DEU NO JORNAL DO BRASIL (online)
Coube a um ex - p re s i d e n t e lembrar ao presidente que, em dois meses e picos, estarão finalmente nivelados pela condição de quem deixou de ser.
Acabou. Mas não é tão simples.
Falando de ex para ex, em plano de igualdade, batem de frente dois egos explosivos, mas o mineiro com a vantagem de portador de mandato de senador novo em folha Itamar Franco encarregou-se de alertar o presidente Lula sobre o desconforto de ficar sem os berloques do mandato.
Avisa que, sem a veleidade de atenuar o choque com a franqueza, que é sua marca, o presidente vai aprender que o poder não é eterno, um dia tudo acaba e vai ver o que é bom depois de deixar o poder.
A ordem dos fatores não altera o produto.
Entrevista de Itamar Franco não costuma ser o que Marques Rebelo definiu como tricô de vácuo, que é dizer o óbvio para aproveitar o microfone oferecido pelo repórter. E Lula especializou- se, depois que o mensalão derrubou a estrutura da Casa Civil na metade do primeiro mandato, em usar o microfone como quem faz psicanálise.
Não deixa de ser uma terapia aberta. Aliás, escancarada.
Segundo os lulistas mais próximos, o acidente de percurso o mensalão ocorreu antes que fosse tarde. Do ponto de vista da oposição, apanhada no contrapé, foi cedo demais. Estava despreparada para tirar proveito do espetáculo que não estava no programa. Ainda fumegam as cinzas do incêndio que lavrou na casa de comando operacional do primeiro mandato e chamuscou agora a própria candidatura da que viria a ser a maior beneficiária: Dilma Rousseff. Quem pagou a conta da despesa que não foi exclutoso com o padrão feminino vigente na ilha de Creta, Pigmalião se propôs esculpir a imagem da mulher perfeita e, terminada a obra, sucumbiu aos seus encantos.
Recorreu então à deusa Afrodite, que atendeu ao seu pedido e deu vida à escultura. É o que, em psicologia, se chama de efeito Pigmalião, que vem a ser a maneira humana de se comportar em relação às nossas expectativas.
Pelo menos no modo de dizer, Pigmalião encaixou as expectativas na realidade, de acordo com os seus desejos.
Desde o começo, Lula vive, em relação à candidatura Dilma Rousseff, o problema de Pigmalião, mas, para cima, não tem a quem apelar. Apelou para baixo, e a campanha eleitoral, com Dilma no papel da escultura, se enrolou em assuntos marginais, como aborto, retalhos metafísicos e matéria de que não se cogitava em Chipre.
O episódio de Pigmalião foi adaptado ao teatro por Bernard Shaw, mas no figurino dos tempos modernos: o personagem Henry Higgins, um professor de linguística, preferiu trabalhar com uma jovem de origem popular (Eliza Doolittle), que se exprimia em gíria estridente, e a transformou em mulher da sociedade inglesa, com pronúncia perfeita. Lula, no papel de Pìgmalião, podia ter aproveitado a deixa (que o cinema popularizou no musical My fair lady) e agregado à sucessão um toque sofisticado de esquerda.
A crer nas pesquisas, aceitou o risco de ficar para outra oportunidade, que não há de faltar.
A não ser, claro, que a própria Dilma Rousseff, com a ajuda de Afrodite. se habilite à tentação de dar uma dentada no segundo mandato que, no caso de ser bem sucedida agora, deixará a maçã ao alcance de seu gesto.
Voltando ao Brasil, o senador Itamar Franco vocalizou com veemência, enquanto é tempo de prevenir, tudo que os demais, na mesma situação de ex-presidentes, mesmo estando de acordo, deglutem com dificuldade. Ele, Itamar, porém, optou pelo contrário. Movido pela indignação cívica, o ex-presidente rasgou o verbo: entende que não pode mais ser condescendente com o personagem que saiu do texto. E, aproveitando a oportunidade, declara-se enfarado sivamente dele foi José Dirceu.
Uma coisa levou à outra: Lula bateu de frente com a resistência ao terceiro mandato, contornada com um desvio (o empréstimo do quadriênio a Dilma Rousseff, sem reeleição) e fez da Dilma sua peça. Mais uma vez, o preterido foi José Dirceu.
Trata-se de assunto eterno, no molde resolvido definitivamente entre o escultor Pigmalião e sua obra-prima, com a interferência da deusa Afrodite. Celibatário por princípío e desgos- com Dilma Rousseff, que é candidata de uma nota só, e fala sem convicção, como se tivesse decorado o texto de autoria alheia.
Itamar proclama: Lula não é um democrata!... Nunca antes neste país....
Nunca mesmo se viu tanto desrespeito ao exercício do mandato presidencial. Tudo é ele. Ninguém faz nada, ele faz tudo, principalmente o que não devia. Só Lula sabe o que é bom para este país? Que se ouçam as urnas, porque s pesquisas não dizem tudo.
