domingo, 12 de julho de 2015

Opinião do dia – Geraldo Alckmin

"O que compete a nós, o maior partido de oposição, nesse contexto? Qual deve ser nosso papel? Qual nosso dever?

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Geraldo Alckmin é governador de S. Paulo em discurso na Convenção do PSDB, domingo, 5 de julho de 2015.

Governo vai recorrer ao Supremo se TCU condenar ‘pedaladas’ de Dilma

Fábio Fabrini, João Villaverde - O Estado de S. Paulo

• Descrente da possibilidade de obter uma vitória, Planalto quer recorrer à Corte na qual avalia ter ambiente mais favorável a sua tese, sob alegação de que ministro Nardes infringiu código da magistratura e prejulgou seu voto no caso das manobras contábeis

BRASÍLIA- O governo Dilma Rousseff já tem preparado um “plano B” para o caso de perder votação no Tribunal de Contas da União em processo que avalia as contas federais de 2014, prevista para agosto. A estratégia é levar ao Supremo Tribunal Federal um pedido para anular o julgamento do TCU com base em declarações públicas do ministro Augusto Nardes, relator do caso, que teria dado indicações prévias de seu voto.

Embora não integrem o Judiciário, os ministros do TCU estão sob a égide da Lei Orgânica da Magistratura (Loman), que proíbe que um magistrado antecipe seu voto ou mesmo emita opiniões sobre processos pendentes de julgamento.

Hoje esse plano é considerado “alternativo” pelo governo, pois a prioridade está em apresentar defesa ao tribunal e conseguir uma aprovação do Balanço Geral da União de 2014. Mas o Palácio do Planalto já admite nos bastidores que a tendência é de que a corte dê parecer pela rejeição das contas, o que justificaria a investida sobre Nardes.

Conforme um interlocutor da presidente, o argumento a ser levado ao Supremo é o de que o relator, ao dar sucessivas declarações que indicam sua “intenção” de recomendar a reprovação das contas, constrange os colegas de plenário que, eventualmente, pretendam votar diferentemente. Auxiliares do Planalto já levantam vídeos e outros registros de entrevistas e palestras do ministro.

O TCU apontou distorções de R$ 281 bilhões nas contas, entre elas as chamadas “pedaladas fiscais”. Em sessão no mês passado, abriu prazo até o próximo dia 22 para que Dilma apresente defesa. Na ocasião, Nardes elencou 13 irregularidades e argumentou que não havia condições de avaliar o balanço que descreve a situação financeira, contábil, patrimonial e orçamentária da União. Por isso, propôs que a presidente fosse ouvida, sendo seguido por todos os demais. Como relator, o voto dele conduz a apreciação.

Trâmite. De posse das explicações, o TCU marcará uma nova reunião para decidir qual recomendação fará ao Congresso, que é o responsável pelo julgamento das contas. Os ministros podem indicar a aprovação, a reprovação ou mesmo se abster de emitir uma opinião.
Este ano, o processo é permeado de pressões políticas, pois a oposição e setores rebelados da base aliada apostam num parecer adverso ao Planalto para pedir o impeachment da presidente por suposta irresponsabilidade fiscal.

A ideia de derrubar a decisão do TCU na Justiça evitaria que o documento chegasse ao Congresso, onde o governo tem sido derrotado em sucessivas votações com aval do PMDB, principal partido da coalizão governista.

A avaliação do Palácio do Palácio é que no Supremo – que tem oito dos 11 ministros nomeados por Dilma e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva – seria mais fácil costurar uma saída para o imbróglio das contas.

No alvo do governo está uma coletânea de declarações de Nardes desde 16 de junho, véspera da sessão que tratou das irregularidades nas contas. “Meu voto não será pela aprovação com ressalvas”, disse na ocasião. Fixado o prazo para Dilma apresentar defesa, o relator afirmou, em 3 de julho, que seria “muito difícil o governo conseguir explicar” os problemas nas contas.

Em palestra no último dia 2, o ministro esclarecia a representantes de prefeituras gaúchas que a decisão do TCU é técnica, não política, quando cravou: “Eu poderia aprovar com ressalvas, mas me propus a rejeitar”. “Não aprovei as contas da presidente, mas poderia ter sido com qualquer governante, porque o princípio (da Lei da Responsabilidade Fiscal) é o mesmo para todos”, acrescentou.

No último dia 8, ao explicar ao Estado a necessidade de discutir aspectos do processo em conjunto com os demais integrantes do TCU, o relator justificou: “Qualquer melindre que eu cause (aos outros ministros), eu posso perder um voto e todo o trabalho ir por terra”.

Explicação. Questionado pela reportagem, Nardes afirmou que tem falado em público sobre o relatório que leu na sessão de junho, quando sustentou que as contas não estavam em condições de ser apreciadas. “Em nenhum momento falei do voto futuro. Se não puder explicar para onde vai o dinheiro do cidadão, o TCU deixa de cumprir sua missão”, disse.

O governo também conduz uma força-tarefa para reverter a tendência instalada entre os ministros do TCU, que penderiam para a reprovação das contas. Além do lobby na corte, já antevendo uma decisão desfavorável, o Planalto acionou ministros para convencer líderes no Congresso de que as irregularidades não ensejam um processo de impeachment e se referem ao primeiro governo Dilma. Por isso, não poderiam ser usadas para interromper o atual mandato da presidente, iniciado este ano.

Segundo auditores do tribunal, entre as distorções apontadas, uma das mais graves é a “pedalada fiscal”, já condenada pelos ministros do TCU em abril. Essa manobra consiste em atrasar repasses do Tesouro Nacional para bancos públicos, que usaram recursos próprios para continuar pagando em dia benefícios sociais como o Bolsa Família e o seguro-desemprego.

Câmara abre caminho para análise das contas de Dilma

• Deputados se preparam para votar processos pendentes de governos anteriores

• Eduardo Cunha diz querer resolver casos antigos primeiro, mas Dilma pode ser julgada antes se plenário quiser

Andréia Sadi, Mariana Haubert – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Câmara dos Deputados começou a abrir caminho para o julgamento das contas de 2014 do governo Dilma Rousseff, retomando a análise de casos antigos que estão há vários anos à espera da apreciação dos parlamentares.

Na última segunda-feira (6), o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pediu à assessoria da Casa um levantamento da situação das contas de governos anteriores que ainda estão pendentes.

Seu plano é colocá-las em votação quando os parlamentares voltarem do recesso de julho, limpando as gavetas para que as contas de Dilma possam ser julgadas logo que o TCU (Tribunal de Contas da União) concluir sua análise.

Os auditores do TCU apontaram várias irregularidades no balanço apresentado pela presidente para o último ano de seu primeiro mandato, e tudo indica que o tribunal recomendará ao Congresso sua rejeição em agosto.

Se a recomendação do tribunal for seguida pelos parlamentares, qualquer cidadão poderá usar a reprovação das contas como justificativa para pedir à Câmara o impeachment de Dilma, para que a presidente seja afastada do cargo e processada.

O TCU só rejeitou as contas do governo federal uma vez, em 1937, quando o presidente era Getúlio Vargas. O Congresso tem cumprido raramente seu papel de julgar as contas do governo. Existem 16 processos pendentes hoje.

A última vez que o Congresso julgou as contas de um presidente foi em 2002, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) teve o balanço de 2001 aprovado, como já havia acontecido com as contas dos anos anteriores de sua administração.

Nenhuma das contas apresentadas por Dilma e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que governou entre 2003 e 2010, foi analisada pelo Congresso até hoje.

Algumas ainda nem foram examinadas pela Comissão Mista de Orçamento, etapa preliminar que precisa ser cumprida antes que o processo seja submetido ao plenário da Câmara, de onde segue para o Senado depois.

Eduardo Cunha disse que pretende seguir a ordem cronológica dos processos até esgotar a pauta, mas afirmou que as contas de Dilma poderão ser apreciadas antes se um deputado pedir e o plenário da Câmara assim decidir.

"Depois que o TCU apreciar e enviar ao Congresso as contas de 2014, a gente começará a análise em ordem cronológica", disse. "Mas não posso impedir requerimentos. Posso até ficar contra, mas é o plenário quem decidirá."

Cunha afirmou que combinará tudo com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). A apreciação das contas começa pela Câmara e é feita separadamente nas duas Casas do Congresso.

O líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), que faz oposição a Dilma, propõe que a Câmara comece a votar o quanto antes as contas dos governos passados. Ele acha provável que a oposição e até mesmo partidos da base do governo tentem antecipar a votação das contas de 2014.

'Pedaladas'
A principal irregularidade apontada pelo TCU nas contas de Dilma são as chamadas "pedaladas fiscais", manobras que ajudaram o governo a segurar repasses devidos a bancos públicos e assim conter suas despesas.

Isso ocorreu com bancos contratados pelo governo para pagar benefícios do Bolsa Família e executar outros programas federais. O governo diz que os contratos com os bancos previam compensação dos atrasos nos repasses e não há nada de errado nisso.

Para os auditores do TCU, no entanto, essas manobras representam empréstimos na prática, e por isso são ilegais. A Lei de Responsabilidade Fiscal proíbe bancos públicos de financiar os governos que os controlam. Governos anteriores também recorreram a esse expediente, mas com menos intensidade que Dilma.

