de empecilhos a serem superados, a vice de Campos já é tratada como nova candidata tanto por lideranças partidárias quanto pela população que compareceu ao sepultamento. Quando o caixão chegou ao Palácio do Campos das Princesas, sede do governo de Pernambuco, na madrugada, a multidão que tomava a praça gritou em coro o nome da ex-senadora.

O velório começou ainda na madrugada, após um cortejo em carro aberto do Corpo de Bombeiros que percorreu 11 bairros da cidade e prosseguiu até o fim da tarde. Renata e os cinco filhos do casal permaneceram o tempo todo no Campo das Princesas. O grande número de pessoas dispostas a prestar a última homenagem ao ex-governador fez com que o sepultamento só acontecesse às 18h40m, sob aplausos, com o céu já escuro no Cemitério Santo Amaro, após 19 minutos de queima de fogos.

Pouco antes de o caixão ser colocado na sepultura, o grito "Eduardo, guerreiro do povo brasileiro" tomou o local, seguido por aplausos e uma grande queima de fogos.

Antes, os filhos e a mulher beijaram o caixão. O papel ativo dos filhos havia começado ainda no cortejo da madrugada. Pedro, Maria Eduarda e João, os três mais velhos, percorreram a cidade no carro do Corpo de Bombeiros, boa parte do tempo com os punhos cerrados, acenando para o povo e cantando palavras de ordem.

Dilma foi vaiada e depois aplaudida
Os três vestiam uma camiseta amarela com a frase "Não vamos desistir do Brasil". A frase também estampava uma faixa pregada no caminhão que carregou o caixão pela cidade.

A forte hostilidade ao PT também marcou a cerimônia. Os gritos de "Fora, PT" e "Fora, Dilma, agora é Marina" foram ouvidos inúmeras vezes. Uma pequena vaia, logo abafada por aplausos, foi ouvida no momento da chegada da presidente Dilma Rousseff. O candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, também compareceu e tentou demonstrar afinidades com as ideias defendidas por Campos.

Marina avalia acordos e aguarda vice

- Valor Econômico

RECIFE, SÃO PAULO e BRASÍLIA - Marina Silva, virtual candidata do PSB à Presidência da República, começou a sua campanha eleitoral este ano em meio ao velório e enterro do ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, em Recife. Foi a maior manifestação política da história de Pernambuco - 160 mil pessoas tomaram as ruas ao redor do Palácio do Campo das Princesas e o cemitério de Santo Amaro. A primeira luta de Marina é pelo controle da própria campanha e da candidatura.

A escolha do novo nome para a vice-presidência deverá ser definido até quarta-feira, em reunião da Executiva em Brasília e passará por Renata Campos, viúva de Eduardo Campos, que convocou reunião da cúpula do partido amanhã, dia de seu aniversário. Renata foi convidada para ser candidata a vice com a anuência de Marina, mas a expectativa é que não aceite. O mais cotado para ser companheiro de chapa é o deputado Beto Albuquerque (PSB-RS).

Os líderes do PSB negociam com Marina um conjunto de concessões em troca da candidatura, que envolve alianças regionais e alterações nos conteúdos das próprias propostas da candidata. De acordo com um governador da sigla, "desta vez Marina vai disputar para ganhar, não para marcar posição e isso envolve concessões com todo mundo".

O PSB vai relatar e pedir de Marina uma posição clara sobre os acordos regionais feitos por Eduardo, entre os quais o de São Paulo figura como um dos mais importantes, em que PSB e PSDB estão juntos no maior colégio eleitoral do país, contra a vontade de Marina - de resto pouco simpática a alianças com os tucanos. Marina deve recepcionar todos os acordos feitos por Campos, mas até agora não garantiu que fará campanha para os candidatos de acordos com os quais não concordou.

Para dirigentes do PSB, essa é uma questão vital para uma candidatura que dispõe de condições de vencer a corrida presidencial, como é consenso no partido. Uma candidata competitiva como Marina não poderia ficar sem campanha no maior Estado da federação. O mesmo ocorre em relação ao Rio de Janeiro, onde o deputado federal Romário Faria (PSB), montou sua candidatura ao Senado em aliança com o candidato do PT ao governo do Estado, Lindbergh Farias.

A entrada de Marina na disputa muda a estratégia eleitoral de seus rivais. A presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, deve reforçar a agenda "desenvolvimentista". Na campanha de Aécio Neves (PSDB), um argumento já está pronto para ser usado contra a ex-senadora. O alvo é sua capacidade e experiência como gestora e seu preparo para discutir temas econômicos com profundidade. O que os tucanos dirão é que Marina não está suficientemente habilitada em nenhuma dessas áreas.

Ao encontrar o ex-ministro Ciro Gomes ontem no velório, Marina sinalizou predestinação: "Essas coisas não acontecem por acaso, mas sim em nome de algo maior". Num num gesto de reaproximação, Marina arrematou: "Tenho saudade do Ciro que me ajudou."

PF liga doleiro a 17 contratos da Petrobrás

• Alberto Youssef intermediou 750 projetos entre grandes construtoras e órgãos públicos

Fausto Macedo , Valmar Hupsel Filho - O Estado de S. Paulo

Alvo central da Operação Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef, preso pela Polícia Federal desde março, intermediou 750 projetos entre grandes construtoras e órgãos públicos, entre fevereiro de 2009 e maio de 2012. Somados, os valores referentes a estes contratos ultrapassam a "casa dos bilhões", segundo a PF. Pelo menos 17 deles são da Petrobrás para grandes empreendimentos nas áreas de refinarias e gás, suspeitam os federais. A investigação aponta, preliminarmente, que Youssef recebeu comissões no valor aproximado de R$ 160 milhões.

