segunda-feira, 25 de maio de 2009

Exaltação a Manuel Bandeira

Editorial
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)

O pernambucano que passa pela Avenida Presidente Wilson, no Rio de Janeiro, tem alguns bons motivos para se orgulhar de sua terra. Quando chega ao número 231, ele se depara com um prédio denominado Palácio Austregésilo de Athayde, um caruaruense famoso que fortaleceu o patrimônio da Academia Brasileira de Letras através de uma administração – como presidente – muito competente. Um dos acessos ao prédio é pela Praça Manuel Bandeira, recifense que conquistou um lugar especialíssimo na história da cultura brasileira. Além de dar nome à praça, ele tem uma bela escultura no local – resultado do trabalho de outro pernambucano presidente da Academia, Marcos Vinicios Vilaça, de Nazaré da Mata – e é nome de galeria no mezanino do Palácio. Uma combinação virtuosa de grandes nomes da cultura brasileira saídos de Pernambuco.

Agora o orgulho pernambucano chega mais uma vez à Festa Literária Internacional de Paraty – de 1º a 5 de julho –, o maior evento do gênero realizado no País, que este ano homenageia Manuel Bandeira. Paraty já homenageou a ucraniana-recifense Clarice Lispector, uma glória literária que passou pelo Grupo Escolar João Barbalho e pelo Ginásio Pernambucano, e o também pernambucano Nelson Rodrigues, que faz parte dos melhores capítulos da dramaturgia brasileira.

Com Bandeira, a Festa Literária faz justíssimo reconhecimento a um dos maiores poetas da língua portuguesa, figura de destaque do modernismo. A homenagem seguramente destacará a universalidade do poeta, mas para o recifense, em particular, ele é mais que isso: sua memória está viva na Rua da União, onde passou parte da infância e que está definitivamente consagrada no belo poema Evocação do Recife: “Recife da minha infância/ A Rua da União onde eu brincava de chicote-queimado/ e partia as vidraças da casa de dona Aninha Viegas...”, onde “A gente brincava no meio da rua/Os meninos gritavam:/ Coelho sai! Não sai!”.

No Espaço Pasárgada, na Rua da União, tem abrigo também o orgulho pernambucano, muito além de todas as homenagens que o recifense Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho recebe lá fora. Porque ali tudo parece impregnado de eternidade – como diz a Evocação, com uma homenagem pouco comum à cidade natal: “Recife bom, Recife brasileiro, como a casa de meu avô”.

Por tudo isso o poeta da outrora Rua Ventura, hoje Joaquim Nabuco, e, sobretudo, da Rua da União, é sempre recorrência deste JC e de todos os espaços culturais de Pernambuco. Mas talvez ainda seja muito pouco, se prestamos atenção ao que disse o diretor de programação do Festival de Paraty, Flávio Moura, ao anunciar que Bandeira seria o homenageado: “... sua obra poética precisa ser revalorizada e divulgada”, e “boa parte da vasta produção em prosa permanece à sombra”.

Essa pode ser uma convocação a Pernambuco para exaltar, ainda mais, um dos seus grandes poetas, terra de outros tantos notáveis que é. Exaltação que melhor será feita na preservação da memória, trazida às gerações de hoje, com frequência sujeitas a versos destinados a sobreviver apenas até o próximo pagode ou espetáculo de duplas sertanejas mais em moda.

Em Bandeira nossa juventude pode encontrar bem mais, a começar pelas lições de vida de um poeta dominado pelo então “mal do século”, a tuberculose, ao seu trajeto pela formação de uma história da literatura brasileira, pela conquista de um lugar na Academia Brasileira de Letras até a glória reconhecida em todo o País na denominação, com seu nome, de escolas, praças, bibliotecas. A obra de Bandeira está impregnada de eternidade, como ele se refere à rua de sua infância.

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