“Antes o presidente reclamando da imprensa que a imprensa o satisfazendo constantemente.” (Dora Kramer, jornalista)
O governador José Serra acerta quando se cala sobre se será ou não candidato à sucessão de Lula.
Do alto das pesquisas de intenção de voto, por que ele haveria de se tornar alvo desde já da fúria do PT e dos seus aliados? Nada lucraria com isso.
De resto, não há um só tucano emplumado que duvide da disposição de Serra para sair candidato.
À sombra, Serra tem trabalhado duro para pavimentar o caminho que poderá leválo a concorrer à Presidência da República pela segunda e última vez. Se não concorrer ou for derrotado, dará adeus em definitivo ao sonho cultivado desde que começou a fazer política. Lula perdeu três eleições consecutivas antes de vencer a primeira em 2002. Se depender dele, tentará um novo mandato em 2014. Estará com 69 anos — e Serra com 72.
A diferença de idade entre eles não é o que permite imaginar Lula eleito para um terceiro mandato e Serra metido em um pijama dentro de casa observando o crescimento da grama no seu jardim.
Lula deixará o cargo em janeiro de 2011 ostentando a privilegiada condição de o presidente mais popular da história do país. Falta ao PT outro nome capaz de disputar com ele a indicação para candidato em 2014. Quem ousaria? A situação de Serra é bem distinta. Se fugir ao desafio de enfrentar Dilma Rousseff cederá a vaga a Aécio Neves, governador de Minas Gerais. Mesmo que perca, é razoável que Aécio assegure o direito de concorrer em 2014. Terá apenas 54 anos. Terá ganhado com a derrota para Dilma a exposição nacional que hoje lhe falta. O PSDB não se dará ao luxo de desprezar uma estrela em ascensão. É um partido de poucas estrelas.
De 1989 para cá, Lula disputou todas as eleições presidenciais.
Disputará mais uma. Onde se lê Dilma, leiase Lula. O que Dilma tem até agora em intenções de voto foi o que Lula já lhe transferiu. A transferência tende a aumentar. O brasileiro está satisfeito com a vida que leva. E reconhece que boa parte da satisfação decorre do desempenho de Lula e do seu governo. Eleitor satisfeito nunca votou para mudar. Nem aqui nem em parte alguma.
Há duas desgraças que Serra diligenciará para varrer do seu caminho — ele ou qualquer outro candidato.
A primeira: trombar com Lula sem necessidade. Ou mesmo se for necessário. A não ser em caso extremo. A segunda: passar a impressão de que uma vez eleito mudará o que o eleitor não quer que mude. Dilma dirá que representa a continuidade de Lula. Serra não poderá dizer isso, mas é tudo o que gostaria que o eleitor achasse dele.
Essa história de candidato “pós-Lula” inventada por Aécio é uma maneira mais refinada de afirmar: manterei tudo que Lula fez e ainda farei melhor. Serra pretende ir por aí. O PT decidiu encarar a eleição como um confronto entre o Brasil pontilhado de crises de Fernando Henrique e o Brasil ladeira acima de Lula. Votar em Serra é desejar a volta do Brasil das crises e do desemprego em alta.
Votar em Dilma — bem, não vale a pena repetir.
O PSDB se empenhará em transformar a eleição em um confronto entre um candidato com larga experiência política e administrativa e uma candidata que não era nada até outro dia. Que virou candidata por vontade exclusiva de uma única pessoa. Serra pergunta a seus botões: que vantagem levaria se partisse logo para a briga contra Dilma? É o que interessa a Dilma: polarizar cedo com ele para crescer.
A próxima tende a ser uma eleição curiosa. O PT olhará Serra e enxergará Fernando Henrique com todos os seus eventuais defeitos. De sua parte, o PSDB olhará Dilma e enxergará o PT dos muitos escândalos, do aparelhamento e do inchaço da máquina do Estado, da cooptação por meio de grana dos movimentos sociais e da cumplicidade com o MST que invade e depreda fazendas.
Foi na eleição de 2002 que estre ou Lulinha “ paz e amor”. Na de 2010 estreará Serrinha “paz e amor” — pelo menos no que depender dele. O ex-metalúrgico enfezado estará de volta.
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