DEU NO BRASIL ECONÔMICO
O Brasil mostrou durante a crise internacional ser capaz de tomar medidas ágeis e eficazes para sustentar a economia. Mas vem se mostrando lento demais na área do comércio exterior.
Assim, por exemplo, não adotou medida alguma de incentivo para as exportações, mesmo diante de um declínio das vendas externas de produtos manufaturados em nível superior a 30% no período mais crítico de 2009.
Também tardou muito em adotar providências contra a valorização do real causada pela recuperação das expectativas financeiras internacionais e pelo retorno dos capitais que haviam deixado o país com medo de um contágio que acabou não ocorrendo.
Foi só a partir do final do ano passado que o governo voltou a aplicar o IOF na entrada de capitais estrangeiros e instituiu mecanismos que ajudaram a frear as expectativas de valorização do real, como a regulamentação do fundo soberano.
A apreciação da nossa moeda foi interrompida na faixa de R$ 1,70 a R$ 1,75 por dólar em parte por causa dessas medidas. Mais importante foi a mudança da situação externa devido à crise dos países europeus encabeçados pela Grécia.
Na área cambial, teria sido relevante uma atuação anterior do governo para frear a queda da cotação do dólar em um nível superior.
Isto porque a crise internacional inexoravelmente deixaria um rastro de excesso de capacidade de produção industrial a nível global, que agravaria, como de fato agravou, a capacidade brasileira de competir com países como a China em terceiros mercados e no seu próprio mercado interno, cujo dinamismo foi preservado.
Pois bem, a crise na Europa, mesmo em uma hipótese otimista quanto ao seu desdobramento, certamente ampliará a restrição de mercados para a colocação da excedente capacidade mundial de produção.
A Europa já vinha mostrando um baixo crescimento em sua trajetória de recuperação da crise de 2008/2009, tendência que deve ser agravada com os ajustes recessivos que vários países serão obrigados a fazer e pela relutância maior dos bancos em financiar empresas e consumidores desses países.
Isso afetará as exportações de economias como a chinesa, que desejarão compensações em outros mercados. O Brasil poderá sofrer duplamente: devido ao menor dinamismo em suas exportações para a Europa e por um maior assédio do produto importado ao seu mercado interno.
O "pacote" de incentivo à exportação anunciado semana passada tem medidas muito importantes, mas seu maior alcance vai ser sentido apenas no médio prazo e, ainda assim, se forem bem executadas as novas iniciativas que criaram o Eximbank, a nova empresa seguradora e a margem de preferência para o produto nacional em concorrências públicas.
Nenhuma das medidas se destina a neutralizar os efeitos possíveis da crise na Europa. Se o Brasil não conseguir corrigir a valorização da sua moeda, não terá como evitar um ritmo de crescimento das importações que atualmente é superior a 50%, contra um crescimento das exportações que não passa de 20%.
Roberto Freire é presidente do PPS
O Brasil mostrou durante a crise internacional ser capaz de tomar medidas ágeis e eficazes para sustentar a economia. Mas vem se mostrando lento demais na área do comércio exterior.
Assim, por exemplo, não adotou medida alguma de incentivo para as exportações, mesmo diante de um declínio das vendas externas de produtos manufaturados em nível superior a 30% no período mais crítico de 2009.
Também tardou muito em adotar providências contra a valorização do real causada pela recuperação das expectativas financeiras internacionais e pelo retorno dos capitais que haviam deixado o país com medo de um contágio que acabou não ocorrendo.
Foi só a partir do final do ano passado que o governo voltou a aplicar o IOF na entrada de capitais estrangeiros e instituiu mecanismos que ajudaram a frear as expectativas de valorização do real, como a regulamentação do fundo soberano.
A apreciação da nossa moeda foi interrompida na faixa de R$ 1,70 a R$ 1,75 por dólar em parte por causa dessas medidas. Mais importante foi a mudança da situação externa devido à crise dos países europeus encabeçados pela Grécia.
Na área cambial, teria sido relevante uma atuação anterior do governo para frear a queda da cotação do dólar em um nível superior.
Isto porque a crise internacional inexoravelmente deixaria um rastro de excesso de capacidade de produção industrial a nível global, que agravaria, como de fato agravou, a capacidade brasileira de competir com países como a China em terceiros mercados e no seu próprio mercado interno, cujo dinamismo foi preservado.
Pois bem, a crise na Europa, mesmo em uma hipótese otimista quanto ao seu desdobramento, certamente ampliará a restrição de mercados para a colocação da excedente capacidade mundial de produção.
A Europa já vinha mostrando um baixo crescimento em sua trajetória de recuperação da crise de 2008/2009, tendência que deve ser agravada com os ajustes recessivos que vários países serão obrigados a fazer e pela relutância maior dos bancos em financiar empresas e consumidores desses países.
Isso afetará as exportações de economias como a chinesa, que desejarão compensações em outros mercados. O Brasil poderá sofrer duplamente: devido ao menor dinamismo em suas exportações para a Europa e por um maior assédio do produto importado ao seu mercado interno.
O "pacote" de incentivo à exportação anunciado semana passada tem medidas muito importantes, mas seu maior alcance vai ser sentido apenas no médio prazo e, ainda assim, se forem bem executadas as novas iniciativas que criaram o Eximbank, a nova empresa seguradora e a margem de preferência para o produto nacional em concorrências públicas.
Nenhuma das medidas se destina a neutralizar os efeitos possíveis da crise na Europa. Se o Brasil não conseguir corrigir a valorização da sua moeda, não terá como evitar um ritmo de crescimento das importações que atualmente é superior a 50%, contra um crescimento das exportações que não passa de 20%.
Roberto Freire é presidente do PPS
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