Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Armínio Fraga critica ilusões da economia, aprova estatização provisória de bancos, mas alerta contra regulação pesada
"NOS EUA , estão dando uma moleza extraordinária para os bancos." É uma opinião de Armínio Fraga, nosso "quiet liberal", um liberal tranquilo, financista, ex-presidente do Banco Central, ex-gestor de fundos de George Soros e economista dito "ortodoxo", "ma non troppo". O economista falava na quarta-feira para parte da comunhão tucana paulista, no Instituto FHC: o próprio FHC, José Serra, ex-BCs, ex-assessores graduados de FHC, banqueiros e economistas. Expunha as recomendações de reforma financeira que elaborou com Paul Volcker e cia.
Fraga acredita que se vive o fim de grandes ilusões, como aquela "do controle científico do risco", por meio de estatística avançada, entre outras, que ajudaram a alimentar a religião ultraliberal do período em que Alan Greenspan presidiu o Fed. "E os economistas achavam, de modo meio prepotente e otimista, que se vivia a "grande moderação"", um período em que os BCs acreditavam ter encontrado um equilíbrio entre inflação baixa e crescimento.
Fraga é contra a "regulação pesada", que inibiria a inovação, seria custosa e, no caso de exigir capital demais dos bancos, limitaria o crédito. Mas acha que "a criatividade [inovação financeira] foi longe demais. O ganho [para a economia] foi pequeno tendo em vista os riscos e a crise que gerou". E, com a chancela do governo dos EUA, os bancos ficaram "superalavancados" (tinham "empréstimos" demais em relação ao capital próprio. Quanto maior essa razão, maiores a alavancagem e o risco de quebra em caso de perdas).
"O pessoal [das finanças] alega que alavancar era o modo de ganhar 25% [ao ano]. Mas qual é a lei da natureza segundo a qual os ganhos têm de ser constantes em 25%?"Fraga aprova a estatização provisória dos bancos americanos. Credores e acionistas perderiam dinheiro. "Do ponto de vista social, é justo, do ponto de vista do funcionamento do sistema, é bom": tal punição inibiria investimentos de risco demasiado. Diz que é "muito ruim o governo [dos EUA] comprar dos bancos essa papelada podre".
O aperfeiçoamento da supervisão enfrenta um problema político, avalia Fraga. Muito dinheiro das campanhas eleitorais vem de instituições financeiras. Durante a campanha de 2008, "ninguém queria saber de discutir o problema da supervisão financeira, isso é real, aconteceu", disse Armínio.
Fraga relatou uma conversa que teve faz alguns meses com Volcker, o lendário presidente do Fed que domou a grande inflação americana dos anos 70 com pancadas de juros. Volcker perguntou a Fraga quais as contribuições essenciais da teoria econômica, nos últimos 20 anos, para melhorar a política monetária. Fraga disse que teve dificuldade em responder. Suas lembranças mais importantes eram de contribuições feitas nos anos 60 e até meados dos 70 do século passado.
A outra pergunta de Volcker era sobre engenharia financeira (criação de instrumentos como derivativos exóticos). Sem engenharia financeira (e computadores e liberalização etc.), coisa que ganhou impulso no final dos anos 70, o mundo financeiro seria outro e menor. Fraga disse que o emprego da engenharia financeira "passou do ponto ótimo".
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Armínio Fraga critica ilusões da economia, aprova estatização provisória de bancos, mas alerta contra regulação pesada
"NOS EUA , estão dando uma moleza extraordinária para os bancos." É uma opinião de Armínio Fraga, nosso "quiet liberal", um liberal tranquilo, financista, ex-presidente do Banco Central, ex-gestor de fundos de George Soros e economista dito "ortodoxo", "ma non troppo". O economista falava na quarta-feira para parte da comunhão tucana paulista, no Instituto FHC: o próprio FHC, José Serra, ex-BCs, ex-assessores graduados de FHC, banqueiros e economistas. Expunha as recomendações de reforma financeira que elaborou com Paul Volcker e cia.
Fraga acredita que se vive o fim de grandes ilusões, como aquela "do controle científico do risco", por meio de estatística avançada, entre outras, que ajudaram a alimentar a religião ultraliberal do período em que Alan Greenspan presidiu o Fed. "E os economistas achavam, de modo meio prepotente e otimista, que se vivia a "grande moderação"", um período em que os BCs acreditavam ter encontrado um equilíbrio entre inflação baixa e crescimento.
Fraga é contra a "regulação pesada", que inibiria a inovação, seria custosa e, no caso de exigir capital demais dos bancos, limitaria o crédito. Mas acha que "a criatividade [inovação financeira] foi longe demais. O ganho [para a economia] foi pequeno tendo em vista os riscos e a crise que gerou". E, com a chancela do governo dos EUA, os bancos ficaram "superalavancados" (tinham "empréstimos" demais em relação ao capital próprio. Quanto maior essa razão, maiores a alavancagem e o risco de quebra em caso de perdas).
"O pessoal [das finanças] alega que alavancar era o modo de ganhar 25% [ao ano]. Mas qual é a lei da natureza segundo a qual os ganhos têm de ser constantes em 25%?"Fraga aprova a estatização provisória dos bancos americanos. Credores e acionistas perderiam dinheiro. "Do ponto de vista social, é justo, do ponto de vista do funcionamento do sistema, é bom": tal punição inibiria investimentos de risco demasiado. Diz que é "muito ruim o governo [dos EUA] comprar dos bancos essa papelada podre".
O aperfeiçoamento da supervisão enfrenta um problema político, avalia Fraga. Muito dinheiro das campanhas eleitorais vem de instituições financeiras. Durante a campanha de 2008, "ninguém queria saber de discutir o problema da supervisão financeira, isso é real, aconteceu", disse Armínio.
Fraga relatou uma conversa que teve faz alguns meses com Volcker, o lendário presidente do Fed que domou a grande inflação americana dos anos 70 com pancadas de juros. Volcker perguntou a Fraga quais as contribuições essenciais da teoria econômica, nos últimos 20 anos, para melhorar a política monetária. Fraga disse que teve dificuldade em responder. Suas lembranças mais importantes eram de contribuições feitas nos anos 60 e até meados dos 70 do século passado.
A outra pergunta de Volcker era sobre engenharia financeira (criação de instrumentos como derivativos exóticos). Sem engenharia financeira (e computadores e liberalização etc.), coisa que ganhou impulso no final dos anos 70, o mundo financeiro seria outro e menor. Fraga disse que o emprego da engenharia financeira "passou do ponto ótimo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário