Sérgio Gobetti e Lu Aiko Otta
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Previsão de crescimento para este ano, que era de 0,7%, foi alterada por decisão do ministro da Fazenda
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, desautorizou ontem sua equipe e o próprio colega de Planejamento, Paulo Bernardo, ao determinar que a estimativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2009 fosse superestimada, passando de 0,7% para 1%. O relatório de avaliação de receitas e despesas que seria enviado ao Congresso já estava pronto, na noite de terça-feira, com a previsão de 0,7%, quando o ministro decidiu pedir que o parâmetro fosse arredondado para cima.
Na prática, existe pouca diferença entre 0,7% e 1%, e ambas as projeções são consideradas excessivamente otimistas pelo mercado no atual quadro recessivo. Mas Mantega ficou contrariado com o fato de seus assessores não terem lhe consultado previamente sobre o parâmetro que seria incluído no documento oficial e, por isso, determinou a mudança.
É a segunda vez no ano que o governo revisa oficialmente sua estimativa de crescimento econômico: primeiro em março, de 4% para 2%, e agora para 1%. Nos cálculos da equipe econômica, que serviram de base para elaboração do relatório de avaliação de receitas e despesas, foram considerados distintos cenários para o PIB, sendo o mais pessimista com crescimento "zero" em 2009. Para muitos técnicos, esse "zero" seria hoje o parâmetro mais realista e mais próximo do que também prevê o mercado (queda de 0,5%), mas politicamente é difícil para o governo admitir essa situação. Por isso, os técnicos decidiram incluir no relatório uma previsão intermediária entre 0% e 2%, que seriam os 0,7%.
Na terça-feira, o próprio Paulo Bernardo confirmou o número, mas no mesmo dia, à noite, Mantega pediu a alteração. Segundo fontes da Fazenda, o ministro queria esperar o resultado oficial do PIB do primeiro trimestre, no início de junho, para ajustar as estimativas de crescimento para baixo.
O temor do ministro é que, ao ser realista (pessimista, na atual conjuntura), ele induz o mercado a reduzir o ritmo de recuperação econômica. Por isso, desde o ano passado, o governo tem superestimado as projeções do PIB, tratando-as como metas. Em dezembro, por exemplo, a equipe econômica ainda falava em crescer 4% em 2009, apesar de a crise já estar instalada no País. Na época, o mercado previa 2%. Poucos meses depois, era o governo que mirava os 2% enquanto o mercado já falava em taxas negativas.
De acordo com o secretário de Política Econômica, Nelson Barbosa, a retomada prevista deve ser puxada pelos investimentos do setor público e das estatais, além da queda na taxa de juros. Outra razão para otimismo é o programa Minha Casa Minha Vida, que está ainda na fase de análise de projetos. "As construções começam no segundo semestre e vão se acelerar", disse Barbosa.
No último trimestre do ano, segundo ele, o PIB deverá crescer entre 3% e 4%, o que seria suficiente para propiciar uma média mais alta do que a de 2008 no fim do ano. Os analistas de mercado, entretanto, consideram inviável uma taxa positiva de crescimento, mesmo com 4% no último trimestre.
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