A PF também apura a suposta participação do ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa nos negócios de interesse do doleiro. Os investigadores suspeitam ainda que Youssef estendeu sua atuação a outros países, como Argentina e Uruguai.

A lista consta do Relatório de Projetos, um documento de 34 páginas apreendido pela PF na casa do doleiro. Youssef já é réu em cinco ações decorrentes da operação. A PF agora vai cruzar informações lançadas na planilha com os dados relativos aos contratos firmados pelos órgãos públicos.

"Para cada projeto destacado há um cliente vinculado, geralmente uma grande construtora, e para cada cliente há um cliente final, quase sempre empresas públicas, como Petrobrás, Copasa, Comperj e algumas empresas privadas", relata a PF. Em outro trecho, o relatório cita sete das maiores empreiteiras do País como detentoras de "inúmeros contratos" com órgãos públicos. "A tabela relaciona cada cliente a um contato e um número de telefone, assim, dessa forma, Alberto Youssef acompanharia o desenvolvimento dos projetos."

Na planilha, de acordo com a PF, há diversas citações ao nome do Consórcio Nacional Camargo Correa (CNCC) ao lado de valores "expressivos, não raros milionários", tendo como cliente final a Petrobrás - Refinaria Abreu e Lima. O consórcio teria, segundo a PF, firmado contrato com a Sanko-Sider no valor de R$ 130 milhões, em que Youssef aparece possuindo "relações diretas com a referida empresa e seus dirigentes, inclusive recebendo valores".

O Grupo Sanko afirmou que já entregou à Justiça "documentos que demonstram a correção de seus contratos e negócios". Segundo a Camargo Correa, o contrato firmado com o CNCC foi objeto de licitação pública pelo menor preço. A Petrobrás não se manifestou.

Luiz Werneck Vianna: "Saúde e educação são os temas centrais da eleição, não a economia"

• Entrevista:  Luiz Werneck Vianna. Cientista social da PUC-Rio

Intelectual renomado e de sólida formação marxista, o sociólogo Luiz Werneck Vianna surpreende e diz que o desenvolvimento econômico não será decisivo na campanha presidencial. "Não vejo o tema da economia, tal como está posto pela mídia, como central. Até porque a economia não está vivendo mares catastróficos". Já os temas saúde e educação, segundo ele, "se fortaleceram enormemente nesses últimos anos e receberam a chancela das ruas, da juventude e da classe média". Professor de Ciências Sociais da PUC-Rio, ele afirma que os candidatos têm dificuldade em se diferenciar a respeito desses temas. "Essa agenda é de todos eles. Irão todos pelo mesmo caminho, é tudo japonês, tudo igual. Vão se distinguir na biografia e no desempenho". Ao analisar o cenário eleitoral após a morte de Eduardo Campos, Werneck não vê tantos riscos para a reeleição da presidenta Dilma, mas alerta para problemas. "Ela é favorita, mas com novas preocupações", pontua, em referência à provável entrada de Marina Silva como cabeça da chapa do PSB. "Tudo ainda é muito prematuro, mas podemos ter um segundo turno entre mulheres", prevê Werneck.

Eduardo Miranda, Octávio Costa - Brasil Econômico

A morte de Eduardo Campos provocou uma reviravolta capaz de alterar os rumos do processo eleitoral. Como o sr. está vendo esse fato novo?

A política parece ter uma certa lógica e obedecer a um certo andamento previsível. Mas tanto os homens quanto os próprios fatos podem alterar esse andamento e colocar os atores diante de situações inesperadas, para as quais eles não tinham nenhuma alternativa, nenhum programa de enfrentamento. Parece ser o caso. A cogitação era que a campanha do Eduardo ainda sofresse um processo eleitoral de fricções e perturbações, em razão da natureza dos dois candidatos — o candidato à presidência e a Marina, que tinha elementos de estranho noninho, em um cenário marcado pelo Eduardo, com o desenvolvimento econômico, ciência... Não que a Marina seja avessa a isso. Mas ela é bem mais moderada nesses objetivos, vem de uma agenda ambiental. O que ficou claro, e que as pessoas estão reconhecendo agora, é que o Eduardo tinha uma enorme capacidade política de administrar diferenças, conflitos. E construiu uma identidade própria.

Marina Silva também faria esse tipo de movimento?

A coisa mudou de eixo. Agora, a Marina vai ter que demonstrar capacidade de viver o outro, mesmo que o outro não esteja presente, mas com o programado outro. Ela não vai poder defenestrar. Caso se torne candidata, ela não pode dizer que seu programa é diferente do dele. Ela está obrigada a fazer uma operação — caso efetivamente seja a candidata — de dizer que o programa dele, agora, é o dela. Que ela fará isso em respeito a ele, em admiração a ele. E, embora não brotasse inteiramente dela, que, diante das circunstâncias, ela se adapta. Acho que esse é o desafio que ela vai enfrentar, de dialogar com o ausente. O nome do Eduardo vai ser uma presença forte na campanha dela. Ela entra, mas, ao entrar, não vai nem ofuscá-lo nem bani-lo. Vai ter que incorporá-lo.

No discurso após a morte dele, Marina Silva não tratou de política, de sucessão, mas se referiu aos sonhos e ideais de Eduardo, que teriam sido o tema da última conversa entre eles.

