Jarbas de Holanda
Jornalista
Precipitou-se, mesmo antes do Carnaval, a tomada de posições do governo e dos principais partidos já com o ostensivo desenho da disputa presidencial de 2010. O fator básico de desencadeamento do processo foi a iniciativa do Palácio do Planalto de usar o encontro da semana passada em Brasília com milhares de prefeitos como verdadeiro palanque eleitoral em favor da pré-candidata lulista Dilma Rousseff. O que levou o ex-presidente FHC, refletindo demandas do núcleo paulista do PSDB e acolhendo recomendações da direção do DEM, a propor rápida definição do candidato tucano (neste caso, o governador paulista José Serra, que lidera as pesquisas de intenção de votos), com óbvio sacrifício do processo de prévias partidárias reclamado pelo governador mineiro Aécio Neves. Cujas reações incluíram o aprofundamento de sua interlocução com o PMDB e entrevistas a grandes veículos da imprensa fixando data para que se aprove tal processo, até o final de março próximo, e, implicitamente, admitindo deixar a legenda se as prévias não forem promovidas.
Por outro lado, o novo e agressivo passo do Planalto em favor da ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do PAC (além de vários outros dados e programados) suscitou ação do DEM junto ao STF contestando a extemporaneidade do ato de conteúdo eleitoral, enquanto Ciro Gomes, sentindo-se marginalizado na base governista que íntegra, tratou de reafirmar sua pré-candidatura pelo PSB. E, por fim, o ex-governador de Pernambuco e senador peemedebista Jarbas Vasconcelos disparou, a partir de entrevista à Veja, contundentes ataques ao governo Lula e, sobretudo, ao conjunto de dirigentes e lideranças do seu próprio partido, o que combinou com manifestação de apoio a José Serra.
O novo cronograma de afirmação do nome de Dilma Rousseff combina a persistência (e até o aumento) dos altos índices de popularidade do presidente Lula, apesar dos efeitos da crise econômica, com a oferta de sedutoras parcerias ao PMDB na campanha e num governo de Dilma. Oferta com a qual espera assegurar a ela, na disputa, o precioso tempo do chamado programa eleitoral gratuito do partido, bem como o apoio das suas duas grandes alas (em troca dos quais promete também respaldo de Lula para candidatos peemedebistas aos governos de vários estados, com a subordinação a isso de um PT enfraquecido e inteiramente dependente do presidente Lula). De fato, se os desdobramentos da crise não afetarem, e significativamente, a popularidade do presidente, uma aliança lulista-peemedebista dificilmente poderá ser batida numa campanha polarizada em torno do atual presidente (diversamente do que ocorreu nos pleitos municipais de 2008, dominados por fatores locais).
De fato também, como avaliam FHC e Jorge Bornhausen, do Democratas, a demora na escolha do nome do PSDB facilita o cronograma da construção política e social da candidatura de Dilma (que, ampliou em 189% neste mês, em relação à média dos últimos 12 meses, a centimetragem de sua presença na mídia). Por isso, o núcleo paulista e provavelmente a maioria da direção nacional do PSDB, bem como as lideranças dos aliados DEM e PPS, estão pressionando por uma definição do candidato tucano, o mais rápido possível, entendendo que não se deve esperar pelo resultado de prévias (que Bornhausen qualifica como “não tendo tradição no Brasil” e das quais “os partidos saem desgastados”). Mas, para tanto, há um grande obstáculo à frente: a recusa das prévias contraria compromisso assumido pela cúpula do PSDB com Aécio Neves, que reitera e enfatiza a exigência delas e bloqueia propostas para que aceite ser vice de Serra. Isso num contexto de amplo predomínio do diagnóstico de que o potencial competitivo de uma campanha oposicionista dependerá em grande medida de uma composição entre Serra e Aécio. Diagnóstico em face do qual se mantêm e intensificam os esforços do presidente do partido, Sérgio Guerra, para se viabilize essa composição. E ontem Serra negou que se oponha às prévias, dizendo-se disposto a participar delas.
Nas entrevistas de reiteração da cobrança de prévias, Aécio Neves reafirmou os dois elementos centrais de seu posicionamento sobre a disputa presidencial: uma aliança entre o PSDB e o DEM é insuficiente, devendo e podendo ser ampliada com a presença de partidos que compõem hoje a base governista, especialmente o PMDB; e tal realinhamento político precisa ser buscado não em torno de confrontação eleitoral com o Palácio do Planalto mas de propostas que se situem além disso, base da receita de um reformismo pós-Lula. Para ele, as prévias seriam, ou serão, o mecanismo para o debate das propostas, ao mesmo tempo ensejando aos pré-candidatos do PSDB contrapor-se publicamente à campanha disfarçada de Dilma Rousseff. Quanto ao PMDB, as novas entrevistas de Aécio frisam a essencialidade do partido para a conquista e o exercício do governo federal, indicação de que passou a admitir a filiação à legenda, caso se sinta “liberado” para isso pela recusa das prévias. Mas essa possível filiação, teria grande incerteza de resultados satisfatórios, como assinala o Estadão, de domingo último, na reportagem com a entrevista do governador de Minas: “Apesar do entusiasmo dos peemedebistas com a possibilidade de transformar Aécio em candidato do partido, em 2010, o governador considera essa opção de “alto risco”. Afinal, os próprios dirigentes do PMDB, admitem nos bastidores que será difícil fechar todo o partido em torno de um candidato, ainda que este nome seja o de Aécio. O cenário mais provável seria o PMDB dividir-se entre Serra, Dilma e Aécio”.
