DEU NO VALOR ECONÔMICO
Nem em toda esquina do Rio Grande do Sul se fala mal da governadora Yeda Crusius. Os prefeitos, por exemplo, elogiam o cumprimento rigoroso de um cronograma de repasse de recursos. Independentemente de filiação partidária. Sem atraso nos pagamentos, feitos na ordem de chegada, em três anos os fornecedores saltaram de 1 mil para 12 mil. Governante mais impopular do país, segundo as pesquisas, Yeda está pronta para disputar a reeleição: "Daqui a pouquinho as pesquisas alcançam a realidade", diz a governadora.
Yeda não só banca a própria reeleição como afirma que o candidato do PSDB, José Serra, terá um palanque forte nos rincões gaúchos. "É fofoca da oposição", diz Yeda, sobre as versões segundo as quais o PSDB estaria temeroso de que ela se torne um estorvo para a campanha no Rio Grande. Uma oposição que não lhe deu tréguas: "Eu tive uma CPI por ano". Sobreviveu a todas e a julgamentos ainda parciais na Justiça.
"A oposição não é hostil no Rio Grande do Sul, ela é selvagem, não respeita regras", segundo sua avaliação. Por um sistema singular adotado no Rio Grande do Sul, o presidente da Assembleia Legislativa tem mandato de um ano. Em 2009, foi a vez do PT. Neste ano a Assembleia será presidida por um deputado (Giovani Cherini) do PDT. Segundo Yeda, um "homem da paz - não se espere a desordem aparente".
"Como dizia Shakespeare, existe lógica nessa loucura", afirma Yeda sobre os três anos em que passou praticamente sitiada em casa e no palácio do governo. "Havia uma desordem aparente, quando na verdade era um método de desmoralização, sistemático conduzido pelo PT". E a casa que adquiriu logo depois das eleições de 2006? "Comprei com o dinheiro da venda de um apartamento em Brasília e da casa da praia", responde. "Então eu não posso ter casa porque o PT não quer, vou morar onde, na praça (onde fica o Palácio Piratini)"?
Yeda detesta a afirmação segundo a qual não basta à mulher de César ser honesta; ela precisa parecer honesta. "Eu não tenho que provar diariamente que sou honesta", afirma. "Eu estou encarando como um teste superior", diz. "Como até agora a gente foi passando muito bem no teste, às custas de um enorme sacrifício pessoal, então este teste superior terá de me levar a resultados superiores."
Isto posto, em que se baseia o otimismo de Yeda Crusius? É a governadora gaúcha quem informa: na recuperação financeira do Estado, após cerca de 40 anos de governanças com pouco juízo fiscal. Como todo governante nessa situação, Yeda gosta de falar em déficit zero. Não é bem assim, mas é fora de dúvida que ela colocou ordem nas contas do Rio Grande, um problema que só se "escancarou", como gosta de dizer a governadora, em 2001, com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Em 2006, quando Yeda assumiu, a dívida líquida do Estado gaúcho era 3,3 vezes maior que as receitas - o limite máximo tolerado é dois. A dívida gaúcha ainda é 2,2 vezes a receita, um pouco acima do permitido pela legislação, mas já enquadrada no horizonte de estabilização de pagamentos, pois o Estado procura não atrasar as parcelas, para não ficar impedido de tomar novos créditos.
Yeda cortou 33% dos gastos de custeio, o que, segundo a governadora, responde por si às denúncias de corrupção em seu governo que inundaram as páginas dos jornais brasileiros, especialmente aqueles situados no Sudeste.
Yeda canta suas vitórias na Justiça em relação às denúncias até agora feitas, que ainda não são definitivas. O que não há dúvida é sobre como conseguiu a confiança nacional e internacional a partir do ajuste feito no Sul. Quando ela assumiu, em 2007, ao mesmo tempo em que a Assembleia inviabilizava suas propostas para manter receita (e seu vice infernizava politicamente a vida do governo), o Banco do Brasil fez uma oferta pelo Banrisul, o banco estatal.
