DEU NO VALOR ECONÔMICO
Raymundo Costa e Raquel Ulhôa, de Brasília
O PSDB formaliza amanhã a pré-candidatura a presidente de José Serra, ex-governador de São Paulo, em aliança com o DEM e o PPS. Em discurso, Serra deve apresentar "um conjunto de valores políticos" que pretende seguir, se for eleito, e como acha que deve ser o Brasil do futuro. O tucano prega o "ativismo estatal", mas não planeja mudar as bases nas quais se assentam a economia - meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Apesar de liderar as pesquisas, Serra precisou de muito tato para assegurar sua escolha pelo PSDB sem rachar o partido, uma vez que o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves também postulava a indicação.
Agora candidato ao Senado, Aécio é peça-chave na equação tucana para vencer a eleição. Segundo o governador Alberto Goldman, que sucedeu Serra, o PSDB vai se empenhar para conseguir em São Paulo uma diferença de votos em relação ao PT "bem mais expressiva do que a que o Geraldo teve". Goldman refere-se aos 11,9 milhões de votos (54,1%) que o candidato em 2006, Geraldo Alckmin, teve contra os 8,09 milhões (36,7%) obtidos pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no primeiro turno (no segundo a diferença diminuiu, mas ainda foi larga: 52,2% a 47,7%). Se o tucano obtiver uma diferença também expressiva em Minas (onde Lula venceu Alckmin em 2006), boa parte da empreitada terá sido alcançada.
O governo aposta no conflito Serra-Aécio para impedir que Minas, há mais de sete anos governada pelo PSDB, seja fiel ao candidato tucano. No discurso que fará amanhã no encontro de lançamento da pré-candidatura, Aécio deve falar de unidade tucana. Ontem, o governador Antonio Anastasia, que sucedeu Aécio e é candidato à reeleição, também limitou ao plano "institucional" suas conversas com Lula e assegurou que a disputa será entre governo e oposição, em Minas Gerais. Caso Serra se mantenha com chances na disputa, os caciques tucanos acham pouco provável que a seção mineira desande em direção ao PT.
Em 2006, inspirada pelo ex-coordenador político do governo Walfrido dos Mares Guia a chapa "Lulécio" - combinação de Lula com Aécio - minou a candidatura de Alckmin em Minas. A diferença, na avaliação dos tucanos, hoje é essa: o candidato do PT não é Lula e nem disputa uma reeleição, é a ex-ministra Casa Civil Dilma Rousseff. São esses fatores que também alimentam o otimismo do governador Alberto Goldman em relação ao desempenho do candidato do PSDB no Estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.
Serra, segundo as pesquisas, vence no Sul do país, mas tem problemas no terceiro maior colégio eleitoral, o Rio de Janeiro, onde perdeu em 2002 por ampla diferença (o ex-governador do Estado Anthony Garotinho também era candidato a presidente, à época): a aliança do PSDB com o PV e o DEM está ameaçada no Estado por conta do veto do PV à associação com o ex-prefeito César Maia (DEM), candidato ao Senado. Na cúpula do PSDB afirma-se que ou os partidos ficam todos juntos ou não haverá aliança na eleição. A aposta mínima tucana é que a candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) deve rachar o eleitorado lulista do Rio.
Serra não subestima a popularidade de Lula, que beira os 80%, de acordo com as últimas pesquisas. Mas aposta na confrontação de currículos dele e da ex-ministra Dilma Rousseff: a Presidência é o único posto importante de fora do currículo do tucano. Desde a volta do exílio, Serra foi secretário do governador Franco Montoro, ministro do Planejamento e da Saúde, nos governos de Fernando Henrique Cardoso, prefeito da capital e governador de São Paulo. Desde a derrota para Lula em 2002, vem numa sequência de vitórias eleitorais - prefeito, em 2004 e governador em 2006.
Até o fim do mês passado, o PT provocava e muitos tucanos acreditavam que Serra não trocaria uma reeleição considerada certa para o governo de São Paulo por uma eleição incerta a presidente, dúvida que crescia na mesma medida do aumento da popularidade de Lula. "Ele é muito popular", costumava repetir o tucano, nas conversas pessoais. Ao mesmo tempo, anunciava aos partidários: "Batalhas não se perdem de véspera". E por mais de uma vez repetiu o bordão preferido do ex-governador paulista Mário Covas: "Lutar, enfrentar e vencer". Esse traço épico apareceria em outras conversas com tucanos, nas quais dizia que não fugiria à sua "responsabilidade com o país". Serra evita criticar Lula, mas é impiedoso com a administração petista. "O plano da habitação é um estelionato (eleitoral) como nunca houve", é seu parecer, por exemplo, sobre o Minha Casa, Minha Vida. "É um estelionato".
