quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Agora, Dilma tem, primeiro,o desafio de passar ao 2º turno

Jarbas de Holanda
Jornalista


A formalização de um pré-acordo entre as direções do PT (a rigor, o Palácio do Planalto) e do PMDB, que antecipe no início de outubro o apoio formal deste à candidata governista, de par com a garantia de que caberá a ele a indicação de seu vice. E a capitalização da ultrapassagem do risco de linfoma que a ameaçava (“estou pronta para o que der e vier”), no conjunto da mídia e na escalada de atos partidários e de eventos oficiais (convertidos em atos do gênero). Estas constituem as principais diretivas decididas pelo estado-maior do lulismo para a recuperação do fôlego da campanha de Dilma Rousseff, após a pancada que ela sofreu na pesquisa Ibope/CNI, da semana passada (na qual, com uma queda para menos de 15% do índice de intenção de voto, perdeu a vice liderança da corrida presidencial para Ciro Gomes.

Essa queda deverá ou poderá ser revertida pela bateria de ações do governo em favor de sua candidata, mas a referida pesquisa já pôs em xeque, e mate, o projeto plebiscitário do presidente Lula para sua sucessão. Ela evidenciou a tendência de crescimento da candidatura de Marina Silva e forneceu a Ciro Gomes os argumentos e as condições políticas suficientes para manter e alargar a sua, sobretudo no Nordeste com a exploração do lulismo independente ou paralelo.

Assim, tal recuperação tem de buscar, no cenário redesenhado de agora, a recolocação de Dilma à frente de Ciro, numa disputa de que este participará com dois objetivos: o menos provável, de ser o vencedor, compelindo Lula a apoiá-lo no 2º turno, ou, não logrando isso, que é o mais provável, mesmo assim dispondo de uma votação expressiva que lhe propicie um acordo especial com Lula e Dilma para apoio final a ela.

Perspectiva esta que deverá ser favorecida pela estreita associação que o governo já faz e intensificará da candidata com os programas assistencialistas federais, com o pré-sal e com os indicadores muito bons gerados pela retomada do crescimento. A menos que, nem com esses fortes trunfos, a campanha de Dilma decole para valer e que, em conseqüência, o aliado essencial de que ela depende, o PMDB, não assuma a candidatura. O que poderia levar o presidente Lula a uma completa revisão de seu projeto sucessório – possibilidade ainda inimaginável.

Envolvimento com Zelaya (e Chávez) compromete projeto de Lula na ONU

O cálculo que Lula deve ter feito – a partir de avaliação própria ou induzido pelo assessor especial Marco Aurélio Garcia – foi que o abrigo a Manuel Zelaya na embaixada brasileira de Tegucigalpa seria uma ação útil e oportuna para o exercício de protagonismo como principal liderança da América Latina, que cumpriria com sucesso a função de solucionar pacificamente a crise de Honduras. O que serviria ao projeto de firmar-se como líder mundial e da conquista para o Brasil, por seu governo, de assento no Conselho de Segurança da ONU.

Desde o começo da operação, porém, tudo vem dando errado. Simultaneamente à concessão do abrigo, Hugo Chávez disparou sua metralhadora verbal vinculando a iniciativa à “revolução bolivariana”. Zelaya chegou à embaixada à frente de mais de 60 inflamados partidários (hondurenhos, nicaragüenses, venezuelanos e de outros países). E, com a violação de todas as regras diplomáticas, passou a usá-la como palanque para pregar uma insurreição contra o governo interino. Combinando a exigência de devolução a ele da presidência com o ataque à única solução democrática para a crise – a realização de eleições nacionais para o cargo, em novembro próximo, já marcadas antes de sua deposição e que agora têm os candidatos em campanha. Tais procedimentos e as reações do governo – repressão policial-militar a manifestações dos zelayistas, decretação do estado de sítio, fechamento de emissoras ligadas à oposição, recusa a desembarque no país de uma delegação da OEA e fixação de prazo de dez dias para que o governo brasileiro peça o asilo regular para Zelaya ou o entregue às autoridades locais, entre outras medidas – transformaram a crise política num conflito com crescente potencial de conseqüências sangrentas.

Revelando-se desastrada, a operação chavista do retorno clandestino de Zelaya e de seu abrigo em nossa embaixada foi objeto de forte condenação do representante dos EUA no Conselho Permanente da OEA, que criticou “os que a facilitaram” e qualificou o ato como “irresponsável e tolo”. E o rotundo erro de cálculo de Lula comprometeu seriamente seu projeto na ONU. Pois, como afirmou o ex-chanceler mexicano Jorge Castañeda – numa entrevista ao Estadão de domingo, e é destacado no editorial de hoje – “um país com aspirações a ser líder mundial não pode aparentar cumplicidade com radicais”.

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