Deu no Blog do Bolívar Lamounier
No momento o Brasil tem dois presidentes – Lula saindo e Dilma entrando. Ministros eu não sei ao certo quantos são, suponho que uns 50, contando os 37 do governo Lula e alguns novos que vão integrar o governo Dilma.
Com tanta gente sondando, auscultando, dando palpite e decidindo, não dá para imaginar que todos vão cantar no mesmo tom. Alguma desafinação vai haver.
Mas ouvir Mantega e Lula desafinando num assunto tão sério como o ajuste fiscal, convenhamos que é estranho. Na apresentação da nova equipe econômica, ao lado de Miriam Belchior (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central), Mantega foi enfático. Disse que o ajuste seria feito e que haveria um corte substancial de despesas.
Aos ouvidos do mercado e dos mortais comuns que pagam impostos, isso soou como música. No governo Lula, a gastança aumentou que foi uma grandeza e o ajuste foi feito pelo lado da arrecadação.
E há muita coisa em jogo. Quando Lula chegar a São Bernardo e girar a chave na porta de sua casa, sua visão do Brasil como “uma ilha de tranqüilidade num mundo em turbulência” (qualquer semelhança com o slogan do general Geisel não é mera coincidência) já deverá estar a caminho de algum arquivo.
A economia mundial ainda parece longe de se recuperar da crise de 2008. A americana cambaleia. Mais dia, menos dia, a estagnação global irá forçando a China a reduzir seu crescimento, complicando o saldo comercial brasileiro.
Ao mesmo tempo, o aquecimento excessivo da economia brasileira e o real super-valorizado provocam forte aumento nas importações. Moral da história, é preciso desaquecer e desvalorizar. Um ajuste fiscal corajoso e bem feito serve para as duas coisas.
Foi por isso que a ária solfejada dias atrás por Mantega, Belchior e Tombini foi recebida com aplausos pelos mercados. Mantega disse que vai cortar, cortar e cortar. Inclusive no PAC.
Mas hoje no Rio o presidente Lula, com sua conhecida sutileza, disse para cortar onde quiser, desde que não seja no PAC. Quer cortar, corte no custeio, investimento não.
Devemos então entender que Lula está dizendo para cortar na máquina – inclusive ou principalmente nos gastos com o funcionalismo? Não vou dizer que não acredito, direi apenas “a conferir”.
E com os russos – ou seja, com os partidos da base, a começar pelo PT e pelo PMDB – Lula e Dilma já terão combinado alguma coisa ? Essas gloriosas legendas, como sabemos, podem ser acusados de qualquer coisa, menos de austeridade fiscal.
Outro fato avaliado de maneira positiva foi a indicação de Helena Chagas para a Secretaria Especial de Comunicação, em substituição a Franklin Martins. Afinal, a escolhida, ela mesma jornalista, é filha de Carlos Chagas, um dos jornalistas mais respeitados e liberais do país; presume-se, pois, que sua conduta como secretária será orientada por valores semelhantes aos do pai.
Mas a troca em si parece alvissareira. Significa que a questão do novo marco regulatório para a mídia será tocada pelo Ministro das Comunicações e oxalá bem longe de certos conceitos restritivos a que o ministro Martins vinha dando guarida.
Um terceiro fato auspicioso foi a declaração de Dilma Rousseff sobre o Irã em sua recente entrevista ao Washington Post. Respondendo a uma questão sobre direitos humanos, Dilma criticou de maneira taxativa a posição do governo Lula em dois pontos importantes.
Primeiro, manifestou inconformidade com a situação de Sakineh, a iraniana condenada à morte por adultério, que aguarda a execução por apedrejamento. Segundo, discordou da posição adotada pelo Brasil na ONU, abstendo-se de condenar a conduta do governo do Irã em relação aos direitos humanos.
Não se conhece ainda o pensamento de Dilma a respeito do programa nuclear iraniano, mas no que toca aos direitos humanos ela já marcou uma distância considerável, e irreversível, em relação ao governo Lula. Dir-se-á que é apenas um primeiro passo. De fato, é um apenas primeiro passo, mas é importante.
Se a presidente quer de fato reorientar a nossa política externa, terá claras oportunidades de o fazer em conexão com Cuba. O tratamento dispensado pelo Irã a Sakineh é chocante, mas o que a ditadura cubana tem proporcionado a seus prisioneiros políticos não fica muito longe. Praticamente no mesmo dia em que Lula visitou a ilha, no começo deste ano, um deles morreu após 85 dias em greve de fome.
No caso cubano, a oportunidade brasileira transcende a questão dos direitos humanos.
Tem a ver com o equacionamento de um futuro próspero, pacífico e democrático para o país no pós-socialismo.
Mais que notório, agora é público e oficial que o regime dos irmãos Castro chegou ao completo colapso econômico. Raúl Castro e o próprio Partido Comunista não só o admitem sem rodeios como preparam um mega-ajuste fiscal para os próximos meses.
Deste assunto e da política externa, de modo abrangente, Dilma ainda não tratou, e nem caberia esperar que o tivesse feito, mas sua entrevista ao Washington Post foi alvissareira.
Com assessores mais sensatos e livre de certas peias ideológicas de que Lula não quis ou não soube se livrar, ela poderá melhorar sensivelmente o desempenho brasileiro no plano internacional.
