DEU NO VALOR ECONÔMICO
Parece traição anunciada, tem tudo para ser, mas não é. O encontro público marcado pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), com o deputado Ciro Gomes (PSB), mais um entre tantos, para a próxima semana ou para um dia qualquer do calendário futuro, como já teve no calendário passado, desperta curiosidade. A esta altura da campanha eleitoral, a construção de uma agenda política comum entre os dois tem um significado inalcançável ao senso comum.
No plano objetivo, não há mais prazo para mudança de partido, sequer para ameaçar seus competidores internos com esta espada como era praxe antes de outubro; ainda não chegou o prazo para oficializar coligações, tarefa das convenções de junho; e nenhum dos dois tem o partido sob suas rédeas para conduzí-lo por aqui ou por ali.
Ciro diz, em reportagem de "O Estado de S. Paulo" que, se Aécio não conseguir sua indicação para disputar a Presidência pelo PSDB, ele, Ciro, quer ter a "simpatia de Minas" como candidato a presidente. A vantagem para Aécio nesta troca de favores seria agregar em torno de si mais forças políticas, no caso, portanto, o PSB. Esta equação implica, na prática, Aécio trabalhar para Ciro em Minas, levando a ele seu eleitorado, e nada fazer pelo candidato do PSDB a presidente. Inclui, também, cruzar os braços para o candidato tucano ao governo de São Paulo uma vez que, como todo mundo já sabe, é o cargo reservado pelo presidente Lula para Ciro Gomes disputar, com o apoio de todos os partidos da base aliada ao PT. Aécio, então, para honrar a negociação, teria que ignorar a candidatura Geraldo Alckmin, o mais provável nome do PSDB nesta disputa.
É isto o que significaria, ao pé da letra, a "atuação conjunta" anunciada dos dois políticos, por mais que, ao ser traduzida a termos da realidade, pareça estapafúrdia.
E é. Uma superprodução improvável, até mesmo do ponto de vista legal. Está claro, então, que não é um projeto para prosperar. Apenas é um projeto para se movimentar, para lá e para cá, à mercê das incoerências políticas que vão se evidenciando. Nem o presidente do PSB abandonou o barco do presidente Lula e sua candidata Dilma Rousseff, nem o comando do PSDB abriu mão de lançar candidato a presidente.
Nada faz sentido ou tem significado além dos fatos de que Aécio tem garantida sua exposição ao eleitorado em Minas, no resto do país é preciso movimentar-se; Ciro não tem espaço cativo para manter o recall de candidaturas anteriores, vai buscá-lo em qualquer canto até chegar o dia de medir e pesar sua situação na seara governista. Cada um no seu papel que, no entanto, precisa ter nome certo.
Há duas evidências na campanha presidencial, atualmente. Uma, é que o governador de São Paulo, candidato a candidato do PSDB à Presidência, José Serra, está em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto feitas este ano e até agora ninguém conseguiu virar esta tendência. Serra é, portanto, o candidato do PSDB em condições objetivas de vencer e não é à toa que a maior quantidade de intrigas que emergem na campanha, partam do governo ou da oposição, o têm como alvo.
A outra é que Dilma está fazendo uma campanha nacional, com tempo na mídia garantido pela presença do presidente da República como seu cabo eleitoral full time, e tendência clara a crescer na medida da quantidade de votos que for possível ao presidente lhe transferir. As pesquisas apontam tendência de crescimento mas ainda não o suficiente para tranquilizar seus aliados.
Constata-se, então, que estão todos à espera dos números de pesquisa da candidata Dilma Rousseff, aguardando seus índices, em dezembro, janeiro, fevereiro e, principalmente, março. Exatamente quando os prazos políticos se encontram com os prazos legais e a data em que o que faz sentido deverá surgir.
Contagem de vantagem
Assessores da campanha da ministra Dilma Rousseff destacam como positiva a divisão dos votos de convencionais do PMDB de São Paulo entre Orestes Quércia (oposição) e Michel Temer (governo). Contabilizam como lucro ter uma parte dos convencionais paulistas, assim como seria lucro também contar com parte dos convencionais do PMDB do Rio Grande do Sul, por exemplo. Ter um pedaço é melhor do que não ter nada, dizem. Nestas contas, o pior seria Dilma (ou a coligação PT-PMDB) ficar sem nenhum voto nos diretórios mais oposicionistas. Para o governo, nos estados onde Dilma tem a maioria do PMDB, ficará com 70 a 80% dos votos dos convencionais. Com mais uma parte, por menor que seja, dos votos onde não esperava ter nenhum, a coligação será aprovada com vantagem.
Os especialistas da campanha da ministra deveriam dividir com o PT seu otimismo, pois o partido continua furioso com a divisão feita em São Paulo e acham que o PMDB está pedindo demais e oferecendo de menos.
Ministro novo
Impressiona a alguns experientes advogados a ousadia da pressão do governo da Itália e dos opositores de Cesare Battisti sobre o ministro José Antonio Dias Toffolli, do Supremo Tribunal Federal. O ministro não tem impedimentos para votar, nada assinou na Advocacia Geral da União, seu cargo anterior, que lhe causasse constrangimentos agora, mas o lobby do governo italiano o força a assumir a carapuça do comprometimento.
