DEU EM O GLOBO
O cientista político Cesar Romero Jacob, diretor da editora da PUC, coordena uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses que estuda a "geografia do voto" nas eleições presidenciais do Brasil. Eles terminaram o mapeamento da disputa do primeiro turno deste ano, completando a cartografia das seis eleições da redemocratização, de 1989 a 2006.
Através dos mapas, identificam-se as nuances do processo eleitoral, explica Romero Jacob, que ressalta que o mapa da votação de Dilma Rousseff este ano é muito semelhante ao de Lula em 2006, mas tem diferenças que podem ser exploradas no segundo turno.
Mesmo que o percentual dos dois tenha sido muito parecido - Lula teve 46% em 2002 e 48% em 2006, e Dilma teve agora 47%.
Dilma, em relação a Lula na última eleição, cai em umas regiões e cresce em outras. Por exemplo, aumentou a votação no Sul do país, no Rio Grande do Sul, sobretudo, mas também tem crescimento em Santa Catarina e Paraná, além de melhorar a votação na área de agronegócio.
Mesmo que essa região tenha votado a favor de Serra - venceu em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso -, houve crescimento da votação do PT.
Mas ela caiu em muitas outras áreas, até 25 pontos, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo (onde a queda foi geral), no leste de Minas, (mas cresce no Oeste mineiro), no litoral da Bahia e Pernambuco (mas cresce no interior dos dois estados) e nos estados de Rio Grande do Norte e Paraíba. Caiu também no Maranhão.
Mesmo que ela tenha vencido as eleições nesses estados, houve uma queda em comparação com a votação de Lula em 2006.
Na área do agronegócio, que tem se caracterizado nas últimas eleições por um voto contrário ao governo devido à valorização do real, que prejudica as exportações, houve uma estratégia do PT para crescer no Sul e no Centro-Oeste, reduzindo a diferença a favor do PSDB.
No Nordeste e no Sudeste, Dilma venceu no primeiro turno, mas teve votação menor do que Lula obteve em 2006. A estratégia de Lula de lançar uma candidata que nasceu em Minas e fez sua vida política no Rio Grande do Sul deu bons resultados para o governo, avalia Romero Jacob.
Ela manteve a vitória do PT em Minas e retomou o Rio Grande do Sul para o partido. Talvez esse crescimento de Dilma em Santa Catarina, Paraná e no Centro-Oeste possa ter sido fruto de um certo espírito gaúcho, comenta Cesar Romero Jacob, lembrando que nessa região Leonel Brizola sempre teve muito voto.
Os mapas de votação mostram também que há uma queda na votação petista na faixa litorânea, a partir do Rio Grande do Norte.
O mapa de votação de Serra também é muito parecido com o de Geraldo Alckmin em 2006. Há uma área contínua que pega o Sul do país, o Centro-Oeste, São Paulo e uma parte de Minas onde prevalece o voto tucano.
Mas, quando comparamos a votação deste ano com a de 2006, verificamos que há uma queda em toda essa região. Serra, com 33% dos votos, superou sua própria votação em 2002, que foi de 23%, mas ficou nove pontos percentuais abaixo da votação de Alckmin em 2006, de 42%.
Essa diferença foi absorvida em alguns lugares por Dilma, e em outros por Marina. Assim como Dilma, nas áreas em que diminuiu a votação, ela perdeu ou para Serra ou para Marina.
O mapa da votação de Serra mostra também um crescimento em regiões onde o PSDB não costumava vencer: no norte do Rio de Janeiro, especialmente em Campos; no Espírito Santo; na Bahia; em Governador Valadares, em Minas; e no Acre.
Esses nove pontos percentuais de eleitores que votaram em Alckmin no primeiro turno de 2006 muito provavelmente voltarão em sua maioria para Serra no segundo turno, avalia Romero Jacob.