"E fizemos, com o aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), um IPO do Banrisul", conta a governadora. "Pedimos o maior valor da história da Ámérica Latina para um banco". Foi o maior negócio da região, R$ 2,086 bilhões (e também o último IPO antes da crise global). A condição foi que a governança ficasse na Bolsa de Valores de São Paulo. "Então o Banrisul me repassou R$ 1,2 bilhão que usei para fazer a reforma previdenciária) e ficou capitalizado em mais R$ 800 milhões".
Sob a governança da bolsa paulista, o Banrisul ficou livre da suspeita de instrumentalização política. Ponto para Yeda. "Graças a isso, pela primeira vez na história, em 2008 todos os municípios do Rio Grande do Sul fecharam as suas contas no azul".
Ao mesmo tempo em que transacionava o Banrisul, Yeda desenvolvia com o Banco Mundial conversas sobre um empréstimo para financiar a dívida pública do Estado, um acordo inovador. O Rio Grande do Sul demandava US$ 500 milhões. "O Banco Mundial dobrou a aposta e disse então que, no lugar de US$ 500 milhões, nos emprestaria US$ 1,1 bilhão".
Foi fundamental, para o negócio, a transação do Banrisul sob o regime da governança única, como reconhece a governadora. O empréstimo do Banco Mundial permitiu ao Rio Grande do Sul trocar dívida de curto prazo por títulos de 30 anos do Bird.
"Já paguei R$ 300 milhões a menos em 2009", comemorou Yeda Crusius, em conversa com a coluna. Em apenas um momento a governadora sugeriu que era vítima de preconceito pelo fato de ser a primeira mulher a governar os gaúchos. Questionada, remediou: "Se teve [preconceito] foi depois [da eleição], pois recebi os votos de todos os gaúchos, homens e mulheres".
"E à minha volta [o preconceito], viu? Aquela coisa do "eu governo por ela". Não, ninguém governa por mim, eu governei. Não abdiquei das responsabilidades de governar".
Montada num orçamento de R$ 27,7 bilhões para este ano, sendo R$ 1,7 bilhão para investimento, Yeda mostra uma confiança na reeleição incompreensível para quem acompanha as pesquisas para o governo do Rio Grande do Sul. E mais. Diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá perder pela segunda vez no Sul para o PSDB. A primeira foi em 2006.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
Nem em toda esquina do Rio Grande do Sul se fala mal da governadora Yeda Crusius. Os prefeitos, por exemplo, elogiam o cumprimento rigoroso de um cronograma de repasse de recursos. Independentemente de filiação partidária. Sem atraso nos pagamentos, feitos na ordem de chegada, em três anos os fornecedores saltaram de 1 mil para 12 mil. Governante mais impopular do país, segundo as pesquisas, Yeda está pronta para disputar a reeleição: "Daqui a pouquinho as pesquisas alcançam a realidade", diz a governadora.
Yeda não só banca a própria reeleição como afirma que o candidato do PSDB, José Serra, terá um palanque forte nos rincões gaúchos. "É fofoca da oposição", diz Yeda, sobre as versões segundo as quais o PSDB estaria temeroso de que ela se torne um estorvo para a campanha no Rio Grande. Uma oposição que não lhe deu tréguas: "Eu tive uma CPI por ano". Sobreviveu a todas e a julgamentos ainda parciais na Justiça.
"A oposição não é hostil no Rio Grande do Sul, ela é selvagem, não respeita regras", segundo sua avaliação. Por um sistema singular adotado no Rio Grande do Sul, o presidente da Assembleia Legislativa tem mandato de um ano. Em 2009, foi a vez do PT. Neste ano a Assembleia será presidida por um deputado (Giovani Cherini) do PDT. Segundo Yeda, um "homem da paz - não se espere a desordem aparente".
"Como dizia Shakespeare, existe lógica nessa loucura", afirma Yeda sobre os três anos em que passou praticamente sitiada em casa e no palácio do governo. "Havia uma desordem aparente, quando na verdade era um método de desmoralização, sistemático conduzido pelo PT". E a casa que adquiriu logo depois das eleições de 2006? "Comprei com o dinheiro da venda de um apartamento em Brasília e da casa da praia", responde. "Então eu não posso ter casa porque o PT não quer, vou morar onde, na praça (onde fica o Palácio Piratini)"?