Acho que esse é um ponto. Se, antes, a dificuldade era o Eduardo criar condições para uma relação harmoniosa com ela e seu programa, agora, isso se inverteu. O programa dele não está erradicado, e sua presença não está banida. Será uma presença permanente caso ela se torne, efetivamente, candidata.

Diz-se que Marina teria mais chances do que ele, por seu desempenho em2010 e seu perfil mais carismático. O sr. vê dessa forma?

Mas isso é um contrafactual que nós não temos como controlar.

O desempenho dela em 2010 não serve como referência?

Não é isso. O desempenho dela serve como referência. O fato é que ela, agora, não era candidata. Ela não conseguiu a candidatura própria, seu partido não conseguiu se construir. Fosse ela no lugar dele e logo no início dos entendimentos entre eles ficasse claro que seria a Marina a candidata, se eles tivessem decidido isso... Mas não foi assim que as coisas ocorreram. Ela começaria bem melhor do que ele, certamente. Mas o teto dela estava dado, eu acho. As chances dela seriam menores do que aquelas que, agora, ela poderá vir a ter, com a presença fantasmal do Eduardo na campanha.

Que dá uma grande carga de emoção à campanha...

Todos estão em apuros, nesta altura. O Aécio tem que se precaver, pois quem lhe garante que ele chega ao segundo turno? E a própria Dilma, porque, dependendo de como as coisas evoluam, a mesma dúvida pode cair no colo dela, nas hostes dela. Tem uma carga de emoção muito forte, que pode ter essa influência na eleição até um ponto que, hoje, não dá para antever. E a biografia do Eduardo, nesta altura, tornou-se muito valorizada, como político, como pessoa, como estilo de vida.

Seu avô, Miguel Arraes, também voltou a ser lembrado.

Voltou . Dependendo d e como essa herança seja administrada e de que ela se demonstre capaz, mesmo manifestando que não são posições originárias dela, mas que, agora, serão o seu programa, que ela vai incorporá-las. Se ela fizer isso direito, vejo-a como uma candidata muito forte. Isso introduziu uma descontinuidade. Não adianta olhar esse processo a partir do momento em que ela lutou pela constituição da Rede Sustentabilidade e encontrou-se com o Eduardo. É uma situação ex novo. Estamos na estaca zero. Não dá para analisar nada responsavelmente agora.

Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, não quis fazer nenhuma previsão logo após a tragédia, limitou-se a dizer que será outra eleição. O sr. concorda?

É isso que estou tentando dizer, é uma outra eleição. A morte de Getúlio Vargas, em1954, mudou todo o ambiente político. A classe média estava irritada com aquela situação, a Aeronáutica em pé de guerra, e, de repente, sua morte virou o jogo completamente. A esquerda também foi surpreendida. Na noite da morte, os militantes do Partido Comunista foram orientados a ir às bancas de jornal e recolher os exemplares do jornal partidário, onde estavam preconizando a saída do Getúlio.

O sr. acha que é comparável?

Não. O momento era muito mais agudo. Não tem a mesma proporção.

Mas mostra que a emoção pode ter influência.

Pode.

Comenta-se que parte do sentimento de mudança, dos votos nulos, podem ir para Marina. É uma especulação embasada?

Não. Ainda tem o Aécio Neves aí. Ele também ficou em uma situação difícil, sob a ameaça de ser ultrapassado. Como ele vai operar? O enterro do Eduardo apresenta uma série de pistas, com todos os políticos presentes. Não é só o jovem político, a esta altura. É, também, o Miguel Arraes. Ele vai ser enterrado com o avô.

Mesmo com essa situação nova, Dilma ainda pode ser considerada favorita?

Pelo peso da máquina e da inércia da política, é favorita, sim. Agora, uma favorita com preocupações novas. Um resultado inteiramente inesperado, que vai deixar todos atônitos, é se, ao final, tivermos no segundo turno duas candidatas. Dilma e Marina. Essa, realmente, vai ser difícil de conceber. Mas isso já está no mundo das possibilidades. Não é algo irreal. Resta saber como o Aécio vai enfrentar essa circunstância, de não ser ultrapassado. É o que o estado-maior dele deve estar pensando agora.

O sr. está vendo, então, que é possível acontecer esse segundo turno entre as mulheres?

Para quem está sempre pensando em quadros, mesmo que eles importem em construções especulativas, não faz nada mal um exercício desses. Você não pode descartar esse exercício, porque ele pode ocorrer. O mais previsível é Dilma e Aécio. E acho que, a esta altura, haverá segundo turno. A gente não deve ser tão peremptório assim.

Tudo indica que Marina não é uma candidata de 10% de votos. E o PSDB, por tradição, também tem mais de 20%.

Ainda tem o Pastor Everaldo e outros...

Foi dito que o grande tema da eleição seria a economia. O próprio Eduardo Campos falou no 7x1, 7% de inflação e 1% de crescimento. Essa campanha será focada aí, ou em questões sociais?

Sempre que tive a oportunidade, procurei desqualificar essa valorização da economia nas decisões do quadro político brasileiro imediato. A meu ver, o que ilustra melhor isso são as jornadas de junho de 2013,quando as demandas eram, todas, de outra natureza. Diziam respeito a direitos.

Saúde, mobilidade urbana, educação...

Direitos. E, olhando bem, quando viramos para 2014 e o processo eleitoral se abre, qual é a agenda dos três principais candidatos? A que foi posta nas ruas pelas manifestações de junho. A discussão econômica não está dominando as intervenções públicas desses candidatos. Domina suas intervenções com comunidades de empresários, de homens de negócio, empreendedores. Tem que ser assim mesmo. Agora, quando falam para o grande público,o tema é outro. O tema é o da agenda de junho de 2013, uma agenda de direitos.

