DEU NO VALOR ECONÔMICO
A plateia era formada por alguns dos luminares do governo Fernando Henrique Cardoso - André Lara Resende, Andrea Calabi, Henri Philippe Reichstul e Rubens Barbosa. Todos, inclusive o ex-presidente que dá nome ao instituto onde o evento se realizava, aguardavam um dos palestrantes, Luiz Carlos Mendonça de Barros, preso no trânsito, como descobriria Gilda Portugal ao celular, no meio da audiência - "Ele vem com certeza e traz um pen drive imperdível".
Papearam sobre a repercussão do polêmico artigo de Fernando Henrique de domingo ("O Estado de S. Paulo" e "O Globo") e a ausência de um dos convidados, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, justificada, como relatou o coordenador do instituto, Sérgio Fausto, pela premência de uma reunião sobre a Olimpíada de 2016.
O ex-presidente não alimentaria animosidades - "Eu o conheci como secretário do Zeca do PT (MS). Quando esteve comigo no Planalto disse que se o tivesse conhecido antes o teria chamado para o lugar do (Pedro) Malan. É aberto ao diálogo".
Mendonça de Barros chega, sem gravata como o dono da casa, e é aplaudido pelo auditório cheio que o aguardava há 20 minutos. Não demora e o pen drive começa a rodar. "Economia Brasileira: como chegamos aqui/ FHC + Lula: uma combinação que deu certo".
Antes de começar a falar, faz a Fernando Henrique a ressalva de que tinha gostado muito do artigo de domingo, em que o ex-presidente criticara os inebriados pelo Brasil de Lula.
A exposição trazia os números daquilo que o artigo chamara ironicamente de "o maior espetáculo da terra". A tela exibia as curvas desencontradas dos oito anos do PSDB versus os sete do PT para balança comercial, salário mínimo, câmbio, juros, dívida externa, massa real de salários e faturamento do comércio.
Diz que a situação atual do Brasil é muito difícil para sua geração - "e a do Fernando Henrique" - entender. É o país que, no último relatório da Goldman Sachs, é citado como o detentor da moeda mais valorizada do mundo. Nesse momento chega Joseph Safra, com o crachá "visitante" na lapela, e senta-se entre Fernando Henrique e Rubens Barbosa.
Mendonça de Barros cita as conversas que tem tido com investidores estrangeiros e empresários brasileiros para dizer que seu otimismo com o país é compartilhado. "Um empresário que está vendendo três mil carros por dia, (e dirige-se a Safra, sentado bem à sua frente ) cliente de vocês lá, me disse - "Lula é o máximo"".
Antes de passar a palavra ao palestrante seguinte, Fábio Giambiagi, Fernando Henrique dirige-se a Mendonça de Barros - "Entusiasmado você é. Cego, não".
A exposição de duas únicas telas resume a fala de Giambiagi: O Brasil de 2050 terá uma população acima de 60 anos três vezes maior que a atual. Ele retoma o tema abordado ao final da exposição de Mendonça de Barros sobre as dificuldades de se empreenderem as reformas necessárias - "Se a oposição for vitoriosa terá que conviver com um PT mais forte e Lula à sombra e não conseguirá fazer mudanças sem um entendimento político".
Vai buscar na ditadura de 1976, quando voltou ao Brasil adolescente, o exemplo de um país que tinha "uma capacidade de diálogo hoje perdida". Cita uma batida de carro que presenciara, resolvida amigavelmente - "Foi um choque pra mim, vindo de uma Argentina onde a inflexibilidade era cultivada como virtude".
Fernando Henrique inicia seus comentários contestando as previsões futuras de crescimento econômico apresentadas por Mendonça de Barros - "Quem previu 2002?", questiona, numa referência à deterioração dos indicadores daquele ano. Recorre à prevalência da política e cita Maquiavel sobre a dificuldade das reformas - quem é afetado se rebela e quem será beneficiado ainda não o sabe.
Reconhece que a transferência de voto é possível - "Já está ocorrendo, Dilma tinha zero agora tem 15%" - mas não é automática - "Tanto que Serra tinha o apoio de três, o meu o de Montoro e o de Covas quando se candidatou pela primeira vez a prefeito e perdeu".
Diz que a população não é dividida em partidos ou blocos de oposição e governo - "Cabe à liderança política mostrar que os 65% (de Lula) podem ser próximos dos 40% (de Serra)".
Trata o Bolsa Família como "imexível" e diz que sua importância para remediar os miseráveis é superior à da valorização do salário mínimo, ressaltada por Mendonça de Barros.
Vê nos gargalos na infraestrutura, em que inclui o pré-sal, o reflexo da "confusão reinante neste governo entre público e privado". Conclui os trabalhos da mesa num clima ameno, que só volta a esquentar nos debates.
Raul Vellozo questiona como se justifica o otimismo com o futuro do Brasil face à "incapacidade de a União se planejar para gastar bem".
Mendonça de Barros acabara de classificar os artifícios contábeis para se produzir o superávit de "5ª categoria" - "Os nossos eram mais sofisticados". Ao ouvir Vellozo, chuta a lata - "São um bando de ignorantes que não sabem o que estão fazendo. Há uma série de problemas novos que não conseguem resolver porque estão no software pirata que usam". Foi o único momento do seminário em que André Lara Resende soltou uma risada.
No café, ao final do seminário, Mendonça de Barros é questionado se as razões da indecisão de Serra sobre a candidatura presidencial estavam relacionadas ao seu pen drive. "Não tenho a menor dúvida".