Jornalista
Precipitou-se, mesmo antes do Carnaval, a tomada de posições do governo e dos principais partidos já com o ostensivo desenho da disputa presidencial de 2010. O fator básico de desencadeamento do processo foi a iniciativa do Palácio do Planalto de usar o encontro da semana passada em Brasília com milhares de prefeitos como verdadeiro palanque eleitoral em favor da pré-candidata lulista Dilma Rousseff. O que levou o ex-presidente FHC, refletindo demandas do núcleo paulista do PSDB e acolhendo recomendações da direção do DEM, a propor rápida definição do candidato tucano (neste caso, o governador paulista José Serra, que lidera as pesquisas de intenção de votos), com óbvio sacrifício do processo de prévias partidárias reclamado pelo governador mineiro Aécio Neves. Cujas reações incluíram o aprofundamento de sua interlocução com o PMDB e entrevistas a grandes veículos da imprensa fixando data para que se aprove tal processo, até o final de março próximo, e, implicitamente, admitindo deixar a legenda se as prévias não forem promovidas.
Por outro lado, o novo e agressivo passo do Planalto em favor da ministra-chefe da Casa Civil e coordenadora do PAC (além de vários outros dados e programados) suscitou ação do DEM junto ao STF contestando a extemporaneidade do ato de conteúdo eleitoral, enquanto Ciro Gomes, sentindo-se marginalizado na base governista que íntegra, tratou de reafirmar sua pré-candidatura pelo PSB. E, por fim, o ex-governador de Pernambuco e senador peemedebista Jarbas Vasconcelos disparou, a partir de entrevista à Veja, contundentes ataques ao governo Lula e, sobretudo, ao conjunto de dirigentes e lideranças do seu próprio partido, o que combinou com manifestação de apoio a José Serra.
O novo cronograma de afirmação do nome de Dilma Rousseff combina a persistência (e até o aumento) dos altos índices de popularidade do presidente Lula, apesar dos efeitos da crise econômica, com a oferta de sedutoras parcerias ao PMDB na campanha e num governo de Dilma. Oferta com a qual espera assegurar a ela, na disputa, o precioso tempo do chamado programa eleitoral gratuito do partido, bem como o apoio das suas duas grandes alas (em troca dos quais promete também respaldo de Lula para candidatos peemedebistas aos governos de vários estados, com a subordinação a isso de um PT enfraquecido e inteiramente dependente do presidente Lula). De fato, se os desdobramentos da crise não afetarem, e significativamente, a popularidade do presidente, uma aliança lulista-peemedebista dificilmente poderá ser batida numa campanha polarizada em torno do atual presidente (diversamente do que ocorreu nos pleitos municipais de 2008, dominados por fatores locais).
De fato também, como avaliam FHC e Jorge Bornhausen, do Democratas, a demora na escolha do nome do PSDB facilita o cronograma da construção política e social da candidatura de Dilma (que, ampliou em 189% neste mês, em relação à média dos últimos 12 meses, a centimetragem de sua presença na mídia). Por isso, o núcleo paulista e provavelmente a maioria da direção nacional do PSDB, bem como as lideranças dos aliados DEM e PPS, estão pressionando por uma definição do candidato tucano, o mais rápido possível, entendendo que não se deve esperar pelo resultado de prévias (que Bornhausen qualifica como “não tendo tradição no Brasil” e das quais “os partidos saem desgastados”). Mas, para tanto, há um grande obstáculo à frente: a recusa das prévias contraria compromisso assumido pela cúpula do PSDB com Aécio Neves, que reitera e enfatiza a exigência delas e bloqueia propostas para que aceite ser vice de Serra. Isso num contexto de amplo predomínio do diagnóstico de que o potencial competitivo de uma campanha oposicionista dependerá em grande medida de uma composição entre Serra e Aécio. Diagnóstico em face do qual se mantêm e intensificam os esforços do presidente do partido, Sérgio Guerra, para se viabilize essa composição. E ontem Serra negou que se oponha às prévias, dizendo-se disposto a participar delas.
Nas entrevistas de reiteração da cobrança de prévias, Aécio Neves reafirmou os dois elementos centrais de seu posicionamento sobre a disputa presidencial: uma aliança entre o PSDB e o DEM é insuficiente, devendo e podendo ser ampliada com a presença de partidos que compõem hoje a base governista, especialmente o PMDB; e tal realinhamento político precisa ser buscado não em torno de confrontação eleitoral com o Palácio do Planalto mas de propostas que se situem além disso, base da receita de um reformismo pós-Lula. Para ele, as prévias seriam, ou serão, o mecanismo para o debate das propostas, ao mesmo tempo ensejando aos pré-candidatos do PSDB contrapor-se publicamente à campanha disfarçada de Dilma Rousseff. Quanto ao PMDB, as novas entrevistas de Aécio frisam a essencialidade do partido para a conquista e o exercício do governo federal, indicação de que passou a admitir a filiação à legenda, caso se sinta “liberado” para isso pela recusa das prévias. Mas essa possível filiação, teria grande incerteza de resultados satisfatórios, como assinala o Estadão, de domingo último, na reportagem com a entrevista do governador de Minas: “Apesar do entusiasmo dos peemedebistas com a possibilidade de transformar Aécio em candidato do partido, em 2010, o governador considera essa opção de “alto risco”. Afinal, os próprios dirigentes do PMDB, admitem nos bastidores que será difícil fechar todo o partido em torno de um candidato, ainda que este nome seja o de Aécio. O cenário mais provável seria o PMDB dividir-se entre Serra, Dilma e Aécio”.
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