sábado, 9 de janeiro de 2010

Vagner Gomes de Souza* :: O pai do Frankenstein

O nome político de Garotinho gerou um fenômeno político com diversos restos da política fluminense que julgaríamos mortos, mas seu grupo político soube manter esses “mortos-vivos”. A atual administração estadual é herdeira desse fenômeno, não por completo, mas em sua parte vinculada ao “neochaguismo”. O antigo e o moderno formam os elementos desse fenômeno político que nasceu no cenário do novo e velho agrarismo campista.

Garotinho teve uma ascensão política “meteórica” na política estadual a partir de uma oposição ao patriciado rural de Campos nos anos 80. Se filiado esteve no PCB (como gostava de citar e, aos poucos, não menciona em sua biografia política), na verdade nasceu na política pelas mãos da revolução dos interesses do PT (já esteve nessa legenda). A estrutura social de Campo mudou com o Petróleo e, assim, começa sua trajetória política vitoriosa.Trajetória vitoriosa de uma nova orientação da burguesia fluminense que criou uma aliança hegemônica sem precisar de desenvolver uma cultura política de luta de classes.

Acima das classes sociais desenvolveu um discurso de revolução burguesa sem política democrática. Os velhos sujeitos da política fluminense foram questionados o que justifica sua capacidade de dialogar com a esquerda estadual, porém não aprofundou os elementos de transformação da política burguesa para mecanismos de ampliação da participação da sociedade. Nesse momento, muito apropriadamente sou “encarar” o espírito do capitalismo na ética protestante. Seus valores carismáticos incorporaram segmentos do “brizolismo” em prejuízo da tradição política trabalhista fluminense que ficou órfã de um projeto.

A segunda metade de seu governo estadual é significativa na sua autonomização diante dos partidos políticos ao se transferir para o PSB com uma ampla “máquina política”. A política da “máquina” do clientelismo muito bem foi reinventada esvaziando o centro político e neutralizando a aproximação das “novas” camadas médias com os setores da direita. Uma estranha combinação entre fé e política não beneficiou a formação de lideranças evangélicas no campo democrático e nem beneficiou a política democrática. Apenas observamos a política instrumentalizando os valores do carisma weberiano.

Consolidou sua política burguesa com base na “nova” classe média na vitória de 2002 de seu grupo político com votos que foram alem de seus limites eleitorais. A vitória de sua candidata ao Governo Estadual em 2002 deveria ser um episódio para estudos dos politicólogos sobre a condição de transferência de votos do nosso Presidente da República. No caso fluminense, houve uma organização de uma ampla frente burguesa com diversos setores do campo democrático e também das vertentes conservadoras. Uma versão estadual do Kicherismo da Argentina com a política burguesa de Hugo Chavez na Venezuela. O Bolivarismo de Garotinho está na sua instrumentalização do calvinismo na política.

Assim, a partir de 2006 nasce uma política de Frankstein que está continuando esse novo perfil da burguesia no cenário político fluminense. A criatura voltou-se contra o criador mas a política ainda é a mesma. Nas contradições dessas alianças diversificadas percebemos o funeral da esquerda de referenciais antigos. Apenas uma reformulação do discurso da esquerda fluminense poderá superar essa fase da política estadual. O caminho a ser trilhado é de construção de uma frente democrática na vanguarda das forças do liberalismo.

* Militante do PPS em Campo Grande-Rio de Janeiro. Suplente do Conselho de Ética do Diretório Municipal do PPS-RJ. Mestre em Sociologia (UFRuralRJ).

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