PARIS - Não funciona a ideia vendida pelo ministro Guido Mantega de que o BNDES cuidará para que cada projeto financiado com o bolão novo de R$ 100 bilhões explicite quantos empregos a mais estão sendo criados.
Você acha mesmo que alguém vai ao BNDES, apresenta um projeto e diz que vai cortar empregos, em vez de criá-los?
Fórmula inócua à parte, até que a exigência faz sentido. Claro que, em última análise, quem determina a manutenção ou corte de postos de trabalho é o crescimento econômico, como diz Armando Monteiro Neto, presidente da Confederação Nacional da Indústria.
Mas pode haver um mínimo de responsabilidade social de fato de parte das empresas, em vez de apenas imprimirem todos os anos lindos catálogos com suas realizações nessa área. É óbvio que, quando está havendo prejuízo, é melhor demitir alguns do que demitir todos, pela quebra da empresa.
Outra coisa é demitir quando o lucro cai, mas não cessa. Caso da Microsoft, que lucrou US$ 4,17 bilhões no ano passado (daria, grosso modo, para cobrir 10% da nova carteira do BNDES), mas está demitindo 1.400 funcionários (em 18 meses, serão 5.000), porque o lucro foi 11% inferior ao esperado.
Minha sensação é a de que o empresariado brasileiro ainda deve ao público a comprovação de que não é como John Lancaster, editor-associado da London Review of Books, diz serem as grandes empresas varejistas de sua terra: "Muitas tratam seus empregados como uma commodity. Pagam tão pouco quanto possível, treinam tão pouco quanto possível e empregam o menor número possível. Às vezes parece que a gerência usa uma fórmula: descobre o nível mínimo de empregados para que a loja funcione, depois subtrai 20%".
O que o governo Lula diz querer é apenas que não haja essa subtração. Parece justo.
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