DEU EM O GLOBO
A disputa dentro do PMDB para a indicação do candidato a vice-presidente na chapa oficial tem lances internos, mas se desenrola também no plano externo.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles — insuflado pelo própio presidente Lula, que quer vê-lo como companheiro de chapa da ministra Dilma Rousseff não apenas para mandar uma mensagem tranquilizadora para o mercado financeiro, mas também para se contrapor ao candidato tucano, o governador José Serra — vem mandando sinais aos investidores internacionais sobre “o risco Serra”.
Ele não se refere ao candidato da oposição diretamente, mas sempre que está no exterior — e tem estado com frequência — aproveita os encontros com investidores para ressaltar que, embora muitos no Brasil ainda insistam em querer mudanças na economia, o governo manterá o tripé que resume seu projeto de estabilidade econômica: controle da inflação, equilíbrio fiscal e câmbio flutuante.
A insinuação de que é possível uma mudança de política em caso de vitória da oposição, e a garantia de que um eventual governo Dilma será de continuidade, faz parte do trabalho de Meirelles para vir a ser escolhido como vice na chapa oficial.
A agora já célebre entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, à “Veja”, afirmando que, vitorioso, seu partido mexeria “na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação”, variáveis que “continuarão a reger nossa economia, mas terão pesos diferentes”, serve de pretexto para esse trabalho de sapa da candidatura tucana.
E as críticas permanentes do governador José Serra à política de juros do Banco Central, e à desvalorização do dólar, dão credibilidade à ideia de que pode haver mudanças na política econômica com uma vitória do PSDB.
Paradoxalmente, o risco Lula de 2002 passou a ser o risco Serra em 2010, e a política econômica do tucanato, que foi seguida à risca por Lula no governo, agora se transforma em patrimônio petista, ameaçado por uma eventual vitória de Serra.
Quem tem feito um trabalho permanente de desmontar essas bombas que Meirelles tem deixado pelo caminho junto aos investidores internacionais é Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique, que tem grande trânsito junto à comunidade financeira internacional.
Armínio não tem delegação de Serra para tal, nem faz isso como uma tarefa. Simplesmente é consultado a toda hora, aqui e no exterior, sobre o que pode acontecer.
No plano interno, o principal instrumento que o PMDB tem para impor a candidatura do seu presidente, Michel Temer, é a comissão criada para elaborar uma proposta de governo “mais moderada”.
Um dos membros da comissão é Delfim Netto, uma sinalização de que o PMDB não quer surpresas no rumo da economia. Outros são o ex-ministro Mangabeira Unger, que defendeu a candidatura própria do partido, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se bateu contra a criação da Comissão da Verdade nos termos em que o Programa Nacional de Direitos Humanos inicialmente colocava, solidarizandose com os militares.
Também os ruralistas, cujo maior contingente na Câmara está na bancada do PMDB, reagiram contra a proposta de retardar a retomada da posse de terras invadidas contida no documento que representava a tentativa de alas radicais do PT de assumir uma agenda mais à esquerda.
O deputado federal Reinhold Stephanes é um ministro da Agricultura extremamente conservador, e tem comprado muita briga dentro do governo contra o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e contra o MST.
Em qualquer dos casos, o PMDB entra na chapa oficial como uma garantia de estabilidade, e contraponto à ala radical do PT.
Estão tentando substituir o papel fisiológico que tem dominado o partido nos últimos anos pelo de garantidor da democracia, uma volta às origens do antigo MDB.
Um papel à procura de atores à altura.
Ao negar que pretenda se afastar do governo para atuar mais livremente na campanha da ministra Dilma Rousseff entre agosto e setembro, o presidente Lula fez vários comentários, disse até que seria uma “irresponsabilidade” fazer isso.
Mas soltou uma frase, em meio a muitas, que revela bem seu pensamento sobre o assunto.
“Achar que eu me afastando posso ajudar mais um candidato do que estando na Presidência seria diminuir o mandato. Se fosse assim, quem não tivesse mandato teria mais força política do que eu que tenho.” Ora, para bom entendedor o presidente está simplesmente dizendo que não se licencia, pelo momento, porque na Presidência tem mais força política para ajudar Dilma do que se se licenciasse.
E, mais que isso, que considera que pode usar essa força política na tarefa de fazer decolar sua candidata, como aliás está fazendo dia sim, outro também.
A popularidade alta e a incapacidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de controlálo estão fazendo com que o presidente Lula perca a noção dos limites éticos que o cargo deveria impor. Ele não apenas faz, mas diz que faz e explica por quê.
A condenação de Cesare Battisti a dois anos por usar documentos falsos, pena transformada em trabalhos comunitários sem a restrição de liberdade, é a saída anunciada desde o primeiro dia para que o presidente Lula não assine sua extradição para a Itália.
O tratado assinado entre Brasil e Itália prevê que um preso condenado pode não ser extraditado enquanto cumpre a pena no Brasil.
Assim, Lula teria uma justificativa para não extraditar o terrorista italiano sem ferir a legislação internacional que o Brasil assinou, dentro do que o Supremo Tribunal federal exigiu.
Battisti ficará em liberdade nos próximos dois anos, e ao futuro presidente caberá a decisão de extraditá-lo.
