sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Azeredo reivindica tratamento dado a Lula

DEU EM O GLOBO

"Presidente concorreu em situações semelhantes", diz, reclamando também de suposta prova falsa

Adriana Vasconcelos

BRASÍLIA. Por causa da polêmica em torno do recibo, o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) acusou ontem o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), de ter usado uma prova falsa para sustentar seu voto sobre o processo do mensalão mineiro. Acompanhado por dois colegas tucanos, Tasso Jereissati (CE) e Flexa Ribeiro (PA), para mostrar que tem o respaldo de seu partido, Azeredo disse ainda ter estranhado o fato de ter recebido um tratamento diferente do oferecido ao presidente Lula, que foi inocentado de qualquer participação no mensalão nacional.

— Acho estranho. Não vou entrar no mérito da outra questão, mas a situação é muito semelhante. Eu era governador, uma campanha descentralizada, com delegações de poderes.

E o presidente Lula também concorreu em situações semelhantes. E ele não recebeu nenhum inquérito a esse respeito — reclamou Azeredo.

Para Azeredo, no entanto, o mais grave teria sido a inclusão do recibo falso como prova de acusação contra ele. Segundo o senador, até agora não apareceu o original do recibo, que supostamente comprova que ele recebeu, de duas agências de Valério, R$ 4,5 milhões para saldar compromissos diversos por intermédio do coordenador de sua campanha, Cláudio Mourão. Ele chegou a alegar que o documento sequer havia sido citado na ação da Procuradoria Geral da República, que o acusa de desviar recursos públicos para a campanha à reeleição ao governo mineiro, em 1998: — O recibo está aqui e é falso. Nunca foi assinado por mim e tem um erro grosseiro na falsificação: diz que a importância de R$ 4,5 milhões é para “saudar” compromissos, com “u”, em vez da grafia correta.

Joaquim Barbosa imediatamente contestou Azeredo. Ele disse que o recibo está nos autos do processo, e que limitou-se a lê-lo: — Não há uma única palavra na defesa do acusado sobre esse recibo. Esse recibo foi mencionado na denúncia e a defesa silenciou sobre ele.

Azeredo acrescentou que o recibo teria, inclusive, motivado uma ação sua na Polícia Civil de Minas, em janeiro de 2007, contra o lobista Nilton Monteiro, que aponta como o responsável pela suposta falsificação: — Nilton Monteiro é um conhecido lobista. Foi ele quem fez a lista de Furnas e tem as passagens pagas, quando vem a Brasília, por um deputado estadual do PT de Minas, que não vou mencionar o nome. Ele está a serviço de interesses políticos. Respeito o ministro Joaquim Barbosa, mas é inacreditável que ele utilize um documento desses na peça acusatória.

Azeredo negou ainda que tenha autorizado os patrocínios realizados por estatais mineiras ou pelo Banco Bemge, citados no processo: — Ele (ministro) menciona que o então presidente do banco Bemge declarou que não tinha conhecimento das assinaturas de patrocínios por diretores do conglomerado, de diretores subordinados a ele. Eu me pergunto: se o presidente do banco não sabia, o governador ia saber? É um outro ponto que eu quis trazer, outra imputação absurda sobre uma pretensa responsabilidade.

O senador contestou também as 58 ligações do empresário Marcos Valério para ele, que comprovariam, de acordo com Joaquim Barbosa, seu relacionamento próximo com o suposto articulador do mensalão mineiro. Segundo Azeredo, desses 58 telefonemas, apenas 30 e poucos teriam sido completados, mas os dois só teriam se falado mesmo duas vezes. Ele se recusou a dar detalhes dessa conversa: — Desses que se completaram, apenas dois tiveram o retorno e fui eu que liguei, em cinco anos. Se isso é a comprovação de relacionamento muito próximo, eu não entendo o que é relacionamento próximo.

Antes de convocar uma coletiva para se defender, Azeredo comunicou o fato aos colegas da Comissão de Relações Exteriores (CRE), presidida por ele. E recebeu a solidariedade de todos os presentes, inclusive do senador Eduardo Suplicy (PT-SP).

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