Crise faz presidente demonstrar irritação

• Lançamento de suspeitas sobre campanha à reeleição fizeram Dilma ter explosão de fúria com auxiliares em junho

• Petista perguntou ao ministro da Justiça se ele não poderia ter segurado homologação de delação no Supremo

Natuza Nery, Marina Dias – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Agitada, andando em círculos e gesticulando muito, a presidente Dilma Rousseff olhou para os auxiliares e bradou, indignada: "Não sou eu quem vai pagar por isso. Quem fez que pague".

Ela estava furiosa. "Não devo nada para esse cara, sei da minha campanha", afirmou, referindo-se às suspeitas lançadas pelo empresário Ricardo Pessoa sobre as doações à sua campanha à reeleição.

Batendo com força a palma de uma mão na outra, Dilma insistiu: "Eu não vou pagar pela merda dos outros". Ela não disse a quem se referia, e ninguém achou que era conveniente perguntar.

A explosão de fúria da presidente ocorreu na noite da última sexta-feira de junho, dia 26, na biblioteca do Palácio da Alvorada, durante uma reunião convocada às pressas por Dilma para discutir as revelações de Ricardo Pessoa.

Dono da empreiteira UTC, ele aceitou colaborar com as investigações da Operação Lava Jato em troca de uma pena menor. O empresário diz que pagou propina e fez doações eleitorais para facilitar seus negócios com a Petrobras.

Pessoa deu R$ 7,5 milhões para a campanha de Dilma no ano passado. Foi tudo declarado à Justiça Eleitoral, mas ele disse que só fez a contribuição porque tinha medo de perder seus contratos na estatal se não ajudasse o PT.

O empreiteiro afirmou que tratou da doação com o então tesoureiro da campanha de Dilma, o petista Edinho Silva, hoje ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto.

Pessoa também lançou suspeitas sobre uma doação eleitoral feita em 2010 a outro ministro de Dilma, Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil, que naquele ano concorreu pelo PT ao governo do Estado de São Paulo.

Edinho confirma que se encontrou com Pessoa para tratar de doações na campanha, mas nega ter feito qualquer ameaça ao empreiteiro. Mercadante diz que todas as doações que recebeu de Pessoa foram declaradas à Justiça.

Culpa
Na noite de 26 de junho, a presidente reuniu-se no Alvorada com Mercadante, Edinho, o assessor especial Giles Azevedo e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, o auxiliar sobre quem recaiu quase toda a culpa na reunião.

As revelações de Pessoa contribuíram para aprofundar a crise política enfrentada por Dilma. Nesta semana, ele deve depor ao Tribunal Superior Eleitoral, que conduz uma investigação sobre a campanha da reeleição.

Os relatos da conversa que a presidente teve com seus auxiliares em 26 de junho foram colhidos pela reportagem com testemunhas do encontro e petistas que souberam depois o que aconteceu.

Dilma cobrou Cardozo por não ter impedido que as revelações de Pessoa viessem a público dias antes de sua visita oficial aos Estados Unidos, num momento em que a presidente buscava notícias positivas para reagir à crise.

"Você não poderia ter pedido ao Teori [Zavascki] para aguardar quatro ou cinco dias para homologar a delação?", perguntou, referindo-se ao ministro que conduz os processos da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal).

"Isso é uma agenda nacional, Cardozo, e você fodeu a minha viagem", acrescentou a presidente. Dilma embarcou no dia seguinte para os Estados Unidos, onde passou cinco dias e se encontrou com o presidente Barack Obama.

Cardozo tem sido cobrado por petistas por não controlar a Polícia Federal, que atua na Lava Jato e é subordinada ao Ministério da Justiça, mas tem autonomia operacional.

"Vazamento seletivo"
Na reunião com Dilma no Alvorada, um dos ministros reclamou que ninguém, nem a PF, nem o Ministério Público, parecia ter questionado Ricardo Pessoa sobre suas doações eleitorais ao PSDB.

Surgiu daí uma orientação para levantar nos registros da Justiça Eleitoral os valores das doações recebidas pelos tucanos, além da palavra de ordem adotada pelos petistas nos dias seguintes: "Vazamento seletivo".

A presidente voltou a exibir irritação em outros momentos desde então. Nos Estados Unidos, ela comparou os delatores da Lava Jato a presos políticos que traíram os companheiros após sofrer tortura na ditadura militar.

Na última segunda-feira (6), em entrevista à Folha, Dilma insistiu na comparação, desafiou os adversários a tentar impedi-la de concluir seu mandato e foi enfática: "Eu não vou cair".

'A gente sempre para não cair precisa ser ajudada', diz Dilma, em Milão

• Presidente diz que seu mandato é firme ao ser perguntada sobre caminhada em rede na Expo Milão

Catarina Alencastro, enviada especial – O Globo

MILÃO - Depois de se equilibrar ao andar por uma instalação de tela no pavilhão do Brasil na Expo Milão, na Itália, na manhã deste sábado, a presidente Dilma Rousseff refutou uma brincadeira de um repórter que perguntou se a rede poderia ser uma metáfora de seu segundo mandato, com ela tentando se equilibrar, mas sem cair. Dilma disse que seu mandato é firme.

— Não, querido, o meu mandato é, eu diria, assim mais firme que essa rede —afirmou, bem-humorada

Ao falar sobre sua caminhada na grande rede, Dilma disse que achou difícil e que, para não cair, precisou de ajuda. Ela caminhou amparada por um funcionário da feira.

— Quando você está lá em cima, você inclina para um lado e imediatamente vira para o outro, você fica balançando mesmo, você consegue equilibrar. Eu não caí, mas a gente sempre para não cair precisa ser ajudada, né — completou.

Em meio à crise política e econômica e enfrentando seu mais baixo índice de aprovação desde que assumiu o poder, em 2011, Dilma tem respondido repetidamente que não vai cair. Em entrevista na segunda-feira passada à ‘Folha de S.Paulo’, ela disse que não há base que sustente sua retirada da Presidência. E a uma TV russa, a quem falou depois de sua passagem para a reunião de cúpula dos BRICS em Ufá, na última quinta, disse que terminará seu mandato.

Sobre o conflituoso relacionamento de seu governo com o Congresso, Dilma disse que não há rebelião por parte dos parlamentares e que contabiliza mais vitórias que derrotas.

— Eu não chamo de rebelião votação no Congresso em que há divergências. A gente perde umas e ganha outras. Se a gente for fazer um balanço, nós mais ganhamos do que perdemos. Nós temos tido aprovação de muitas coisas importantes e temos tido também desaprovações. Agora, isso não significa que haja uma rebelião — afirmou.

Com relação às votações de interesse do governo que enfrentará no Senado, Dilma minimizou a possibilidade de derrota:

— Em uma democracia, se espera que haja debate, não é? Não tem como em país nenhum no mundo você achar que ganha todas no Congresso. Aliás, nos mais democráticos é que se torna mais complexa a aprovação.

Em mais um indicativo de que irá vetar o reajuste aos servidores do Judiciário aprovado pelo Senado na semana passada, a presidente Dilma disse que é impossível o governo sustentar essa medida. E que valores como esse são impraticáveis. Falando pela primeira vez depois de se encontrar com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, em Portugal, esta semana, Dilma disse que o ministro não quer que ela vete o reajuste.

— De fato o ministro Lewandowski pleiteia que não haja veto. No entanto, nós estamos avaliando, porque é impossível o Brasil sustentar um reajuste daquelas proporções. Nem em momentos de grande crescimento se consegue garantir reajustes de 70%. Muito menos no momento em que o Brasil precisa fazer um grande esforço para voltar a crescer. Tem certos valores, certas quantidades de recursos que algumas leis exigem e que são impraticáveis. O país não pode fazer face a isso. Nenhum segmento do funcionalismo público está isolado dos demais. Não é possível supor que um país qualquer do mundo hoje tem condições de dar reajuste de 70% para qualquer segmento de seu funcionalismo público — explicou Dilma

Assinado pelo STF, o projeto aprovado pelo Congresso aumenta os salários dos funcionários do Judiciário de 53% a 78,56%. O Ministério do Planejamento estimou que o rombo, caso o aumento passe a valer, será de R$ 25,7 bilhões em quatro anos.

Isolada, Dilma conta com recesso para esfriar crise

Vera Rosa - O Estado de S. Paulo

• Presidente quer ganhar tempo durante férias do Congresso para definir estratégia, enquanto ministros tentam reaproximar Lula

BRASÍLIA- Sob pressão dos adversários e até de integrantes da base aliada, que agem nos bastidores para abreviar o seu mandato, a presidente Dilma Rousseff vive os momentos de maior solidão no poder. O governo conta com as duas semanas de recesso no Congresso, a partir do dia 18, para esfriar a crise política, mas até agora não há acordo sobre os passos a seguir.

Nos últimos dias, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva começou a chamar ministros, nomes de peso do PT e representantes de movimentos sociais para conversas reservadas, em São Paulo. Preocupado com o impacto da Operação Lava Jato, com as novas medidas impopulares que serão tomadas e com os efeitos recessivos do ajuste fiscal, Lula avalia que, se Dilma não começar a percorrer o País e a divulgar notícias boas, os problemas vão se agravar.

“Eu não tenho argumentos para defender o governo”, disse o ex-presidente. “Mas não podemos aceitar a pecha de corrupção que querem pôr na nossa testa nem ficar só na agenda do ajuste fiscal. Nós precisamos ter gente fazendo o debate político.” Lula conversou com o ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, que tenta reaproximá-lo de Dilma, com o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho, e com o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, todos do PT. Ouviu receitas sobre o que fazer para Dilma, o partido e ele próprio saírem do “volume morto”.