Mas há uma insatisfação nomeio empresarial muito grande. Essa insatisfação se reflete na campanha da Dilma?

Pode parecer uma construção para marcar posição da minha parte, mas eu não estou vendo, neste processo, o tema da economia, tal como está posto pela mídia, como central. Até porque a economia não está vivendo mares catastróficos.

A massa dos eleitores tem outra preocupação, que não a economia?

Não é todo eleitorado, mas os eleitores estão dizendo, especialmente os jovens, que não querem participar disso, ou que não estão satisfeitos em participar disso, não estão encantados por esse processo eleitoral. Está claro. E não se deve a razões econômicas, mas a uma insatisfação com as instituições, com a cultura política do país. E, de repente, o que se vê, com a morte do Eduardo, é que não havia tanto motivo para rejeitar. Havia bons candidatos. A política conhece bons personagens. O Eduardo era um deles.

O sr. acha que os jovens,a partir desse episódio, podem despertar para a política institucional?

Seria charlatanice minha admitir isso, mas acho que eles foram tocados, viram que havia uma cena, com homens interessantes, dignos. Mas ainda é muito cedo para falar disso, fazer essas especulações. Se o Aécio está em palpos de aranha, a Dilma também está. Uma linha forte de fricção do Eduardo era com ela, Dilma. O antagonismo dele era com ela. Não sabemos, por exemplo, como isso vai repercutir no Nordeste.

Mas há, por outro lado, o carisma da Marina?

Tem isso. O público da Assembleia de Deus, que é grande, pode novamente se encontrar com ela, como aconteceu na eleição passada.

O voto religioso existe no Brasil?

Existe, sim.

Entre evangélicos e católicos?

Os evangélicos são mais disciplinados. Na verdade, eles montaram uma relação entre intelectuais e crentes muito apertada, com pastores que conduzem suas ovelhas e se fazem muito presentes. A Igreja Católica tem um distanciamento maior, fala mais sobre temas gerais, não tem essa administração quase do cotidiano, como os neopentecostais têm.

Mas, sendo candidata, ela pode atrair esses votos?

Pode. Mas esse também pode ser um flanco dela. Muita gente vai migrar para a candidatura do PSB, se a candidata for Marina, assim como muita gente vai abandonar. E um dos aspectos é o fato de ela ser evangélica. Imagino, também, que o agronegócio abandone.

O governo joga muito com os programas sociais que tem, como Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida, Mais Médicos. Esse é um trunfo?

Sim, porque essa não é uma política de ocasião. Ela já vem sendo executada e sedimentada há algum tempo. A dificuldade está quando se sai desse nível de sobrevivência e vai para o mundo dos direitos. Nesse aí, a Dilma vai mal.

O governo dela fez pouco nessa área?

Poderia fazer mais, e quando fez muito, fez erraticamente, colocou muito dinheiro que não deu dividendos, não deu rendimentos sociais e políticos. Gasta-se uma barbaridade em saúde no país, e o atendimento é precário e ruim. Na educação, é a mesma coisa. Agora, esses dois temas se fortaleceram enormemente nesses últimos anos e receberam a chancela das ruas, da juventude, da classe média. São temas inerradicáveis. Não se ganhará a eleição com tema de desenvolvimento econômico. Não adianta levantar agora o tema da privatização, como já foi importante em eleições passadas.

A questão da Petrobras terá algum impacto?

Talvez, sim, mas na massa da população isso não chega.

E o aeroporto de Cláudio?

Também, não. Nem a coisa do Eduardo Campos com a mãe, Ana Arraes, teria impacto.

O sistema de denúncias, de outras eleições, não vai funcionar?

Isso já tirou Ciro Gomes de uma eleição presidencial. Ele não Foi treinado suficientemente e não tinha temperamento para ouvir aquelas perguntas. Eduardo e Aécio não só foram treinados, como foram educados politicamente. Ciro Gomes largaria um programa no meio e eles ficaram lá, respondendo direitinho.

Marina se beneficia de alguma maneira dessa pauta social nas campanhas?

Essa agenda é de todos. Foi a agenda consagrada pelas manifestações de junho e ganhou força e uma sedimentação inédita entre nós. A questão nacional, por exemplo, já decidiu eleições anteriores, mas não é mais o centro da eleição, como Leonel Brizola fazia. Não temos mais sociedade para isso. A sociedade brasileira atingiu a dimensão da luta pelos interesses e pelos direitos de uma forma irreversível. Outra questão forte será a da habitação popular, que está hoje nas ruas.

Vai ficar difícil para os candidatos apresentarem propostas distintas para as demandas sociais?

Vai. Eles irão todos pelo mesmo caminho, é tudo japonês, tudo igual. Vão se distinguir na biografia e no desempenho.

O voto vai se dar mais em cima das qualidades pessoais?

Vai.

Mais que o perfil ideológico?

O PT é um partido ideológico? Não é. Mas qual seria? Qual seria??

Não ter ideologia é bom? Ou é ruim?

É bom e é ruim. Temos uma sociedade de massa monumental no Brasil, muito apetitiva em torno de direitos. Eles querem mais. O tema da saúde se tornou fundamental. E ela foi constituída com partidos fracos e retardatários. Isso ocorreu sem eles, por força de mercado, políticas de Estado. Eles chegam depois no processo, erráticos, com problemas de constituição, falta de consistência. Esses partidos são federações de interesses.

