Proposta de "refundação" do partido, lançada por Aécio Neves, responde a uma carência de discurso mas esbarra em dificuldades
A clássica prudência dos políticos mineiros talvez recomendasse ao ex-governador Aécio Neves um maior tempo de espera e de silêncio antes de propor novos rumos ao PSDB, enquanto são digeridos os resultados do último pleito.
Após eleger-se senador por Minas Gerais, e tendo feito o sucessor no governo do Estado, é entretanto natural que Aécio se apresse a assumir o posto de principal liderança tucana no momento.
Foi assim que lançou, em entrevista à Folha na última sexta-feira, a proposta de uma "refundação" de seu partido. A ideia seria, já em maio do ano que vem, quando se realiza uma convenção nacional do PSDB, aprovar uma reforma do programa partidário.
Avaliar a conveniência de tal iniciativa é assunto que cabe, evidentemente, às próprias instâncias partidárias. Quem quer que tenha acompanhado a campanha eleitoral não terá deixado de notar, entretanto, os sinais de esvaziamento no discurso do PSDB, e sua necessidade de consolidar, nos anos pós-Lula, um projeto original para o futuro do Brasil.
Temas de aferição menos fácil, como o da excelência gerencial, conviveram na campanha com o antigo modelo propagandístico das grandes obras viárias (área em que tanto Serra quanto o próprio Aécio acumulam pontos), sem que se apontasse, contudo, para um horizonte mais claro de transformações para o país.
Projetos fortes para a melhoria da educação, para a redução de impostos e para o combate à criminalidade, por exemplo, haveriam de possibilitar um salto qualitativo num cenário político marcado por debates superficiais e certa conformidade continuísta, que se espraia do centro do governo para atingir parte dos próprios setores da oposição.
Vale observar que o termo proposto por Aécio Neves -o de uma "refundação" do PSDB- é daqueles cujo apelo retórico se combina com alguma conotação infausta do ponto de vista prático. Posto em voga no Partido Comunista Italiano, depois da debacle do bloco soviético, foi rememorado e logo depois esquecido por setores do PT, em meio à crise do mensalão.
No caso do PSDB, o que não falta ao partido é uma equipe capaz de formular programas e propostas para os próximos anos ou para o próximo milênio. Mais do que de ideias, uma "refundação" do partido necessitaria, sem dúvida -e este é um problema que não se restringe ao tucanato- de uma revisão mais profunda nas suas próprias formas de organização.
A participação efetiva dos cidadãos no processo partidário, a começar pelo clássico recurso às prévias eleitorais, é um fenômeno quase inexistente no Brasil. Dos "notáveis" do PSDB aos "coronéis" do PMDB e do DEM, passando pelos "comissários" petistas, a política brasileira profissionalizou-se no seu pior sentido -e "refundar" os seus procedimentos, com certeza, é um desafio que independe das lideranças, novas ou não, que ocupam o proscênio.
A clássica prudência dos políticos mineiros talvez recomendasse ao ex-governador Aécio Neves um maior tempo de espera e de silêncio antes de propor novos rumos ao PSDB, enquanto são digeridos os resultados do último pleito.
Após eleger-se senador por Minas Gerais, e tendo feito o sucessor no governo do Estado, é entretanto natural que Aécio se apresse a assumir o posto de principal liderança tucana no momento.
Foi assim que lançou, em entrevista à Folha na última sexta-feira, a proposta de uma "refundação" de seu partido. A ideia seria, já em maio do ano que vem, quando se realiza uma convenção nacional do PSDB, aprovar uma reforma do programa partidário.
Avaliar a conveniência de tal iniciativa é assunto que cabe, evidentemente, às próprias instâncias partidárias. Quem quer que tenha acompanhado a campanha eleitoral não terá deixado de notar, entretanto, os sinais de esvaziamento no discurso do PSDB, e sua necessidade de consolidar, nos anos pós-Lula, um projeto original para o futuro do Brasil.
Temas de aferição menos fácil, como o da excelência gerencial, conviveram na campanha com o antigo modelo propagandístico das grandes obras viárias (área em que tanto Serra quanto o próprio Aécio acumulam pontos), sem que se apontasse, contudo, para um horizonte mais claro de transformações para o país.
Projetos fortes para a melhoria da educação, para a redução de impostos e para o combate à criminalidade, por exemplo, haveriam de possibilitar um salto qualitativo num cenário político marcado por debates superficiais e certa conformidade continuísta, que se espraia do centro do governo para atingir parte dos próprios setores da oposição.
Vale observar que o termo proposto por Aécio Neves -o de uma "refundação" do PSDB- é daqueles cujo apelo retórico se combina com alguma conotação infausta do ponto de vista prático. Posto em voga no Partido Comunista Italiano, depois da debacle do bloco soviético, foi rememorado e logo depois esquecido por setores do PT, em meio à crise do mensalão.
No caso do PSDB, o que não falta ao partido é uma equipe capaz de formular programas e propostas para os próximos anos ou para o próximo milênio. Mais do que de ideias, uma "refundação" do partido necessitaria, sem dúvida -e este é um problema que não se restringe ao tucanato- de uma revisão mais profunda nas suas próprias formas de organização.
A participação efetiva dos cidadãos no processo partidário, a começar pelo clássico recurso às prévias eleitorais, é um fenômeno quase inexistente no Brasil. Dos "notáveis" do PSDB aos "coronéis" do PMDB e do DEM, passando pelos "comissários" petistas, a política brasileira profissionalizou-se no seu pior sentido -e "refundar" os seus procedimentos, com certeza, é um desafio que independe das lideranças, novas ou não, que ocupam o proscênio.
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