No momento o Brasil tem dois presidentes – Lula saindo e Dilma entrando. Ministros eu não sei ao certo quantos são, suponho que uns 50, contando os 37 do governo Lula e alguns novos que vão integrar o governo Dilma.
Com tanta gente sondando, auscultando, dando palpite e decidindo, não dá para imaginar que todos vão cantar no mesmo tom. Alguma desafinação vai haver.
Mas ouvir Mantega e Lula desafinando num assunto tão sério como o ajuste fiscal, convenhamos que é estranho. Na apresentação da nova equipe econômica, ao lado de Miriam Belchior (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central), Mantega foi enfático. Disse que o ajuste seria feito e que haveria um corte substancial de despesas.
Aos ouvidos do mercado e dos mortais comuns que pagam impostos, isso soou como música. No governo Lula, a gastança aumentou que foi uma grandeza e o ajuste foi feito pelo lado da arrecadação.
E há muita coisa em jogo. Quando Lula chegar a São Bernardo e girar a chave na porta de sua casa, sua visão do Brasil como “uma ilha de tranqüilidade num mundo em turbulência” (qualquer semelhança com o slogan do general Geisel não é mera coincidência) já deverá estar a caminho de algum arquivo.
A economia mundial ainda parece longe de se recuperar da crise de 2008. A americana cambaleia. Mais dia, menos dia, a estagnação global irá forçando a China a reduzir seu crescimento, complicando o saldo comercial brasileiro.
Ao mesmo tempo, o aquecimento excessivo da economia brasileira e o real super-valorizado provocam forte aumento nas importações. Moral da história, é preciso desaquecer e desvalorizar. Um ajuste fiscal corajoso e bem feito serve para as duas coisas.
Foi por isso que a ária solfejada dias atrás por Mantega, Belchior e Tombini foi recebida com aplausos pelos mercados. Mantega disse que vai cortar, cortar e cortar. Inclusive no PAC.
Mas hoje no Rio o presidente Lula, com sua conhecida sutileza, disse para cortar onde quiser, desde que não seja no PAC. Quer cortar, corte no custeio, investimento não.
Devemos então entender que Lula está dizendo para cortar na máquina – inclusive ou principalmente nos gastos com o funcionalismo? Não vou dizer que não acredito, direi apenas “a conferir”.
E com os russos – ou seja, com os partidos da base, a começar pelo PT e pelo PMDB – Lula e Dilma já terão combinado alguma coisa ? Essas gloriosas legendas, como sabemos, podem ser acusados de qualquer coisa, menos de austeridade fiscal.
Outro fato avaliado de maneira positiva foi a indicação de Helena Chagas para a Secretaria Especial de Comunicação, em substituição a Franklin Martins. Afinal, a escolhida, ela mesma jornalista, é filha de Carlos Chagas, um dos jornalistas mais respeitados e liberais do país; presume-se, pois, que sua conduta como secretária será orientada por valores semelhantes aos do pai.
Mas a troca em si parece alvissareira. Significa que a questão do novo marco regulatório para a mídia será tocada pelo Ministro das Comunicações e oxalá bem longe de certos conceitos restritivos a que o ministro Martins vinha dando guarida.
Um terceiro fato auspicioso foi a declaração de Dilma Rousseff sobre o Irã em sua recente entrevista ao Washington Post. Respondendo a uma questão sobre direitos humanos, Dilma criticou de maneira taxativa a posição do governo Lula em dois pontos importantes.
Primeiro, manifestou inconformidade com a situação de Sakineh, a iraniana condenada à morte por adultério, que aguarda a execução por apedrejamento. Segundo, discordou da posição adotada pelo Brasil na ONU, abstendo-se de condenar a conduta do governo do Irã em relação aos direitos humanos.
Não se conhece ainda o pensamento de Dilma a respeito do programa nuclear iraniano, mas no que toca aos direitos humanos ela já marcou uma distância considerável, e irreversível, em relação ao governo Lula. Dir-se-á que é apenas um primeiro passo. De fato, é um apenas primeiro passo, mas é importante.
Se a presidente quer de fato reorientar a nossa política externa, terá claras oportunidades de o fazer em conexão com Cuba. O tratamento dispensado pelo Irã a Sakineh é chocante, mas o que a ditadura cubana tem proporcionado a seus prisioneiros políticos não fica muito longe. Praticamente no mesmo dia em que Lula visitou a ilha, no começo deste ano, um deles morreu após 85 dias em greve de fome.
No caso cubano, a oportunidade brasileira transcende a questão dos direitos humanos.
Tem a ver com o equacionamento de um futuro próspero, pacífico e democrático para o país no pós-socialismo.
Mais que notório, agora é público e oficial que o regime dos irmãos Castro chegou ao completo colapso econômico. Raúl Castro e o próprio Partido Comunista não só o admitem sem rodeios como preparam um mega-ajuste fiscal para os próximos meses.
Deste assunto e da política externa, de modo abrangente, Dilma ainda não tratou, e nem caberia esperar que o tivesse feito, mas sua entrevista ao Washington Post foi alvissareira.
Com assessores mais sensatos e livre de certas peias ideológicas de que Lula não quis ou não soube se livrar, ela poderá melhorar sensivelmente o desempenho brasileiro no plano internacional.
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