domingo, 21 de novembro de 2010

Comunicação do PSDB com eleitor é mínima, diz Guerra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Presidente do partido diz que "não se pode reclamar das cúpulas se falta base partidária" e propõe filiados "vivos e ativos"

Julia Duailibi

Após amargar a terceira derrota consecutiva na disputa presidencial, o PSDB avalia agora que o partido precisa de uma base de filiados "real", "de verdade". "O PSDB precisa ter filiados vivos, ativos, participantes", diz o presidente da legenda, Sérgio Guerra. Com a tarefa de equilibrar o partido perante os anseios do PSDB mineiro, de Aécio Neves, e do paulista, de José Serra e Geraldo Alckmin, Guerra afirma que, sem um quadro "seguro" de filiados, o partido nem sequer pode pensar em prévias partidárias para as eleições presidenciais de 2014.

"Falar de prévias sem filiados é conversa fiada", completa.

Cauteloso para não alimentar mais polêmica interna, o senador evita falar sobre a sucessão. "É uma completa dor de barriga, uma cólica desnecessária começar a discutir como será 2014", desconversa. Guerra despista ao falar sobre seu futuro na presidência da sigla em 2011 - a tendência é que continue na direção do partido.

O sr. anunciou reestruturação no PSDB. Como será?

A primeira coisa é encontrar canais de comunicação com os setores que votaram em nós. E nesse aspecto a capacidade do PSDB é mínima. Isso pressupõe atualização do programa, no qual se confirme sua história e que tenha capacidade de lançar novas propostas para que a diferenciação entre o que somos e o que é o PT fique evidente e para que se tenha a confirmação de uma identidade firme, sem vacilação. Uma reestruturação organizacional pressupõe a confirmação do partido em todos os municípios e, de maneira especial, onde se mostrou fraco.

Na eleição, o PSDB pagou por ser um partido sem militância?

Não há possibilidade de falar em democracia no partido sem que o partido tenha filiados de verdade. Tudo é sofisma. Se não tem quadro de filiados vivo, seguro, ativo, não pode pensar em prévias nem em democracia. Nem pode reclamar das cúpulas, porque falta base para elas. O PSDB ainda é um partido com lideranças fortes, mas sem organização partidária. Isso pressupõe quadro de filiados real, vivo. Falar de prévias sem filiados é conversa fiada.

Por que esse trabalho não foi feito para a eleição de 2010?

Na eleição de 2006 para 2010, o partido avançou. Não houve nessa campanha, em nenhum momento, explicitação de crise interna. Ela se deu com divisões controladas. Houve muito mais solidariedade na campanha de Serra do que na de Geraldo, no sentido de participação, especialmente nas áreas de dificuldade, como no Nordeste.

Qual o papel que Serra terá?

Terá um papel ativo. Essa semana estive com ele, e ele manifestou opinião sobre várias coisas que estão acontecendo na vida política brasileira, como a conduta de um padrão oposicionista, qual deve ser o foco, quais previsões para a economia.

A oposição será mais ativa?

Se a gente hoje tem dificuldade numérica no Congresso, é maior a exigência de sermos mais efetivos. Não podemos ficar como às vezes acontece. A gente estabelece um contencioso, e os caras dizem: "Mas vocês também têm parte nisso". Não devemos deixar que essa frase prospere.

É um mea culpa pela oposição feita nos últimos anos?

A oposição foi diminuída pela redução do Congresso. Lula fez uso desproporcional da propaganda e da manifestação do presidente. Não houve oposição? É uma grande mentira, uma superficialidade. Lula disse que a gente fez oposição radical, violenta, sanguinária, lembra?

Enquanto governador, Serra evitou discurso de oposição.

Governadores não devem e não vão liderar oposição. Eles têm prioridade na ação governamental, que passa pela relação com a burocracia federal.

O sr. fica na presidência?

Vou cumprir meu papel até quando estiver na presidência. Depois, outra pessoa terá capacidade de fazer. Ainda vou ter uma conversa com amigos sobre esse assunto.

O próximo presidente do partido terá de unir e arbitrar anseios do PSDB mineiro e paulista?

Fizemos agora uma reunião da Executiva. Ninguém falou sobre candidatos à Presidência. Não vamos desenvolver essa agenda agora. O problema não é unir. Convivi com eles na direção de forma harmoniosa. O problema é fazer os eleitorados adotarem o mesmo caminho.

Aécio tem interesse nessa agenda. Agora é a vez dele?

A questão de Aécio, ou de qualquer companheiro, é legítima. O próprio Aécio deseja ajudar na reestruturação do partido. Serra está me dizendo que vai se inserir no esforço até para organizar as campanhas municipais. Não tem nesse momento isso. É uma completa dor de barriga, uma cólica desnecessária começar a discutir como será 2014, se nós, anteontem, saímos de 2010.

FHC falou que o partido demorou a lançar candidato neste ano.Tudo bem, nesse caso está falando para trás, não para frente.

Como vê o movimento para lançar Aécio presidente do Senado?Não é isso que Aécio me diz. Ele me disse que vai desempenhar papel de senador na sua plenitude. Pelo menos agora.

Serra continua presidenciável?

Não posso dar opinião sobre isso. Vou falar o contrário do que estou dizendo. Não é hora de falar de cotados ou de cotações.

O PSDB perde com a ida do prefeito Kassab para o PMDB?

Ele respirou a mesma atmosfera que nós nos últimos anos. Acredito que continue nela.

No PMDB, Kassab flertaria com o governo federal.

Sobre esse assunto, não vou comentar. Tenho conversado com o DEM, não com ele.

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