“O governo precisa mudar radicalmente sua política monetária para viabilizar a retomada do crescimento e do emprego”, afirmou Tarso, ao lembrar que a taxa básica de juros (Selic) era de 11,75% em dezembro e no mês passado chegou a 13,75%.

‘Golpismo paraguaio’. Na avaliação de Tarso, se Dilma sair às ruas para dizer que tudo está certo e nada vai mudar é melhor ficar no Planalto. “O golpismo paraguaio em curso parte da seguinte premissa da oposição: ‘se é para fazer isso que estão fazendo, nós fazemos muito melhor’. O que é verdadeiro”, provocou o petista.

Citado na Lava Jato pelo delator Ricardo Pessoa, da UTC, o ministro Edinho disse que o ajuste fiscal é “absolutamente necessário”. Tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, ele repudiou as acusações de tráfico de influência na Petrobrás.

Para o prefeito Luiz Marinho, Dilma necessita dar “urgentemente” um sinal claro para evitar a quebradeira das empreiteiras envolvidas na Lava Jato, caso contrário haverá uma onda de demissões. “Estou muito preocupado com isso”, comentou.

Nos bastidores, senadores do PMDB dizem que o desemprego vai aumentar assim que for aprovada a desoneração da folha de pagamento das empresas, última medida do ajuste fiscal. Uma ala do PMDB flerta com o PSDB do senador Aécio Neves.

O Palácio do Planalto ainda não tem, no entanto, uma estratégia definida para reagir às ameaças de impeachment nem mesmo às traições na base de sustentação do governo no Congresso, muitas delas apoiadas pelos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros (AL), ambos do PMDB. Até mesmo integrantes do PMDB admitem que a dupla tem tornado a vida de Dilma um “inferno”.

No início da semana, o vice-presidente Michel Temer avisou aos correligionários ávidos por destitui-lo da articulação política do Planalto que permanecerá no posto. “Estamos no cumprimento de uma missão e não somos movidos por oportunismo político-eleitoral”, reagiu o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, que auxilia Temer.

Ministros também intensificaram conversas com titulares do Tribunal de Contas da União (TCU), que em agosto vai analisar as contas de 2014 da gestão Dilma. O governo produzirá uma “cartilha” para distribuir aos deputados e senadores, com o objetivo de explicar as manobras no Orçamento, conhecidas como “pedaladas fiscais”. A justificativa da equipe econômica é de que o atraso no repasse de verbas do Tesouro para bancos públicos honrarem compromissos com programas sociais, como Bolsa Família, não pode ser configurado como empréstimo e muito menos encaixado na lista de práticas proibidas pela Lei de Responsabilidade Fiscal. Além disso, o Planalto alega que o mesmo arranjo foi adotado por outras administrações.

A outra frente de batalha do governo é no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde o PSDB pede a cassação do registro da candidatura de Dilma e Temer. Para o partido, os dois devem ser declarados inelegíveis por abuso do poder econômico e político na campanha. “Ao contrário desses setores radicalizados da oposição, vejo segmentos que, mesmo não concordando com o governo, estão indignados com essa postura golpista. Falar em impeachment é o mesmo que pisotear a Constituição”, afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, convocado para depor na quarta-feira na CPI da Petrobrás. “É impressionante a desconexão da presidente com a realidade. Não vamos permitir que as instituições sejam constrangidas por ação do governo”, rebateu Aécio, que preside o PSDB.

‘Insensatez’. Na terça-feira à noite, ao fazer uma escala na cidade do Porto, em Portugal, antes de seguir para a Rússia, Dilma teve reunião fora da agenda com Cardozo e com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski. “Lewandowski queria conversar com ela sobre o reajuste do Judiciário”, garantiu o ministro. O Senado aprovou no dia 30 de junho o aumento dos salários dos servidores do Judiciário em índices que variam de 53% a 78,56%. “Parece que o Congresso virou a nau da insensatez”, resumiu o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS).

Ibope atesta ‘volume morto’ do lulismo

Daniel Bramatti, José Roberto de Toledo - O Estado de S. Paulo

• Pesquisa dá números à expressão citada por ex-presidente, que perdeu apoio social

Se disputasse hoje uma eleição presidencial contra o tucano Aécio Neves, Luiz Inácio Lula da Silva venceria apenas no eleitorado de menor renda e escolaridade, e em algumas das áreas geográficas que tradicionalmente votam no PT. O lulismo, além de menor, está menos diverso: em quase duas décadas, este é o momento em que o apoio ao ex-presidente mais se concentra na população mais pobre.

Os dados são de pesquisa Ibope, realizada na segunda quinzena de junho, que mostra que Lula seria derrotado por 48% a 33% em um eventual 2.º turno com Aécio – em votos válidos, sem contar os indecisos e os que não optariam por nenhum dos dois, o resultado seria 59% a 41%. Se o adversário fosse o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, haveria empate técnico: 40% para o tucano e 39% para o petista – ou 51% a 49%, em votos válidos.

Na segmentação do eleitorado por sexo, idade e tamanho do município, Aécio venceria em todas as faixas. Na divisão por renda e escolaridade, Lula ficaria à frente, de forma isolada, apenas entre os eleitores que ganham até um salário mínimo e que têm até quatro anos de estudo. A geografia do voto mostra que o petista ganharia apenas na Região Nordeste.

Núcleo duro. É como se a pesquisa desse sentido numérico à citação de Lula, feita durante encontro com líderes religiosos, no mês passado, de que ele e o governo estão no “volume morto” – uma referência à reserva técnica de água que só é consumida em situações de crise.
O levantamento do Ibope mostra um refluxo do apoio ao petista mesmo no eleitorado de baixa renda: Aécio ganharia de Lula até entre os que ganham de um a dois salários mínimos (53% a 47% dos votos válidos). A vantagem do tucano aumenta à medida que cresce a renda, até chegar a 72% a 28% na faixa dos que ganham mais de cinco salários.

A popularidade do ex-presidente chega ao fundo do poço em um momento em que se combinam os estragos econômicos provocados pela alta da inflação e do desemprego e as turbulências políticas decorrentes da Operação Lava Jato, que investiga corrupção e desvios em torno de obras contratadas pela Petrobrás.

Essa combinação é o que o cientista político Marcus Melo, da Universidade Federal de Pernambuco, costuma chamar de “tempestade perfeita”. “No Brasil, o choque informacional representado pelo escândalo do petrolão potencializou brutalmente o efeito da derrocada da economia. A experiência cotidiana da população quanto à péssima qualidade dos serviços, por exemplo, aumenta a credibilidade da informação recebida sobre corrupção.”

Mudanças no mapa. O encolhimento da base lulista fica ainda mais evidente quando se analisa sua distribuição geográfica. No conjunto de municípios que a pesquisa do Ibope classifica como “pró-PT” – aqueles em que o partido venceu no 2.º turno das três mais recentes eleições presidenciais –, Dilma colheu quase dois terços dos votos válidos em 2014. Agora, uma hipotética candidatura de Lula teria 52% nessas mesmas cidades, ante 48% para Aécio – o que configura um empate técnico.

Nas cidades consideradas volúveis, onde o PT foi derrotado em uma ou duas das três mais recentes eleições, Lula sofreria hoje uma derrota significativa para o ex-governador de Minas Gerais: 63% a 37%. Nas áreas anti-PT, onde o partido perdeu em 2006, 2010 e 2014, o tucano teria vantagem de 72% a 28%, segundo a pesquisa.

Nem no berço do PT a situação de Lula é confortável. Na conversa em que se referiu ao “volume morto”, ele fez críticas à presidente Dilma Rousseff e citou pesquisa, feita a pedido do PT, que mostrava 75% de rejeição ao governo em São Bernardo do Campo e Santo André, segundo reportagem do jornal O Globo.

Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope, observa que, em 2002, Lula teve votação bastante homogênea em diferentes segmentos sociais e regiões do País. Foi em 2006 que o eleitorado lulista se concentrou nas classes e regiões mais pobres. Essa clivagem se repetiu nas vitórias de Dilma, em 2010 e 2014.

Tanto em 2002 quanto em 2006, Lula venceu com cerca de 61% dos votos válidos, 20 pontos porcentuais a mais do que os obtidos na pesquisa Ibope, se descontados os indecisos e os eleitores que anulariam ou votariam em branco. “É preciso levar em conta que o número de indecisos, hoje, é muito maior do que seria se, de fato, estivéssemos perto de uma eleição”, alerta a diretora do Ibope. “É fato que a base de Lula diminuiu, mas não se pode dizer que ele esteja morto, em termos políticos.”

O Ibope ouviu 2.002 eleitores em todo o País. A margem de erro do levantamento é de dois pontos porcentuais. (Colaborou Guilherme Duarte)

Duas perguntas para: Marcus Melo, cientista político da UFPE

1. Quem são os eleitores que se afastam de Lula neste momento?

O PT e Lula tem sofrido perdas importantes tanto nos chamados “core voters” como nos “swing voters”. A redução do primeiro grupo se manifesta nos dados de identificação partidária com o PT e na lealdade declarada a Lula. Este núcleo duro detém informação política: a lealdade tem traços programáticos e ideológicos. Ele está representado por setores da classe média tradicional e setores sindicais e dos movimentos sociais. Mas a perda maior de Lula e do PT pode ser observada no grupo de “swing voters” – eleitores que demonstram pouca lealdade ao partido e ao ex-presidente e têm menor informação política. Este grupo responde fundamentalmente a mudanças no seu bem-estar. As perdas colossais que se observam nesse grupo devem-se a aumento do desemprego, inflação e encarecimento do crédito, entre outros fatores.

