sábado, 17 de janeiro de 2009

'Se o povo quiser, vai acontecer'

Chico de Góis
DEU EM O GLOBO

Lula defende reeleições indefinidas para Chávez, mas diz que não pretende disputar 3º mandato

Opresidente Lula, que já foi contra a reeleição, defendeu ontem a possibilidade de Hugo Chávez se candidatar indefinidamente à Presidência da Venezuela e ainda disse que, no Brasil, com a consolidação da democracia, se um partido ou deputado quiser propor o mesmo mecanismo, isso poderá acontecer. Reafirmou, porém, que não pretende disputar um terceiro mandato e que vai trabalhar para eleger seu sucessor.

Lula ressalvou, ainda, que não se pode comparar Venezuela e Bolívia ao Brasil porque os países têm culturas políticas diferentes.

- Em mais de um século, este período de 20 anos é o mais longo período de democracia contínua no país. Acho que estamos num processo de construção, de fortalecimento das instituições no Brasil. Isso não impede que, daqui a um tempo, apareça um partido, uma maioria de deputados, que proponha mudar a lei que proíbe ter apenas uma reeleição (para) poder ter três ou quatro. Isso pode acontecer. Na hora em que você tiver instituições consolidadas, liberdade política e o povo quiser, isso vai acontecer - disse Lula, ao lado de Chávez.

Lula afirmou que, se no segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1999-2002), a economia estivesse bem, alguém da base aliada do tucano teria pedido a possibilidade de mais uma reeleição.

- Pela discussão que se deu na época da reeleição, certamente se a economia brasileira estivesse bem de 98 a 2002, e se o presidente Cardoso tivesse feito as "encuestas" (pesquisas, em espanhol) de opinião pública, teria havido um deputado que teria proposto uma emenda para que Cardoso tivesse mais um mandato. No Brasil é assim. Só não é assim no meu governo - afirmou o presidente, sem se referir ao deputado petista Devanir Ribeiro (SP), que propõe o terceiro mandato para Lula.

"Agora já estou velho. Vou me retirar"

O petista queixou-se que perguntas sobre terceiro mandato são dirigidas apenas a presidentes de "esquerda" e disse que não se fala, por exemplo, na hipótese de mais um mandato para Álvaro Uribe, da Colômbia. Voltou a citar, como comparação, regimes parlamentaristas, em que primeiros-ministros ficam no poder por muito tempo:

- Precisamos aprender a respeitar a cultura de cada país, a vontade de cada povo - disse, afirmando que é necessário permitir que o processo democrático não exclua a possibilidade de um cidadão poder concorrer mais. E acrescentou: - É você garantir a todos o direito de participar. E se todos participam nas mesmas condições, tendo acesso aos programas, uma pessoa pode se candidatar mais uma vez ou não, vai depender da cultura do país.

As declarações de Lula foram feitas no estado de Zulia, onde Chávez foi derrotado. Nas eleições municipais da Venezuela, ano passado, quem não era aliado dos chavistas tinha recursos retidos pelo governo. O Conselho Nacional Eleitoral marcou para 15 de fevereiro referendo no qual a população dirá se aprova ou não permitir, na Constituição, a reeleição infinita.

Mesmo tendo defendido a reeleição de Chávez, Lula afirmou que não pretende se candidatar mais:

- Chávez é novo ainda. Ele aguenta um novo mandato. Agora eu já estou velho. Vou me retirar.

O presidente brasileiro contou, na Venezuela, que pretende assistir a um dia de desfile das escolas de samba do Rio e que quer ver, sobretudo a Beija-Flor, sua escola de coração. Chávez disse que torce pela Mangueira, a única que conhece. No entanto, a Vila Isabel ganhou o carnaval carioca, em 2006, com um desfile sobre a América Latina com patrocínio do governo Chávez.

COLABOROU Gerson Camarotti

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