quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A recessão e a democracia

Givaldo Siqueira
Advogado, membro da Executiva Nacional do PPS

Prestem o máximo de atenção ao noticiário da crise hoje. Todos os dados parecem indicar que entramos em recessão, o que exigirá uma atitude bastante ofensiva.

O Serra parece que entendeu e já se moveu. Nunca esqueçam, conforme Engels, que na "crise,as leis funcionam ao contrário".

O discurso, por outro lado, não pode ser mesquinho, aquele do "eu não falei?" e oportunista do pescar nas águas turvas, mas responsável, ancorado na defesa do já alcançado e, sobretudo - em primeiríssimo lugar - em defesa dos trabalhadores, mas também dos consumidores e da produção.

A crise não pode ser paga pelo povão, a "classe média" e o capital produtivo. Por exemplo, Lupi está certo: o dinheiro do FAT não pode ser entregue a quem não tem compromisso com o emprego e a produção, como aliás, diz a lei. É hora de grandes parcerias críticas com o mundo do trabalho e da produção e não de gritaria contra o governo e o PT, isso seria menor, o que não implica em absolvição das enormes e principais responsabilidades de um e de outro.

Se realmente estivermos em recessão, ou se ela vier, a primeira coisa a se compreender é que toda autoridade e todo prestígio tenderão a ser rapidamente erodidos, com riscos concretos para as instituições. Sobretudo se o governo e sua base permanecerem em sua farsa, oba oba e alienação, na crise ética que o domina e se infiltra avassaladora no conjunto das instituições e na sociedade .

O país suportará passivamente uma recessão, ainda mais nessas condições?

A questão primeira então que se destacará radicalmente será a questão democrática, muito mais que a econômico-financeira.

Mas há caminhos: a vitória e posse de Obama têm um enorme significado, independentemente do que virá, do que vier a ser realmente modificado. Têm uma detacada importância em si mesmas.

Às vezes, muitas das melhores expectativas se frustram, como aconteceu, por exemplo, com a Revolução de Outubro, a derrota do nazifascismo, a denúncia do "culto à personalidade", a esperança de reforma do socialismo e Bandung, em meio à grande vaga revolucionária dos anos 50 e 60, com a Revolução Cubana, com a eleição e posse de Kennedy, a descolonização da África e da Ásia, a derrota da ditadura e a eleição de Tancredo, em nosso país, a Constituinte e a vitória de Lula - esse grande engodo.

Mas, de qualquer modo, nada disso foi em vão, apesar das alucinantes e agravadas condições subhumanas de existência de tanta gente em todos os países e de tantos povos, mergulhados tantos em genocídio, da grave e ainda pouco compreendida crise ambiental, abriram-se novos caminhos e se realizaram grandes conquistas, em todos os terrenos e esferas. Mas tudo isso, outra vez, estará ameaçado pela crise global e os impulsos à barbárie, que está trazendo. Precisamos também compreendê-lo e sem vacilação, e nos erguermos em sua defesa.

Entretanto, não podemos cingir-nos a uma política defensiva nem ao rame rame do nosso atual cotidiano, o essencial (relembrando a Resolução do VI Congresso) é mobilizar, unir e organizar um bloco de forças capaz de defender a democracia e suas instituições, mas reformando-as radicalmente e sem temores, de atuar resolutamente para a preservação do conquistado, de vencer e ultrapassar a crise moral e a recessão e, por novos caminhos, orientados à luta pela igualdade social e à moralidade, mas sobretudo com a tarefa imediata de vencer as próximas eleições.

Isso pode ser feito se nos inserirmos, com consequência, resolução e criatividade, nesse grande movimento de renovação e esperança que está reimpulsionando a humanidade inteira, e tão bem simbolizado na vitória de Obama e na imposição de recuo a Israel, sob uma gigantesca pressão mundial.

Tautologicamente, os tempos, de novo, são novos! E provavelmente continuarão empolgantes.

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