O lançamento da pré-candidatura de Serra ocorre num momento de avançadas negociações do PSDB com outros partidos, especialmente PP, PSC e PMN, hoje na base de sustentação do governo, para que seja ampliada a coligação nacional. No caso do PP, a tendência é que o partido não apoie qualquer candidato a presidente, abrindo caminho para as alianças estaduais.
Aliados de Serra dessas legendas - assim como de aliados do PMDB - devem participar do evento, mas não terão direito de usar a palavra. Falarão, apenas, os presidentes do três partidos da aliança - PSDB, DEM e PPS -, o ex-governador Aécio Neves, em nome dos governadores, Fernando Henrique Cardoso e Serra.
À exceção do pré-candidato, todos devem fazer discursos curtos, de até 15 minutos. Entre a fala de FHC e a de Serra será exibido um vídeo de cerca de seis minutos sobre a trajetória pública do ex-governador. "O evento vai surpreender os mais otimistas", disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
Os presidentes dos três partidos devem combinar o tom dos discursos. A expectativa é que Guerra, que será o coordenador-geral da campanha, faça um pronunciamento pregando unidade e mobilização. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), deve assumir tom mais contundente, de críticas ao governo. Já o presidente do PPS, ex-senador Roberto Freire, pode transmitir uma mensagem mais ideológica.
A direção do PSDB comemora alianças fechadas com o PSB, um dos principais partidos da base aliada de Lula, em Estados como Paraíba, Amazonas, Paraná e Alagoas. Há conversas entre as duas legendas em outros Estados, como Espírito Santo.
Além de outras indefinições, Serra está sem palanque no Amazonas e no Ceará. Um caso atípico é o do Ceará, no qual a aliança PSDB, DEM e PPS não tem candidato a governador, e a tendência é que continue assim. Mas a situação do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) - que quer disputar a Presidência da República, mas não tem apoio nem do seu partido e está em rota de colisão com o PT - favoreceria a candidatura presidencial tucana no Ceará, onde os candidatos do PSDB (Serra e Alckmin) encontraram muitas dificuldades nas eleições de 2002 e 2006.
O atrito pode enfraquecer a aliança do governador, Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, com o PT no Estado. Esse quadro pode facilitar a aliança branca de Cid com o senador Tasso Jereissati (PSDB), que disputa a reeleição. Nesse caso, o PSDB tem a expectativa de conquistar para Serra parte do eleitorado de Cid.
Raymundo Costa e Raquel Ulhôa, de Brasília
O PSDB formaliza amanhã a pré-candidatura a presidente de José Serra, ex-governador de São Paulo, em aliança com o DEM e o PPS. Em discurso, Serra deve apresentar "um conjunto de valores políticos" que pretende seguir, se for eleito, e como acha que deve ser o Brasil do futuro. O tucano prega o "ativismo estatal", mas não planeja mudar as bases nas quais se assentam a economia - meta de inflação, superávit primário e câmbio flutuante. Apesar de liderar as pesquisas, Serra precisou de muito tato para assegurar sua escolha pelo PSDB sem rachar o partido, uma vez que o ex-governador de Minas Gerais Aécio Neves também postulava a indicação.
Agora candidato ao Senado, Aécio é peça-chave na equação tucana para vencer a eleição. Segundo o governador Alberto Goldman, que sucedeu Serra, o PSDB vai se empenhar para conseguir em São Paulo uma diferença de votos em relação ao PT "bem mais expressiva do que a que o Geraldo teve". Goldman refere-se aos 11,9 milhões de votos (54,1%) que o candidato em 2006, Geraldo Alckmin, teve contra os 8,09 milhões (36,7%) obtidos pelo atual presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no primeiro turno (no segundo a diferença diminuiu, mas ainda foi larga: 52,2% a 47,7%). Se o tucano obtiver uma diferença também expressiva em Minas (onde Lula venceu Alckmin em 2006), boa parte da empreitada terá sido alcançada.
O governo aposta no conflito Serra-Aécio para impedir que Minas, há mais de sete anos governada pelo PSDB, seja fiel ao candidato tucano. No discurso que fará amanhã no encontro de lançamento da pré-candidatura, Aécio deve falar de unidade tucana. Ontem, o governador Antonio Anastasia, que sucedeu Aécio e é candidato à reeleição, também limitou ao plano "institucional" suas conversas com Lula e assegurou que a disputa será entre governo e oposição, em Minas Gerais. Caso Serra se mantenha com chances na disputa, os caciques tucanos acham pouco provável que a seção mineira desande em direção ao PT.
Em 2006, inspirada pelo ex-coordenador político do governo Walfrido dos Mares Guia a chapa "Lulécio" - combinação de Lula com Aécio - minou a candidatura de Alckmin em Minas. A diferença, na avaliação dos tucanos, hoje é essa: o candidato do PT não é Lula e nem disputa uma reeleição, é a ex-ministra Casa Civil Dilma Rousseff. São esses fatores que também alimentam o otimismo do governador Alberto Goldman em relação ao desempenho do candidato do PSDB no Estado de São Paulo, o maior colégio eleitoral do país.
