DEU EM O GLOBO
É absurdo fazer campanha política num teste de avaliação da qualidade da educação; e, além disso, o enunciado da questão do Enade está errado. O Brasil sofreu sim um forte impacto da crise internacional: perderá um ano de crescimento do PIB em 2009, R$80 bilhões de arrecadação, US$60 bilhões, ou 30%, de exportações. A indústria teve a sua maior queda em 15 anos; os investimentos despencaram.
Campanha tem hora, palanque tem lugar, não pode ser num teste de aferição de conhecimentos gerais de estudantes, que serve para orientar políticas públicas e escolhas privadas. Que o governo guarde a palavra "marolinha" para os ilusionismos dos seus palanques. Ele sabe a verdade: a crise foi forte. O PIB crescia a mais de 6%, despencou, ficou negativo dois trimestres, se recupera da queda, mas fechará o ano em torno de zero. É indigente sugerir, numa prova para universitários, que não houve crise, e sim um erro de avaliação da imprensa brasileira corrigido pela imprensa estrangeira. No terceiro trimestre, o PIB vai crescer em torno de 2,5% em relação ao segundo. O ministro Guido Mantega falou em 10%. Isso porque ele pegou o resultado e anualizou. Deu este número enorme. Não é errado fazer a anualização, mas ele não fez quando era queda. Se fizesse, teria tido um enorme número negativo. A comparação com o mesmo trimestre de 2008 deve dar cerca de 0,3%.
O Brasil voltou a crescer no segundo trimestre deste ano. Ótimo. Mas não foi o único. França, Alemanha, Japão também cresceram. A Austrália já está subindo juros para conter a demanda. A China e a Índia nem tiveram recessão. Os Estados Unidos tiveram um forte PIB positivo no terceiro trimestre.
- Não foi apenas o Brasil. O mundo inteiro saiu mais cedo da crise porque os pacotes de ajuda foram enormes. Uma crise é uma peça em vários atos, e o mundo tem medo do próximo ato: o que vai acontecer quando retirarem os pacotes de ajuda. Os bancos americanos e europeus têm US$7 trilhões em dívidas de curto prazo garantidas pelo governo. O que vai acontecer quando tirarem as garantias? - avalia o economista Armando Castelar, do Gávea Investimentos.
Governos sérios levaram a crise a sério e sabem que ela ainda pode trazer surpresas. O Brasil entrou na crise com vantagens em relação a outros países, mas a recuperação ocorreu em parte puxada pela recuperação externa. A China com seu enorme pacote de estímulo financeiro elevou o preço das commodities e nos ajudou.
O ministro Paulo Bernardo calculou que o país vai perder no ano R$80 bilhões de arrecadação. O IBGE registra que a indústria teve em um período de quatro meses uma queda de 20%, a maior já registrada nas suas estatísticas. A produção de bens de capital está com queda de 22% no acumulado do ano, o que significa investimentos a menos. O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior, Roberto Segatto, calcula que o Brasil vai exportar 30% a menos ou US$60 bilhões a menos do que no ano passado.
Aqui não havia excesso de endividamento das famílias, nem produtos exóticos nos bancos, mas mesmo assim o Unibanco para evitar uma corrida fundiu-se ao Itaú, como contou em detalhes o "Valor Econômico" de ontem. Grandes exportadores passaram por momentos de pânico com seus derivativos cambiais. Foram salvos com dinheiro público, que financiou operações de fusão e aquisição, como as da Aracruz com a Votorantim e da Sadia com a Perdigão. Nada foi de graça. Só no caso Aracruz, o BNDES teve que bancar 40% do custo do negócio.
O BNDES está pedindo seu segundo empréstimo de R$100 bilhões ao governo em menos de um ano. Antes, o empréstimo era para fazer política anticíclica. E agora? Será política pró-cíclica? É empréstimo por uma manobra contábil. Se fosse capitalização, entraria na dívida pública. Sendo empréstimo, fica tudo igual porque o governo terá um ativo e um passivo se neutralizando, já que o banco é público.
O professor Claudio de Moura Castro considerou "doutrinário" e "sintomático" do uso da máquina pública incluir versões governistas na prova: "Isso nunca aconteceu em uma prova assim. É uma contaminação indevida."
Há erros nas outras questões também. Fico no tamanho da crise, que você pode ver melhor no gráfico abaixo. Esta foi a maior queda da indústria na era do real. Mesmo com a recuperação, o país estava em setembro no nível de produção industrial de fevereiro de 2007: recuo de dois anos e meio.
