DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Corte de gasto parece mais tentativa de desfazer impressão de que país vive bolha e de que tem "vício grego"
É TÃO inusitado o corte de despesas que o governo Lula anunciou que a história ainda dá o que pensar. É inegável que a medida é também sensata, sob vários aspectos. Logo, qual o problema? Entender claramente o motivo da medida.
Os ministérios da Fazenda e do Planejamento dizem que o objetivo é evitar o superaquecimento da economia, o decorrente aumento da inflação e, assim, altas maiores de juros da parte do Banco Central.
Há estimativas, como a dos economistas do Itaú Unibanco, de que a economia tenha crescido ao ritmo anualizado de 12% no primeiro trimestre de 2010 (ou 8,5%, segundo o governo).
Mas quando o governo "descobriu" que o excesso de gastos públicos provocaria outros exageros na economia? A reviravolta do governo parece estranha pelo seguinte:
1) Pelo menos desde 2005, praticamente não houve coordenação entre política monetária (juros) e fiscal (gastos e impostos). Isto é, enquanto o governo gastava, estimulando a demanda, ou baixava juros do BNDES, o BC agia para conter o crédito, elevando juros ou os mantendo na Lua. Um desperdício de energia e de dinheiro, muito dinheiro. O que mudou agora?
2) O governo promoveu aumentos permanentes de gastos durante 2009 inteiro e ainda no começo deste ano. Quando caiu a ficha do excesso de gastos?
3) Até março, e ainda depois disso, com menos ênfase, o Ministério da Fazenda dizia que a inflação era "transitória", devida a um ou outro choque de preços passageiro;4) O corte anunciado não parece suficiente nem ao menos para o cumprimento da meta de superavit primário deste ano, de 3,3% do PIB (isto é, o quanto o governo vai poupar, descontada a despesa com juros). Vai haver mais cortes? O governo vai divulgá-los a conta-gotas?
5) A contenção de gastos vai ter escasso efeito, se algum, sobre a inflação e sobre a alta de juros deste ano. A reviravolta da Fazenda e do Planejamento é, pois, algo esquisita. O que houve de novo de dois, três meses para cá? Isto é, que motivo novo influencia a mudança de rumo?
Evidentemente, e isso é reconhecido pela própria Fazenda, agora, a economia está crescendo acima das expectativas de todo mundo, do mercado a Brasília.
Em segundo lugar, os resultados fiscais (superavit) do governo federal foram fracos no início do ano. Para piorar, o Congresso se sente à vontade para estourar a boca do cofre. Estava mais do que na cara que o governo teria (terá?) de fazer mágicas e milagres contábeis para fechar as contas na meta (meta para inglês ver, caso se considerem como poupança os investimentos do PAC).
Terceiro, houve o tumulto greco-europeu. A sangria da crise da dívida da União Europeia está remediada com um esparadrapo de quase US$ 1 trilhão, mas não acabou. Ainda há vítimas potenciais na fila da insolvência. Países com contas mais em ordem podem conseguir, no mínimo, uma vacina contra epidemias financeiras.
Talvez o susto maior tenha vindo daí, do medo de contágio: de passar a impressão de que havia uma bolha de crescimento e de que as contas fiscais se encaminhassem para o vinagre.
Corte de gasto parece mais tentativa de desfazer impressão de que país vive bolha e de que tem "vício grego"
É TÃO inusitado o corte de despesas que o governo Lula anunciou que a história ainda dá o que pensar. É inegável que a medida é também sensata, sob vários aspectos. Logo, qual o problema? Entender claramente o motivo da medida.
Os ministérios da Fazenda e do Planejamento dizem que o objetivo é evitar o superaquecimento da economia, o decorrente aumento da inflação e, assim, altas maiores de juros da parte do Banco Central.
Há estimativas, como a dos economistas do Itaú Unibanco, de que a economia tenha crescido ao ritmo anualizado de 12% no primeiro trimestre de 2010 (ou 8,5%, segundo o governo).
Mas quando o governo "descobriu" que o excesso de gastos públicos provocaria outros exageros na economia? A reviravolta do governo parece estranha pelo seguinte:
1) Pelo menos desde 2005, praticamente não houve coordenação entre política monetária (juros) e fiscal (gastos e impostos). Isto é, enquanto o governo gastava, estimulando a demanda, ou baixava juros do BNDES, o BC agia para conter o crédito, elevando juros ou os mantendo na Lua. Um desperdício de energia e de dinheiro, muito dinheiro. O que mudou agora?
2) O governo promoveu aumentos permanentes de gastos durante 2009 inteiro e ainda no começo deste ano. Quando caiu a ficha do excesso de gastos?
3) Até março, e ainda depois disso, com menos ênfase, o Ministério da Fazenda dizia que a inflação era "transitória", devida a um ou outro choque de preços passageiro;4) O corte anunciado não parece suficiente nem ao menos para o cumprimento da meta de superavit primário deste ano, de 3,3% do PIB (isto é, o quanto o governo vai poupar, descontada a despesa com juros). Vai haver mais cortes? O governo vai divulgá-los a conta-gotas?
5) A contenção de gastos vai ter escasso efeito, se algum, sobre a inflação e sobre a alta de juros deste ano. A reviravolta da Fazenda e do Planejamento é, pois, algo esquisita. O que houve de novo de dois, três meses para cá? Isto é, que motivo novo influencia a mudança de rumo?
Evidentemente, e isso é reconhecido pela própria Fazenda, agora, a economia está crescendo acima das expectativas de todo mundo, do mercado a Brasília.
Em segundo lugar, os resultados fiscais (superavit) do governo federal foram fracos no início do ano. Para piorar, o Congresso se sente à vontade para estourar a boca do cofre. Estava mais do que na cara que o governo teria (terá?) de fazer mágicas e milagres contábeis para fechar as contas na meta (meta para inglês ver, caso se considerem como poupança os investimentos do PAC).
Terceiro, houve o tumulto greco-europeu. A sangria da crise da dívida da União Europeia está remediada com um esparadrapo de quase US$ 1 trilhão, mas não acabou. Ainda há vítimas potenciais na fila da insolvência. Países com contas mais em ordem podem conseguir, no mínimo, uma vacina contra epidemias financeiras.
Talvez o susto maior tenha vindo daí, do medo de contágio: de passar a impressão de que havia uma bolha de crescimento e de que as contas fiscais se encaminhassem para o vinagre.
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