A disputa dentro do PMDB para a indicação do candidato a vice-presidente na chapa oficial tem lances internos, mas se desenrola também no plano externo.
O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles — insuflado pelo própio presidente Lula, que quer vê-lo como companheiro de chapa da ministra Dilma Rousseff não apenas para mandar uma mensagem tranquilizadora para o mercado financeiro, mas também para se contrapor ao candidato tucano, o governador José Serra — vem mandando sinais aos investidores internacionais sobre “o risco Serra”.
Ele não se refere ao candidato da oposição diretamente, mas sempre que está no exterior — e tem estado com frequência — aproveita os encontros com investidores para ressaltar que, embora muitos no Brasil ainda insistam em querer mudanças na economia, o governo manterá o tripé que resume seu projeto de estabilidade econômica: controle da inflação, equilíbrio fiscal e câmbio flutuante.
A insinuação de que é possível uma mudança de política em caso de vitória da oposição, e a garantia de que um eventual governo Dilma será de continuidade, faz parte do trabalho de Meirelles para vir a ser escolhido como vice na chapa oficial.
A agora já célebre entrevista do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, à “Veja”, afirmando que, vitorioso, seu partido mexeria “na taxa de juros, no câmbio e nas metas de inflação”, variáveis que “continuarão a reger nossa economia, mas terão pesos diferentes”, serve de pretexto para esse trabalho de sapa da candidatura tucana.
E as críticas permanentes do governador José Serra à política de juros do Banco Central, e à desvalorização do dólar, dão credibilidade à ideia de que pode haver mudanças na política econômica com uma vitória do PSDB.
Paradoxalmente, o risco Lula de 2002 passou a ser o risco Serra em 2010, e a política econômica do tucanato, que foi seguida à risca por Lula no governo, agora se transforma em patrimônio petista, ameaçado por uma eventual vitória de Serra.
Quem tem feito um trabalho permanente de desmontar essas bombas que Meirelles tem deixado pelo caminho junto aos investidores internacionais é Armínio Fraga, o ex-presidente do Banco Central no governo Fernando Henrique, que tem grande trânsito junto à comunidade financeira internacional.
Armínio não tem delegação de Serra para tal, nem faz isso como uma tarefa. Simplesmente é consultado a toda hora, aqui e no exterior, sobre o que pode acontecer.
No plano interno, o principal instrumento que o PMDB tem para impor a candidatura do seu presidente, Michel Temer, é a comissão criada para elaborar uma proposta de governo “mais moderada”.
Um dos membros da comissão é Delfim Netto, uma sinalização de que o PMDB não quer surpresas no rumo da economia. Outros são o ex-ministro Mangabeira Unger, que defendeu a candidatura própria do partido, e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, que se bateu contra a criação da Comissão da Verdade nos termos em que o Programa Nacional de Direitos Humanos inicialmente colocava, solidarizandose com os militares.
Também os ruralistas, cujo maior contingente na Câmara está na bancada do PMDB, reagiram contra a proposta de retardar a retomada da posse de terras invadidas contida no documento que representava a tentativa de alas radicais do PT de assumir uma agenda mais à esquerda.
O deputado federal Reinhold Stephanes é um ministro da Agricultura extremamente conservador, e tem comprado muita briga dentro do governo contra o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, e contra o MST.
Em qualquer dos casos, o PMDB entra na chapa oficial como uma garantia de estabilidade, e contraponto à ala radical do PT.
Estão tentando substituir o papel fisiológico que tem dominado o partido nos últimos anos pelo de garantidor da democracia, uma volta às origens do antigo MDB.
Um papel à procura de atores à altura.
Ao negar que pretenda se afastar do governo para atuar mais livremente na campanha da ministra Dilma Rousseff entre agosto e setembro, o presidente Lula fez vários comentários, disse até que seria uma “irresponsabilidade” fazer isso.
Mas soltou uma frase, em meio a muitas, que revela bem seu pensamento sobre o assunto.
“Achar que eu me afastando posso ajudar mais um candidato do que estando na Presidência seria diminuir o mandato. Se fosse assim, quem não tivesse mandato teria mais força política do que eu que tenho.” Ora, para bom entendedor o presidente está simplesmente dizendo que não se licencia, pelo momento, porque na Presidência tem mais força política para ajudar Dilma do que se se licenciasse.
E, mais que isso, que considera que pode usar essa força política na tarefa de fazer decolar sua candidata, como aliás está fazendo dia sim, outro também.
A popularidade alta e a incapacidade do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) de controlálo estão fazendo com que o presidente Lula perca a noção dos limites éticos que o cargo deveria impor. Ele não apenas faz, mas diz que faz e explica por quê.
A condenação de Cesare Battisti a dois anos por usar documentos falsos, pena transformada em trabalhos comunitários sem a restrição de liberdade, é a saída anunciada desde o primeiro dia para que o presidente Lula não assine sua extradição para a Itália.
O tratado assinado entre Brasil e Itália prevê que um preso condenado pode não ser extraditado enquanto cumpre a pena no Brasil.
Assim, Lula teria uma justificativa para não extraditar o terrorista italiano sem ferir a legislação internacional que o Brasil assinou, dentro do que o Supremo Tribunal federal exigiu.
Battisti ficará em liberdade nos próximos dois anos, e ao futuro presidente caberá a decisão de extraditá-lo.
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