DEU EM O GLOBO
Desabrigados de Barreiros, em Pernambuco, se instalaram nas margens das rodovias e, no meio da lama podre, disputam comida e destroços.
Restos viram alimentos, e escombros, barracos
Às margens de rodovia estadual, vítimas das chuvas no interior de Pernambuco reviram montes de destroços
Letícia Lins
BARREIROS (PE). Mais de uma semana após o começo das chuvas e um dia após a visita do presidente Lula à região devastada em Pernambuco, um batalhão de desabrigados ocupava ontem as margens das rodovias para matar a fome, a sede e tentar refazer suas vidas.
Entre os escombros cobertos de lama podre, no meio do lixo, procuravam comida, separavam colchões e lençóis e até pedaços de madeira para reconstruir seus barracos.
Terreno às margens de rodovia torna-se lixão Um dos terrenos laterais da rodovia estadual PE-060 transformouse num lixão, onde estão sendo despejados escombros que sobraram da enchente do Rio Una, que cobriu a cidade de Barreiros, a 110 quilômetros da capital. Enfrentando o mau cheiro, sem luvas e quase sempre descalços, adultos e crianças disputavam os destroços atirados pelas caçambas.
— Estou procurando um taquinho de tábua para ver se ajeito um barraquinho. Desde segunda-feira procuro os pedaços no meio dessa lama, para ver se faço uma casinha para minha filha. Ela perdeu tudo na cheia e agora não tem onde morar com os três filhos — contou o desempregado José Amaro de Souza.Ao seu lado, Maria José da Silva, com três dos oito filhos, conseguiu achar roupas, colchão, dois travesseiros e um pacote de biscoitos. Tudo coberto de massa negra e fedorenta.
— O biscoito estava embrulhado, dá para comer. O resto a gente lava, dá para aproveitar — disse Maria José.
Maria Lourdes Ferreira, de 35 anos, acreditava que conseguiria fazer alguns trocados com o que tirava das montanhas cinzentas: — Minha casa valia R$ 8 mil, mas dela só ficou a terra. Perdi todos os móveis. Estou procurando plástico, alumínio, qualquer coisa que possa vender.
Não tenho mais nem documento.
— afirmou Lourdes, que, como Maria José, morava num bairro totalmente inundado.
Centenas de pessoas encontramse ao relento às margens da PE-60, perto da ponte sobre o Rio Una que dá acesso ao Centro de Barreiros. Até ontem, tinham recebido apenas água e pães com mortadela. Alguns se acomodaram num imóvel próximo à sede de uma usina, e outros improvisaram barracas de lona. Um bebê de um mês só contava com um estoque de 200 gramas de leite.
Depois de perder a casa, Maria José Alves da Silva mora sob uma barraca, cujas paredes são a carroceria abandonada de um caminhão, com seus quatro filhos, inclusive um bebê de um mês. A mobília se resume a uma cama, uma cadeira e um fogão de duas bocas.
— Meu mesmo, aqui, só tem o botijão de gás. O resto é emprestado — disse ela.
Arranjar comida é “uma guerra”, diz desabrigada Zorilda Oliveira da Silva, de 48 anos, andava na sexta-feira com um saco plástico amarrado no pescoço.
— Foi a herança que a enchente deixou, esse saco com meus documentos.
Do outro lado da rodovia, sob uma lona negra, cinco famílias aguardavam por doações.
Maria de Fátima da Silva, de 39 anos, contou tem sido “uma guerra” arranjar comida: — Quando chega alguma coisa avançam em cima. .
Perto dali, Cícera Maria da Silva, de 54 anos, com uma vassoura, lavava o chão de cerâmica dos quartos e terraço daquilo que ela provavelmente sonhava ainda ser uma casa.
Das paredes, só restou metade.
Parte de portas e janelas foi levada pela correnteza.
O número de municípios atingidos pelas enchentes subiu para 67, segundo a Comissão de defesa Civil de Pernambuco.
Destes, 29 encontram-se em situação de emergência e nove em calamidade, com decreto homologado pelo Governador Eduardo Campos (PSB).
Entre eles, encontram-se Barreiros, Água Preta e Palmares, visitada na quinta-feira por Lula.
Entre desabrigados e desalojados, o estado soma 83.912 pessoas. O número de mortos permanece 17. O número de casas derrubadas é de 11.748, com 4.334 quilômetros de rodovias danificadas, e 10 mil quilômetros de estradas vicinais destruídas. As pontes que ruíram já são 132, segundo o governo do estado.