A votação está quatro a três pela extradição do brigadista italiano reclamado pelo governo. A expectativa é que o ministro Marco Aurélio Melo devolva o processo, do qual pediu vista, com voto a favor de Battisti. Gilmar Mendes tem voto conhecido, contra, e o temor é que Toffolli empate o jogo, o que favorece o réu.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
Parece traição anunciada, tem tudo para ser, mas não é. O encontro público marcado pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), com o deputado Ciro Gomes (PSB), mais um entre tantos, para a próxima semana ou para um dia qualquer do calendário futuro, como já teve no calendário passado, desperta curiosidade. A esta altura da campanha eleitoral, a construção de uma agenda política comum entre os dois tem um significado inalcançável ao senso comum.
No plano objetivo, não há mais prazo para mudança de partido, sequer para ameaçar seus competidores internos com esta espada como era praxe antes de outubro; ainda não chegou o prazo para oficializar coligações, tarefa das convenções de junho; e nenhum dos dois tem o partido sob suas rédeas para conduzí-lo por aqui ou por ali.
Ciro diz, em reportagem de "O Estado de S. Paulo" que, se Aécio não conseguir sua indicação para disputar a Presidência pelo PSDB, ele, Ciro, quer ter a "simpatia de Minas" como candidato a presidente. A vantagem para Aécio nesta troca de favores seria agregar em torno de si mais forças políticas, no caso, portanto, o PSB. Esta equação implica, na prática, Aécio trabalhar para Ciro em Minas, levando a ele seu eleitorado, e nada fazer pelo candidato do PSDB a presidente. Inclui, também, cruzar os braços para o candidato tucano ao governo de São Paulo uma vez que, como todo mundo já sabe, é o cargo reservado pelo presidente Lula para Ciro Gomes disputar, com o apoio de todos os partidos da base aliada ao PT. Aécio, então, para honrar a negociação, teria que ignorar a candidatura Geraldo Alckmin, o mais provável nome do PSDB nesta disputa.
É isto o que significaria, ao pé da letra, a "atuação conjunta" anunciada dos dois políticos, por mais que, ao ser traduzida a termos da realidade, pareça estapafúrdia.
E é. Uma superprodução improvável, até mesmo do ponto de vista legal. Está claro, então, que não é um projeto para prosperar. Apenas é um projeto para se movimentar, para lá e para cá, à mercê das incoerências políticas que vão se evidenciando. Nem o presidente do PSB abandonou o barco do presidente Lula e sua candidata Dilma Rousseff, nem o comando do PSDB abriu mão de lançar candidato a presidente.
Nada faz sentido ou tem significado além dos fatos de que Aécio tem garantida sua exposição ao eleitorado em Minas, no resto do país é preciso movimentar-se; Ciro não tem espaço cativo para manter o recall de candidaturas anteriores, vai buscá-lo em qualquer canto até chegar o dia de medir e pesar sua situação na seara governista. Cada um no seu papel que, no entanto, precisa ter nome certo.
Há duas evidências na campanha presidencial, atualmente. Uma, é que o governador de São Paulo, candidato a candidato do PSDB à Presidência, José Serra, está em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto feitas este ano e até agora ninguém conseguiu virar esta tendência. Serra é, portanto, o candidato do PSDB em condições objetivas de vencer e não é à toa que a maior quantidade de intrigas que emergem na campanha, partam do governo ou da oposição, o têm como alvo.
A outra é que Dilma está fazendo uma campanha nacional, com tempo na mídia garantido pela presença do presidente da República como seu cabo eleitoral full time, e tendência clara a crescer na medida da quantidade de votos que for possível ao presidente lhe transferir. As pesquisas apontam tendência de crescimento mas ainda não o suficiente para tranquilizar seus aliados.
Constata-se, então, que estão todos à espera dos números de pesquisa da candidata Dilma Rousseff, aguardando seus índices, em dezembro, janeiro, fevereiro e, principalmente, março. Exatamente quando os prazos políticos se encontram com os prazos legais e a data em que o que faz sentido deverá surgir.
Contagem de vantagem
Assessores da campanha da ministra Dilma Rousseff destacam como positiva a divisão dos votos de convencionais do PMDB de São Paulo entre Orestes Quércia (oposição) e Michel Temer (governo). Contabilizam como lucro ter uma parte dos convencionais paulistas, assim como seria lucro também contar com parte dos convencionais do PMDB do Rio Grande do Sul, por exemplo. Ter um pedaço é melhor do que não ter nada, dizem. Nestas contas, o pior seria Dilma (ou a coligação PT-PMDB) ficar sem nenhum voto nos diretórios mais oposicionistas. Para o governo, nos estados onde Dilma tem a maioria do PMDB, ficará com 70 a 80% dos votos dos convencionais. Com mais uma parte, por menor que seja, dos votos onde não esperava ter nenhum, a coligação será aprovada com vantagem.
Os especialistas da campanha da ministra deveriam dividir com o PT seu otimismo, pois o partido continua furioso com a divisão feita em São Paulo e acham que o PMDB está pedindo demais e oferecendo de menos.
Ministro novo
Impressiona a alguns experientes advogados a ousadia da pressão do governo da Itália e dos opositores de Cesare Battisti sobre o ministro José Antonio Dias Toffolli, do Supremo Tribunal Federal. O ministro não tem impedimentos para votar, nada assinou na Advocacia Geral da União, seu cargo anterior, que lhe causasse constrangimentos agora, mas o lobby do governo italiano o força a assumir a carapuça do comprometimento.
A votação está quatro a três pela extradição do brigadista italiano reclamado pelo governo. A expectativa é que o ministro Marco Aurélio Melo devolva o processo, do qual pediu vista, com voto a favor de Battisti. Gilmar Mendes tem voto conhecido, contra, e o temor é que Toffolli empate o jogo, o que favorece o réu.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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