DEU NO VALOR ECONÔMICO
O presidente Luiz Inácio Lula avalia, com o quadro hoje à sua disposição, que a aliança com o PMDB é menos importante para a eleição a presidente de sua candidata Dilma Rousseff e mais importante para sustentar o governo caso seja eleita. Sua análise faz remissão à eleição de 2002, quando concorreu sem o PMDB - vale dizer sem o longo tempo de TV para propaganda -, o mesmo ocorrendo na eleição de 2006. Saiu-se vitorioso, não precisou da aliança para se eleger. Mas está certo que, se eleita, Dilma Rousseff vai precisar, como ele precisou, do PMDB para governar.
Lula diz a políticos que a maioria no Congresso é necessária para "avançar", palavra síntese da campanha presidencial do PT. E que ele próprio não vacilou quanto a esta importância do partido, dando-lhe amplo espaço no governo. O fez depois de relutar, mas diz ter aprendido o que realmente importa.
Semana passada, em discurso no Maranhão, porém, o presidente fez uma desfeita com o partido: pediu ao PMDB uma lista tríplice para escolher o candidato a vice na chapa de Dilma, lugar que estava reservado pelo partido para seu presidente licenciado e presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).
O pedido provocou rebuliço no PMDB, nota de protesto do líder, exploração do suposto constrangimento a que levou o partido - como mais favores e privilégios, e explicações do governo. Justificaram os assessores políticos de Lula ter sido o presidente instado a dizer, no Maranhão, qual vice preferia, se Temer ou Edison Lobão, nativo este, de resto, jamais cogitado. E Lula teria saído pela resposta da lista tríplice.
Nada do que se diz na já adiantada disputa sucessória é de graça, ou por acaso. De definitivo, também não há nada na composição da chapa liderada pela ministra Dilma Rousseff. A aliança com o PMDB é, hoje, pré do pré acordo, uma espécie de documento de compra e venda de terreno ainda na lua. Por sinal, em concorrência disputadíssima com invencionices outras, incluídas em pesquisas encomendadas exatamente para fazer a luta política, do tipo exemplar da chapa Aécio-Ciro, e outras impossibilidades legais e políticas.
O PMDB na vice do PT é até um pouco mais possível. O que incomodou o partido, na recomendação nada casual do presidente, porém, é o que isto representa de ameaça à suposta condição protagonista da legenda.
O presidente continua senhor da situação e da negociação no traçado dos cenários da sua sucessão. E não iria ofender o parceiro por acaso. Na verdade, armou-se de cautela o Palácio do Planalto, e o PT, com a citação dos nomes da cúpula do PMDB em investigações de corrupção. Especialmente o do presidente da Câmara, Michel Temer.
Lula não quer sua candidata envolvida em escândalos de fase aguda, logo agora que acha ter superado o mensalão. Aproveitou a instabilidade que a denúncia levou ao PMDB para retomar articulações que reservara a partir do momento em que o aliado se fixou no nome de Temer.
Nas alquimias eleitorais de Lula, é preciso, agora, retomar as candidaturas de Henrique Meirelles, para o caso de prevalecer a proximidade com o PMDB, e Ciro Gomes, uma porta aberta para variados rumos.
Meirelles ingressou no PMDB por escolha de Lula. O cálculo já era, desde o início, dispor de seu nome para vice se houvesse a aliança. Quando o PMDB governista se uniu em torno de Temer, o presidente do Banco Central passou a considerar a política goiana, onde nunca realmente quis estar. O presidente Lula viu, atenuado o ímpeto Temer, um espaço político para reintroduzir sua ideia original para Meirelles. O presidente do BC tanto é uma opção de vice para Dilma, como também pode permanecer no BC até o fim do governo.