Na Europa e nos Estados Unidos, o livro do francês Thomas Piketty ( "O Capital no Século XXI") reabriu a discussão sobre concentração de renda. Esse é um tema válido para o Brasil?

Sem dúvida. E o que me chama a atenção é que o livro ainda não tenha sido incorporado pelas campanhas, pelos organizadores dos programas. Ali, há um manancial imenso sobre a redistribuição da renda. Inclusive, é um flanco em que o Brasil é muito vulnerável, pelo fato de a Receita Federal não ter transparência com a população. O Eduardo chegou a falarem tributação das grandes riquezas.

A questão da concentração de renda é algo que no Brasil já se discute desde os anos 70.

Mas com dados obscuros. A Receita Federal não abre os dados.

É uma discussão que merece ser retomada?

O tema da igualdade vai pegar velocidade aqui. Estive recentemente em um debate para discutir gentrificação. Abaixo do tecido visível da política, há um outro tecido invisível e que está se disseminando, com novas lideranças. Havia nomes lá que se intitulavam como mandatários da liberdade do povo, têm uma carga política forte.

Ao largo da política institucional...

A gentrificação ocorre porque não há partidos que defendam o sistema de habitação, a distância entre intelectuais e povo é imensa. Não sou de fazer demagogia com essas coisas, olho criticamente, mas fiquei impressionado com essas lideranças com ligação para baixo. Aliás, o que está acontecendo embaixo, na política, tem sido mostrado: a presença da milícia, o controle territorial do tráfico.

Outro fenômeno muito falado foi a ação dos Black Blocs.

Mas já passou, eles já perderam o encanto. Os intelectuais performáticos falaram disso, mas já não falam mais. Também os jovens, com quem eu convivo o tempo todo, já não têm todo esse entusiasmo.

Mas, no ambiente acadêmico, cresceu muito o interesse pelo estudo do anarquismo. Talvez por decepção com a política institucional?

As pessoas estão sempre procurando utopias críveis, porque viver sem uma, como diria o Cazuza, é difícil.

No discurso do 1º de maio deste ano, por sinal, a presidenta Dilma adotou um discurso mais enfático.

A questão sindical, operária, não está tendo o mesmo protagonismo que teve em eleições anteriores. São mudanças ocorridas entre os trabalhadores, os sindicatos. A própria maneira como se comemora feriado não é mais cívica, é um festival quase carnavalizado, com músicos cantando. O que não quer dizer que esse voto não tem significação. Mas o programa para atrair esse voto está muito generalizado. É progressão da política de salário mínimo, o tema da Previdência, tudo isso faz parte de uma agenda comum. Está difícil encontrar um ponto que seja só meu e não seja dos outros, que seja bem identitário.

O PT está desgastado?

Está. Ele não se renovou ao longo dos anos, tem líderes que estão aí há 30 anos, porque não acreditaram na democracia interna. Deixaram de ser atraentes e se distanciaram da juventude, dos artistas e intelectuais. Registra-se uma debandada.

Fala-se muito da volta do Lula em 2018.

Mas isso não tem relação com o partido.

Ele tem condições de se reeleger?

Vou responder dando uma "peruada": acho que não. O país não vai parar seis anos à espera de São Sebastião. Não tem isso. O jovem quer o novo.

E vão surgir novos nomes?

Já estão surgindo. Outro dia foi feita uma matéria sobre a oligarquização das famílias. Seria interessante também fazer uma pesquisa sobre os jovens das manifestações de junho que são candidatos agora em todos os estados. Pode significar uma mudança geracional. Esse país muda muito. A superfície pode se apresentar como quase que imobilizada, mas, lá embaixo, nesse oceano, há muita vida.

Os candidatos que estão aí não representam esse fenômeno?

Não dialogam com os jovens. Procuram assimilar seus temas. Todo mundo está dizendo, com razão, que essa campanha será definida no programa de televisão. O voto majoritário, de opinião, idiossincrático, por simpatia, vai depender da televisão.

Fala-se muito da reforma política. Ela mudaria esse quadro?

Acho que pode ajudar muito.

Com mecanismos com o voto em lista fechada, cláusula de barreira?

A cláusula de barreira foi tirada pelo Supremo numa intervenção desastrada.

Em alguma medida, a reforma pode frear o descolamento entre as bases populares e a classe política?

Como tempo, sim. Mas isso precisa ser sedimentado, não vem a jato, tão rápido.

Mercado reduz projeção de crescimento do PIB em 2014 para 0,79%

• Analistas consultados pelo Banco Central no Boletim Focus diminuíram a estimativa de crescimento da economia pela 12ª vez consecutiva

Agência Estado

SÃO PAULO - O mercado reduziu nessa segunda-feira, 18, pela 12ª vez consecutiva, as perspectivas para o desempenho da economia neste ano. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, agora economistas acreditam que o Produto Interno Bruto (PIB) deve fechar 2014 em alta de 0,79%. Na semana passada, as projeções apontavam para um crescimento de 0,81%. Há quatro semanas, a expectativa era de 0,97%.

A diminuição das projeções ocorre após o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) apontar recuo de 1,20% da atividade econômica no segundo trimestre, o que para alguns especialistas já acendeu o sinal amarelo de que pode haver recessão da economia no período. O IBGE divulga o PIB no dia 29 de agosto.

As sucessivas quedas das estimativas para este indicador vêm chamando a atenção até da imprensa internacional. Na semana passada, a edição online do jornal britânico Financial Times comparou as projeções da pesquisa Focus do Banco Central com a "dança da cordinha", argumentando que, a cada rodada, a previsão para o crescimento do Brasil cai mais um pouco. A publicação aponta, porém, que os eleitores do País não parecem estar incomodados com esse cenário.

