DEU EM O&N
Os petistas não perdem oportunidade de realçar suas posições de princípio, que Lula ignora solenemente, pois para ele só resultados importam.
Ao fim do segundo mandato presidencial aos seus cuidados, o PT não se apresenta diferente no modo de pensar segundo a cabeça de Luiz Inácio Lula da Silva, ressalvado entre parênteses o direito de divergir nos exercícios de raciocínio radical. Os petistas não perdem oportunidade de realçar suas posições de princípio, que Lula ignora solenemente, pois para ele só resultados importam. Teorias podem esperar. Ficou mais difícil ao petismo avaliar, sem se valer de razões que movem o mercado propriamente dito, o indigesto sintoma que alvoroçou a República com o inesperado reforço da classe média, menosprezada pela teoria marxista como fabricante de história.
Com a redução gradativa do proletariado (que, no sentido original, sobrevive mais na teoria do que na realidade) e, de baixo para cima, a expansão da classe média, serenou a crise que falava grosso e assustava os que têm a perder. Ninguém podia imaginar que, deslocando-se por fora, iria entrar em cena, em termos de consumo, uma nova fatia da classe média surgida do nada (pelo menos para os teóricos que fazem plantão à espera de uma crise promissora). Desde que o consumo voltou a crescer, graças à redução de impostos e antes que aparecesse a explicação mais conveniente, a classe média passou a ser politicamente mais valiosa do que a mão-de-obra demitida para reduzir custos numa conjuntura de sombras que logo se dissiparam.
O desemprego não floresceu e, em pouco tempo, todos os demitidos foram reconvocados como se nada tivesse acontecido. Só o presidente Lula não teve medo porque, da grande crise de 1929, só sabia por ouvir falar. Mais uma vez, o Brasil que se desloca à margem da História se apresentou como campo de experiência sem teorias. Lula, por falta de convicção, apostou no que viu e acertou no que, por falta de tempo, nem precisou entender, nem ninguém explicou. Era inútil.
Que o eleitorado engrossou, não há dúvida. Nos dois sentidos. Em número e até em disposições (vá lá, pequeno-burguesas). A classe média se reforçou pela via do consumo, graças a estímulos para se endividar, eletro-domesticamente falando, com ímpeto voraz. As urnas apontarão — é o que se saberá oportunamente — melhor do que palpiteiros de ocasião, a preferência dos que entram na democracia pelos portões do consumo, já suficiente para confirmar que sempre há alguma surpresa. Não apenas por ser da natureza das urnas não corresponderem à ilusão segundo a qual uma eleição trás implícita a anterior. A experiência atesta que nenhuma eleição tem a ver com a anterior e com a que vier depois. Pode é ocorrer aqui e ali a mera coincidência em que muitas carreiras naufragam. É o caso também de alguém se eleger por intermédio de outro. Essa gente que está chegando e subindo socialmente para ficar, também não volta atrás. É classe média com sentido pragmático. Voto ensina a votar.
Sem segundas intenções, a classe média veio para ficar e só falta oficializar o novo Dia do Fico na coletânea de surpresas que a História do Brasil registra. Posto de lado o terceiro mandato, não se trata de algo parecido que se descarta por inoportuno, mas é prudente lembrar que não se brinca com ascensão social. Pela cabeça desse eleitor que descobriu o voto como produto social de consumo conspícuo já passam tentações sofisticadas, mesmo para os que vão chegando à classe média como for possível, aos trancos e barrancos. É o que permite desde já considerar à vista a social democracia como solução natural que a ortodoxia teórica abominou desde o Século 19, e o Século 20 não lhe concedeu oportunidade. O 21 está apenas começando.
A eleição geral (presidente, governadores, senadores, deputados) vai dizer alguma coisa a respeito do que se chama de futuro, mas já é, nos sinais exteriores, o presente se impondo. O futuro está retoricamente esgotado. Desde que não se conta mais com revoluções, é por aí mesmo, e pelo que a democracia pode dar conta. Pelo voto.
Não faltará quem veja esse pessoal que se apresenta ao consumo e às urnas como eleitor, com o cartão de crédito e com um pé atrás, ainda à esquerda para não se constranger e parecer liberal, enquanto o alfabeto garantir letras de classificação social aos carentes de saúde, educação e segurança que chegam para se acomodarem, em levas inevitáveis.
A oposição já devia ter percebido que a história não joga amarelinha, antes tem ao seu dispor estoque de surpresas. Por surpresa, deve-se entender também a ocorrência de algo que não é previsível, senão pela estreita margem por onde as pesquisas se expressam com mais cuidado do que ciência. Depois de consumado o episódio eleitoral, o vencedor se contentará com a vitória, mas não sairá atrás das causas que o favorecerem (mais adiante os analistas as recolherão junto ao meio-fio e com elas farão vistosos buquês de explicações exóticas). Derrotas só ensinam a derrotados que não se refugiam em teorias.