2. O ex-presidente tem condições de reconquistar os simpatizantes perdidos?

A quebra de promessas de campanha pode levar a defecções à esquerda no grupo de “core voters”, mas, numa escolha binária, eles ainda votariam em Lula ou em outro candidato do PT. O segundo grupo só seria reconquistado a longo prazo com a recuperação robusta dos níveis de bem-estar em 2017 e 2018, o que parece muito improvável.


O gogó está afiado

• ...mas, como sempre, o PSDB fica apenas nele. Os tucanos continuam sendo o partido da "oposição a favor" e da autossuficiência insuficiente

Flávia Tavares – Época

O PSDB, o partido que nunca sabe o quer, escolheu uma antítese como tema de seu encontro anual. "Oposição a favor do Brasil", dizia o imenso cartaz que ornamentava um hotel em Brasília, na manhã do domingo passado, na 12ª Convenção Nacional do partido. Na plateia e no palanque, homens com camisas de cor pastel circulavam com uma excitação incomum para um grupo fora do poder há 13 anos. Com uma presidente com 9% de aprovação, até os tucanos estão falando grosso. "Não perdemos a eleição para um partido político. Perdemos para uma organização criminosa", bradou o presidente reeleito do partido, Aécio Neves. "Se preparem. Dentro de muito pouco tempo, não seremos mais a oposição, vamos ser governo", ele disse - ou ameaçou, a depender do ponto de vista. Geraldo Alckmin, governador de São Paulo e rival de Aécio na disputa pela candidatura presidencial de 2018, evitou repetir a analogia entre PT e volume morto, usada pelo ex-presidente Lula. Mas a sede de bater nos petistas foi incontrolável. "O PT chegou ao fundo do poço e cabe a nós a missão de não deixar carregar o Brasil junto com eles", disse Alckmin, o especialista hídrico do tucanato. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda o principal líder da oposição, proclamou: "Estamos prontos a assumir, dependendo das circunstâncias, o que vem pela frente". Ninguém pronunciava a palavra maldita, mas, ainda assim, o PSDB aparentemente assumia a defesa do - apenas sussurre, por favor — impeachment de Dilma. Nem pareciam tucanos.

Mas eram. Os discursos na convenção eram só isto: discursos. O gogó afiado servia tão somente ao propósito de animar a platéia - os que estavam no hotel e os que, de longe, esperam em vão que os tucanos partam para a defesa do impeachment. Ainda naquela tarde, eles retomaram a moderação até no palavrório. "Não cabe ao PSDB antecipar a saída da presidente da República. Não somos golpistas", disse Aécio, quando perguntado sobre o impeachment. O grão-tucanato, tal qual uma nobiliarquia da política brasileira, aguarda o poder, em vez de trabalhar para chegar a ele. Esse estado de graça revela-se pela repetição incessante da frase "Presidência é destino", usada por Aécio e Alckmin para explicar inações e recuos políticos. Enquanto tucanos esperavam o destino, o PT, trabalhando sem parar, ganhava quatro eleições presidenciais.

Aécio parece acreditar tanto nessa coisa de destino que, em seguida, disse que fora reeleito presidente da República, e não do PSDB. O ato falho, se Freud não estiver errado, ao menos sugere que Aécio quer, de fato, a Presidência, Não são poucos os aliados próximos e amigos antigos que acreditam no contrário – que Aécio, no fundo, não quer ser presidente tanto assim. Queira Aécio ou não, o PSDB prossegue, para a maioria dos descontentes com o PT, como principal alternativa, a curto ou longo prazo, ao governo Dilma. UA temperatura política está subindo em função da decomposição do próprio governo. Eleva-se o tom, sob pena de perdermos nossa retaguarda. Somos cobrados pelo nosso eleitorado por uma posição mais radical", diz o senador Aloysio Nunes Ferreira, vice de Aécio na campanha do ano passado — e citado por Ricardo Pessoa, empreiteiro e delator na Lava Jato, como destinatário de R$ 200 mil em doações ilegais, quando concorreu ao Senado. Aloysio nega ter recebido qualquer doação ilegal. Mas a acusação enfraquece a autoridade moral dos tucanos para se contrapor ao governo do petrolão.

É uma dificuldade incômoda, com a qual o PSDB claramente não sabe lidar. Na convenção, o ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, acusado de corrupção no mensalão mineiro, brilhava na fileira dos ex-presidentes do partido. Embora Azeredo tenha renunciado ao mandato de deputado para escapar de um julgamento no Supremo, os tucanos o protegem com uma lealdade não tão diferente da demonstrada pelo PT em relação, por exemplo, ao ex-tesoureiro Delúbio Soares (leia mais em Da Redação). Os líderes do PSDB escondem lealdade semelhante aos empreiteiros do petrolão. Muitos têm relações camaradas com as principais empreiteiras denunciadas. A julgar pelo que é dito e, sobretudo, pelo que não é dito pelos tucanos, o petrolão é um esquema com corruptos, mas sem corruptores.

Se o tal destino não colaborar, o PSDB continuará fora do poder. Os dois principais problemas do partido, desde que virou oposição, permanecem: as divisões internas e a falta de um projeto alternativo ao do PT. Como o historiador Boris Fausto sugeriu na mesa mais aplaudida da Flip, tudo o que o PSDB tem a oferecer hoje é um governo sem o PT. Não diz claramente o que colocaria no lugar. No domingo, Alckmin propôs as perguntas: "O que compete a nós, o maior partido de oposição, nesse contexto? Qual deve ser nosso papel? Qual nosso dever?". Mas ele falhou nas respostas, com soluções, no mínimo, vagas. "Nós temos a responsabilidade de apoiar projetos que fortaleçam o país, independentemente da cor partidária de seus autores" acrescentou, sem explicar que projetos, que autores, Essa autossuficiência tucana é insuficiente, Eles próprios sabem disso. Por isso, apostam, mais uma vez, numa agenda externa para acelerar seu projeto. Pode ser nas investigações da Lava Jato, nos erros de Dilma, na boa vontade do PMDB... Esperam, enfim, que o destino, sempre a caminho, finalmente apareça. "O PSDB é o futuro", disse Aécio na convenção. Talvez seja. Falta combinar com o destino.

Cuidado com o que se pede

André Petry – Veja

• Depor um presidente eleito é uma arma que a Constituição oferece ao cidadão nas democracias. Mas acioná-la nunca é simples e as e as consequências são imprevisíveis

Aos 84 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso ainda é a voz mais lúcida do PSDB e da oposição. Na convenção tucana da semana passada, Fernando Henrique falou da crise atual e disse que seu partido "não pode fugir da sua responsabilidade de, dentro da lei, levar até o fim". Não faltou quem interpretasse a expressão "levar até o fim" como senha para o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Mais que qualquer outro líder em atividade, Fernando Henrique, que enfrentou a onda do "Fora FHC", sempre tratou o impeachment com a distância respeitosa com que se trata uma bomba atômica — é bom ter, mas melhor ainda é não usar. Recentemente, ao lembrar sua contrariedade à deposição de Lula no auge do mensalão, FHC escreveu: "Derrubar um presidente eleito pode fazer mal para a formação da cultura democrática".

O Brasil, com três décadas de liberdade, está formando sua cultura democrática. O impeachment de Dilma não é uma saída simples. No entanto, há políticos tratando do assunto com uma leveza incompatível com a sua gravidade. O Solidariedade, legenda de oposição, chegou ao ridículo de recolher assinaturas para pedir a abertura de impeachment contra Dilma apresentando uma justificativa que não fazia nem sequer menção à expressão "crime de responsabilidade", a única infração que pode levar ao impedimento do presidente. O Solidariedade justificava seu pedido com o prejuízo decorrente da compra da Refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, Na semana passada, o líder do PPS, Rubens Bueno, achou que a entrevista da presidente ao jornal Folha de S.Paulo jogou água no moinho do impeachment por causa da "arrogância de Dilma".

O DEM achou que o impeachment estava crescendo diante do anúncio da nova inflação, de quase 9% ao ano.

Cogitar o impeachment por causa de um prejuízo, de uma entrevista arrogante ou da alta da inflação é perder de vista a gravidade desse recurso constitucional. Podem-se ler na imprensa frias análises táticas sobre o impeachment: se for curto, beneficiará Aécio Neves; se for mais demorado, bom para Geraldo Alckmin; mas, se for adotado o regime parlamentarista para tirar Dilma, melhor mesmo para José Serra. Do lado petista, aparecem simplificações semelhantes. Por exemplo: se novas eleições forem convocadas logo depois da deposição de Dilma, não será bom para Lula, que já disse a interlocutores próximos que não pretende ser candidato por achar que sua derrota nas urnas é certa. São cenários políticos desenhados com a tinta das coisas naturais. Mas impeachment, embora previsto na Constituição, está longe de ser natural. O próprio FHC, no mesmo texto em que mostrou seu zelo pela formação democrática do país, lembrou que impeachment só acontece quando há "razões políticas e criminais comprovadas". As razões podem até vir a existir, mas hoje não existem.

A oposição não é golpista. O problema é que vem se confundindo com o golpe por uma equivocada inversão dos eventos que podem conduzir ao impedimento de um presidente. A oposição está à procura de comprovar um crime de Dilma para recorrer ao impeachment, quando o crime comprovado é que deveria conduzir ao recurso extremo do impedimento do chefe da nação. Em 1992, Fernando Collor caiu porque se comprovou um crime que corroeu seu apoio político e resultou no impeachment.