Para 2015, porém, a estimativa de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) ficou estacionada em 1,20%. Um mês atrás, a mediana estava em 1,50%. A expectativa para o fraco crescimento é explicada pelas previsões negativas do mercado para o setor industrial. Para 2014, a mediana das estimativas passou de uma retração de 1,53% para uma queda de 1,76%. Para 2015, porém, a previsão segue em alta de 1,70% há quatro semanas antes.

Os analistas corrigiram também suas estimativas para o indicador que mede a relação entre a dívida líquida do setor público e o PIB em 2014. A Focus de hoje aponta uma mediana de 34,89% ante taxa de 34,85% da semana passada e de um mês atrás. Para 2015, segue em 35,00% há nove semanas.

Inflação menor. O Relatório de Mercado Focus revelou que a projeção para o IPCA de 2014 caiu levemente de 6,26% para 6,25%. Há quatro semanas, a estimativa era de 6,44%. Esta é a quinta semana consecutiva em que há diminuição das previsões. Já para 2015, a mediana das estimativas seguiu em 6,25% de uma semana para outra. Um mês antes, a expectativa mediana estava em 6,12%. A previsão suavizada para o IPCA para os 12 meses à frente, porém, aumentou de 6,19% para 6,21%. Há quatro semanas estava em 5,95%.

Juro estável. Os economistas consultados preveem uma taxa Selic menor ao final do ano que vem do que o estimado na semana passada. De acordo com o boletim divulgado esta manhã, a mediana das estimativas passou de 12% ao ano, nível que se encontrava há um mês, para 11,75% ao ano. Mesmo assim, a taxa encerrará 2015, de acordo com a pesquisa, mais alta do que o mercado espera para o final deste ano.

Pela Focus, não houve alteração na mediana da projeção para a Selic no fim de 2014, que segue em 11% ao ano há 11 semanas. Vale destacar que este é o nível atual da taxa básica de juros da economia brasileira. O próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom) para definir o rumo dos juros será nos dias 02 e 03 de setembro.

Ricardo Noblat: A guerra dos tronos

"Não vamos desistir do Brasil"
EDUARDO CAMPOS

- O Globo

Tal avô, tal pai adotivo e tal filho . Há nove anos, pouco antes de morrer, o mítico Miguel Arraes, três vezes governador de Pernambuco, cassado e exilado pela ditadura de 1964, ouviu a provocação feita por um amigo do seu neto, Eduardo Campos: "Não está na hora de passar o chapéu?". Arraes respondeu: "Quem quiser que pegue". Isto é: não indicarei um herdeiro. Quem quiser que conquiste o lugar .

Entre amigos, mais de uma vez nos últimos anos,Lula disse que considerava Eduardo uma espécie de filho adotivo seu. Quem, dentro do PT , Lula formou para sucedê-lo no comando do partido? Porto dos os meios possíveis, Lula sempre deu um jeito de apagar quem lhe pudesse fazer sombra. Concorreu à Presidência da República cinco vezes. Para substituí-lo por quatro anos apenas, iluminou um poste chamado Dilma.

O poste rebelou-se, bateu o salto no chão com raiva e decidiu tentar se reeleger. Lula amaldiçoa a hora em que não abriu o jogo e combinou com Dilma que, em 2014, seria novamente a vez dele. Agora é tarde. Nem mesmo o fantasma de Marina Silva será capaz de remover Dilma do caminho de Lula. Se depender de Dilma, Lula brilhará em sua campanha e a seu serviço. Mas não dividirá o protagonismo com ela.

Arraes morreu de morte morrida aos 89 anos. Eduardo, de morte inesperada, trágica, aos 49 anos. Como o avô e o pai adotivo, Eduardo não deixa herdeiros. Primeiro porque não teve tempo para deixar. Segundo porque não fez questão de deixar. Marina disputará a vaga de Dilma porque era vice de Eduardo—não porque fosse sua herdeira. Pernambuco, um dos estados mais politizados do país, ficou órfão.

Tamanha era a força de Eduardo que ele se reelegeu em 2010 com 82% dos votos, ganhou a eleição em todos os municípios do estado, encabeçou nos últimos quatro anos a lista dos governadores mais bem avaliados do país e juntou 20 partidos para derrotar fragorosamente o PT há dois anos e eleger prefeito do Recife quem jamais disputara uma eleição. Os amigos, às suas costas, o chamavam de "O Imperador".

Pois bem: "O Imperador" indicou para seu lugar um ex -auxiliar que, como o prefeito , era novato em matéria de eleição — o técnico Paulo Câmara, ex–secretário da Administração e da Fazenda de Eduardo. O DataFolha, no sábado passado, conferiu a Paulo 13% das intenções de voto contra 47% de Armando Monteiro Filho , candidato apoiado pelo PT . Se estivesse vivo, Eduardo daria um jeito de animar seus seguidores.

Dotado de uma extraordinária autoconfiança, de uma capacidade de trabalho invejada por amigos e adversários e de um admirável poder de persuasão, para Eduardo não existia o talvez ou o quem sabe. Parecia convencido de que nada o impediria de atingir de fato seus objetivos. E, a se levar em conta sua curta, mas meteórica e bem-sucedida trajetória política, estava certo.