Os petistas não perdem oportunidade de realçar suas posições de princípio, que Lula ignora solenemente, pois para ele só resultados importam.
Ao fim do segundo mandato presidencial aos seus cuidados, o PT não se apresenta diferente no modo de pensar segundo a cabeça de Luiz Inácio Lula da Silva, ressalvado entre parênteses o direito de divergir nos exercícios de raciocínio radical. Os petistas não perdem oportunidade de realçar suas posições de princípio, que Lula ignora solenemente, pois para ele só resultados importam. Teorias podem esperar. Ficou mais difícil ao petismo avaliar, sem se valer de razões que movem o mercado propriamente dito, o indigesto sintoma que alvoroçou a República com o inesperado reforço da classe média, menosprezada pela teoria marxista como fabricante de história.
Com a redução gradativa do proletariado (que, no sentido original, sobrevive mais na teoria do que na realidade) e, de baixo para cima, a expansão da classe média, serenou a crise que falava grosso e assustava os que têm a perder. Ninguém podia imaginar que, deslocando-se por fora, iria entrar em cena, em termos de consumo, uma nova fatia da classe média surgida do nada (pelo menos para os teóricos que fazem plantão à espera de uma crise promissora). Desde que o consumo voltou a crescer, graças à redução de impostos e antes que aparecesse a explicação mais conveniente, a classe média passou a ser politicamente mais valiosa do que a mão-de-obra demitida para reduzir custos numa conjuntura de sombras que logo se dissiparam.
O desemprego não floresceu e, em pouco tempo, todos os demitidos foram reconvocados como se nada tivesse acontecido. Só o presidente Lula não teve medo porque, da grande crise de 1929, só sabia por ouvir falar. Mais uma vez, o Brasil que se desloca à margem da História se apresentou como campo de experiência sem teorias. Lula, por falta de convicção, apostou no que viu e acertou no que, por falta de tempo, nem precisou entender, nem ninguém explicou. Era inútil.
Que o eleitorado engrossou, não há dúvida. Nos dois sentidos. Em número e até em disposições (vá lá, pequeno-burguesas). A classe média se reforçou pela via do consumo, graças a estímulos para se endividar, eletro-domesticamente falando, com ímpeto voraz. As urnas apontarão — é o que se saberá oportunamente — melhor do que palpiteiros de ocasião, a preferência dos que entram na democracia pelos portões do consumo, já suficiente para confirmar que sempre há alguma surpresa. Não apenas por ser da natureza das urnas não corresponderem à ilusão segundo a qual uma eleição trás implícita a anterior. A experiência atesta que nenhuma eleição tem a ver com a anterior e com a que vier depois. Pode é ocorrer aqui e ali a mera coincidência em que muitas carreiras naufragam. É o caso também de alguém se eleger por intermédio de outro. Essa gente que está chegando e subindo socialmente para ficar, também não volta atrás. É classe média com sentido pragmático. Voto ensina a votar.
Sem segundas intenções, a classe média veio para ficar e só falta oficializar o novo Dia do Fico na coletânea de surpresas que a História do Brasil registra. Posto de lado o terceiro mandato, não se trata de algo parecido que se descarta por inoportuno, mas é prudente lembrar que não se brinca com ascensão social. Pela cabeça desse eleitor que descobriu o voto como produto social de consumo conspícuo já passam tentações sofisticadas, mesmo para os que vão chegando à classe média como for possível, aos trancos e barrancos. É o que permite desde já considerar à vista a social democracia como solução natural que a ortodoxia teórica abominou desde o Século 19, e o Século 20 não lhe concedeu oportunidade. O 21 está apenas começando.
A eleição geral (presidente, governadores, senadores, deputados) vai dizer alguma coisa a respeito do que se chama de futuro, mas já é, nos sinais exteriores, o presente se impondo. O futuro está retoricamente esgotado. Desde que não se conta mais com revoluções, é por aí mesmo, e pelo que a democracia pode dar conta. Pelo voto.
Não faltará quem veja esse pessoal que se apresenta ao consumo e às urnas como eleitor, com o cartão de crédito e com um pé atrás, ainda à esquerda para não se constranger e parecer liberal, enquanto o alfabeto garantir letras de classificação social aos carentes de saúde, educação e segurança que chegam para se acomodarem, em levas inevitáveis.
A oposição já devia ter percebido que a história não joga amarelinha, antes tem ao seu dispor estoque de surpresas. Por surpresa, deve-se entender também a ocorrência de algo que não é previsível, senão pela estreita margem por onde as pesquisas se expressam com mais cuidado do que ciência. Depois de consumado o episódio eleitoral, o vencedor se contentará com a vitória, mas não sairá atrás das causas que o favorecerem (mais adiante os analistas as recolherão junto ao meio-fio e com elas farão vistosos buquês de explicações exóticas). Derrotas só ensinam a derrotados que não se refugiam em teorias.
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