Agora, a oposição bate em todas as portas em busca de um álibi jurídico: Supremo Tribunal Federal, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal de Contas. Não é golpe, está na lei. Mas são ações que traem um certo legalismo de oportunidade.

Collor foi alvo de um raro e bem-sucedido processo de impeachment. Talvez venha a ser o mesmo caso de Dilma. Mas o que haveria acontecido no Brasil na eventualidade de que Collor tivesse terminado seu mandato? Prever o futuro do pretérito é tão arriscado quanto prever o futuro. Mas não existe nenhuma evidência de que a permanência de Collor até o fim do mandato teria jogado o país em um turbilhão de caos. A deposição presidencial não pode ser o alfa e o ômega da oposição. Esse processo é um risco para a oposição e para o país. Logo depois da derrota no ano passado, os tucanos buscavam um meio legal para depor a presidente. Pediram ao STF auditoria no sistema eleitoral por suspeita de fraude. O impeachment que se pede nas ruas é, até aqui, expressão de mau humor e legítima decepção com Dilma. Isso não é golpe. Nem dos tucanos, nem dos manifestantes. A própria Dilma passou recibo de sua má situação na entrevista à Folha de S. Paulo. Mas suspeitas e impopularidade não são razões para a anulação de um mandato presidencial.

Dilma fora de órbita

• A presidente leva o tema do impeachment para dentro do Palácio e dá sinais claros de que o governo está no ar e não sabe o que fazer. Enquanto isso, a oposição vê crescer no Congresso o bloco dos que querem o afastamento de Dilma

Josie Jeronimo – IstoÉ

Na última semana, em reportagem de capa, ISTOÉ identificou que as condições para um possível afastamento da presidente Dilma Rousseff começavam a se desenhar. Os acontecimentos subseqüentes evidenciaram o clima pró-impeachment. Não se falou em outra coisa no meio político, nos tribunais, nas redes sociais e nas ruas, cada qual com o seu parecer. Mas se houve um retrato mais bem acabado do estado terminal do governo, este foi a entrevista da presidente Dilma Rousseff. 

Ao responder aos questionamentos de jornalistas da Folha de S. Paulo, na sequência de uma reunião de emergência do governo destinada a discutir justamente a atmosfera de impeachment, Dilma conseguiu cometer o mais crasso erro político para um governante em perigo: levou o tema do próprio afastamento para dentro do Palácio do Planalto. Ao confrontar a constatação dos repórteres de que muitos queriam derrubá-la, a presidente disse: "Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso é moleza. As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não estou". Político experimentado, o senador Romero Jucá (RR) traçou um paralelo com o comportamento do ex-presidente Fernando Collor, antes de ser apeado do poder: "A presidente Dilma deu uma de Collor, chamou a crise para si".

Como já é de praxe, nas mais recentes intervenções de Dilma, os equívocos não cessaram e mostraram uma presidente completamente fora de órbita. Na mesma entrevista, ao afirmar "não tem base para eu cair. Vem tentar", Dilma fez uma espécie de desafio ameaçador aos órgãos de fiscalização e controle como o TCU e o TSE. Em seguida, depois de classificar de "golpista" o comportamento de opositores, reconheceu as manobras fiscais feitas pelo governo – prática de atrasar de forma proposital o repasse para bancos públicos e privados na tentativa de esconder o rombo na contas públicas. A justificativa apresentada pela presidente, no entanto, foi prosaica, como se um erro justificasse o outro: "O que nós adotamos foi adotado muitas vezes antes de nós", disse.

As declarações de Dilma, bem como o seu tom, em vez de dissiparem as nuvens pesadas que rondavam o Planalto e reanimar a base aliada, turbinaram ainda mais as conversas sobre o seu afastamento e aprofundaram a crise. Para o professor do Insper, Carlos Melo, Dilma não acertou "nem no momento nem no conteúdo". "Ela estava muito acuada. Há um clima de desânimo", acrescentou Paulo Baía, cientista político da UFRJ.

Integrantes de partidos aliados, incluindo o PT, criticaram a pegada "autossuficiente" e a "empáfia" de Dilma na entrevista, como se os desdobramentos que levam a um possível afastamento dependessem única e exclusivamente dela. No TCU, as palavras da presidente foram recebidas com indignação. "Aqui não tem carteirada", afirmou um ministro do tribunal. O relator do processo contra Dilma no tribunal, ministro Augusto Nardes, foi contundente: "Esta é uma questão técnica do tribunal de contas. O governo não precisa de um debate político, mas de um bom advogado", disse Nardes. Os integrantes do TCU não reagiram apenas às afirmações da presidente. Incomodaram sobremaneira as gestões do Palácio do Planalto no sentido de pressionar a corte a votar pela absolvição de Dilma. O TCU conta com nove ministros. Desses, três estão certo da rejeição das contas da presidente: o relator, Augusto Nardes, Bruno Dantas e José Múcio Monteiro. Apesar de ser amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se Múcio aprovar as conta de Dilma colocará em risco seu próprio trabalho no processo de "pedaladas fiscais".

Em seu voto, o ministro pernambucano apontou que a presidente desrespeitou a lei de responsabilidade fiscal ao usar recursos de bancos públicos para pagar despesas do governo. Três ministros devem votar pela aprovação com ressalvas: Raimundo Carreiro, Benjamin Zymler e Vital do Rego. Assim, a pressão do Planalto recai sobre os indecisos Walton Alencar e Ana Arraes. Em um cenário de divisão, o presidente Aroldo Cedraz pode decidir o futuro de Dilma. Durante a semana, os tucanos alertaram sobre a tentativa de Dilma de intimidar a atuação dos tribunais. "Na verdade, o discurso golpista é o do PT, que não reconhece os instrumentos de fiscalização e de representação de uma sociedade em uma democracia", afirmou o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG). A possível rejeição das contas do governo, pelo TCU, é um dos caminhos que podem levar à abertura de um processo de impeachment contra a presidente Dilma. 

Apesar do assédio sobre os ministros do tribunal, o governo avaliava no final da última semana que as chances de condenação de Dilma no tribunal haviam aumentado. Diante desta constatação, o Planalto desencadeou uma operação na Câmara e no Senado para angariar apoios a uma eventual decisão desfavorável à petista. É que se as contas do governo forem reprovadas no TCU o assunto segue para análise no Congresso.

No TSE, outro foro que pode votar pelo afastamento da presidente, a situação de Dilma também não é confortável. Na última semana, chegaram às mãos do ministro João Otávio de Noronha, corregedor que analisa a ação que investiga Dilma por abuso de poder político e econômico, dezenas de emails que descrevem em detalhes a pressão sofrida pela cúpula do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) durante as eleições de 2014. As mensagens trocadas de agosto a outubro envolvem funcionários da Diretoria de Estudos Sociais, o presidente do instituto à época, Sergei Soares, e o então ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, Marcelo Neri. Os servidores estavam sendo pressionados a adequar números oficiais ao discurso de campanha de Dilma, que mostravam um cenário róseo à população. Projeções sobre redução da extrema pobreza foram usadas como se fossem resultados de pesquisas. Irritado com a utilização de dados forjados em nome do IPEA, o diretor do departamento de Estudos Sociais Herton Ellery Araújo pediu exoneração no dia 13 de outubro. Para evitar sua saída e um escândalo às vésperas do segundo turno das eleições, o ministro Néri, mandou um email sob o título de "cuidado" para o funcionário, no dia 14. "Pensa com carinho na minha proposta. Ao mesmo tempo preservamos a instituição e as pessoas, inclusive você", escreveu Neri.

Para que a chama do impeachment permaneça acesa até a conclusão dos processos no TCU e no TSE, a oposição aposta na mobilização popular. Conforme apurou ISTOÉ, os senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) ficaram encarregados de fazer a ponte com os movimentos de rua, que marcaram para o dia 16 de agosto – mesmo dia em que os caras pintadas, em 1992, ocuparam as principais avenidas do País – a nova grande manifestação contra a presidente Dilma. Em março, o partido não encampou os protestos para evitar dar conotação partidária à insatisfação popular. Desta vez, a legenda pretende agir de modo diferente.

Porém, ao resolver dialogar com os movimentos sociais o PSDB decidiu que a contribuição do partido não será a tarefa de arregimentar militantes e sim a de propor as bandeiras a serem empunhadas pelos líderes dos movimentos. Um dos motes será "Não vamos pagar a conta do PT", numa referência à crise econômica em que se encontra o País. Articulados com o PSDB, os movimentos também defenderão a renúncia de Dilma e a realização de novas eleições, além do impeachment.

O PTB, o Solidariedade e setores do PMDB também ensaiam ir para as ruas. À esquerda, o protesto pode ganhar a adesão, ainda, do PSB. A cúpula do partido é simpática às manifestações. "Não concordamos com a ideia de que impeachment seja golpe. Dependendo do aprofundamento da crise, vamos analisar e tomar uma decisão. A fragilidade de Dilma é semelhante ao período pré-impeachment de Collor", afirma Carlos Siqueira, presidente do PSB.

