Elio Gaspari
DEU EM O GLOBO
DEU EM O GLOBO
O PMDB se ofendeu com a entrevista que o senador Jarbas Vasconcelos deu ao repórter Otávio Cabral. Um dos seus caciques, o deputado Eduardo Cunha (RJ), indignou-se: "Ele generalizou e não deve se sentir confortável no PMDB depois das críticas. Deve sair."
A reação de Cunha ofendeu a Lei de Serpico, o detetive americano (Al Pacino no filme) que levou um tiro na cara durante uma diligência contra traficantes acumpliciados com seus colegas: "É o policial corrupto quem deve ter medo do honesto e não o contrário."
O que disse Jarbas?
"O PMDB é um partido sem bandeiras, sem propostas, sem um norte. É uma confederação de líderes regionais, cada um com seu interesse, sendo que mais de 90% deles praticam o clientelismo, de olho principalmente nos cargos."
O que se pode dizer do deputado Eduardo Cunha?
O doutor tem 40 anos, está no seu segundo mandato federal e o PMDB é seu terceiro domicílio partidário. Cunha começou sua carreira pública presidindo a falecida Telerj (1991-1993), durante o governo de Fernando Collor, e a Companhia Estadual de Habitação do Rio de Janeiro (1999-2000), durante o mandarinato de Anthony Garotinho. Sua contribuição republicana para o governo Lula foi a indicação do arquiteto Luiz Paulo Conde para a presidência das Centrais Elétricas de Furnas. Nas suas cercanias fica o fundo de pensão dos funcionários, o Real Grandeza, com ativos de R$5,8 bilhões ao final de 2007.
No collorato, Cunha era respeitado pelo acesso que tinha ao empresário-tesoureiro Paulo Cesar Farias. Na virada petista, era visto por Rosinha Garotinho como intermediário fiel em algumas negociações com o PT. Em 2005, numa transação que poderia sepultar a criação da CPI dos Correios, foi desatendido pelo secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Bernard Appy.
Cunha lidera com descortino uma parte da bancada de deputados federais do PMDB. Quando necessário, atua em sintonia com o governador Sérgio Cabral, outro crítico das generalizações de Jarbas. Recentemente, Ronaldo Monteiro Francisco, irmão caçula de Roberto Jefferson, foi nomeado por Cabral para a presidência de uma empresa estatal. O ex-deputado, nacionalmente conhecido desde que implodiu as caixas do Mensalão, lavou as mãos e atribuiu a escolha às "qualidades intelectuais e relações políticas de meu irmão", bem como "à amizade de Sérgio e Eduardo Cunha".
O deputado foi inquilino do doleiro Lúcio Funaro, um dos coadjuvantes da crise do Mensalão.
Explicando-se, disse que se tratava de um aluguel inocente. Quando lhe atribuem nomeações em diretorias de Furnas, da Caixa ou da Petrobras, responde: "Estão exagerando. Eu só indiquei o Luiz Paulo Conde para Furnas. Os outros foram indicados pelas bancadas e eu apenas apoiei."
As críticas de Jarbas Vasconcelos às práticas de uma banda (e que banda) do PMDB diferem das denúncias de Roberto Jefferson porque vêm de fora para dentro das caixas amigas. Todos os seus críticos sabem do que ele está falando e não querem saber de falar nisso. Michel Temer, presidente do partido e da Câmara dos Deputados, diz que elas não têm "especificidade". Se a generalização foi infame, Temer pegou leve. Se não se quer especificar, daqui a pouco começa o carnaval e, quem sabe, muda-se de assunto.
ELIO GASPARI é jornalista.
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