Luiz Carlos Merten, Cannes
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Caderno 2
Bergmaniano Michael Haneke faz cara de quem não está entendendo. A entrevista com um pequeno grupo de jornalistas realiza-se numa das praias da Croisette. Alguém acaba de dizer que Le Ruban Blanc tem alguma coisa de Ingmar Bergman, talvez pensando no Bergman de O Ovo da Serpente, também sobre a sociedade alemã que alicerçou o nazismo. O filme de Haneke recua um pouco mais no tempo. Situa-se na Prússia, em 1913-14, e trata da investigação levada a cabo pelo professor de uma aldeia. Coisas muito graves estão ocorrendo. As crianças, submetidas a uma educação rígida, estão envolvidas. Bergman? "O filme é hanekiano, e isso basta", diz o mestre.
Le Ruban Blanc marca uma mudança de estilo, mais que de visão de mundo, na obra do autor. Ele nunca fez um filme tão bonito nem tão rigoroso, plasmando na tela suas imagens em suntuoso branco e preto. A pergunta, bem antes da premiação, já era inevitável. Isabelle Huppert, sua cúmplice em A Professora de Piano, vai favorecê-lo, usando sua condição de presidente do júri? "Pergunte para ela", ele responde, e há uma certa irritação, mais do que bom humor, pela insistência com que a pergunta vem sendo formulada. "Isabelle é muito séria e inteligente. Ela só vai fazer campanha por meu filme se gostar de verdade." O filme ganhou a Palma de Ouro. Isabelle, na coletiva do júri, confirmou o que havia dito no início do festival - seus colegas e ela estavam mais dispostos a amar que julgar os filmes. Amaram o de Haneke.
De onde veio a ideia? "Era um assunto que me interessava e que, de alguma forma, atravessa todos os meus filmes, a educação para o mal." Ele admite que leu muitos manuais de educação alemães do final do século 19 e início do século 20 antes de escrever o roteiro. Le Ruban Blanc apresenta imagens perturbadoras, de uma violência mais sugerida do que mostrada. Haneke não se preocupa em ser didático e, menos ainda, conclusivo. O final aberto é sua marca. "Cabe ao espectador refletir sobre o que viu, não a mim direcioná-lo para as respostas."
Criado num ambiente de liberalidade, Haneke agradece aos pais, ambos atores, por o haverem criado com a mente aberta, sem preconceitos. Ele sabe que faz filmes para provocar (e expor problemas quase sempre ligados à tensão social). Le Ruban Blanc quase não tem música, aliás, não tem. A frase do diretor é definitiva: "Admiro demais a música em si mesma para querer usá-la como ferramenta para esconder meus defeitos".
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO / Caderno 2
Bergmaniano Michael Haneke faz cara de quem não está entendendo. A entrevista com um pequeno grupo de jornalistas realiza-se numa das praias da Croisette. Alguém acaba de dizer que Le Ruban Blanc tem alguma coisa de Ingmar Bergman, talvez pensando no Bergman de O Ovo da Serpente, também sobre a sociedade alemã que alicerçou o nazismo. O filme de Haneke recua um pouco mais no tempo. Situa-se na Prússia, em 1913-14, e trata da investigação levada a cabo pelo professor de uma aldeia. Coisas muito graves estão ocorrendo. As crianças, submetidas a uma educação rígida, estão envolvidas. Bergman? "O filme é hanekiano, e isso basta", diz o mestre.
Le Ruban Blanc marca uma mudança de estilo, mais que de visão de mundo, na obra do autor. Ele nunca fez um filme tão bonito nem tão rigoroso, plasmando na tela suas imagens em suntuoso branco e preto. A pergunta, bem antes da premiação, já era inevitável. Isabelle Huppert, sua cúmplice em A Professora de Piano, vai favorecê-lo, usando sua condição de presidente do júri? "Pergunte para ela", ele responde, e há uma certa irritação, mais do que bom humor, pela insistência com que a pergunta vem sendo formulada. "Isabelle é muito séria e inteligente. Ela só vai fazer campanha por meu filme se gostar de verdade." O filme ganhou a Palma de Ouro. Isabelle, na coletiva do júri, confirmou o que havia dito no início do festival - seus colegas e ela estavam mais dispostos a amar que julgar os filmes. Amaram o de Haneke.
De onde veio a ideia? "Era um assunto que me interessava e que, de alguma forma, atravessa todos os meus filmes, a educação para o mal." Ele admite que leu muitos manuais de educação alemães do final do século 19 e início do século 20 antes de escrever o roteiro. Le Ruban Blanc apresenta imagens perturbadoras, de uma violência mais sugerida do que mostrada. Haneke não se preocupa em ser didático e, menos ainda, conclusivo. O final aberto é sua marca. "Cabe ao espectador refletir sobre o que viu, não a mim direcioná-lo para as respostas."
Criado num ambiente de liberalidade, Haneke agradece aos pais, ambos atores, por o haverem criado com a mente aberta, sem preconceitos. Ele sabe que faz filmes para provocar (e expor problemas quase sempre ligados à tensão social). Le Ruban Blanc quase não tem música, aliás, não tem. A frase do diretor é definitiva: "Admiro demais a música em si mesma para querer usá-la como ferramenta para esconder meus defeitos".
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