Eduardo morreu convencido de que elegeria seu candidato ao governo de Pernambuco e de que venceria Dilma no segundo turno com a ajuda de Aécio Neves, do PSDB. Da única vez que falou para milhões de brasileiros — cerca de 35 milhões, a audiência do "Jornal Nacional", na última terça-feira—, cunhou a frase pela qual começa a se tornar conhecido: "Não vamos desistir do Brasil".

Pouco depois de dizê-la, e como não parasse de falar , ouviu de Patricia Poeta, apresentador a do telejornal, a advertência curta e grossa: "Seu tempo acabou, candidato ". Morreu no dia seguinte . Virou história

José Roberto de Toledo: Os três 'ismos' de Marina

- O Estado de S. Paulo

Aviso ao leitor: se o Datafolha não mostrou Marina Silva (PSB) com um pé no segundo turno presidencial, não vale a pena ler o resto deste texto. Ele foi escrito antes da divulgação dessa pesquisa, a primeira após a morte de Eduardo Campos. Outros sinais, porém, indicavam que a sondagem mostraria Marina muito bem na foto. Se esses sinais estavam certos, boa leitura.

A volta por cima de Marina ganha mais impulso com a pesquisa Datafolha. Feita no auge da comoção nacional com a morte de Campos, a sondagem é um fato político em si. Interfere na campanha ao aumentar o cacife de Marina. Deixa-a em posição de força para ditar os termos de sua candidatura ao PSB.

Mesmo inflada pelo momento da coleta, a pesquisa confere a Marina uma dose de favoritismo que Campos nunca teve. Mas o sabor de virada é agridoce para os pajés sem cacique do PSB. A grande chance de ganharem a Presidência pelo voto não só veio pela perda de seu líder, como ainda convive com a incerteza: será que tal vitória os levaria de fato ao poder? Porque antes de ser do PSB, Marina é do partido de Marina.

O PSB não é o único desconfiado que perdeu mais do que ganhou. Aécio Neves (PSDB) não precisa mais se preocupar se haverá segundo turno, mas corre risco inédito de ficar fora dele. Dilma Rousseff (PT) pode até não perder já, mas vê escapar a possibilidade de reeleição já em 5 de outubro - com o agravante de aumentar seu risco de derrota no turno final.

Muita coisa mudou em pouco tempo e pode continuar mudando. Marina entra na corrida pelo topo. Não será fácil manter-se tão em evidência quanto esteve desde o dia 13. Aumentará o tiroteio contra ela. Por isso, só as pesquisas do fim de agosto mostrarão um quadro decantado do pós-tragédia. Até lá, vale a pena entender como Marina chegou aonde chegou.

Uma parte de seus eleitores é histórica, não muda facilmente. A outra vem na onda emocional em que a pesquisa foi feita. A candidata precisará trabalhar para consolidar esse eleitor neomarinista. Os antigos são, por mais de um motivo, fiéis.

O eleitorado estrutural de Marina é um misto de dois grupos distintos. Na ponta da pirâmide, jovens descontentes com a política tradicional, muitos deles manifestantes de 2013. Têm escolaridade acima da média e se acham qualificados demais para as oportunidades de emprego que lhe aparecem. Na base, eleitores religiosos, principalmente mulheres evangélicas.

Por razões distintas - o conservacionismo da Marina ambientalista, e o conservadorismo da Marina dogmática -, ambos votaram nela há quatro anos. O grupo religioso aderiu na reta final do primeiro turno de 2010, após campanha de neopentecostais associar Dilma à defesa do aborto.

No segundo turno, uma parte desses eleitores votou em Dilma, mas sem convicção. Está sempre pronta a pular fora do barco da petista a qualquer sinal de avanço da presidente no campo dogmático. Foi o que ocorreu em maio deste ano, depois que o governo regulamentou o aborto por razões médicas e legais na rede SUS. A reação foi tão forte que a portaria foi revogada.

Esse eleitor crê quando Marina diz que foi "providência divina" ela não ter viajado no avião que caiu.

Mas desconfia quando Dilma diz "feliz da nação cujo Deus é o Senhor". O voto religioso em Marina rebaixa o piso eleitoral de Dilma - assim como seu eleitorado jovem limita o teto potencial de Aécio. Aí há menos chance de mudanças.

Quem oscila e pode ou não levar Marina à vitória é quem estava insatisfeito com as candidaturas existentes e aparecia na coluna do branco, nulo e indeciso. Esse eleitor estava desligado da eleição até o Cessna Citation explodir em Santos. O estrondo da tragédia despertou-o para a campanha. No susto, aderiu a Marina. Se vai continuar, depende de ela conseguir equilibrar conservacionismo, conservadorismo e messianismo.

Valdo Cruz: Vida bem vivida

- Folha de S. Paulo

Obra do destino, que construímos em dimensões visíveis e invisíveis, a morte de Eduardo Campos põe nas mãos de Marina Silva a chance de ouro de conquistar o posto que seu companheiro considerava projeto pronto a ser realizado.

Projeto que Marina viu escapar de suas mãos até pouco tempo atrás e que, agora, vê o destino, de forma sofrida, lhe devolver. Não da forma como desejaria, mas que passa a ser real na avaliação tanto de aliados como até de seus adversários.

Enquanto seu companheiro de chapa era velado neste domingo, Marina era o tema de conversas reservadas nos jardins interiores do Palácio Campo das Princesas, sede do governo pernambucano.

Ao contrário de Eduardo, que tinha projeto viável de governo, Marina é sonhática, vista como inconsistente. Mas, se somar os dois lados, sobe várias casas no tabuleiro eleitoral e pode chegar ao segundo turno, que garante estando na disputa.