Serra, segundo as pesquisas, vence no Sul do país, mas tem problemas no terceiro maior colégio eleitoral, o Rio de Janeiro, onde perdeu em 2002 por ampla diferença (o ex-governador do Estado Anthony Garotinho também era candidato a presidente, à época): a aliança do PSDB com o PV e o DEM está ameaçada no Estado por conta do veto do PV à associação com o ex-prefeito César Maia (DEM), candidato ao Senado. Na cúpula do PSDB afirma-se que ou os partidos ficam todos juntos ou não haverá aliança na eleição. A aposta mínima tucana é que a candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC) deve rachar o eleitorado lulista do Rio.
Serra não subestima a popularidade de Lula, que beira os 80%, de acordo com as últimas pesquisas. Mas aposta na confrontação de currículos dele e da ex-ministra Dilma Rousseff: a Presidência é o único posto importante de fora do currículo do tucano. Desde a volta do exílio, Serra foi secretário do governador Franco Montoro, ministro do Planejamento e da Saúde, nos governos de Fernando Henrique Cardoso, prefeito da capital e governador de São Paulo. Desde a derrota para Lula em 2002, vem numa sequência de vitórias eleitorais - prefeito, em 2004 e governador em 2006.
Até o fim do mês passado, o PT provocava e muitos tucanos acreditavam que Serra não trocaria uma reeleição considerada certa para o governo de São Paulo por uma eleição incerta a presidente, dúvida que crescia na mesma medida do aumento da popularidade de Lula. "Ele é muito popular", costumava repetir o tucano, nas conversas pessoais. Ao mesmo tempo, anunciava aos partidários: "Batalhas não se perdem de véspera". E por mais de uma vez repetiu o bordão preferido do ex-governador paulista Mário Covas: "Lutar, enfrentar e vencer". Esse traço épico apareceria em outras conversas com tucanos, nas quais dizia que não fugiria à sua "responsabilidade com o país". Serra evita criticar Lula, mas é impiedoso com a administração petista. "O plano da habitação é um estelionato (eleitoral) como nunca houve", é seu parecer, por exemplo, sobre o Minha Casa, Minha Vida. "É um estelionato".
O lançamento da pré-candidatura de Serra ocorre num momento de avançadas negociações do PSDB com outros partidos, especialmente PP, PSC e PMN, hoje na base de sustentação do governo, para que seja ampliada a coligação nacional. No caso do PP, a tendência é que o partido não apoie qualquer candidato a presidente, abrindo caminho para as alianças estaduais.
Aliados de Serra dessas legendas - assim como de aliados do PMDB - devem participar do evento, mas não terão direito de usar a palavra. Falarão, apenas, os presidentes do três partidos da aliança - PSDB, DEM e PPS -, o ex-governador Aécio Neves, em nome dos governadores, Fernando Henrique Cardoso e Serra.
À exceção do pré-candidato, todos devem fazer discursos curtos, de até 15 minutos. Entre a fala de FHC e a de Serra será exibido um vídeo de cerca de seis minutos sobre a trajetória pública do ex-governador. "O evento vai surpreender os mais otimistas", disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).
Os presidentes dos três partidos devem combinar o tom dos discursos. A expectativa é que Guerra, que será o coordenador-geral da campanha, faça um pronunciamento pregando unidade e mobilização. O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), deve assumir tom mais contundente, de críticas ao governo. Já o presidente do PPS, ex-senador Roberto Freire, pode transmitir uma mensagem mais ideológica.
A direção do PSDB comemora alianças fechadas com o PSB, um dos principais partidos da base aliada de Lula, em Estados como Paraíba, Amazonas, Paraná e Alagoas. Há conversas entre as duas legendas em outros Estados, como Espírito Santo.
Além de outras indefinições, Serra está sem palanque no Amazonas e no Ceará. Um caso atípico é o do Ceará, no qual a aliança PSDB, DEM e PPS não tem candidato a governador, e a tendência é que continue assim. Mas a situação do deputado Ciro Gomes (PSB-CE) - que quer disputar a Presidência da República, mas não tem apoio nem do seu partido e está em rota de colisão com o PT - favoreceria a candidatura presidencial tucana no Ceará, onde os candidatos do PSDB (Serra e Alckmin) encontraram muitas dificuldades nas eleições de 2002 e 2006.
O atrito pode enfraquecer a aliança do governador, Cid Gomes (PSB), irmão de Ciro, com o PT no Estado. Esse quadro pode facilitar a aliança branca de Cid com o senador Tasso Jereissati (PSDB), que disputa a reeleição. Nesse caso, o PSDB tem a expectativa de conquistar para Serra parte do eleitorado de Cid.
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