Yeda detesta a afirmação segundo a qual não basta à mulher de César ser honesta; ela precisa parecer honesta. "Eu não tenho que provar diariamente que sou honesta", afirma. "Eu estou encarando como um teste superior", diz. "Como até agora a gente foi passando muito bem no teste, às custas de um enorme sacrifício pessoal, então este teste superior terá de me levar a resultados superiores."
Isto posto, em que se baseia o otimismo de Yeda Crusius? É a governadora gaúcha quem informa: na recuperação financeira do Estado, após cerca de 40 anos de governanças com pouco juízo fiscal. Como todo governante nessa situação, Yeda gosta de falar em déficit zero. Não é bem assim, mas é fora de dúvida que ela colocou ordem nas contas do Rio Grande, um problema que só se "escancarou", como gosta de dizer a governadora, em 2001, com a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).
Em 2006, quando Yeda assumiu, a dívida líquida do Estado gaúcho era 3,3 vezes maior que as receitas - o limite máximo tolerado é dois. A dívida gaúcha ainda é 2,2 vezes a receita, um pouco acima do permitido pela legislação, mas já enquadrada no horizonte de estabilização de pagamentos, pois o Estado procura não atrasar as parcelas, para não ficar impedido de tomar novos créditos.
Yeda cortou 33% dos gastos de custeio, o que, segundo a governadora, responde por si às denúncias de corrupção em seu governo que inundaram as páginas dos jornais brasileiros, especialmente aqueles situados no Sudeste.
Yeda canta suas vitórias na Justiça em relação às denúncias até agora feitas, que ainda não são definitivas. O que não há dúvida é sobre como conseguiu a confiança nacional e internacional a partir do ajuste feito no Sul. Quando ela assumiu, em 2007, ao mesmo tempo em que a Assembleia inviabilizava suas propostas para manter receita (e seu vice infernizava politicamente a vida do governo), o Banco do Brasil fez uma oferta pelo Banrisul, o banco estatal.
"E fizemos, com o aval da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), um IPO do Banrisul", conta a governadora. "Pedimos o maior valor da história da Ámérica Latina para um banco". Foi o maior negócio da região, R$ 2,086 bilhões (e também o último IPO antes da crise global). A condição foi que a governança ficasse na Bolsa de Valores de São Paulo. "Então o Banrisul me repassou R$ 1,2 bilhão que usei para fazer a reforma previdenciária) e ficou capitalizado em mais R$ 800 milhões".
Sob a governança da bolsa paulista, o Banrisul ficou livre da suspeita de instrumentalização política. Ponto para Yeda. "Graças a isso, pela primeira vez na história, em 2008 todos os municípios do Rio Grande do Sul fecharam as suas contas no azul".
Ao mesmo tempo em que transacionava o Banrisul, Yeda desenvolvia com o Banco Mundial conversas sobre um empréstimo para financiar a dívida pública do Estado, um acordo inovador. O Rio Grande do Sul demandava US$ 500 milhões. "O Banco Mundial dobrou a aposta e disse então que, no lugar de US$ 500 milhões, nos emprestaria US$ 1,1 bilhão".
Foi fundamental, para o negócio, a transação do Banrisul sob o regime da governança única, como reconhece a governadora. O empréstimo do Banco Mundial permitiu ao Rio Grande do Sul trocar dívida de curto prazo por títulos de 30 anos do Bird.
"Já paguei R$ 300 milhões a menos em 2009", comemorou Yeda Crusius, em conversa com a coluna. Em apenas um momento a governadora sugeriu que era vítima de preconceito pelo fato de ser a primeira mulher a governar os gaúchos. Questionada, remediou: "Se teve [preconceito] foi depois [da eleição], pois recebi os votos de todos os gaúchos, homens e mulheres".
"E à minha volta [o preconceito], viu? Aquela coisa do "eu governo por ela". Não, ninguém governa por mim, eu governei. Não abdiquei das responsabilidades de governar".
Montada num orçamento de R$ 27,7 bilhões para este ano, sendo R$ 1,7 bilhão para investimento, Yeda mostra uma confiança na reeleição incompreensível para quem acompanha as pesquisas para o governo do Rio Grande do Sul. E mais. Diz que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva irá perder pela segunda vez no Sul para o PSDB. A primeira foi em 2006.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
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