Coube a um ex - p re s i d e n t e lembrar ao presidente que, em dois meses e picos, estarão finalmente nivelados pela condição de quem deixou de ser.
Acabou. Mas não é tão simples.
Falando de ex para ex, em plano de igualdade, batem de frente dois egos explosivos, mas o mineiro com a vantagem de portador de mandato de senador novo em folha Itamar Franco encarregou-se de alertar o presidente Lula sobre o desconforto de ficar sem os berloques do mandato.
Avisa que, sem a veleidade de atenuar o choque com a franqueza, que é sua marca, o presidente vai aprender que o poder não é eterno, um dia tudo acaba e vai ver o que é bom depois de deixar o poder.
A ordem dos fatores não altera o produto.
Entrevista de Itamar Franco não costuma ser o que Marques Rebelo definiu como tricô de vácuo, que é dizer o óbvio para aproveitar o microfone oferecido pelo repórter. E Lula especializou- se, depois que o mensalão derrubou a estrutura da Casa Civil na metade do primeiro mandato, em usar o microfone como quem faz psicanálise.
Não deixa de ser uma terapia aberta. Aliás, escancarada.
Segundo os lulistas mais próximos, o acidente de percurso o mensalão ocorreu antes que fosse tarde. Do ponto de vista da oposição, apanhada no contrapé, foi cedo demais. Estava despreparada para tirar proveito do espetáculo que não estava no programa. Ainda fumegam as cinzas do incêndio que lavrou na casa de comando operacional do primeiro mandato e chamuscou agora a própria candidatura da que viria a ser a maior beneficiária: Dilma Rousseff. Quem pagou a conta da despesa que não foi exclutoso com o padrão feminino vigente na ilha de Creta, Pigmalião se propôs esculpir a imagem da mulher perfeita e, terminada a obra, sucumbiu aos seus encantos.
Recorreu então à deusa Afrodite, que atendeu ao seu pedido e deu vida à escultura. É o que, em psicologia, se chama de efeito Pigmalião, que vem a ser a maneira humana de se comportar em relação às nossas expectativas.
Pelo menos no modo de dizer, Pigmalião encaixou as expectativas na realidade, de acordo com os seus desejos.
Desde o começo, Lula vive, em relação à candidatura Dilma Rousseff, o problema de Pigmalião, mas, para cima, não tem a quem apelar. Apelou para baixo, e a campanha eleitoral, com Dilma no papel da escultura, se enrolou em assuntos marginais, como aborto, retalhos metafísicos e matéria de que não se cogitava em Chipre.
O episódio de Pigmalião foi adaptado ao teatro por Bernard Shaw, mas no figurino dos tempos modernos: o personagem Henry Higgins, um professor de linguística, preferiu trabalhar com uma jovem de origem popular (Eliza Doolittle), que se exprimia em gíria estridente, e a transformou em mulher da sociedade inglesa, com pronúncia perfeita. Lula, no papel de Pìgmalião, podia ter aproveitado a deixa (que o cinema popularizou no musical My fair lady) e agregado à sucessão um toque sofisticado de esquerda.
A crer nas pesquisas, aceitou o risco de ficar para outra oportunidade, que não há de faltar.
A não ser, claro, que a própria Dilma Rousseff, com a ajuda de Afrodite. se habilite à tentação de dar uma dentada no segundo mandato que, no caso de ser bem sucedida agora, deixará a maçã ao alcance de seu gesto.
Voltando ao Brasil, o senador Itamar Franco vocalizou com veemência, enquanto é tempo de prevenir, tudo que os demais, na mesma situação de ex-presidentes, mesmo estando de acordo, deglutem com dificuldade. Ele, Itamar, porém, optou pelo contrário. Movido pela indignação cívica, o ex-presidente rasgou o verbo: entende que não pode mais ser condescendente com o personagem que saiu do texto. E, aproveitando a oportunidade, declara-se enfarado sivamente dele foi José Dirceu.
Uma coisa levou à outra: Lula bateu de frente com a resistência ao terceiro mandato, contornada com um desvio (o empréstimo do quadriênio a Dilma Rousseff, sem reeleição) e fez da Dilma sua peça. Mais uma vez, o preterido foi José Dirceu.
Trata-se de assunto eterno, no molde resolvido definitivamente entre o escultor Pigmalião e sua obra-prima, com a interferência da deusa Afrodite. Celibatário por princípío e desgos- com Dilma Rousseff, que é candidata de uma nota só, e fala sem convicção, como se tivesse decorado o texto de autoria alheia.
Itamar proclama: Lula não é um democrata!... Nunca antes neste país....
Nunca mesmo se viu tanto desrespeito ao exercício do mandato presidencial. Tudo é ele. Ninguém faz nada, ele faz tudo, principalmente o que não devia. Só Lula sabe o que é bom para este país? Que se ouçam as urnas, porque s pesquisas não dizem tudo.
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