domingo, 17 de outubro de 2010

A Terceira Via Brasileira:: Vagner Gomes de Souza

As eleições presidenciais brasileiras ingressam numa terceira experiência em que haverá um Segundo Turno eleitoral polarizado entre PT/aliados e PSDB/aliados. Significativa é a lembrança de que o PMDB ocupava a Vice-presidência na derrota “tucana” de 2002. Tratava-se de um PMDB muito fragmentado ao ponto de Jorge Picciani (ele mesmo...liderar uma dissidência em favor de Lula no Estado do Rio de Janeiro para que esse gesto caísse no esquecimento de muitos companheiros petistas). Nos dias atuais seria ingenuidade afirmar que o PMDB encontra-se UNIDO, mas aparentemente não há sinais de forte dissidência. No máximo haveria um cálculo pragmático sobre custos e benefícios de aceitar a condução da Presidência da Câmara dos Deputados ao PT.

A Terceira via Brasileira ainda não se fez presente na “máquina partidária do PMDB”, o que está viabilizando as “máquinas do fundamentalismo religioso” a articularem suas condições de apoio político. Muito significativa a posição do Deputado Federal mais votado do Rio de Janeiro que condiciona seu apoio a candidatura do “lulismo” ao Veto ao PNDH-3. Os evangélicos estão sendo confundidos como um eleitorado homogêneo como se o protestantismo fosse uma via de mão única. Há muito de mobilização dos “neopetencostais” para atender interesses fisiológicos, o que pode ser visto na atuação de um reeleito Deputado Federal do PMDB no Rio de Janeiro que é “campeão” de indicações para cargos de segundo e terceiro escalão no Governo Federal mas segundo ele, “o povo merece respeito”, o tema dos valores cristãos são prioridade.

Emergem diversas pequenas políticas de grupos oportunistas uma vez que o Partido Verde não declara uma posição política clara. A possível neutralidade do Partido Verde e de Marina Silva só vai deixar a competição do Segundo Turno sob o perigo do fortalecimento dos “grupos políticos” do “Pântano” no processo da Revolução Francesa. Diante disso, há um eleitorado que faz parte de uma “cultura política” de terceira via em nosso país que não se identifica com nenhum “ator político”. Esse eleitorado é sinalizado quando identificamos que tanto o candidato do PSDB quanto a candidata do PT apresentam um índice de rejeição estável de 35%. Observamos que há 30% do eleitorado que tanto faz votar numa ou noutra opção desde que haja uma vertente política sinalizada pela continuidade.

Em 2002, a continuidade foi votar em Lula diante do temor de que a vitória tucana implicaria num novo plano econômico diante dos “ataques especulativos” ao Real. O eleitor médio temia que estivesse vivendo o fim de uma farsa. Em 2006, a continuidade fez Lula ser reinventado no Segundo Turno ao questionar a Privatização se calou sobre a Reforma da Previdência que implementou no seu primeiro mandato. Eleitores do PSOL e do PDT não perceberam essa sutil movimentação do discurso e votaram na continuidade. Em 2006, o eleitorado da terceira via já foi simpático de todos os três principais candidatos. Começou o ano colocando o PSDB em primeiro lugar. No segundo trimestre, descobriu a continuidade “lulista” numa mulher indicada mais pelo Presidente do que pelo PT. Ao final do primeiro turno, parte desse eleitorado migrou para a candidata do PV em defesa da continuidade dos valores cristãos. Qual continuidade vai se fazer evidente nas próximas semanas? Há uma hipótese pessimista que indica o fortalecimento do “fundamentalismo religioso” associado ao fisiologismo caso a caso nos estados. Entretanto, há também a continuidade do “centro político”. A candidatura que souber ocupar esse espaço sem aparentar oportunismo político será vitoriosa. Mais uma vez a Terceira Via brasileira está no Centro. Assim, desejamos que esteja cultuando valores democráticos e laicos.


[1] Mestre em Sociologia (CPDA-UFRRJ). Dirigente e militante do PPS na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

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