O 'Jeito PMDB' de impulsionar um candidato

• Paes repete fórmula de outras eleições para emplacar secretário como sucessor

Cássio Bruno e Juliana Castro – O Globo

Em busca de visibilidade para o desconhecido afilhado político Pedro Paulo, o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PMDB), tem lançado mão de estratégias usadas por ele em sua reeleição e pelo ex-governador Sérgio Cabral para emplacar Luiz Fernando Pezão - na época igualmente desconhecido - no Palácio Guanabara. São recursos que têm surtido efeito eleição após eleição no PMDB fluminense. Paes está empenhado em fazer de Pedro Paulo, secretário executivo de Coordenação de Governo, seu sucessor.

O anúncio informal da pré-candidatura do afilhado tem ganhado força em inaugurações e compromissos oficiais de Paes um ano antes do início da campanha. Os potenciais adversários de Pedro Paulo têm recall (taxa de conhecimento entre o eleitorado) consolidado: os senadores Marcelo Crivella (PRB) e Romário (PSB), a deputada federal Clarissa Garotinho (PR) e o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL).

Entusiasmado com o lançamento de mais uma obra de infraestrutura do programa Bairro Maravilha, sábado retrasado, Paes, na presença de deputados e vereadores aliados, discursou:

- Quando a gente fala do Pedro ser nosso candidato a prefeito, é porque a gente sabe que o Rio passou muito tempo olhando para trás e hoje está olhando para frente.

À frente do cargo criado para ele, Pedro Paulo percorre e inaugura obras, como as do Bairro Maravilha, programa de asfaltamento de ruas criado no primeiro mandato do prefeito. Pezão, na função de coordenador de Infraestrutura, percorria os canteiros do Bairro Novo, também de pavimentação de vias.

O secretário participa ao lado de Paes de todos os eventos oficiais da prefeitura. A principal vitrine, no entanto, serão os Jogos Olímpicos, como foi a Copa para Pezão.

Em busca de uma aliança consolidada, o prefeito iniciou as conversas com os partidos da base aliada. Ele quer manter o mesmo bloco de 17 legendas por conta do tempo de TV na propaganda eleitoral. Nas eleições de 2012, a cúpula do PMDB já esperava uma vitória no primeiro turno por falta de candidatos competitivos - apenas Freixo era considerado um adversário forte à época.

Paes quer compor principalmente com o PT a base de apoio de Pedro Paulo.

- A tendência é o apoio ao Pedro Paulo. O Paes vai realizar uma série de políticas com a marca do PT - disse o presidente do PT-RJ, Washington Quaquá.

Longe de Cabral e Pezão
Para agradar aqueles que pedirão votos para ele nas ruas, Pedro Paulo compareceu a algumas filiações, estratégia também adotada por Pezão. O secretário pediu a alguns dirigentes partidários que organizem eventos de filiação em que ele possa participar.

Outro ponto importante é a estratégia de comunicação. O plano é mostrar aos cariocas que há um "projeto de transformação" em desenvolvimento no Rio. Pedro Paulo já tem uma empresa de comunicação que cuida de suas redes sociais e passou a fazer treinamentos para melhorar o desempenho em entrevistas.

Apesar das estratégias, há algo que incomoda Paes: os desdobramentos da Operação Lava-Jato, que apura desvios de dinheiro na Petrobras. Pezão e Cabral estão entre os investigados. Por isso, a ordem é manter Pedro Paulo distante dos dois.

Para abrir o caminho de Pedro Paulo, Paes teve que convencer o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Jorge Picciani, presidente regional do PMDB. Inicialmente, o parlamentar queria que o candidato a prefeito em 2016 fosse seu filho, o deputado federal Leonardo Picciani. Com o aval do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Paes negociou para que Leonardo se tornasse líder do partido na Casa, abrindo o caminho de Pedro Paulo na disputa municipal.

Na avaliação do cientista político Paulo Baía, da UFRJ, o PMDB criou uma fórmula:

- No 2º mandato, o candidato à sucessão vira protagonista da gestão. Foi assim com o Pezão no governo Cabral e Pedro Paulo na gestão Paes. É uma tática política que segue a lógica de consolidar um nome e neutralizar a oposição. Os outros candidatos se apresentam muito depois e é difícil se consolidar e construir um discurso de oposição. Isso vira um modus operandis do PMDB.

Paes e Pedro Paulo foram procurados, mas não atenderam ao pedido de entrevista.

Ferreira Gullar - O líder sem culpa

• Lula atribuiu o desastre ao partido e à teimosia de Dilma, sua invenção. E ele não tem culpa nenhuma?

- Folha de S. Paulo / Ilustrada

Se tenho com frequência comentado aqui, nesta coluna, os problemas que envolvem Lula, Dilma e o PT, é porque esse problemas, por envolverem o governo e a situação do maior partido político do país, dizem respeito a nosso presente e ao nosso futuro.

Não se trata, portanto, de meramente criticar os atuais detentores do poder político do país. A verdade é que algo de muito importante está acontecendo, e que sem dúvida alguma preocupa Lula, como o líder desse partido e responsável por seu futuro.

Essa é razão por que, em recentes ocasiões, ele falou da necessidade de renovação dos quadros dirigentes do PT e da pregação de novas utopias que --segundo ele-- caracterizaram o surgimento e o crescimento do Partido dos Trabalhadores.

Não resta dúvida de que o PT, ao ser fundado em 1980, prometia uma mudança radical na vida política brasileira, que ainda estava submetida à ditadura militar. Mas não só isso; no seu manifesto de fundação, soavam alusões ao manifesto comunista de 1848, o que indicava a visão ideológica dos seus fundadores, a maioria deles admiradora da revolução cubana.

Aconteceu que, não muito depois, o sistema soviético desabou, tornando praticamente insensato acreditar numa cubanização do Brasil.

De fato, o fim da utopia marxista levou à desativação de quase todos os partidos comunistas no mundo inteiro. O PT, a exemplo de outros partidos latino-americanos, tomou o caminho do populismo, como já observei nesta coluna. Não por acaso, Lula mudou seu discurso, abandonou a postura de feroz agitador para tornar-se o Lulinha, paz e amor. De suposto líder da revolução operária, passou a ser o defensor dos pobres contra os ricos, enfim, o presidente do Bolsa Família.

Como se não bastasse, passou a comprar deputados de sua base parlamentar, a fim de assegurar-se de seu apoio sem ter de ceder-lhes ministérios e cargos importantes das estatais. Isso é o que se soube com o escândalo do mensalão, mas o pior estava por vir e se revelou graças à Operação Lava Jato: o assalto aos cofres da Petrobras.

Por outro lado, tendo de deixar a presidência ao fim do segundo mandato, inventou para suceder-lhe a figura de Dilma Rousseff, que nunca havia sido eleita nem vereadora, e a elegeu presidente da República, certo de que, ao fim de quatro anos, seria eleito para o cargo.

Só que Dilma, que ama o poder acima de tudo, não lhe deu essa chance: candidatou-se de novo e foi reeleita. Para consegui-lo, gastou tanto dinheiro durante seu primeiro mandato que, ao chegar ao fim dele, o país estava à beira da falência.

Era o que diziam os candidatos de oposição, enquanto ela os acusava de serem mentirosos, garantindo que a economia do país ia às mil maravilhas. Mas, após assumir o novo mandato, teve que reconhecer a verdade do que diziam seus adversários.

E estamos assim, agora, cortando as verbas de todos os ministérios, aumentando o custo de vida e nas mãos de uma inflação crescente. Quase 70% dos eleitores a avaliam como ruim ou péssima. É vaiada aonde chega. E a perspectiva é o agravamento da crise econômica.

Essa é a razão por que Lula agora diz verdades que sempre negou.

E mais, que ele, Dilma e o PT perderam o prestígio na opinião pública. Para as eleições de 2018, o PT só tem a ele como possível candidato à presidência, mas, na última pesquisa, perdia para Aécio Neves.

E a crise ainda não chegou a seu ápice. Novos escândalos se anunciam e o próprio Lula, depois da prisão dos chefões das empreiteiras, teme a chegada da sua vez. É ele quem o diz.

E aí se entende por que apela para que o PT se recupere e alardeie novas utopias. Mas quais? Voltar ao PT ideológico de 1980? Como, se foi o Lula mesmo que trocou a utopia pelo Bolsa Família? Talvez seja a utopia do Instituto Lula, que diz lutar contra a fome --não só no Brasil, mas no mundo! Como? Fazendo palestra em troca de muitos milhares de dólares.

Nos seus últimos pronunciamentos, atribuiu a culpa do desastre petista à inoperância do partido e à teimosia de Dilma, que não ouve o que ele diz. E ele, Lula, tem alguma culpa nesse desastre? Não, não tem culpa nenhuma, embora Dilma tenha sido um invenção sua.

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Ferreira Gullar, ensaísta, crítico de arte, poeta. É membro da ABL

Fernando Gabeira - Política e realismo mágico

- O Globo / Segundo Caderno

"O Brasil é de uma fidelidade a si mesmo enorme. Muda para não mudar. É metade corrupção, metade incompetência". Esta frase do historiador Evaldo Cabral de Mello define nossos principais problemas. Mas ele, que é um grande historiador, deve concordar também que existem pessoas talentosas, grupos capazes, ilhas de excelência no Brasil. Aqui no Rio aconteceu algo interessante. Liderado pela professora Suzana Herculano-Houzel, um grupo de pesquisadores brasileiros fez importante descoberta sobre o córtex cerebral.