O mapa de abstenção, votos em branco e nulos do primeiro turno, demonstra que as regiões Norte e Nordeste, onde Dilma teve seu melhor desempenho, tiveram o maior nível, chegando em certas áreas a 45% dos eleitores.
Já na eleição do segundo turno, o perigo maior é nas regiões Sul e Sudeste, onde os cidadãos de maior renda podem viajar no feriadão.
Mas há uma nova classe média emergente que também está viajando mais, e que pode ser também prejudicial a Dilma.
No caso do mapa de votação de Marina Silva, há uma área contínua no Sudeste do país: em São Paulo, Marina teve 20% dos votos, que tirou, na maioria, de Serra, que teve 40% dos votos, ficando distante de Alckmin, com 50% de votos para governador.
Já em Minas, Romero Jacob acha que ela tira votos de Dilma, que teve 47% dos votos contra 21% de Marina. No Rio de Janeiro, Dilma vence com 44%, mas Marina teve 32%. No Espírito Santo, Dilma teve 37% e Marina, 26%.
Outro elemento que chama a atenção é o desempenho de Marina no Oeste do Tocantins, onde os estudos mostram que há uma concentração evangélica muito grande.
Não foi à toa que Garotinho teve um bom desempenho naquela região na eleição de 2002.
Na votação de Marina em Brasília, única unidade da Federação em que ela venceu a eleição, os estudos de Cesar Romero Jacob apontam influência decisiva dos votos evangélicos nas cidades-satélites do entorno da capital.
Esses votos de Marina no Sudeste podem definir a eleição no segundo turno, e não é por outra razão que as duas campanhas estão priorizando São Paulo, Minas e Rio de Janeiro na reta final da campanha.
Os mapas coloridos que mostram a distribuição dos votos dos candidatos e a comparação com a eleição de 2006 podem ser vistos no endereço .
O cientista político Cesar Romero Jacob, diretor da editora da PUC, coordena uma equipe de pesquisadores brasileiros e franceses que estuda a "geografia do voto" nas eleições presidenciais do Brasil. Eles terminaram o mapeamento da disputa do primeiro turno deste ano, completando a cartografia das seis eleições da redemocratização, de 1989 a 2006.
Através dos mapas, identificam-se as nuances do processo eleitoral, explica Romero Jacob, que ressalta que o mapa da votação de Dilma Rousseff este ano é muito semelhante ao de Lula em 2006, mas tem diferenças que podem ser exploradas no segundo turno.
Mesmo que o percentual dos dois tenha sido muito parecido - Lula teve 46% em 2002 e 48% em 2006, e Dilma teve agora 47%.
Dilma, em relação a Lula na última eleição, cai em umas regiões e cresce em outras. Por exemplo, aumentou a votação no Sul do país, no Rio Grande do Sul, sobretudo, mas também tem crescimento em Santa Catarina e Paraná, além de melhorar a votação na área de agronegócio.
Mesmo que essa região tenha votado a favor de Serra - venceu em Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso -, houve crescimento da votação do PT.
Mas ela caiu em muitas outras áreas, até 25 pontos, no Rio de Janeiro, no Espírito Santo (onde a queda foi geral), no leste de Minas, (mas cresce no Oeste mineiro), no litoral da Bahia e Pernambuco (mas cresce no interior dos dois estados) e nos estados de Rio Grande do Norte e Paraíba. Caiu também no Maranhão.
Mesmo que ela tenha vencido as eleições nesses estados, houve uma queda em comparação com a votação de Lula em 2006.
Na área do agronegócio, que tem se caracterizado nas últimas eleições por um voto contrário ao governo devido à valorização do real, que prejudica as exportações, houve uma estratégia do PT para crescer no Sul e no Centro-Oeste, reduzindo a diferença a favor do PSDB.
No Nordeste e no Sudeste, Dilma venceu no primeiro turno, mas teve votação menor do que Lula obteve em 2006. A estratégia de Lula de lançar uma candidata que nasceu em Minas e fez sua vida política no Rio Grande do Sul deu bons resultados para o governo, avalia Romero Jacob.