A reabertura do cenário para Ciro Gomes também foi possível pela redução da força do PMDB na negociação. Ciro transferiu domicílio eleitoral para São Paulo por decisão do presidente e não há porque duvidar, se cumpriu a determinação até aí, que vá se rebelar a partir de agora. O deputado continuou, porém, a atacar a aliança PT-PMDB, o que é visto como código para que mantenha a porta aberta e possa assumir o lugar do PMDB nesta coligação. E também não dispensou as opções de candidatura ao governo de São Paulo e a Presidente da República.
Na última reunião do diretório do partido, realizada em Brasília, quando se discutiu a aliança ficou claro, notadamente para os que se relacionam de forma mais estreita com o Palácio, que a demora de Ciro em se lançar candidato ao governo de São Paulo, dizer que aceita o script para ele desenhado por Lula e começar um trabalho conjunto com o PT, é um comportamento que não só deixa o PT sob tensão como acende as luzes amarelas da Presidência da República.
A avaliação é que Ciro mantém o Planalto sob pressão para negociar mais à frente. Como Lula ainda não está satisfeito com os índices da ministra Dilma Rousseff nas pesquisas, e como Ciro, quando seu nome é retirado das consultas presidenciais, deixa seus votos para o candidato adversário, José Serra, e não para o PT, voltou-se a cogitar a inclusão de Ciro no projeto presidencial e não paulista.
O deputado continua a insultar o PMDB armando-se cada vez mais para a disputa presidencial - seja para ocupar o lugar de Temer na chapa, seja para concorrer com Dilma no primeiro turno. Sobre a disputa do governo em São Paulo, o que era certo até há poucas semanas, Ciro faz silêncio.
Embora citado, em companhia de outros pemedebistas da direção, em conversas de corruptos flagrados em operações da polícia, Michel Temer não saiu completamente dos cenários eleitorais montados por Lula. O que há é uma iniciativa previdente, a de contar com a eventual necessidade de riscar este nome da chapa e abrir possibilidades para a volta de outras opções, tais como as que incluem Henrique Meirelles e Ciro Gomes.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
O presidente Luiz Inácio Lula avalia, com o quadro hoje à sua disposição, que a aliança com o PMDB é menos importante para a eleição a presidente de sua candidata Dilma Rousseff e mais importante para sustentar o governo caso seja eleita. Sua análise faz remissão à eleição de 2002, quando concorreu sem o PMDB - vale dizer sem o longo tempo de TV para propaganda -, o mesmo ocorrendo na eleição de 2006. Saiu-se vitorioso, não precisou da aliança para se eleger. Mas está certo que, se eleita, Dilma Rousseff vai precisar, como ele precisou, do PMDB para governar.
Lula diz a políticos que a maioria no Congresso é necessária para "avançar", palavra síntese da campanha presidencial do PT. E que ele próprio não vacilou quanto a esta importância do partido, dando-lhe amplo espaço no governo. O fez depois de relutar, mas diz ter aprendido o que realmente importa.
Semana passada, em discurso no Maranhão, porém, o presidente fez uma desfeita com o partido: pediu ao PMDB uma lista tríplice para escolher o candidato a vice na chapa de Dilma, lugar que estava reservado pelo partido para seu presidente licenciado e presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP).
O pedido provocou rebuliço no PMDB, nota de protesto do líder, exploração do suposto constrangimento a que levou o partido - como mais favores e privilégios, e explicações do governo. Justificaram os assessores políticos de Lula ter sido o presidente instado a dizer, no Maranhão, qual vice preferia, se Temer ou Edison Lobão, nativo este, de resto, jamais cogitado. E Lula teria saído pela resposta da lista tríplice.
Nada do que se diz na já adiantada disputa sucessória é de graça, ou por acaso. De definitivo, também não há nada na composição da chapa liderada pela ministra Dilma Rousseff. A aliança com o PMDB é, hoje, pré do pré acordo, uma espécie de documento de compra e venda de terreno ainda na lua. Por sinal, em concorrência disputadíssima com invencionices outras, incluídas em pesquisas encomendadas exatamente para fazer a luta política, do tipo exemplar da chapa Aécio-Ciro, e outras impossibilidades legais e políticas.