O resultado da pesquisa foi publicado na revista "Science". O estudo brasileiro desfez um mito sobre o córtex e sua relação com os neurônios. Um feito mundial. O grupo liderado por Suzana, no entanto, trabalha numa universidade em crise e ela colocou dinheiro do próprio bolso para comprar reagentes. Se quiser avançar em sua pesquisa, o grupo talvez tenha de escolher o caminho do aeroporto. A ilha de excelência corre o risco de naufragar no oceano de incompetência e corrupção.

O Brasil subestima a ciência e a pesquisa. É uma escolha que nos distancia do mundo. Deve haver mil razões para este fenômeno. Uma frase que ouvi na televisão talvez dê uma pista: os asiáticos construíram fábricas, e os latino-americanos, shoppings centers. De fato, muitas conquistas da ciência e da tecnologia desembocam nas prateleiras das lojas. Mas esta não é uma escolha acertada para o longo prazo. Falar em longo prazo no Brasil de hoje é quase heresia. Estamos enredados nas armadilhas do cotidiano. A política é um nó, a própria presidente evoca o seu impeachment e convida: venham me derrubar.

Não somos Macondo, o território mítico criado por García Márquez, mas nossa política, às vezes, se aproxima do realismo fantástico. Guardo alguns momentos na memória. Ulysses Guimarães, certa vez, cumprimentou o corneteiro numa solenidade. Houve um certo zunzum. Será que caducou, deixou de tomar o remédio diário? Mas eram momentos líricos. E para dizer a verdade, entre tomar remédios e cumprimentar corneteiros, talvez a última seja a solução mais branda. Esse lirismo já não existia mais nas intempéries de Collor: eu tenho aquilo roxo, dizia ele num acesso de arrogância.

Quando Dilma começou aquela frase: precisamos comungar o milho com a mandioca, percebi que estávamos vivendo mais um momento de realismo fantástico. No dia seguinte, na rua, um homem me abordou na rua e disse que a explicação estava na dieta que Dilma faz para emagrecer.
Caetano Veloso escreveu um verso: "esse papo já tá qualquer coisa/ você já tá pra lá de Marrakesh". No auge da crise, parece que dentro de Dilma mexe qualquer coisa doida. Mexe qualquer coisa dentro: numa outra oportunidade, ela saudou o fogo e a cooperação como as maiores criações tecnológicas da Humanidade. Pra lá de Teerã.

O filósofo inglês John Gray, que escreve interessantes ensaios, passou pelo Brasil e disse sobre a Europa: é possivel viver sem esperar que o mundo necessariamente melhore. Tudo bem. Nesse momento, no Brasil, estamos aprendendo a viver com a certeza de que o mundo vai necessariamente piorar. Dilma fez preleções sobre o fogo e a mandioca, mas é incapaz de dizer uma frase, ainda que não tenha muito sentido, sobre a crise nas universidades. Ela usou o slogan "Pátria educadora" como se usa um boné em dia de sol. Esqueceu no armário, com as outras quinquilharias produzidas pelo marketing.

Berço da filosofia ocidental, a Grécia passa por dificuldades. Entre o ajuste financeiro e as últimas medidas de Dilma, sobretudo a de cobrir parte do salário para evitar desemprego, há uma pequena contradição. Ela diz que será moleza permanecer no poder. Acho que continua saudando a mandioca. Não tem base política confiável, não consegue definir um ajuste e é cercada de problemas que partem de três direções: TCU, pedaladas; TSE, caixa dois; Operação Lava Jato, corrupção na Petrobras. Se ela conseguir superar esses problemas, com 9% de aceitação popular, no auge de uma crise econômica que produz desemprego, perda de renda, estarei saudando a mandioca.

Seria preciso combinar o milho com a mandioca, levar ao fogo para cozinhar no caldeirão a receita que salve o barco. No momento, ele navega rumo ao Triângulo das Bermudas. A comandante e seus marujos podem sumir nele. O país é grande demais para isso. O que sei é que esses tempos de incerteza nos atrasam. Não só o que acontece na universidades é desolador. Muitos projetos estão paralisados à espera de uma definição. Num país em que a presidente desafia a oposição a derrubá-la, quem vai fazer planos para o futuro? Ela mesma nos convida a adiar projetos e esperar o desfecho de seu mandato. Dilma é um manual ambulante da inabilidade política. Sua capacidade de complicar as coisas talvez contribua para uma saída mais rápida. Mas, ainda assim, vivemos num compasso de espera. É o tipo de situação que não pode se prolongar. Sair do buraco em que nos meteram é grande tarefa nacional.

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Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira - Na corda bamba

- O Globo

A presidente Dilma ontem saiu da sua soberba para admitir que, para não cair, as pessoas precisam de ajuda, sempre. A tirada, inusualmente irônica diante da situação - a presidente caminhava em uma rede elástica, como se estivesse numa corda bamba - e do que indiretamente comentava, a fala do vice Michel Temer que havia dito na véspera que ninguém precisava ajudar Dilma, pois ela não cairia, mostra que a presidente começou a entender o tamanho de sua encrenca e está disposta a abrir novos caminhos de entendimento para se manter no poder minimamente operante.

Ao mesmo tempo em que se discute o impeachment de Dilma, com a ajuda da própria, como um ingrediente inegável do cenário político atual, chega às livrarias o trabalho do sociólogo Brasilio Sallum Jr, "O impeachment de Fernando Collor - sociologia de uma crise", da editora 34, com um texto analítico do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "A hora é mais do que oportuna para revermos as condições nas quais foi possível prosperar uma operação política tão delicada e de consequências tão imprevisíveis como a destituição de um presidente eleito pelo voto popular", diz Fernando Henrique logo na abertura de seu texto, fazendo ligação direta entre os acontecimentos que o livro narra e a situação em que nos encontramos.

E é nessa comparação que temos a oportunidade de constatar as semelhanças e as diferenças entre os dois casos. Uma semelhança é imediata: Collor, ao confiscar a poupança depois de acusar seu adversário de ter essa intenção, e Dilma, com o estelionato eleitoral da última campanha, têm raízes semelhantes na rejeição do cidadão comum.

A tese do livro, na visão de Fernando Henrique, é que a destituição de Collor faz parte de um processo de consolidação de uma nova forma de relação política entre o Executivo e o Legislativo, uma operação política que visava obrigar o Executivo a respeitar as demandas do Legislativo.

Redução das desigualdades era uma das demandas mais evidentes na ocasião, levadas à frente por partidos como PT, PSDB e PMDB, saídos da Constituinte cidadã na oposição ao governo Collor. Essa é uma diferença crucial entre aquela época e hoje, pois o Congresso está marcado devido às relações promíscuas entre Executivo e Legislativo exacerbada nos governos petistas, pela mancha da corrupção.

Fernando Henrique diz que o livro descreve com minúcias "o intrincado processo que envolveu movimentos populares, a mídia, organizações da sociedade civil, lideranças parlamentares, Forças Armadas". Sobretudo, mostra que, por trás da efervescência política, "havia atores políticos organizados com visão de futuro".

O processo só deslanchou quando os partidos chegaram a um acordo sobre o que poderiam ganhar com a destituição. Hoje, essas negociações estão em processo. E temos diferenças e semelhanças. As negociações de bastidores acontecem em Brasília, os movimentos populares já se manifestaram e preparam nova investida para agosto, mas Dilma mal ou bem tem um amparo político de partidos e movimentos sociais que Collor não tinha, embora estejam enfraquecidos diante das denúncias de corrupção e desvios.

O livro mostra, salienta Fernando Henrique, que agentes da sociedade civil como OAB, UNE, ABI, CUT conduziram o cerco popular, formado majoritariamente pela classe média. Hoje, temos a classe média mobilizada contra o governo, mas essas associações da sociedade civil já não mobilizam, em franca decadência, na maioria capturadas pelo governo com favores políticos e financeiros.

Collor é descrito como "um presidente que interpretava seus poderes constitucionais à moda de um presidencialismo plebiscitário, a ser exercido com voluntarismo". O voluntarismo de Dilma já é conhecido dos brasileiros, e o aumento das contas de energia é a mais exemplar consequência dele.

FH chama a atenção para o fato de que naquele momento havia uma preocupação de dar um caráter moral à ação política, e o Movimento pela Ética na Política foi fundamental. Hoje, essa mesma valorização de aspectos éticos da política vai contra o governo, e é reduzido a um moralismo udenista pelos mesmos movimentos e partidos que outrora estiveram envolvidos na sua exaltação. Não é por outra razão que Dilma ressalta a todo momento que não tomou para si nenhum recurso desviado.

No impeachment de Collor, a acusação era direta a ele, que teria se beneficiado em termos pessoais. Hoje, estamos diante de desvios e ilegalidades manipulados por um partido a favor de sua permanência no poder. São questões mais complexas, que exigem um amadurecimento democrático que não há certeza se já atingimos.

Dora Kramer - Moinhos de vento

- O Estado de S. Paulo

Sejamos francos e realistas: no momento a oposição joga para a arquibancada quando fala em impeachment da presidente Dilma Rousseff. Da mesma forma, o PT faz gestos para a plateia quando aponta intenções golpistas na introdução do tema no debate nacional.

Ambos movem moinhos de vento. Motivados, cada qual por sua razão, pelo dado concreto de que o governo é ruim e provoca uma insatisfação geral, conforme atestam as pesquisas de opinião. Nenhum deles quer ficar a reboque desse sentimento. Seja no sentido do ataque ou na direção da defesa.

Os oposicionistas raciocinam ainda sobre hipóteses. Nesse cenário subjetivo, continuarão atuando até (e se) surgirem condições objetivas para se falar a sério em interrupção de mandato. Já os situacionistas sofismam ao apontar intenções golpistas, pois não ignoram a existência de legalidade no rito do impeachment, cuja realização implica a observância de trâmites legais.