Ela manteve a vitória do PT em Minas e retomou o Rio Grande do Sul para o partido. Talvez esse crescimento de Dilma em Santa Catarina, Paraná e no Centro-Oeste possa ter sido fruto de um certo espírito gaúcho, comenta Cesar Romero Jacob, lembrando que nessa região Leonel Brizola sempre teve muito voto.
Os mapas de votação mostram também que há uma queda na votação petista na faixa litorânea, a partir do Rio Grande do Norte.
O mapa de votação de Serra também é muito parecido com o de Geraldo Alckmin em 2006. Há uma área contínua que pega o Sul do país, o Centro-Oeste, São Paulo e uma parte de Minas onde prevalece o voto tucano.
Mas, quando comparamos a votação deste ano com a de 2006, verificamos que há uma queda em toda essa região. Serra, com 33% dos votos, superou sua própria votação em 2002, que foi de 23%, mas ficou nove pontos percentuais abaixo da votação de Alckmin em 2006, de 42%.
Essa diferença foi absorvida em alguns lugares por Dilma, e em outros por Marina. Assim como Dilma, nas áreas em que diminuiu a votação, ela perdeu ou para Serra ou para Marina.
O mapa da votação de Serra mostra também um crescimento em regiões onde o PSDB não costumava vencer: no norte do Rio de Janeiro, especialmente em Campos; no Espírito Santo; na Bahia; em Governador Valadares, em Minas; e no Acre.
Esses nove pontos percentuais de eleitores que votaram em Alckmin no primeiro turno de 2006 muito provavelmente voltarão em sua maioria para Serra no segundo turno, avalia Romero Jacob.
O mapa de abstenção, votos em branco e nulos do primeiro turno, demonstra que as regiões Norte e Nordeste, onde Dilma teve seu melhor desempenho, tiveram o maior nível, chegando em certas áreas a 45% dos eleitores.
Já na eleição do segundo turno, o perigo maior é nas regiões Sul e Sudeste, onde os cidadãos de maior renda podem viajar no feriadão.
Mas há uma nova classe média emergente que também está viajando mais, e que pode ser também prejudicial a Dilma.
No caso do mapa de votação de Marina Silva, há uma área contínua no Sudeste do país: em São Paulo, Marina teve 20% dos votos, que tirou, na maioria, de Serra, que teve 40% dos votos, ficando distante de Alckmin, com 50% de votos para governador.
Já em Minas, Romero Jacob acha que ela tira votos de Dilma, que teve 47% dos votos contra 21% de Marina. No Rio de Janeiro, Dilma vence com 44%, mas Marina teve 32%. No Espírito Santo, Dilma teve 37% e Marina, 26%.
Outro elemento que chama a atenção é o desempenho de Marina no Oeste do Tocantins, onde os estudos mostram que há uma concentração evangélica muito grande.
Não foi à toa que Garotinho teve um bom desempenho naquela região na eleição de 2002.
Na votação de Marina em Brasília, única unidade da Federação em que ela venceu a eleição, os estudos de Cesar Romero Jacob apontam influência decisiva dos votos evangélicos nas cidades-satélites do entorno da capital.
Esses votos de Marina no Sudeste podem definir a eleição no segundo turno, e não é por outra razão que as duas campanhas estão priorizando São Paulo, Minas e Rio de Janeiro na reta final da campanha.
Os mapas coloridos que mostram a distribuição dos votos dos candidatos e a comparação com a eleição de 2006 podem ser vistos no endereço .
Um comentário:
Muito boa essa análise espacial do voto. Interessante observar que nas capitais das regiões Centro-oeste, Sudeste e Sul a Marina ganhou em Vitória, Brasília, Belo Horizonte e Niterói, enquanto o Serra em todas as outras menos no Rio. Agora é espera o voto da Cappital influenciar o interior.
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