Desabrigados de Barreiros, em Pernambuco, se instalaram nas margens das rodovias e, no meio da lama podre, disputam comida e destroços.
Restos viram alimentos, e escombros, barracos
Às margens de rodovia estadual, vítimas das chuvas no interior de Pernambuco reviram montes de destroços
Letícia Lins
BARREIROS (PE). Mais de uma semana após o começo das chuvas e um dia após a visita do presidente Lula à região devastada em Pernambuco, um batalhão de desabrigados ocupava ontem as margens das rodovias para matar a fome, a sede e tentar refazer suas vidas.
Entre os escombros cobertos de lama podre, no meio do lixo, procuravam comida, separavam colchões e lençóis e até pedaços de madeira para reconstruir seus barracos.
Terreno às margens de rodovia torna-se lixão Um dos terrenos laterais da rodovia estadual PE-060 transformouse num lixão, onde estão sendo despejados escombros que sobraram da enchente do Rio Una, que cobriu a cidade de Barreiros, a 110 quilômetros da capital. Enfrentando o mau cheiro, sem luvas e quase sempre descalços, adultos e crianças disputavam os destroços atirados pelas caçambas.
— Estou procurando um taquinho de tábua para ver se ajeito um barraquinho. Desde segunda-feira procuro os pedaços no meio dessa lama, para ver se faço uma casinha para minha filha. Ela perdeu tudo na cheia e agora não tem onde morar com os três filhos — contou o desempregado José Amaro de Souza.Ao seu lado, Maria José da Silva, com três dos oito filhos, conseguiu achar roupas, colchão, dois travesseiros e um pacote de biscoitos. Tudo coberto de massa negra e fedorenta.
— O biscoito estava embrulhado, dá para comer. O resto a gente lava, dá para aproveitar — disse Maria José.
Maria Lourdes Ferreira, de 35 anos, acreditava que conseguiria fazer alguns trocados com o que tirava das montanhas cinzentas: — Minha casa valia R$ 8 mil, mas dela só ficou a terra. Perdi todos os móveis. Estou procurando plástico, alumínio, qualquer coisa que possa vender.
Não tenho mais nem documento.
— afirmou Lourdes, que, como Maria José, morava num bairro totalmente inundado.
Centenas de pessoas encontramse ao relento às margens da PE-60, perto da ponte sobre o Rio Una que dá acesso ao Centro de Barreiros. Até ontem, tinham recebido apenas água e pães com mortadela. Alguns se acomodaram num imóvel próximo à sede de uma usina, e outros improvisaram barracas de lona. Um bebê de um mês só contava com um estoque de 200 gramas de leite.
Depois de perder a casa, Maria José Alves da Silva mora sob uma barraca, cujas paredes são a carroceria abandonada de um caminhão, com seus quatro filhos, inclusive um bebê de um mês. A mobília se resume a uma cama, uma cadeira e um fogão de duas bocas.
— Meu mesmo, aqui, só tem o botijão de gás. O resto é emprestado — disse ela.
Arranjar comida é “uma guerra”, diz desabrigada Zorilda Oliveira da Silva, de 48 anos, andava na sexta-feira com um saco plástico amarrado no pescoço.
— Foi a herança que a enchente deixou, esse saco com meus documentos.
Do outro lado da rodovia, sob uma lona negra, cinco famílias aguardavam por doações.
Maria de Fátima da Silva, de 39 anos, contou tem sido “uma guerra” arranjar comida: — Quando chega alguma coisa avançam em cima. .
Perto dali, Cícera Maria da Silva, de 54 anos, com uma vassoura, lavava o chão de cerâmica dos quartos e terraço daquilo que ela provavelmente sonhava ainda ser uma casa.
Das paredes, só restou metade.
Parte de portas e janelas foi levada pela correnteza.
O número de municípios atingidos pelas enchentes subiu para 67, segundo a Comissão de defesa Civil de Pernambuco.
Destes, 29 encontram-se em situação de emergência e nove em calamidade, com decreto homologado pelo Governador Eduardo Campos (PSB).
Entre eles, encontram-se Barreiros, Água Preta e Palmares, visitada na quinta-feira por Lula.
Entre desabrigados e desalojados, o estado soma 83.912 pessoas. O número de mortos permanece 17. O número de casas derrubadas é de 11.748, com 4.334 quilômetros de rodovias danificadas, e 10 mil quilômetros de estradas vicinais destruídas. As pontes que ruíram já são 132, segundo o governo do estado.
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