O impedimento não é uma profecia que se realiza em si mesma. Governantes não perdem o mandato por vontade da oposição nem deixam de perder por obra de sua disposição de lutar por ele com unhas ou dentes. Se houver razões substantivas, cai. Se não houver, fica. Fora isso, o que temos por ora é algaravia política e imprudente banalização do tema.

Leva-se a opinião pública a acreditar que a solução para situações adversas é a ruptura. Nem sempre. É preciso que a lei permita e os fatos falem de maneira inequívoca.

É necessário que se diga também que os políticos não estão contando a história toda para a sociedade. Na realidade dura e crua, hoje nenhum partido, nem PSDB nem PMDB, gostaria de assumir a Presidência da República. O impeachment seria um mau negócio para ambos.

Senão vejamos: do ponto de vista político, está muito bom para a oposição. Tanto a de fato quanto a de direito. O único partido a levar desvantagem atrás de desvantagem é o PT. Tem o poder, é verdade, mas pode cada vez menos, desgasta-se cada vez mais e não encontra espaço para reagir. Dispõe dos instrumentos, mas já não encontra quem esteja disposto a retribuir os favores concedidos. O ambiente é de venha a nós, ao vosso reino nada.

O PSDB está a cavaleiro, batendo na presidente e conseguindo que ela aceite o desafio de trocar tiros com o presidente do partido, senador Aécio Neves. Não é segredo que há uma disputa interna entre os tucanos sobre a candidatura presidencial em 2018. Por enquanto, eles têm mais de dois anos para resolver a questão. Uma antecipação do calendário só levaria o partido a expor suas fragilidades.

O PMDB, então, nem se fale. Está no melhor dos mundos. Mandando e desmandando, sendo cortejado por aqueles que até outro dia queriam ver o partido pelas costas, posando de grande garantidor da paz na República. O vice-presidente e comandante em chefe do PMDB, Michel Temer, ensaia gestos de conciliação, credencia-se para o que der e vier. Tudo indica, porém, que prefere que não "dê" nem que "venha" tão cedo.

Assim como os tucanos, os pemedebistas não têm a menor intenção de chamar para si a responsabilidade de consertar uma situação desastrosa criada pelo PT. Tanto para uns quanto para outros é que as coisas continuem ruins para o governo ao ponto de, na eleição de 2018 em que os dois partidos terão candidatos, a presidente contaminar negativamente qualquer nome apoiado pela situação.

E o PT? Por contraditório que pareça, seria o único a ganhar com a interrupção do mandato. No dia seguinte trocaria o lugar de vidraça pela posição de estilingue e teria dois anos para se recuperar, reinventando-se como oposição a "tudo isso que está aí". De banho tomado, com a cara mais limpa do mundo.

Bernardo Mello Franco - Agosto, de novo

- Folha de S. Paulo

No poema de T. S. Eliot, abril é descrito como o mais cruel dos meses. Na história brasileira, o título pertence a agosto. O mês assistiu ao suicídio de Getúlio, à renúncia de Jânio e à morte de JK. Em 2015, será decisivo para apontar o desfecho, ainda incerto, da crise que engoliu o governo Dilma.

Em 16 de agosto de 1992, a classe média foi às ruas de preto para pedir o impeachment de Collor. A oposição escolheu a mesma data para as novas manifestações contra a petista. A esquerda também prepara atos "contra o golpismo" para o dia 20, com a participação de sem-terras, sem-tetos, petroleiros e sindicalistas.

As marchas ameaçam elevar a temperatura da crise até o ponto de ebulição. Nos dois lados, começam a surgir temores de que o Brasil siga o caminho da Venezuela, com a radicalização de posições e a possibilidade de confrontos nas ruas.

Se a tensão resultar em violência, será um retrocesso. Após longas décadas de instabilidade, o país finalmente aprendeu a resolver suas diferenças nas urnas, de forma pacífica e respeitando as instituições e o calendário eleitoral.

Agosto também será decisivo para o futuro da Lava Jato. No dia 5, o Ministério Público elege a lista tríplice para a sucessão do procurador-geral da República. A permanência de Rodrigo Janot dependerá do aval de Dilma e de votação secreta no Senado, que já tem 15 integrantes sob investigação no STF.

O procurador guarda duas cartas na manga: as denúncias contra os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros. Além de liderar a oposição informal à presidente, ambos estão na linha sucessória caso ela seja impedida.

A bancada do PMDB na Câmara dobra a aposta no naufrágio de Dilma. "O governo acabou, já estamos assistindo ao velório. A dúvida agora é a data do enterro", diz o deputado baiano Lúcio Vieira Lima.

Luiz Carlos Azedo - O mordomo de Dilma

- Correio Braziliense

• Temer não quer a pecha de conspirador, muito menos a de traidor. A cúpula do PMDB, porém, pressiona para que deixe a articulação política do governo

Todo mundo já sabe que o Brasil atravessa uma crise tríplice: econômica, política e ética. O diagnóstico é unânime entre políticos, empresários, cientistas políticos e economistas.

A presidente Dilma Rousseff vem dando sucessivas demonstrações de que não tem competência para resolvê-las, o que também já é um sentimento do cidadão comum. O povo sente na carne as consequências, a maioria acha que a culpa é do PT. A dúvida é outra, principalmente das elites do país: dá para administrar essa situação até a próxima eleição, em 2018, ou o país não aguenta o tranco?

A resposta dessa equação passa por um ajuste fiscal efetivo, que estabilize a economia; pela rearticulação da base de sustentação do governo no Congresso; e pela punição dos responsáveis pelo escândalo da Petrobras, que está sendo investigado pela Operação Lava-Jato, sob comando do juiz federal Sérgio Moro, de Curitiba, e supervisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Teori Zavascki, relator do processo que envolve ministros e parlamentares. Vamos por partes.

Dilma Rousseff até agora não conseguiu viabilizar o ajuste fiscal proposto pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, que foi mitigado pelo Congresso. O resultado é que a inflação continua subindo, o que provocará nova alta dos juros e mais contração na economia. A consequência imediata é o desemprego. Pressionada pelo PT, que é contra o ajuste, e sem apoio do PMDB, que não quer pagar a conta das medidas impopulares, Dilma age, novamente, de forma errática na economia.

O improvisado programa de proteção ao emprego lançado na semana passada é um exemplo. A medida deveria ser estendida a todos os setores da economia, mas o governo não tem recursos e vai decidir quem tem direito ao dinheiro do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). É o lado trabalhista da política de favorecimento de empresas e empresários amigos que quase sempre acaba em escândalos.

No fundo, Dilma não abandonou a concepção de capitalismo de Estado que resultou na crise tríplice. A ideia de que a carga tributária amplia o papel do Estado como protagonista da economia está em contradição com o próprio ajuste fiscal. Como viabilizar o superavit se o modelo de governo é expansionista? Ora, reduzindo-o de 1,1%, como estava previsto, para 0,6%, como acaba de propor o ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que começa a emergir como o “queridinho” de Dilma na equipe econômica.

Golpismo
Alguém já disse que a política é a economia concentrada. A cúpula do PMDB decidiu não queimar o próprio filme, mais do que já está, aprovando medidas antipopulares, ainda mais porque o PT não se dispõe a defendê-las. O resultado foi o 62 a zero no Senado contra o Palácio do Planalto na votação que estendeu o reajuste do salário mínimo às aposentadorias, com um impacto de R$ 9,2 bilhões na Previdência.

Tanto na Câmara quanto no Senado, a linha adotada pelo PMDB é deixar para Dilma Rousseff o veto às “bondades” aprovadas pelo Congresso. Aí vem a presidente da República, em Milão, na Itália, e diz: “Se a gente for fazer um balanço, nós mais ganhamos do que perdemos. Eu não concordo que haja uma rebelião”. Como diz o ditado: “Sabe de nada, inocente!”

Dilma disparou da Rússia contra o senador Aécio Neves (MG), a quem acusou de golpista. O presidente do PSDB aposta todas as fichas na improvável cassação de mandato da presidente pelo TSE, por crime eleitoral (abuso de poder econômico e doações ilegais de campanha). Nesse caso, haveria novas eleições, pois o vice-presidente Michel Temer não poderia assumir. Foi o mote para Dilma e o PT saírem da defensiva. A palavra-chave é “golpista”.

Mas o alvo de Dilma, na verdade, é o vice-presidente Michel Temer, que assumiria a Presidência em caso de impeachment por crime de responsabilidade, cuja aprovação caberia ao Congresso, como prevê a Constituição. O peemedebista está tão ressabiado que evitou conversar a sós com o comandante do Exército, general Villas Boas, na visita que fez à 4ª Brigada de Cavalaria Mecanizada, em Dourados, para conhecer o comando do Sisfron, um sistema integrado de controle de fronteiras.

Temer não quer a pecha de conspirador, muito menos a de traidor. A cúpula do PMDB, porém, pressiona para que deixe a articulação política do governo. “O PT que embale Dilma”, dizem os demais caciques. Aliados de primeira hora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são os que mais torcem para que as contas de Dilma sejam rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), o que a deixaria à mercê de um pedido de impeachment da oposição e refém do PMDB no Congresso.

E a Operação Lava-Jato? Essa variável ninguém controla, pode fazer um strike na política nacional. Parece um trem-fantasma, no qual Dilma leva um susto atrás do outro.