O PMDB na vice do PT é até um pouco mais possível. O que incomodou o partido, na recomendação nada casual do presidente, porém, é o que isto representa de ameaça à suposta condição protagonista da legenda.
O presidente continua senhor da situação e da negociação no traçado dos cenários da sua sucessão. E não iria ofender o parceiro por acaso. Na verdade, armou-se de cautela o Palácio do Planalto, e o PT, com a citação dos nomes da cúpula do PMDB em investigações de corrupção. Especialmente o do presidente da Câmara, Michel Temer.
Lula não quer sua candidata envolvida em escândalos de fase aguda, logo agora que acha ter superado o mensalão. Aproveitou a instabilidade que a denúncia levou ao PMDB para retomar articulações que reservara a partir do momento em que o aliado se fixou no nome de Temer.
Nas alquimias eleitorais de Lula, é preciso, agora, retomar as candidaturas de Henrique Meirelles, para o caso de prevalecer a proximidade com o PMDB, e Ciro Gomes, uma porta aberta para variados rumos.
Meirelles ingressou no PMDB por escolha de Lula. O cálculo já era, desde o início, dispor de seu nome para vice se houvesse a aliança. Quando o PMDB governista se uniu em torno de Temer, o presidente do Banco Central passou a considerar a política goiana, onde nunca realmente quis estar. O presidente Lula viu, atenuado o ímpeto Temer, um espaço político para reintroduzir sua ideia original para Meirelles. O presidente do BC tanto é uma opção de vice para Dilma, como também pode permanecer no BC até o fim do governo.
A reabertura do cenário para Ciro Gomes também foi possível pela redução da força do PMDB na negociação. Ciro transferiu domicílio eleitoral para São Paulo por decisão do presidente e não há porque duvidar, se cumpriu a determinação até aí, que vá se rebelar a partir de agora. O deputado continuou, porém, a atacar a aliança PT-PMDB, o que é visto como código para que mantenha a porta aberta e possa assumir o lugar do PMDB nesta coligação. E também não dispensou as opções de candidatura ao governo de São Paulo e a Presidente da República.
Na última reunião do diretório do partido, realizada em Brasília, quando se discutiu a aliança ficou claro, notadamente para os que se relacionam de forma mais estreita com o Palácio, que a demora de Ciro em se lançar candidato ao governo de São Paulo, dizer que aceita o script para ele desenhado por Lula e começar um trabalho conjunto com o PT, é um comportamento que não só deixa o PT sob tensão como acende as luzes amarelas da Presidência da República.
A avaliação é que Ciro mantém o Planalto sob pressão para negociar mais à frente. Como Lula ainda não está satisfeito com os índices da ministra Dilma Rousseff nas pesquisas, e como Ciro, quando seu nome é retirado das consultas presidenciais, deixa seus votos para o candidato adversário, José Serra, e não para o PT, voltou-se a cogitar a inclusão de Ciro no projeto presidencial e não paulista.
O deputado continua a insultar o PMDB armando-se cada vez mais para a disputa presidencial - seja para ocupar o lugar de Temer na chapa, seja para concorrer com Dilma no primeiro turno. Sobre a disputa do governo em São Paulo, o que era certo até há poucas semanas, Ciro faz silêncio.
Embora citado, em companhia de outros pemedebistas da direção, em conversas de corruptos flagrados em operações da polícia, Michel Temer não saiu completamente dos cenários eleitorais montados por Lula. O que há é uma iniciativa previdente, a de contar com a eventual necessidade de riscar este nome da chapa e abrir possibilidades para a volta de outras opções, tais como as que incluem Henrique Meirelles e Ciro Gomes.
Rosângela Bittar é chefe da Redação, em Brasília. Escreve às quartas-feiras
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