DEU EM O GLOBO
ENTREVISTA Jarbas Vasconcelos
Aliado de José Serra, o peemedebista Jarbas Vasconcelos se diz desesperançado com futuro da oposição
Um dos poucos integrantes do PMDB que resistiram a aderir ao governo Lula, o senador Jarbas Vasconcelos (PE), aliado de primeira hora do PSDB e do governador José Serra, está preocupado e desesperançado com o futuro da oposição, caso persista a demora do grupo para anunciar que o tucano paulista é o adversário da petista Dilma Rousseff na eleição presidencial. “O prazo acabou. Estamos sendo atropelados pelos fatos. O crescimento de Dilma surpreendeu a eles e a nós. Essa é a verdade. Não faz mal dizer que estamos debilitados e desarticulados”, disse Jarbas ao GLOBO, na quarta-feira, poucas horas depois de Serra passar por Brasília e não fazer o esperado gesto de anunciar sua candidatura. O senador diz que o PSDB devia estar com seu candidato na rua. E vê outro problema na estratégia da oposição: vincular uma eventual vitória de Serra à dobradinha com o tucano Aécio Neves. “Se Aécio recusa, ficará a impressão de que Serra só ganha se for com Aécio. Mas os fatos mudaram, e Aécio poderia mudar também”, diz.
Gerson Camarotti e Maria Lima
O GLOBO: Há uma ansiedade generalizada na oposição. Qual o prazo para Serra se declarar candidato?
ENTREVISTA Jarbas Vasconcelos
Aliado de José Serra, o peemedebista Jarbas Vasconcelos se diz desesperançado com futuro da oposição
Um dos poucos integrantes do PMDB que resistiram a aderir ao governo Lula, o senador Jarbas Vasconcelos (PE), aliado de primeira hora do PSDB e do governador José Serra, está preocupado e desesperançado com o futuro da oposição, caso persista a demora do grupo para anunciar que o tucano paulista é o adversário da petista Dilma Rousseff na eleição presidencial. “O prazo acabou. Estamos sendo atropelados pelos fatos. O crescimento de Dilma surpreendeu a eles e a nós. Essa é a verdade. Não faz mal dizer que estamos debilitados e desarticulados”, disse Jarbas ao GLOBO, na quarta-feira, poucas horas depois de Serra passar por Brasília e não fazer o esperado gesto de anunciar sua candidatura. O senador diz que o PSDB devia estar com seu candidato na rua. E vê outro problema na estratégia da oposição: vincular uma eventual vitória de Serra à dobradinha com o tucano Aécio Neves. “Se Aécio recusa, ficará a impressão de que Serra só ganha se for com Aécio. Mas os fatos mudaram, e Aécio poderia mudar também”, diz.
Gerson Camarotti e Maria Lima
O GLOBO: Há uma ansiedade generalizada na oposição. Qual o prazo para Serra se declarar candidato?
JARBAS VASCONCELOS: O prazo de Serra acabou. Estamos sendo atropelados pelos fatos. O crescimento de Dilma surpreendeu a eles e a nós. É a verdade, não faz mal dizer que estamos debilitados e desarticulados. Isso não são fatores que irão incapacitar uma vitória daqui a sete meses. Havia uma inércia que se justificava até o final do ano. Mas se Dilma teve esse crescimento, é preciso repensar. Ela cresceu mais do que a gente esperava. Se Lula e os dirigentes nacionais do PT se surpreenderam, por que a gente não pode se surpreender? E quem se surpreende tem que tomar uma ação.
A dubiedade de Serra para o público pode atrapalhar?
JARBAS: A persistir, sim. Estamos em março e já tivemos dano por causa das indefinições, que não posso mensurar. Se ele resolvesse isso ontem (quarta-feira passada) seria importante para montar palanques pelo país. Ele tem que resolver neste fim de semana, chamar pessoas não só de São Paulo. A gente está com dois problemas: primeiro a demora, e segundo, um erro estratégico de vincular uma vitória de Serra a uma candidatura do governador de Minas (Aécio Neves) como vice. Ele tem negado essa hipótese reiteradamente.Então, se ele não for vice, fica parecendo que a chapa estará debilitada.Em política, é um erro jogar tudo em cima de uma pessoa. Fica parecendo que só se ganha se for com Aécio. Isso pode ser uma debilidade a mais.
Essa resistência do Aécio é legítima ou atrapalha?
JARBAS: Acho Aécio um grande homem público, que tem liderança consolidada, governa o segundo maior colégio eleitoral do país. Respeito suas opções de querer ser candidato ao Senado. Só que os fatos mudaram. Se os fatos mudaram, ele poderia mudar! É jovem, tem 50 anos, poderia deixar esse projeto de lado e ajudar. Seria um gesto de muita sabedoria e muito alcance político de um líder, que ele é.