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
A plateia era formada por alguns dos luminares do governo Fernando Henrique Cardoso - André Lara Resende, Andrea Calabi, Henri Philippe Reichstul e Rubens Barbosa. Todos, inclusive o ex-presidente que dá nome ao instituto onde o evento se realizava, aguardavam um dos palestrantes, Luiz Carlos Mendonça de Barros, preso no trânsito, como descobriria Gilda Portugal ao celular, no meio da audiência - "Ele vem com certeza e traz um pen drive imperdível".
Papearam sobre a repercussão do polêmico artigo de Fernando Henrique de domingo ("O Estado de S. Paulo" e "O Globo") e a ausência de um dos convidados, o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, justificada, como relatou o coordenador do instituto, Sérgio Fausto, pela premência de uma reunião sobre a Olimpíada de 2016.
O ex-presidente não alimentaria animosidades - "Eu o conheci como secretário do Zeca do PT (MS). Quando esteve comigo no Planalto disse que se o tivesse conhecido antes o teria chamado para o lugar do (Pedro) Malan. É aberto ao diálogo".
Mendonça de Barros chega, sem gravata como o dono da casa, e é aplaudido pelo auditório cheio que o aguardava há 20 minutos. Não demora e o pen drive começa a rodar. "Economia Brasileira: como chegamos aqui/ FHC + Lula: uma combinação que deu certo".
Antes de começar a falar, faz a Fernando Henrique a ressalva de que tinha gostado muito do artigo de domingo, em que o ex-presidente criticara os inebriados pelo Brasil de Lula.
A exposição trazia os números daquilo que o artigo chamara ironicamente de "o maior espetáculo da terra". A tela exibia as curvas desencontradas dos oito anos do PSDB versus os sete do PT para balança comercial, salário mínimo, câmbio, juros, dívida externa, massa real de salários e faturamento do comércio.
Diz que a situação atual do Brasil é muito difícil para sua geração - "e a do Fernando Henrique" - entender. É o país que, no último relatório da Goldman Sachs, é citado como o detentor da moeda mais valorizada do mundo. Nesse momento chega Joseph Safra, com o crachá "visitante" na lapela, e senta-se entre Fernando Henrique e Rubens Barbosa.
Mendonça de Barros cita as conversas que tem tido com investidores estrangeiros e empresários brasileiros para dizer que seu otimismo com o país é compartilhado. "Um empresário que está vendendo três mil carros por dia, (e dirige-se a Safra, sentado bem à sua frente ) cliente de vocês lá, me disse - "Lula é o máximo"".
Antes de passar a palavra ao palestrante seguinte, Fábio Giambiagi, Fernando Henrique dirige-se a Mendonça de Barros - "Entusiasmado você é. Cego, não".
A exposição de duas únicas telas resume a fala de Giambiagi: O Brasil de 2050 terá uma população acima de 60 anos três vezes maior que a atual. Ele retoma o tema abordado ao final da exposição de Mendonça de Barros sobre as dificuldades de se empreenderem as reformas necessárias - "Se a oposição for vitoriosa terá que conviver com um PT mais forte e Lula à sombra e não conseguirá fazer mudanças sem um entendimento político".
Vai buscar na ditadura de 1976, quando voltou ao Brasil adolescente, o exemplo de um país que tinha "uma capacidade de diálogo hoje perdida". Cita uma batida de carro que presenciara, resolvida amigavelmente - "Foi um choque pra mim, vindo de uma Argentina onde a inflexibilidade era cultivada como virtude".
Fernando Henrique inicia seus comentários contestando as previsões futuras de crescimento econômico apresentadas por Mendonça de Barros - "Quem previu 2002?", questiona, numa referência à deterioração dos indicadores daquele ano. Recorre à prevalência da política e cita Maquiavel sobre a dificuldade das reformas - quem é afetado se rebela e quem será beneficiado ainda não o sabe.
Reconhece que a transferência de voto é possível - "Já está ocorrendo, Dilma tinha zero agora tem 15%" - mas não é automática - "Tanto que Serra tinha o apoio de três, o meu o de Montoro e o de Covas quando se candidatou pela primeira vez a prefeito e perdeu".
Diz que a população não é dividida em partidos ou blocos de oposição e governo - "Cabe à liderança política mostrar que os 65% (de Lula) podem ser próximos dos 40% (de Serra)".
Trata o Bolsa Família como "imexível" e diz que sua importância para remediar os miseráveis é superior à da valorização do salário mínimo, ressaltada por Mendonça de Barros.
Vê nos gargalos na infraestrutura, em que inclui o pré-sal, o reflexo da "confusão reinante neste governo entre público e privado". Conclui os trabalhos da mesa num clima ameno, que só volta a esquentar nos debates.
Raul Vellozo questiona como se justifica o otimismo com o futuro do Brasil face à "incapacidade de a União se planejar para gastar bem".
Mendonça de Barros acabara de classificar os artifícios contábeis para se produzir o superávit de "5ª categoria" - "Os nossos eram mais sofisticados". Ao ouvir Vellozo, chuta a lata - "São um bando de ignorantes que não sabem o que estão fazendo. Há uma série de problemas novos que não conseguem resolver porque estão no software pirata que usam". Foi o único momento do seminário em que André Lara Resende soltou uma risada.
No café, ao final do seminário, Mendonça de Barros é questionado se as razões da indecisão de Serra sobre a candidatura presidencial estavam relacionadas ao seu pen drive. "Não tenho a menor dúvida".
Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras
Nenhum comentário:
Postar um comentário