DEU NO JORNAL DO BRASIL (online)
Já não está suspensa sobre a cabeça dos brasileiros a dúvida sobre se o governo Lula seria o último desta série que começou bem ou o primeiro de uma nova com indícios de que pode não dar certo. A segunda hipótese prevaleceu, mas a diferença continua pequena. É apostar, portanto, que a história não se repita. Estamos vindo de uma etapa que teve margem suficiente para acabar mal, mas se deteve a tempo. O resto adia-se. É certo também que nenhum orador oposicionista precisará desembainhar a espada de Dâmocles e deixá-la suspensa sobre nossas cabeças.
Por conta dele, Luiz Inácio Lula da Silva, de dúvidas e incertezas só se ficará sabendo daqui a quatro anos. Vai começar para ele, praticamente ex-presidente, uma espécie de mandato por fora. Dependerá dos dois protagonistas que pretendem desafiar uma lei da física, segundo a qual dois corpos não conseguem ocupar o mesmo lugar no espaço: a presidência se reserva apenas para um (e o outro se arranje como puder).
Já se tem como certo que a situação ambígua terá de ser decidida pelo que estiver escrito na Constituição e não nas estrelas. Volta-se ao eterno enredo desde que se inventou a reeleição. Sem ela, a indesejada da República, a solução seguiria curso natural, com um presidente governando e o outro despachado para o ócio com dignidade. Nada parecido com a antiga figura do ponto que, de um buraco no chão do palco, socorria os atores de teatro nos lapsos de memória em cena.
O praticamente ex-presidente Lula incorre numa das várias contradições que o acionam em todas as direções. Ao mesmo tempo que não pode se omitir, precisa ser cauteloso para evitar a impressão de se intrometer no governo que nada mais tem a ver com ele. Mas, se não marcar presença, na melhor das hipóteses deixará de ser lembrado para 2014. A presidente Dilma Rousseff não pode ser ou parecer ingrata com seu antecessor e benfeitor. Mas terá de mantê-lo a distância. Liquidada a fatura política, precisará sombrear o semblante quando a conta da vitória bater às portas do seu governo. Quem pagará a despesa do que não tiver dado certo?
Entre dar o primeiro tranco em Lula e fazer de conta que não percebe o desconforto, Dilma verá seu espaço se comprimir no equacionamento do governo que a espera. A sombra dele já ronda o esboço ministerial, cuja negociação foge a qualquer controle. Qual foi o papel de José Dirceu e Palocci no primeiro governo? Como acabaram? Ora, se a nova fachada do governo está por um mês e meio na contagem regressiva, quem tem a ganhar pode se preocupar e quem tem a perder não pode comemorar. Uma hora dessas Lula fará ouvir sua voz rouca de impaciência (sem nada a ver com a das ruas) e a montagem do espetáculo reanimará os pessimistas que esperam calados.
Continua de pé o princípio segundo o qual, da mesma forma como no genuinamente nacional jogo do bicho, as condições dependem do que esteja escrito, e as conclusões podem divergir à vontade. O Brasil está mais para exame oral.
Antes de governar o país do qual ouviu falar bem desde o banco escolar, o presidente Lula, com um pé no futuro e o outro no ar, já se apresentava com os cacoetes que fizeram dele o último governante do Brasil confiado ao futuro. Ninguém, portanto, melhor do que Lula para fazer a transição de uma república que se anunciava em discursos de posse e logo outro se apresentava depois da posse.
Um dia se dirá, quando tudo que está em processo tiver passado, que Lula foi o presidente que faltava, na hora que já estava atrasada. Demorou a chegar, mas fechou o último ciclo republicano com rompantes de imperador na decadência de Roma. Só faltou mesmo incendiar – metaforicamente, bem em tendido – Brasília, e ser fotografado com a túnica de Nero e a harpa em punho.
Já não está suspensa sobre a cabeça dos brasileiros a dúvida sobre se o governo Lula seria o último desta série que começou bem ou o primeiro de uma nova com indícios de que pode não dar certo. A segunda hipótese prevaleceu, mas a diferença continua pequena. É apostar, portanto, que a história não se repita. Estamos vindo de uma etapa que teve margem suficiente para acabar mal, mas se deteve a tempo. O resto adia-se. É certo também que nenhum orador oposicionista precisará desembainhar a espada de Dâmocles e deixá-la suspensa sobre nossas cabeças.
Por conta dele, Luiz Inácio Lula da Silva, de dúvidas e incertezas só se ficará sabendo daqui a quatro anos. Vai começar para ele, praticamente ex-presidente, uma espécie de mandato por fora. Dependerá dos dois protagonistas que pretendem desafiar uma lei da física, segundo a qual dois corpos não conseguem ocupar o mesmo lugar no espaço: a presidência se reserva apenas para um (e o outro se arranje como puder).
Já se tem como certo que a situação ambígua terá de ser decidida pelo que estiver escrito na Constituição e não nas estrelas. Volta-se ao eterno enredo desde que se inventou a reeleição. Sem ela, a indesejada da República, a solução seguiria curso natural, com um presidente governando e o outro despachado para o ócio com dignidade. Nada parecido com a antiga figura do ponto que, de um buraco no chão do palco, socorria os atores de teatro nos lapsos de memória em cena.
O praticamente ex-presidente Lula incorre numa das várias contradições que o acionam em todas as direções. Ao mesmo tempo que não pode se omitir, precisa ser cauteloso para evitar a impressão de se intrometer no governo que nada mais tem a ver com ele. Mas, se não marcar presença, na melhor das hipóteses deixará de ser lembrado para 2014. A presidente Dilma Rousseff não pode ser ou parecer ingrata com seu antecessor e benfeitor. Mas terá de mantê-lo a distância. Liquidada a fatura política, precisará sombrear o semblante quando a conta da vitória bater às portas do seu governo. Quem pagará a despesa do que não tiver dado certo?
Entre dar o primeiro tranco em Lula e fazer de conta que não percebe o desconforto, Dilma verá seu espaço se comprimir no equacionamento do governo que a espera. A sombra dele já ronda o esboço ministerial, cuja negociação foge a qualquer controle. Qual foi o papel de José Dirceu e Palocci no primeiro governo? Como acabaram? Ora, se a nova fachada do governo está por um mês e meio na contagem regressiva, quem tem a ganhar pode se preocupar e quem tem a perder não pode comemorar. Uma hora dessas Lula fará ouvir sua voz rouca de impaciência (sem nada a ver com a das ruas) e a montagem do espetáculo reanimará os pessimistas que esperam calados.
Continua de pé o princípio segundo o qual, da mesma forma como no genuinamente nacional jogo do bicho, as condições dependem do que esteja escrito, e as conclusões podem divergir à vontade. O Brasil está mais para exame oral.
Antes de governar o país do qual ouviu falar bem desde o banco escolar, o presidente Lula, com um pé no futuro e o outro no ar, já se apresentava com os cacoetes que fizeram dele o último governante do Brasil confiado ao futuro. Ninguém, portanto, melhor do que Lula para fazer a transição de uma república que se anunciava em discursos de posse e logo outro se apresentava depois da posse.
Um dia se dirá, quando tudo que está em processo tiver passado, que Lula foi o presidente que faltava, na hora que já estava atrasada. Demorou a chegar, mas fechou o último ciclo republicano com rompantes de imperador na decadência de Roma. Só faltou mesmo incendiar – metaforicamente, bem em tendido – Brasília, e ser fotografado com a túnica de Nero e a harpa em punho.
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