Mas como reverter isso?
JARBAS: Aécio poderia chegar e dizer: “Disse que Minas não iria mais tolerar ser vice, optei por ser candidato ao Senado, mas os fatos mudaram, e mesmo tendo dito a companheiros que não queria ser vice, volto atrás pelo meu país”. Seria um gesto de líder. Ele não deixaria de ser líder por voltar atrás. Isso o consolidaria como verdadeiro líder. Com 50 anos, ele pode não só ser senador no futuro, mas presidente do Brasil. Esta é a hora de ele fazer um gesto pelo Brasil. A gente está ameaçado.
O que é uma ameaça?
JARBAS: Lula é Lula, e Dilma é Dilma. Lula não se dobra, Lula dobra o PT. O PT vai dobrar Dilma.Qual a história que ela tem dentro do PT? O PT não colocou Lula no canto da parede porque Lula é Lula. E Dilma é Dilma com sua insignificância.
Lula se responsabilizará por Dilma na Presidência?
JARBAS: Vou dizer uma coisa dura: considero irresponsabilidade, insanidade de Lula isso que ele está fazendo com o país com a apresentação de Dilma. Usar sua força, seu prestígio, sua capacidade de comunicação para entregar o país a uma pessoa que não tem experiência política, eleitoral, administrativa. Lula vai ficar como um irresponsável perante a História se ela lograr êxito, ganhar a eleição e governar.
Porque nunca foi testada?
JARBAS: Vai ser uma incógnita, uma interrogação. O que acontecerá ao Brasil se Dilma ganhar? Uma coisa é Lula meter os pés, dar coices em cima do PT, relevar o PT. Dilma vai fazer isso? Qual a sua experiência com esses movimentos sociais? Era uma mulher que gritava, grosseira, mas grande parte da grosseria dela, da sua má educação, é para esconder suas deficiências. Assumiu a fama de durona para esconder suas debilidades, que não são poucas.
Na oposição, com a demora na definição, há um movimento para desestabilizar a candidatura Serra, lançar alternativa...
JARBAS: É compreensível! Não dá é para demorar mais. Sei que há focos de resistência que eram uma, duas pessoas, e hoje são mais, está crescendo. Serra não é nenhum bobo. Ao contrário, está percebendo e vai resolver. E não só a candidatura dele, mas os palanques estaduais.
O senhor seria candidato ao governo de Pernambuco?
JARBAS: Sempre admiti ir para o front em Pernambuco, ser candidato. Mas não posso ser candidato apenas por uma questão provinciana. Teria que voltar a ser dentro de um projeto nacional em que acredito. Temos sete meses à frente, mas Serra não pode esperar mais. Este não é mais um problema só dele. É problema dos estados.
Está na hora de juntar a tropa e dar ordem de comando?
JARBAS: Sim. E a ordem tem que ser de Serra. A possibilidade de desistir é zero. Jamais Serra abandonaria o barco.
No fim do ano passado, o senhor defendia que Serra podia ter mais tempo...
JARBAS: Serra estava surgindo com 40%. Aí entrou 2010, aconteceram problemas que independeram de Serra, do PSDB, as enchentes de São Paulo. O mensalão do DEM estourou no fim do ano e se agrava com a prisão do governador. Há um conjunto de fatos negativos. Serra deveria ter se definido em janeiro.
Por que janeiro?
JARBAS: Primeiro porque reanima. Dilma tem candidatura consolidada. Deveria ter um comitê que não fosse só de pessoas de São Paulo, mas de pessoas que possam ver os palanques nos estados. Ficamos sem saber que rumo tomar. Lula em plena campanha eleitoral, com a omissão da Justiça Eleitoral. Lula acha que pode tudo, que está acima do bem e do mal, até de Deus. Acha que nada pega nele.
E a oposição continua sem candidato...
JARBAS: Vou fazer essa leitura compreensiva: nós não temos candidato. Temos é uma candidata da base permanentemente acompanhando Lula em todo tipo de inauguração, lançamento de pedra fundamental, inauguração de obra pela metade.
Serra está sendo purista?
JARBAS: Entramos em março, e Serra está com excesso de cuidado, de prurido ao não se lançar. Do outro lado, há um governo que quer ganhar de qualquer jeito. O que Lula está fazendo não tem limites.
O que a oposição vai fazer?
JARBAS: A gente tem que enfrentar mesmo com debilidades. A oposição está debilitada? Está. Está desarticulada? Está. Isso é de hoje? Estamos desarticulados há alguns anos. Nessa legislatura tivemos zero de articulação na Câmara e no Senado.
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