Este é o receio de petistas e tucanos, que preferem apostar em seu lado mais frágil, o fundamentalista, para minar o potencial de votos que conquistará com a comoção nacional gerada pela morte de Eduardo.

Marina, fiel a seu estilo, manteve-se distante destes debates e próxima da família. Teve o nome gritado por populares. Sai daqui com o aval de Renata Campos, figura forte revelada ao país nestes últimos dias desde a morte de seu marido.

Apesar da tragédia, surpreendia a todos com sua serenidade. Em rápida conversa, revelou de onde vem tanta força. Olhos para o alto, mirando um ponto indefinido no céu, assim traduziu seu sentimento de perda. "Vai dar uma saudade danada, mas foi uma vida bem vivida."

Frase-síntese de quem começou a namorar com Dudu Campos aos 13 anos, com quem teve cinco filhos ao longo de vinte anos de casamento. Uma história de amor que o país conheceu no seu final. Uma família que daria, com certeza, vida especial ao Palácio da Alvorada.

Luiz Carlos Azedo: Nasce o mito

• Não está dado a priori que Marina Silva será herdeira de toda a comoção gerada pela morte de Eduardo Campos, embora se beneficie por ser a sua companheira de chapa

Correio Braziliense - 17/08/2014

É imprevisível o impacto da morte trágica de Eduardo Campos (PSB) na política nacional. Seu corpo será enterrado hoje à tarde, no Recife, em cerimônia para a qual estão sendo esperadas as principais lideranças políticas do país, entre elas a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, e o senador Aécio Neves (PSDB), principal candidato de oposição, contra quem o ex-governador pernambucano concorria. Marina Silva assumirá o lugar de Campos como candidata do PSB em circunstância de grande comoção nacional.

O ex-governador de Pernambuco será sepultado com o caixão fechado, pois seus restos mortais foram carbonizados. O povo não verá o seu corpo. As últimas imagens do líder político pernambucano para a opinião pública serão aquelas gravadas durante a entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo. Campos era desconhecido para 42% dos eleitores; depois de morto, tornou-se símbolo da necessidade de renovação política do país.

Sebastianismo
Se depender da nossa tradição ibérica, por causa do velho “sebastianismo”, sua herança política não pode ser desprezada. D. Sebastião nasceu em Lisboa a 20 de janeiro de 1554 e era filho do príncipe D. João e de D. Joana de Áustria. Faleceu a 4 de agosto de 1578 na batalha de Alcácer Quibir, no norte de África. Mas seu corpo nunca foi encontrado.

Com sua morte, Portugal foi anexado pela Espanha entre 1580 e 1640, juntamente com o Brasil, passando por período muito difícil. Nasceu então uma versão particular de messianismo, de influência judaica: toda opressão, todo sofrimento, toda miséria, toda crise será vencida com o reaparecimento de D. Sebastião.

A concepção religiosa do messianismo acredita na vinda ou no retorno de um enviado divino, o messias; um redentor, com capacidade para mudar a ordem das coisas e trazer paz, justiça e felicidade. É um movimento que traduz inconformidade com a situação política vigente e uma expectativa de salvação, ainda que miraculosa, através da ressurreição de um morto ilustre.

O mito no Brasil surgiu na narrativa da batalha que expulsou os franceses na fundação do Rio de Janeiro, em 20 de janeiro de 1567, e reapareceu na Guerra de Canudos (1896-1897), no sertão da Bahia, entre os fanáticos de Antônio Conselheiro.

Dois movimentos sebastianistas trágicos ocorreram também em Pernambuco: o da Serra do Rodeador, no município de Bonito, em 1819-1820, e o da Serra Formosa, em São José do Belmonte, no período de 1836 a 1838. Foram violentos, com líderes fanáticos. No folclore nordestino, ainda hoje, D. Sebastião reaparece como touro encantado nas festas de bumba-meu-boi, nos meses de junho, julho e agosto.

Os votos
Mitos e lendas à parte, não está dado a priori que Marina Silva será herdeira de toda a comoção gerada pela morte de Eduardo Campos, embora se beneficie por ter sido a sua companheira de chapa. O mais provável é que recupere os próprios votos, que até agora não havia conseguido transferir para Eduardo Campos. Em fevereiro passado, Marina tinha cerca de 20% dos votos, mas vinha numa trajetória descendente.

Já a última pesquisa Datafolha, de 15 e 16 de julho, mostrou que, entre os 8% de eleitores com intenção de voto em Eduardo Campos (PSB) no primeiro turno, 55% votariam em Aécio Neves (PSDB) e 26% em Dilma Rousseff (PT), num eventual segundo turno entre o tucano e a petista.

Outros 15% votariam em branco, nulo ou em nenhum dos dois e 4% não souberam responder à pergunta. Ontem, a cúpula do PSB vazou informações de que uma pesquisa feita por telefone, após a morte de Campos, teria registrado crescimento espetacular de Marina. A conferir nas próximas pesquisas.

A única certeza é de que há um quadro eleitoral novo, no qual se consolida a realização de segundo turno para decidir quem será o próximo presidente da República. Por hora, há dois projetos de poder claramente delineados: a continuidade do governo Dilma, de um lado; e a volta dos tucanos ao Palácio do Planalto, com Aécio Neves, do outro.

A chamada “terceira via”, com a morte de Eduardo Campos (PSB), ainda é uma incógnita como projeto de poder, não importam as pesquisas. Somente deixará de ser quando Marina Silva, que cultiva certo messianismo, disser o que pretende fazer para desenvolver o país e melhorar a vida do povo, caso seja eleita presidente da República.