É absurdo fazer campanha política num teste de avaliação da qualidade da educação; e, além disso, o enunciado da questão do Enade está errado. O Brasil sofreu sim um forte impacto da crise internacional: perderá um ano de crescimento do PIB em 2009, R$80 bilhões de arrecadação, US$60 bilhões, ou 30%, de exportações. A indústria teve a sua maior queda em 15 anos; os investimentos despencaram.
Campanha tem hora, palanque tem lugar, não pode ser num teste de aferição de conhecimentos gerais de estudantes, que serve para orientar políticas públicas e escolhas privadas. Que o governo guarde a palavra "marolinha" para os ilusionismos dos seus palanques. Ele sabe a verdade: a crise foi forte. O PIB crescia a mais de 6%, despencou, ficou negativo dois trimestres, se recupera da queda, mas fechará o ano em torno de zero. É indigente sugerir, numa prova para universitários, que não houve crise, e sim um erro de avaliação da imprensa brasileira corrigido pela imprensa estrangeira. No terceiro trimestre, o PIB vai crescer em torno de 2,5% em relação ao segundo. O ministro Guido Mantega falou em 10%. Isso porque ele pegou o resultado e anualizou. Deu este número enorme. Não é errado fazer a anualização, mas ele não fez quando era queda. Se fizesse, teria tido um enorme número negativo. A comparação com o mesmo trimestre de 2008 deve dar cerca de 0,3%.
O Brasil voltou a crescer no segundo trimestre deste ano. Ótimo. Mas não foi o único. França, Alemanha, Japão também cresceram. A Austrália já está subindo juros para conter a demanda. A China e a Índia nem tiveram recessão. Os Estados Unidos tiveram um forte PIB positivo no terceiro trimestre.
- Não foi apenas o Brasil. O mundo inteiro saiu mais cedo da crise porque os pacotes de ajuda foram enormes. Uma crise é uma peça em vários atos, e o mundo tem medo do próximo ato: o que vai acontecer quando retirarem os pacotes de ajuda. Os bancos americanos e europeus têm US$7 trilhões em dívidas de curto prazo garantidas pelo governo. O que vai acontecer quando tirarem as garantias? - avalia o economista Armando Castelar, do Gávea Investimentos.
Governos sérios levaram a crise a sério e sabem que ela ainda pode trazer surpresas. O Brasil entrou na crise com vantagens em relação a outros países, mas a recuperação ocorreu em parte puxada pela recuperação externa. A China com seu enorme pacote de estímulo financeiro elevou o preço das commodities e nos ajudou.
O ministro Paulo Bernardo calculou que o país vai perder no ano R$80 bilhões de arrecadação. O IBGE registra que a indústria teve em um período de quatro meses uma queda de 20%, a maior já registrada nas suas estatísticas. A produção de bens de capital está com queda de 22% no acumulado do ano, o que significa investimentos a menos. O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior, Roberto Segatto, calcula que o Brasil vai exportar 30% a menos ou US$60 bilhões a menos do que no ano passado.
Aqui não havia excesso de endividamento das famílias, nem produtos exóticos nos bancos, mas mesmo assim o Unibanco para evitar uma corrida fundiu-se ao Itaú, como contou em detalhes o "Valor Econômico" de ontem. Grandes exportadores passaram por momentos de pânico com seus derivativos cambiais. Foram salvos com dinheiro público, que financiou operações de fusão e aquisição, como as da Aracruz com a Votorantim e da Sadia com a Perdigão. Nada foi de graça. Só no caso Aracruz, o BNDES teve que bancar 40% do custo do negócio.
O BNDES está pedindo seu segundo empréstimo de R$100 bilhões ao governo em menos de um ano. Antes, o empréstimo era para fazer política anticíclica. E agora? Será política pró-cíclica? É empréstimo por uma manobra contábil. Se fosse capitalização, entraria na dívida pública. Sendo empréstimo, fica tudo igual porque o governo terá um ativo e um passivo se neutralizando, já que o banco é público.
O professor Claudio de Moura Castro considerou "doutrinário" e "sintomático" do uso da máquina pública incluir versões governistas na prova: "Isso nunca aconteceu em uma prova assim. É uma contaminação indevida."
Há erros nas outras questões também. Fico no tamanho da crise, que você pode ver melhor no gráfico abaixo. Esta foi a maior queda da indústria na era do real. Mesmo com a recuperação, o país estava em setembro no nível de produção industrial de fevereiro de 2007: recuo de dois anos e meio.
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